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Girona-Real Madrid: times de Puigdemont e Rajoy se enfrentam

28/10/2017 14h43

Madri, 28 Out 2017 (AFP) - Dois dias depois do parlamento catalão votar a favor da independência, o Real Madrid visita o Girona neste domingo no duelo entre os times do presidente espanhol Mariano Rajoy e de Carles Puigdemont, presidente regional destituído.

Na sexta-feira, depois da proclamação da república independente, o governo espanhol destituiu Puigdemont e todo governo catalão, convocando eleições regionais para dezembro.

A aceleração da crise catalã, especialmente após a ação policial para tentar impedir o referendo de autodeterminação da região no dia 1º de outubro, deram força aos partidários da separação em alguns estádios catalães.

No Camp Nou do Barcelona, clube identificado com o catalanismo, os gritos de independência e as bandeiras da "Señera" foram vistos com frequência.

Na quinta-feira, os gritos pela independência também foram escutados no jogo pela Copa do Rei, entre Levante e Girona, no estádio de Montilivi. O canto foi entoado no minuto 17'14 do primeiro tempo, em referência ao dia de tomada da cidade de Barcelona pelas tropas espanholas durante a guerra de sucessão do país.

- Ansiedade pelo jogo -No mesmo estádio, o time da casa recebe pela primeira vez na elite espanhola o Real Madrid, "time representativo da Espanha, ao lado da seleção espanhola", indicou o historiador Eduardo González Calleja à AFP.

O Real Madrid vai ter "a recepção que sempre costuma ter em campos com componente nacionalista forte, mas aumentado pelo fato dos clubes de futebol agora precisarem se posicionar sobre o tema catalão", avalia González, autor de um livro sobre a história do clube merengue.

"Aqui existe muita ansiedade por este jogo", garante o presidente do Girona, Delfí Geli, lembrando que "depois de conseguir a promoção (para a primeira divisão) se esperavam os jogos contra os grandes e um dos grandes é o Real Madrid".

Mas o espetáculo esportivo não escapa do peso simbólico político, ainda mais dois dias depois do parlamento regional votar pela independência da Catalunha. A resposta do governo central foi desmanchar o parlamento e convocar eleições.

Durante cinco anos (2011-2016) o presidente regional Carles Puigdemont, torcedor do Barcelona, foi prefeito de Girona e felicitou o time da cidade no momento da subida para a primeira divisão.

"Mostraram que não existem sonhos impossíveis", declarou em junho, em referência ao processo independentista.

Por outro lado, o presidente do governo espanhol Mariano Rajoy é torcedor do Real Madrid. O homem mais poderoso da Espanha foi à Cardiff para acompanhar o time merengue na decisão da Liga dos Campeões.

- Real Madrid conectado com o poder -Além disso, o Real Madrid ocupa espaço especial no futebol espanhol, depois de conquistar cinco Copas da Europa nos anos 1950, dando exposição internacional a uma Espanha retraída durante a ditadura franquista (1939-1975).

Desde a fundação em 1902, "é um Clube Real. É um clube feito, de certo modo, sob patrocínio da Casa Real, da monarquia espanhola", avalia González Calleja.

"Se analisarem as personalidades políticas que vão aos camarotes do Real Madrid, é possível entender os vínculos com o poder político seguem sendo muito fortes", acrescenta o historiador.

No dia 1º de outubro, dia do referendo, as tribunas do estádio Santiago Bernabéu se encheram de bandeiras espanholas.

Já no estádio do Girona, no jogo contra o Barcelona dia 23 de setembro, os torcedores levaram bandeiras catalãs e cantaram músicas independentistas assim como o Barça. No dia 3 de outubro, o Girona FC se juntou à greve decretada pelos independentistas.

- Tranquilidade -Madri não reconhece a independência catalã e por isso os clubes da região - Barcelona, Espanyol e Girona - podem continuar jogando a Liga espanhola por conta da lei de esporte do país.

Tanto Real Madrid como Girona pediram tranquilidade e diminuíram o peso político do confronto entre os times.

"A segurança para esse jogo vai ser como sempre, nós vamos fazer um jogo de futebol como temos que fazer, sem pensar em outra coisa", limitou-se a dizer Zinedine Zidane, técnico do Real Madrid.

Já o treinador do Girona, Pablo Machín, garantiu que o estádio de Montilivi "vai ser uma festa".

"Não é preciso temer por nenhum tipo de problema", concluiu a prefeita da cidade, Marta Madrenas, que sucedeu Puigdemont no cargo municipal.

jed-gr/pm.