Confederação de futsal criou empresa para 'confusão patrimonial', diz TJSP

A Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) foi condenada pela Justiça de São Paulo por ter criado uma empresa de fachada para ocultar patrimônio, enquanto era alvo de ações de credores. Através da "Futsal Brasil e Cia Limitada", a entidade pôde ainda receber recursos públicos enquanto tinha bens bloqueados judicialmente.

De acordo com documentos, a única sócia da "Futsal Brasil" é a própria CBFS, e a administração da sociedade é exercida por Marcos Madeira, presidente da confederação e que também é atingido pela ação judicial.

À frente da CBFS desde 2015, Madeira foi reeleito em 2023 em eleição com uma única chapa inscrita. Ele está no terceiro mandato.

Provas documentais demonstram bloqueios de valores irrisórios contra a CBFS, enquanto a Futsal Brasil recebe pagamentos por serviços prestados pela confederação (...) A confissão dos requeridos é cristalina ao admitir que criaram a Futsal Brasil exclusivamente para receber valores da CBFS, sociedade da qual é única sócia. O Sr. Marcos Madeira, presidente da CBFS, é o administrador não sócio da Futsal Brasil, concentrando poder decisório em ambas as empresas.
Decisão assinada pela juíza Fabiana Marini, da 15ª vara cível de São Paulo

Ainda no documento, é apontado que as "provas documentais corroboram a confusão patrimonial: (i) pagamentos de prefeituras à Futsal Brasil por campeonatos organizados pela CBFS; (ii) coincidência de dados cadastrais entre as empresas; (iii) bloqueios judiciais irrisórios na CBFS enquanto valores são recebidos pela Futsal Brasil; (iv) ausência de website, redes sociais ou marca registrada da Futsal Brasil, evidenciando sua natureza instrumental".

Os dados cadastrais da Futsal Brasil, informados à Receita Federal do Brasil, coincidem com os da CBFS. Além disso, informações que constam no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) indicam que até mesmo o e-mail da empresa é o endereço eletrônico da confederação (cbfs@cbfs.com.br).

Dívida

O processo contra a CBFS foi movido pela ESM Participações e Consultoria Ltda, que organizou a liga de fustal na temporada de 2013 e aponta débito de R$ 655.625,49

"Os próprios recorrentes afirmam que a empresa Futsal Brasil e Cia Limitada foi criada para evitar problemas/dívidas da má gestão anterior, especialmente para receber valores que seriam destinados à CBFS, que não se encontra com as certidões negativas em dia, o que demonstra o abuso da personalidade jurídica previamente arquitetado com o intuito de burlar a satisfação dos credores" aponta trecho do acórdão assinado pelo relator Rodolfo Pellizari, em documento que negou o recurso da Futsal Brasil e Cia Limitada.

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"O fato de ter existido má gestão anterior não autoriza o desvio de receitas para pessoa jurídica diversa da empresa devedora, sem qualquer contraprestação e sem que reste configurada a confusão patrimonial", diz documento em outro momento.

A briga judicial já se arrasta há uma década, e a ESM buscou bloqueios através do SISBAJUD, mas sem sucesso.

Pagamentos de prefeituras

Um dos tópicos citados pela Justiça de São Paulo foi o "pagamentos de prefeituras à Futsal Brasil por campeonatos organizados pela CBFS", entidade que organiza competições nacionais, como o Brasileiro e a Taça Brasil de Clubes.

Em 2022, por exemplo, a seleção de futsal feminino de Serra Talhada (Pernambuco) participou da Taça Brasil de Clubes, realizada em Campo Grande (Mato Grosso do Sul). O pagamento da taxa de inscrição, R$ 1.500, porém, foi feito à "Futsal Brasil".

Contexto semelhante aconteceu com a seleção de futsal de Itaporanga D'Ajuda (Sergipe), que integrou a Copa Nordeste de Futsal Adulto de 2023 e pagou R$ 3.500 à empresa. "O desvio de finalidade resta caracterizado pelo propósito confesso de burlar a exigência de certidões negativas, frustrando credores ao desviar recebíveis da CBFS. A alegada distribuição de lucros à CBFS não afasta a ilicitude, pois a criação de pessoa jurídica interposta para ocultação patrimonial configura abuso independentemente do destino posterior dos valores", aponta outro trecho da decisão judicial.

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O UOL procurou a Confederação Brasileira de Futsal, mas não obteve respostas até a publicação desta matéria. Caso haja um posicionamento, o texto será atualizado.

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