Não é todo dia que o tênis vê um talento desse porte surgir. Um atleta capaz de encantar arenas enquanto curte o momento e que chega aos torneios profissionais levantando taças rapidamente. Um jovem inteligente, apto a navegar seus primeiros momentos na elite do esporte sem grandes traumas.
Aos 19 anos recém-cumpridos e já dono de um título de ATP no circuito, João Fonseca reúne os elementos para desenhar um futuro dos mais brilhantes no esporte.
Não é pachecada. Durante a recente Laver Cup, em San Francisco, nos EUA, o UOL ouviu elogios de ex-números 1 do mundo, empresários influentes e profissionais de marketing ao tenista carioca.
O australiano Patrick Rafter, campeão do US Open em 1997 e 1998, disse que o brasileiro será top 5 dentro de dois anos.
Andre Agassi, dono de oito títulos de slam, classificou João como "inteligente, perceptivo e receptivo".
Tony Godsick, sócio de Roger Federer e chairman da Laver Cup, trata Fonseca como "superstar" e o compara a seu parceiro de negócios.

O tenista da moda
Comercialmente, o apelo de João Fonseca é inquestionável. O adolescente tem um acordo com a Rolex e outro com a On Running, a marca de artigos esportivos da qual Federer é acionista e que faz parte dos investimentos da família Lemann.
Também leva na manga da camiseta o logo da XP Investimentos e está prestes a anunciar contratos com uma grande operadora de telefonia celular e uma plataforma de e-commerce.
Seu valor de mercado está muito acima de seu ranking. Número 45 do mundo, em outubro de 2025, Fonseca tem cifras comparáveis a tenistas do top 10.
Ronaldo, o Fenômeno, pretende investir na modalidade e fala explicitamente em "aproveitar o hype de João Fonseca".
Godsick, por sua vez, cogita a possibilidade de realizar no Brasil uma edição da Laver Cup, torneio itinerante de tênis profissional disputado por equipes, motivado pelo carioca.
A base desse hype, obviamente, é o tênis de Fonseca. O brasileiro tem um ótimo saque e uma direita que chama atenção.
No Australian Open deste ano, quando disputava a primeira chave principal de slam na carreira, disparou a direita mais rápida da rodada inicial: 181 km/h. No mesmo dia, bateu o top 10 Andrey Rublev.
Em fevereiro, foi campeão do ATP 250 de Buenos Aires, levantando seu primeiro troféu deste nível aos 18.
Com a mesma idade, Carlos Alcaraz e Rafael Nadal venceram seus primeiros títulos. Roger Federer, Novak Djokovic, Andy Murray e Jannik Sinner precisaram de um ano a mais.
No US Open, já aos 19, o carioca tornou-se o sétimo homem mais jovem a vencer seus jogos de estreia nos quatro slams.

Esses resultados levaram John McEnroe a dizer que olhava para João e via o próximo Alcaraz. Boris Becker postou que o céu é o limite.
Fernando Meligeni afirmou que "nem mesmo o Guga, quando era jovem, com 18-19 anos, jogava o tênis que o João joga".
André Agassi elogia a movimentação do brasileiro e "a potência pura que ele consegue gerar dos dois lados, sem nenhum esforço aparente".
É quase unânime no meio do tênis que de pouco adianta um jovem surgir com enorme talento se não conseguir lidar com a expectativa, a pressão ou até mesmo o sucesso e o dinheiro que vêm com as primeiras conquistas.
Fonseca ruma para terminar sua primeira temporada jogando os maiores torneios do circuito sem nenhum problema do gênero.
Abriu 2025 como número 145 do mundo, agora ocupa o 45º posto e ainda tem torneios a disputar, com uma chance de fechar a temporada entre os 32 primeiros do ranking.
Ex-top 20, o norte-americano Reilly Opelka disse, durante a Laver Cup, que Fonseca é "superinteligente, com um QI muito alto".
"Não só no tênis, mas na vida... Ele parece —e digo isso como elogio— um garoto normal que calha de ser muito bom no que faz."
Agassi, que foi capitão do time do brasileiro na Laver, em setembro, falou ao UOL após poucos dias de convívio com João.

Tony Godsick recebeu o UOL para uma exclusiva em seu escritório e comparou a relação de Fonseca e sua família com o que viu com Roger Federer. O executivo foi agente do suíço durante cerca de 20 anos.
"Conheço João desde que ele era muito pequeno. Acho que ele traz boa energia, tem uma família superlegal. Vi isso com o Roger, que é uma pessoa tão boa por causa de seus pais. Eu tenho a mesma sensação com o João. Seus pais são educados, e você vê que isso passa para ele. E ele é tão jovem! Tem uma estrada tão longa para desenvolver todos aspectos de seu jogo. E ele vai."
Rafter foi ainda mais longe em sua análise. "Um cérebro tenístico muito bom. Ele é calmo. É aberto a sugestões e a aprender. Daqui a um ano, será um grande jogador. Em dois anos, acho que ele será excepcional."

O 'efeito Fonseca' faz o tênis crescer
O mercado, evidentemente, vem acompanhando a evolução de Fonseca. A On já olhava para o brasileiro há muito tempo e assinou contrato com João em março de 2023, quando o adolescente tinha apenas 16 anos, antes mesmo de seu título no US Open juvenil.
O head de marketing da empresa no Brasil, Alexandre Martinez, destacou como o atleta é importante para alavancar uma marca jovem, com apenas 15 anos de existência.
"O João tem relevância global, mas nos ajuda demais do ponto de vista de 'brand awareness' no Brasil para se aproximar de uma comunidade mais jovem. João cria inspiração, fala com as novas gerações", destacou Martinez.
O kit usado por João no Australian Open esgotou em 20 minutos no site da On.
João Fonseca está entre os 10 ou 15 tenistas mais valiosos do mercado no momento, segundo Marcio Torres, empresário mineiro. Ele agencia os irmãos Bob e Mike Bryan e o cearense Thiago Monteiro, e já intermediou contratos para Tommy Paul, Bruno Soares, Teliana Pereira, André Sá e Thomaz Bellucci.

A pedido do UOL, Torres comparou os valores de patrocínio de Fonseca aos dos melhores tenistas do circuito. Sem revelar cifras, o empresário assegurou que o brasileiro está tão valorizado quanto alguns dos maiores nomes do circuito.
"O valor do João hoje é muito maior do que o ranking dele. É como se fosse uma ação de uma empresa aberta. As empresas estão pagando mais alto pelo que vai vir", explicou.
É consenso entre ex-tenistas e empresários que o "Efeito Fonseca" faz o tênis brasileiro crescer e ajuda até os compatriotas em atividade, que passam a competir com menos pressão —pense em Thomaz Bellucci e nos anos em que ele foi o único brasileiro na elite.
"Ele alimenta a cadeia inteira. É bom para a mídia, há mais patrocinadores na televisão, todo mundo quer ver o jogo dele, tem mais empresas interessadas no Rio Open, tem gente que nem pensava em ir ao US Open e agora vai. Ele é jovem, elétrico, é o carro forte hoje do tênis no Brasil", avalia Marcio Torres.
Para Lui Carvalho, diretor do Rio Open e do SP Open, o movimento gerado por Fonseca é ainda maior do que o da chamada "Era Guga", quando Gustavo Kuerten tornou-se número 1 do mundo e conquistou três títulos em Roland Garros.

O interesse maior pelo tênis já trouxe mais destaque para juvenis promissores, como Nauhany Silva e Victoria Barros, que têm 15 anos e estão entre as 40 melhores do mundo no ranking juvenil, e Luis Guto Miguel, de 16, que ocupa o 13º posto na lista de melhores homens até 18 anos.
"As empresas já conseguem vislumbrar que podem entrar, investir —a maioria, novos players— porque sabem que, por conta da precocidade e da juventude do João, nós teremos ainda muitos e muitos anos com ele trazendo muita visibilidade ao esporte. Com isso, é possível fazer um planejamento de médio e longo prazo", avalia o empresário Carlos Augusto Almeida, que agencia as brasileiras Laura Pigossi e Ana Candiotto.

Nas transmissões de TV, a ESPN registrou um crescimento de 33% em audiência e 28% em alcance nas transmissões ao vivo da modalidade no primeiro ano de Fonseca no top 100 em comparação ao mesmo período do ano anterior.
A partida de João Fonseca contra Alex de Minaur no Masters 1000 de Miami teve a maior audiência de uma partida de tênis na história do canal no Brasil. No Australian Open, a vitória sobre Andrey Rublev provocou um aumento de 433% na audiência da ESPN durante uma manhã de janeiro.

Críticas? Só nas redes
Entre comentaristas, tenistas e ex-tenistas é difícil encontrar opiniões negativas e mesmo críticas em relação a como a carreira de Fonseca é conduzida.
Obviamente, é possível apontar onde seu tênis pode melhorar. Seu backhand é bastante inferior ao forehand, e tanto seus games de devolução quanto o aproveitamento de break points ainda não estão no nível da elite do tênis.

Fininho cita, contudo, pontos a desenvolver: "João ainda não achou a sua forma clara de jogar. Ele é agressivo, mete a mão na bola, mas daqui a um ou dois anos, a gente vai ver o João jogando totalmente diferente do que ele joga hoje. Ele vai evoluir taticamente".
Nas redes sociais, há quem diga que João deveria jogar mais torneios. Outros apontam para a falta de experiência de Guilherme Teixeira e pedem um treinador mais experiente. Até Galvão Bueno engrossou esse coro recentemente.
Por fim, há o grupo que considera exagerado o hype em torno do carioca. Gente que considera jovens como o tcheco Jakub Mensik (20 anos, #16 do mundo e campeão do Masters 1000 de Miami) e o americano Learner Tien (19 anos, #36) merecedores de tanta ou mais atenção.
Como Fonseca e seu time encaram isso tudo? Tentando bloquear distrações. O calendário do tenista é montado de maneira conservadora, evitando sequências demasiadamente exigentes e tentando preservar um corpo ainda em desenvolvimento.
Seus pais falam pouco. Christiano Fonseca Filho, mais conhecido como Crico, foi pioneiro do mercado financeiro e fundou a primeira gestora independente do Brasil. A mãe, Roberta, foi jogadora de vôlei.
Os dois evitam entrevistas. O mesmo vale para Guga Abreu, empresário de João que é antigo amigo da família e também vem do mercado financeiro.
João mostra um combo de cautela e confiança. Na maior parte do tempo, fala em aprendizado. Diz que absorveu muito durante 2025, a primeira temporada em que disputou os quatro slams e vários torneios da série Masters 1000. Durante a Laver Cup, destacou seguidas vezes que estava lá para escutar em vez de falar.
"Acho que essa mentalidade foi importante para este ano. A forma de encarar os momentos importantes, como encarar as pressões, as torcidas grandes, os estádios grandes, a expectativa. Obviamente, vai haver pessoas, vamos dizer assim, invejosas falando ali, na internet, e a gente só tem que manter o pé no chão e seguir trabalhando para atingir coisas grandes, mas eu diria que este foi um ano de muito, muito aprendizado", disse ao UOL.

Por outro lado, o carioca nunca deixa de mostrar que acredita em seu potencial. Pouco depois de ouvir de Rafter que tem tudo para se tornar um jogador excepcional em dois anos, Fonseca não descartou a possibilidade de fazer algo grande antes desse prazo.
"Acho que se ele falar seis meses ou um ano, talvez esteja confiando demais... Cada um tem o seu tempo, não quer dizer que daqui a dois anos eu vou estar lá. Não quer dizer que em seis meses eu não possa estar lá. Eu vou continuar fazendo o meu melhor, obviamente. Isso me dá mais motivação para seguir trabalhando e saber que estou no caminho certo."
Essa característica também ficou evidente durante a Laver Cup. Quando o brasileiro entrou para fazer sua estreia na competição, tinha a missão de dar o primeiro ponto para sua equipe. Fez mais do que isso. Como ele mesmo disse, "tocou o terror".
"É um torneio que não vale nenhum ponto, mas todos queriam ganhar, todos queriam competir, superunidos. Uma parte importante foi quando estava 2 a 0, e eu ia entrar para jogar. Vi todos ali no lounge cabisbaixos, e eu já cheguei tocando o terror, batendo na porta. 'Vambora, galera!' O espírito de equipe foi superlegal e foi um grande aprendizado."







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