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Brexit provoca pedidos de aumento salarial no Campeonato Inglês

Ozil é um dos incomodados com a desvalorização da libra - Reuters / Eddie Keogh
Ozil é um dos incomodados com a desvalorização da libra Imagem: Reuters / Eddie Keogh

30/01/2017 13h46

As estrelas estrangeiras que atuam no Campeonato Inglês, a Premier League, pedem aumento salarial, usando como argumentos a forte desvalorização da libra devido ao Brexit, o aumento dos valores dos contratos de direito de transmissão e as propostas mirabolantes da China.

Por um lado, alguns jogadores já garantiram fortes aumentos em seus rendimentos, aproveitando a proximidade do fechamento da janela de transferência de inverno, como o brasileiro Philippe Coutinho, que acaba de ampliar seu contrato para cinco anos com salário semanal de 175.650 euros no Liverpool. Outros, porém, não receberam respostas positivas aos novos pedidos.

O Arsenal, por exemplo, vem penando para manter o alemão Mezut Ozil e o chileno Alexis Sánchez satisfeitos.

De acordo com a imprensa, Ozil e Sánchez, os dois maiores nomes da equipe, pedem cerca de 250.000 libras (290.000 euros) por semana para compensar a desvalorização da moeda inglesa em relação ao euro e ao peso, moedas de seus respectivos países.

Esse valor seria um aumento considerável em relação ao atual salário de 135.000 libras (158.000 euros) semanais que recebem, mas inferior à contraproposta do Arsenal, que gira em torno de 200.000 libras (234.000 euros).

"Apesar de a torcida tender a associar os jogadores ao preço de suas transferências, é importante explicar que o valor da transferência é apenas um terço do custo total de um clube com um jogador", lembrou Jake Cohen, advogado esportivo do escritório Mills & Reeve.

- Propostas chinesas -"O principal custo com um jogador é seu salário", completou, em recente entrevista à AFP, revelando que alguns jogadores estrangeiros recebem, por contrato, em moedas que não são a libra.

Para paliar as flutuações do mercado e da moeda, os clubes da Premier League mantêm acordos de patrocínio com casas de câmbio que lhes dão taxas preferenciais.

"Qualquer empresa envolvida em transações multinacionais tem que considerar suas opções, e os clubes de futebol estão particularmente expostos", declarou Cohen.

Desde que o Reino Unido votou em junho de 2016 a favor de sair da União Europeia, a libra perdeu 18% de seu valor em relação ao dólar e 14% em relação ao euro.

"A libra enfraquecida está diminuindo os salários já estagnados dos jogadores, e como não conseguem salários similares em outros países da Europa, os empresários buscam aproveitar esta nova oportunidade para tirar um pouco mais dos clubes", declarou à AFP Craig Erlam, analista de mercados da sociedade financeira Oanda.

"Além disso, sabem que os clubes podem se permitir pagar mais, devido aos novos acordos televisivos", completou.

"Não acredito que seja uma coincidência que alguns jogadores, que claramente foram jogar na Inglaterra de olho no dinheiro dos contratos de televisão, estão agora usando as propostas da China para conseguir melhores contratos", garantiu Eralm.

- O poder da televisão - A Premier League vem se beneficiando desde o início desta temporada com os 5,14 bilhões de libras (6 bilhões de euros) em três anos -até 2019- que recebe pelos direitos televisivos, um aumento de 70% em relação ao contrato anterior.

Se levados em consideração os direitos de transmissão no exterior, o valor do acordo sobe para 8,3 bilhões de libras (cerca de 9 bilhões de euros).

Cohen não acredita que a desvalorização da libra irá diminuir muito a diferença colossal de valores dos contratos televisivos da Premier League em relação aos contratos das outras grandes ligas, como a espanhola.

"A queda da libra ajudará inicialmente a Liga Espanhola, mas um aumento de 10% ou 15% do valor do euro em relação à libra, que pode não ser algo permanente, não será suficiente para igualar, muito menos superar a Premier League no que diz respeito às receitas", analisou Cohen.

Assim, apesar dos maus resultados esportivos nas últimas temporadas, o Manchester United encabeça neste ano o ranking dos clubes mais ricos do mundo, segundo a empresa de consultoria Deloitte.

O United teve 689 milhões de euros em receitas em 2016, superando Real Madrid, que liderou a lista nos últimos 11 anos, e Barcelona.