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Bastou uma frase nos stories para acender um debate antigo no surfe profissional. "Talvez um dia veremos um circuito equilibrado", escreveu Italo Ferreira, campeão mundial de 2019, na véspera de mais uma etapa do Mundial de Surfe da WSL. Não citou nomes, não deu detalhes. Mas quem acompanha o CT entendeu de cara: a crítica era sobre a escolha das ondas do tour. E ele tem razão.
Hoje, o calendário do Mundial ainda privilegia ondas que quebram para a direita - ou seja, favorecem surfistas regulares, aqueles que surfam com o pé direito atrás da prancha. Nessas condições, eles surfam de frente para a onda, o que, tecnicamente, é mais confortável e permite uma abordagem mais natural.
Já os atletas goofies, como Italo, que surfam com o pé esquerdo atrás, precisam encarar muitas dessas direitas de backside - ou seja, de costas para a parede da onda. É uma posição mais desafiadora e que exige adaptação constante, especialmente em ondas mais rápidas e cavadas. Mesmo sendo um dos surfistas mais explosivos e versáteis do mundo, Italo segue tendo que remar contra a maré - ou melhor, contra o desenho do próprio circuito.
O calendário de 2025 escancara o desequilíbrio. Das 12 etapas, apenas duas são exclusivamente de esquerdas: Teahupoo, no Taiti, e a finalíssima em Fiji - ambas só no fim da temporada.
Outras seis ondas são consideradas mais neutras, podendo quebrar para os dois lados, mas com algumas delas ainda com uma tendência maior para a direita. E quatro são majoritariamente direitas, como Bells Beach e Gold Coast, na Austrália, Jeffreys Bay, na África do Sul, e El Salvador.

Vale lembrar: o próprio Italo venceu este ano justamente em uma dessas "neutras" - a piscina de ondas de Abu Dhabi.
E ele não é o único a reclamar. Gabriel Medina, tricampeão mundial e também goofy, já apontou o mesmo problema em outras temporadas. Vários surfistas do tour também já sugeriram mais diversidade nas escolhas das etapas - algo que reflita a pluralidade de estilos e perfis dentro do circuito.
A WSL, é verdade, tem feito mudanças. Em 2026, o calendário e formato serão diferentes, mas, no fim das contas, as ondas continuam as mesmas. A próxima grande mudança talvez tenha que ser mais profunda: olhar para o mapa com outros olhos - e talvez dar mais espaço para ondas que desafiem todos de forma equilibrada.
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