Descoberto no Ibirapuera: o 'gringo' que estreou na seleção de vôlei aos 27

Filho de um nigeriano com uma pernambucana, ele passou boa parte da infância longe do Brasil, foi descoberto jogando vôlei no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e estreou na seleção brasileira aos 27 anos. Esse é um breve resumo da trajetória do oposto Chizoba Atu, que ganhou oportunidade no jogo contra Cuba, pela Liga das Nações.

Feliz de ter tido minha estreia com a seleção brasileira depois de três anos fazendo parte em treinamentos e na seleção B. Feliz com o Bernardo ter me dado essa chance. [Queríamos] uma vitória, obviamente, mas, por outro lado, feliz de ter podido contribuir com alguns pontos. Espero ganhar muitos jogos com a seleção brasileira.
Chizoba

O português é bom, mas o sotaque ressalta as raízes do atleta fora do país. Entre a infância e o início da adolescência, foram 11 anos somados na Espanha e Bolívia, o que fez com que aprendesse a falar espanhol antes da língua pátria brasileira.

"Primeiramente, morei na Espanha por seis anos. Voltei [para o Brasil], fui embora e foram mais cinco na Bolívia, onde comecei a jogar vôlei. Lá não tem uma liga profissional, só tem campeonatos colegiais e universitários, e eu tinha o sonho de jogar profissionalmente. Falei com a minha família que ia voltar para cá", conta.

Aos 18 anos, desembarcou em São Paulo, cidade onde nasceu, para tentar começar uma nova história. Na busca por oportunidades, passou a jogar algumas partidas em parques públicos, e foi aí que o rumo começou a mudar.

Comecei a procurar times, fui jogando em parque... Me acharam jogando no Ibirapuera, acredita? Uns meninos me viram, falaram com o técnico e me habilitaram para jogar na Federação Paulista. De lá, São Caetano, Goiânia [para o Monte Cristo] e voltei para a Europa.

Na temporada 2018/2019, transferiu-se para Pärnu VK, da Estônia, onde foi campeão nacional — chegou a marcar 46 pontos em uma única partida. Em 2019, recebeu o primeiro convite da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para um período de treinos em Saquarema.

A indicação partiu do técnico Marcelo Fronckowiak, que tinha um auxiliar estoniano que observou Chizo, como é chamado pelos mais íntimos. O oposto ainda atuou no voleibol francês e polonês.

Não estava nos meus sonhos. Eu achava muito difícil, porque, para participar disso, é um processo. Você vem participando de categorias de base da seleção... Muitos poucos não fizeram parte da base e debutaram com a principal. Não estava nos planos, mas estou bem feliz.

Continua após a publicidade

A estreia aconteceu justamente em um Maracanãzinho lotado. "Passei minha carreira na Europa, nunca tinha tido a chance de jogar em um ginásio como o Maracanãzinho, não tinha sentido esse amor que os brasileiros têm pelo vôlei".

Chizoba, inclusive, achou que não fosse poder entrar em quadra após uma torção de tornozelo em um treino. "Há uma semana, no treino, torci meu tornozelo bem feio. Estava bem inchado e roxo, mas a recuperação foi bem rápida. As sete, oito horas de fisioterapia diárias ajudaram. Eles brincaram que eu tive uma das três recuperação mais rápidas da história da seleção (risos). Achei que não fosse ter a chance de jogar aqui, estava bem chateado, mas tive a chance e entrei".

O oposto, agora, tenta organizar a ida da família para o Rio de Janeiro para os jogos da Liga das Nações de sábado e domingo. "Eles nunca tiveram a chance de me ver jogando profissionalmente. Tomara que eu que consiga fazer isso acontecer".

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.