Em pausa na carreira, Tati Webb ganha convite e vai competir em Saquarema

Tati Weston-Webb vai estar em Saquarema, Rio de Janeiro, para a etapa brasileira do Circuito Mundial de Surfe (WSL). A atleta, que anunciou uma pausa na carreira em março para cuidar da saúde mental, recebeu o wildcard (convite) da liga para participar do evento.

A revelação foi feita por Ivan Martinho, presidente da WSL na América Latina, em bate-papo com o UOL. O torneio vai acontecer na janela entre os dias 21 e 29 de junho.

A Tati vai estar conosco competindo no Vivo Rio Pro. Ela anunciou a pausa... É um grande nome do surfe feminino, tem representatividade, medalhista de prata olímpica, é um orgulho do Brasil. Depois no ano olímpico, em que ela fez um esforço enorme, de forma justa, transparente, resolveu descansar um pouco, colocar as coisas no lugar, mas torço muito [para o retorno em breve]. Vamos ter a felicidade de ter a Tati competindo como wildcard do nosso evento, mesmo nesse período que ela tirou. Quando ela estiver pronta para voltar, vamos poder recebê-la pela porta da frente, que é o lugar dela, e vai poder competir e continuar encantando.
Ivan Martinho

Uma das novidades da etapa de Saquarema, o "Maracanã do surfe", nesta temporada, é a união com o festival de música "Sun, Sound e Soul", que vai acontecer no dia 19 de junho, no Campo de Aviação. O evento terá atrações como Toni Garrido e o rapper Filipe Ret, além da participação especial de Gabi Melim.

O evento acabou se transformando no maior evento de surfe do mundo. Historicamente, era o US Open, que acontece em Huntington Beach, Califórnia, que também é da WSL e faz parte do Challenger Series, mas o Rio Pro se tornou o maior e não são muitos eventos esportivos do Brasil que têm essa posição. É uma responsabilidade grande. E o que aprendemos é que temos de ter inovações.
Ivan Martinho

"Esse ano, a janela do evento abre dia 21 de junho, que é um sábado. Mas, não coincidentemente, marcamos a janela do evento para começar no dia 21 e, no dia 19, tem o feriado do Corpus Christi. Conseguimos fazer essa conciliação. A ideia era criar uma atração já no dia 19 para fazer com que as pessoas antecipem a chegada delas a Saquarema", completou.

Cerca de 350 mil pessoas passaram pela competição em 2024, recorde de um evento da WSL — 64% se hospedou em Saquarema, enquanto 16% aportou em cidades vizinhas, como Araruama, Cabo Frio, Maricá e Búzios. Um estudo feito pela Ernst & Young, após a competição, apontou que a etapa movimentou R$ 159 milhões.

O que mais ele falou?

O que a etapa de Saquarema representa hoje no tour? "Muito. Primeiramente, é uma etapa que é diferente de todas do tour por muitos aspectos. Começa pela torcida, obviamente. Não são todas as etapas em que temos essa torcida calorosa e os surfistas de outras nacionalidades não necessariamente estão acostumados com isso. Vem daí o apelido "Maracanã do Surfe". E, historicamente, tem trazido muita sorte para os brasileiros (risos), não só pela habilidade, mas pela mãozinha que a torcida dá nesse apoio. Os atletas também se divertem muito nas suas horas livres, nos dias que não está tendo competição.

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Esse ano vamos trazer para os atletas estrangeiros uma barraca de frutas típicas brasileiras para que possam experimentar. Oportunidade de dar esse contato com nossa culinária, cultura, contar a história de Saquarema e levar o nome do Brasil. O surfe é o Brasil que dá certo, que vence, que orgulha e faz ídolos.

Alguns surfistas fizeram pausas na carreira para cuidar da saúde mental. Como a liga avalia isso? Causa preocupação? "Sem dúvida. Óbvio que tudo que fazemos aqui é sempre para criar um ambiente que seja saudável, alto astral, tudo isso. Como em qualquer esporte profissional, há competição... Nos últimos anos, o componente da exposição nas redes sociais, que tem um lado interessante do ponto de vista financeiro, patrocinadoras, mas, por outro lado, também tem uma pressão que se estabelece.

Como um esporte profissional é importante entender que, sim, existe um nível de pressão. A WSL tem dispositivos de apoio psicológico para apoiar todo esse aspecto, inclusive respeitar esse momento, eventualmente, em que os atletas precisam para poder relaxar um pouco. Alguns falam que ser surfista profissional é a melhor profissão do mundo, mas a melhor profissão do mundo também tem seus desgastes.

Não só apoiamos o atleta para este tempo, mas também fazer essa recondução quando eles estão prontos para voltar. Foi assim com os que tiveram o seu tempo fora, mas que voltaram em alto nível".

Como a WSL vê e proliferação de piscinas de ondas? "Sempre que vai haver uma preferência por uma ou outra tecnologia, mas vemos com muito bons olhos e por alguns motivos. Primeiramente, dizer que a primeira piscina de ondas que recebeu uma competição de surfe no mundo foi a piscina que pertence ao mesmo grupo de acionistas da WSL, que é o Surf Ranch, na Califórnia. Fazíamos uma etapa por ano lá e esse ano fizemos na piscina de mesma tecnologia do centro de treinamento em Abu Dhabi.

O Brasil, até o final de 2026, vai ter mais de 15 piscinas de ondas espalhadas. Diversas tecnologias, diversos modelos de negócio... Alguns em condomínios fechados, outros com clube de participação. Para nós, isso representa o crescimento, a inovação, mais gente praticando o surfe. Dependendo da maneira como essas piscinas de ondas estão sendo estabelecidas nesses condomínios de alto padrão, clubes com o ticket mais alto, passa a fazer parte de um posicionamento que até então pertencia ao tênis, ao hipismo, ao golfe. Com a piscina de onda se cria essa percepção também muito interessante ao surfe, que já é um esporte ultrademocrático, afinal o mar é para todos.

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O surfe é feito de ondas diferentes. A onda de Saquarema é diferente da onda de Fiji, que é diferente da onda de Peniche, em Portugal. A piscina de onda é mais um tipo. É assim que a gente entende, não vemos como algo separado. O melhor ou a melhor surfista é aquele que tem maior regularidade no tour todo, que tem os diversos tipos de onda. Entendemos a piscina como algo complementar, e não substitutivo ao oceano.

Agora, as piscinas trazem uma componente incrível de evolução do ponto de vista técnico para o surfista. Para treinar, você precisa de repetição. Qualquer esporte é assim. No surfe é difícil fazer isso no mar, porque cada onda é muito diferente, não são todos os dias que as condições estão as mesmas. Quando você vai pra piscina de ondas, você traz essa componente da repetição e do aperfeiçoamento, que até então era exclusividade de outras modalidades".

Recentemente, Caio Ibelli desistiu do Challenge Series e desabafou sobre "pagar para trabalhar". "O Caio é uma grande figura, um surfista que fez história no tour, grande nome do surfe. Torço muito para que possa continuar dentro do ambiente do surfe. Ele comentava sobre esse desafio dos custos de viajar no tour do Challenger Series, que tem etapas mundo afora e que, eventualmente, se você não pega uma boa classificação, a premiação pode não cobrir os custos do deslocamento e hospedagem. Ele falava sobre esse tema específico. Aqui vale a pena fazermos um paralelo para dizer que essa não é uma exclusividade do surfe nas categorias de acesso. Muitos esportes são assim.

Óbvio, quando se faz parte de um esporte de time e o time é responsável pelos custos, tudo bem. Mas se for para esportes individuais, tem muitos que têm esse mesmo desafio. Normalmente, os recursos de um atleta vêm de duas principais fontes: premiação e patrocínios. Óbvio que vai ter atletas como o Gabriel [Medina], como o Ítalo [Ferreira], que são os recordistas de número de patrocinadores e têm uma receita vinda de patrocinadores muito maior do que são capazes de conseguir na premiação. Os grandes atletas do mundo acabam ganhando, com algumas exceções, mais com patrocínio que com premiação.

Está acontecendo, nesse momento, uma transição interessante, sobretudo na América Latina. Historicamente, as marcas de surfwear eram os principais financiadores e apoiadores dos atletas. Essas marcas, por uma questão mercadológica, acabaram diminuindo os seus investimentos, e outras marcas, também de outros ramos, passaram a fazer parte do ambiente de surfe, muitas delas trazidas pela WSL, tanto da América Latina quanto global.

Essa transição traz um novo desafio para os atletas para que consigam continuar desenvolvendo as suas carreiras no surfe profissional. Acho que essa composição das duas receitas é que acaba fazendo com que os surfistas consigam chegar nas etapas do Championship, e sem dúvida alguma, quanto mais eventos nós, como Liga, conseguirmos promover, e temos batido recordes ano após ano, mais oportunidades aos atletas".

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