Ex-UFC jogou no Corinthians e agora é campeão nas lutas de travesseiro
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Um ringue de boxe, público e premiação ao campeão. Quem liga a televisão acha que está prestes a assistir a uma luta tradicional, mas se depara com os competidores usando travesseiros para se golpear. Em 2021, durante a pandemia da covid-19, o Pillow Fight Championship (PFC) foi realizado pela 1ª vez. Basicamente, uma luta de travesseiros.
"Ainda olham com desdém", conta Leandro 'Apollo' Silva, ex-lutador do UFC, ao UOL.
Nascido em São Paulo e hoje na Flórida, nos EUA, explica que foi convidado pelos organizadores do evento em uma época em que as lutas de MMA não estavam acontecendo. "Foi logo pós-covid. Sei que eu não estava lutando e eu tinha que fazer dinheiro", diz Apollo, que era chamado de Buscapé na época do UFC. Ele foi campeão do último Pillow Fight, no início de agosto, ao vencer três lutas.
"Saí campeão e recebendo 7.200 dólares (R$38,9 mil, na cotação atual). É um dinheiro bom para tomar 'pillowzada', que não vai ter lesão nenhuma, machucado nenhum. E o show foi incrível."
Como é uma luta de travesseiros?
O travesseiro de uma luta do PFC pesa menos de um quilo (910 gramas, aproximadamente). Não pode derrubar o travesseiro no chão, nem segurar o oponente, além de outras regras mais específicas de pontuação.
"Existem ângulos para acertar e existe a pontuação. Então, se você acerta o rosto normal, é um ponto. O 360 vale 3. O knockdown vale 5, que é o que eu consegui na primeira luta do torneio. Derrubei um cara maior que eu", lembra Apollo.
Pontos também são dados para quem tem "presença de palco", segundo o site do torneio: desviar de uma série de golpes ou realizá-los com um mortal, cambalhota ou ficar no ar com os dois pés fora do chão e terminar com um golpe que vale ponto. "Dá para utilizar tudo isso. A irreverência quem tem. Eu tenho às vezes um pouco", diz Apollo.
São 3 rounds de 1 minuto nas lutas. Quem somar mais pontos vence.
Jogou na base do Corinthians
O início de Apollo na luta foi tardio e longe dos travesseiros. Ele tinha o objetivo de ser jogador de futebol e tentou até os 18 anos, quando parou para ajudar sua mãe. Nunca conheceu o pai.
"É aquele típico cenário do moleque de origem pobre", conta Apollo, que passou pelas categorias de base de Corinthians, Portuguesa, São Caetano e Marília.
"Eu já estava treinando com os profissionais, mas não recebia um salário, uma ajuda de custo mínima. E aí quando eu fui passar as férias de final de ano, estava tudo bagunçado em casa, eu falei: 'Vou parar, vou ajudar a senhora'."
Depois de dois anos, aos 20, encontrou o jiu-jitsu. "Eu ia para o treino com a mentalidade de auto punição: 'Tomara que alguém me apague, quebre o meu braço'. Só que foi nesse cenário que eu comecei a evoluir. Os caras não conseguiam me finalizar. E eu comecei a ficar duro. Aí que veio o apelido de Buscapé."
Em três meses de treino, já foi competir. "Me lasquei e perdi, mas eu vi que aquele ambiente da arena, o pessoal gritando e toda aquela adrenalina me remetia ao futebol", lembra. Em um ano e meio, estreava no MMA profissional.
UFC
Apollo, então Buscapé, chegou ao UFC em 2013. Foram oito lutas em três anos. Venceu três e perdeu quatro, além de uma sem vencedor.

As últimas lutas foram na RFA, promotora na Europa, em abril e maio deste ano. Ganhou de um inglês na Eslováquia no MMA e perdeu de um tcheco na República Tcheca, mas no boxe. "Aí fui para o Pillow Fight e ganhei", diz.
Ele mudou o nome para Leandro Apollo após ser naturalizar americano e acredita que teria condições de voltar para o UFC. "Muitos acham que estou velho, mas se eu voltasse para o UFC, eu acho que ia fazer um barulho pelo personagem que hoje eu tenho, que aí eu levei para o Pillow", conta.
Futuro nas lutas de travesseiro?
Aos 39 anos, Apollo diz que vai lutar enquanto ainda tiver adrenalina. "Quando eu sentir que já deu, aí eu vou focar em outras áreas. Tem a parte da música, sou compositor também", conta.
O lutador também vai abrir em St. Cloud, na Flórida, uma academia da American Top Team - eleita 6 vezes como 'Academia do Ano' no 'World MMA Awards' e onde muitos lutadores do UFC treinam.
A luta (não só a de travesseiro) ainda permitiu a Apollo conhecer impressionantes 56 países.
"Para quem saiu da favela, conhecer 56 países é uma coisa que eu vejo que às vezes é mais que um cinturão. Para ressignificar tudo, todo o trauma, tudo aquilo que foi passado na infância e até ter o sentimento de merecimento de ir a um lugar, na Suécia, no Japão, na Tailândia, você fala que quem está na periferia só vê por filme e olhe lá."



















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