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Islândia, um azarão nem tão surpreendente

23/06/2016 18h56

Paris, 23 Jun 2016 (AFP) - Ver a seleção pequeno país de 330.000 habitantes chegar às oitavas de final em sua primeira participação à Eurocopa invicto parece louco, mas o sucesso da Islândia se deve a fator muito racionais: evolução da infraestrutura, geração dourada, rigor tático e valorização da força coletiva.

Basta ouvir a narração enlouquecida da TV local do segundo gol da vitória de quarta-feira sobre a Áustria, em vídeo que viralizou na internet, para entender o que representa essa classificação.

"É o maior feito da história esportiva do país", resumiu depois do jogo o veterano Eidur Gudjohnsen, de 37 anos que já foi companheiro de Ronaldinho no Barcelona e hoje é reserva da seleção islandesa.

O técnico Heimir Hallgrimsson foi ainda mais longe pedindo para "mudar a data do feriado nacional".

Na segunda-feira, a Islândia enfrentará nas oitavas a tradicional Inglaterra, que tem população 160 vezes maior.

No total, o país tem apenas 20.000 atletas federados, sendo que o terço são mulheres. A França, país-sede da competição, tem cerca de 2 milhões.

O pesadelo de CR7Isso não impediu os islandeses de terminar a primeira fase invicta, arrancando até um empate em 1 a 1 contra a seleção portuguesa de Cristiano Ronaldo.

Sem assistir aos jogos, daria até para chamar essa trajetória de "milagre islandês", mas a equipe mostrou em campo que o sucesso não veio por acaso.

"Todo mundo assistiu às partidas, existem valores de trabalho e de disciplina, além de um espírito de equipe, com vontade de lutar sempre", exaltou Hallgrimsson.

Sem contar com grande destaques individuais, a não ser o camisa 10 Gylfi Sigurdsson, do Swansea, a seleção islandesa impressiona com a compactação, atacando e defendendo sempre em bloco.

"Eles têm dez jogadores na grande área, é um paredão islandês, por isso é complicado enfrentá-los", comentou o técnico da Áustria, Marcel Koller.

O próprio Cristiano Ronaldo causou polêmica ao acusar os islandeses de ter "mentalidade pequena" por "estacionar um ônibus na frente do gol".

Por mais que a equipe tenha um estilo defensivo, tem o mérito de saber aproveitar os contra-ataques e, bem ou mal, terminou na frente de Portugal na primeira fase, em segundo lugar do grupo F, enquanto CR7 ficaram em terceiro, sem vencer uma partida sequer.

Vivência no exteriorMesmo sem contar com estrelas do cacife do atacante do Real Madrid, a Islândia conta com uma "geração dourada", expressão usada pelo presidente da federação local, Geir Thorsteinsson.

"A maioria atua junto desde as seleções de base e muitos foram jogar no exterior muito jovens", explicou o dirigente.

Além de Sigurdsson, outro jogador se destaca no futebol inglês, o capitão Aron Gunnarrson, que atua no Cardiff, da segunda divisão.

Já o volante Bjirnir Bjarnason, autor do gol de empate contra Portugal, joga no Basel, da Suíça. O mais conhecido do grande público é Gudjohnsen, que, além do Barça, também teve passagem no Chelsea.

"Usamos a vivência dos nossos melhores jogadores que atuam no exterior. Eles voltam com muita experiência e um conhecimento que nos ajudar a nos inspirar do que se faz de melhor", explicou o presidente da federação.

"O nosso futebol mudou. Os jogadores são mais técnicos do que antes. Quando eu era jovem, jogávamos apenas durante o verão por causa das condições climáticas. Agora, temos boas infraestruturas para trabalhar", enfatizou.

Um dos principais responsáveis por essa ascensão meteórica é o técnico sueco Lars Lägerback, que em cinco anos levou a seleção islandesa do 108º ao 34º lugar no ranking da Fifa. Nas eliminatórias dessa Euro, já tinha impressionado ao terminar em segundo lugar do seu grupo, na frente da Turquia e da Holanda, que acabou ficando de fora.

Lägerback já anunciou que vai deixar o cargo ao final do torneio, deixando Hallgrimsson sozinho no comando, com o legado de uma equipe jovem e disciplinada, que viveu uma experiência inesquecível na França.

Qualquer que seja o resultado de segunda-feira, contra a Inglaterra, a Islândia deixará a Eurocopa com sensação de dever cumprido, com muita confiança para alcançar outro desafio: a primeira participação a uma Copa do Mundo, em 2018, na França.