Judoca ouro em Paris mira Mundial inédito e brinca: 'Todas querem me bater'

Medalhista de ouro nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024, a judoca Rebeca Silva embarca para Astana, no Cazaquistão, para a disputa do Mundial da modalidade, e quer começar o ciclo para Los Angeles-2028 com uma novidade na galeria de títulos.

O topo do pódio na capital francesa, inclusive, fez a brasileira ter de se acostumar a um novo cenário nas competições das quais participa. Agora, ela é o nome a ser batido na categoria acima de 70 kg para atletas J2 (baixa visão).

É o terceiro Mundial que vou disputar. Costumamos falar que o Mundial vem com novidades, pessoas novas, regras que, às vezes mudam de um ciclo para o outro, e é o pontapé inicial para Los Angeles. Então, vejo como o começo de tudo, e é um objetivo ser campeã porque ainda não tenho esse título.

Todas querem me bater, literalmente (risos). Eu virei o alvo principal. Então, tenho de me dedicar mais, treinar mais para que elas venham querendo me bater, mas que eu esteja preparada.

Rebeca Silva participou do Collab Sumit, que aconteceu no Rio de Janeiro, na última terça-feira. O evento, que teve debates sobre inovação, tecnologia, educação e empreendedorismo, marcou o lançamento do documentário "O Caminho da Vitória", que narra os desafios e bastidores da vida da judoca. A obra é de produção de Bianca Gama, coordenadora geral do Collab Summit.

A atleta nasceu com Amaurose Congênita de Leber (ACL), uma doença degenerativa hereditária rara que afeta a retina.

Rebeca Silva em lançamento do documentário "o caminho da vitória", no Collab Summit
Rebeca Silva em lançamento do documentário "o caminho da vitória", no Collab Summit Imagem: Divulgação Collab Summit

Acho que o documentário é algo muito importante para mim, para minha carreira e para o esporte paralímpico. Nunca tinha feito, foi muito diferente para mim, mas é algo que traz uma visibilidade muito grande tanto para o atleta quanto para o esporte paralímpico. Então, me senti honrada em poder contar um pouquinho da minha trajetória, contar um pouquinho do que eu vivi nos Jogos, de toda a minha história.

O que mais ela falou?

O que o ano de 2024 representou para você? "Foi o auge da minha carreira. Os Jogos sempre foram o meu objetivo principal, e quando cheguei lá, estava realizando um sonho, realizando tudo. E não só o meu sonho, o sonho da minha família, dos meus técnicos, dos companheiros de treino, de todos que passaram pela minha vida, viveram comigo. Ali, estava representando uma nação e todos que estiveram comigo durante quatro anos. Significou muito para mim, foi uma virada de chave em minha carreira. Hoje eu não sou mais apenas a Rebeca que luta judô, eu sou a Rebeca campeã paralímpica".

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Ciclo para Los Angeles-2028. "Los Angeles, ao mesmo tempo que parece estar tão longe, está tão perto, porque quatro anos passam voando. E vejo como uma chance de me tornar bicampeã paralímpica e fazer uma história".

O que ainda almeja? "Quero conseguir me tornar bicampeã paralímpica, conseguir ir para as Paralimpíadas bem, melhor do que eu já fui, conseguir alguns títulos que eu ainda não tenho, tipo Parapan, Mundial... A Paralimpíada foi uma realização para a minha carreira, mas eu tenho que entender que eu ainda estou muito nova e que eu ainda tenho muita coisa para viver, que tenho muitos outros títulos para conquistar. É uma oportunidade que eu tenho de fazer acontecer mais do que já aconteceu".

O ouro em Paris também trouxe uma maior visibilidade? "Não caiu muito minha a ficha, sabe? Às vezes, o pessoal: 'Nossa, Rebeca...', e eu fico tipo: 'Gente...' (risos), e está tudo bem, porque eu continuo sendo a mesma Rebeca de antes dos Jogos. Não tem diferença. Agora, tenho um título, tenho orgulho dele, mas ainda assim quero tratar sempre todo mundo muito bem, brinco com todo mundo, tiro foto. Sinto um prazer enorme em fazer".

Como chegou ao esporte paralímpico e como iniciou no judô? "O esporte sempre esteve muito presente na minha família. O meu pai jogou futebol, goleiro, durante um tempo. Meus pais sempre incentivavam muito a mim e a meu irmão a praticar esportes, foram muito atrás de recursos, de oportunidades para a gente mesmo. Tínhamos um apoio em São Bernardo, que é de onde eu sou, de uma associação que disponibilizava o esporte, para as crianças. Dali surgiram vários atletas, inclusive. Esse projeto, infelizmente, acabou finalizado por falta de verba. Passei um tempo sem praticar esporte algum e meu pai sempre falava: 'tem de voltar a praticar alguma coisa'. O meu irmão continuava no futebol.

Um rapaz da associação me ligou e falou que tinha um lugar que tinha judô: 'Vai lá testar, vê se você gosta. O sensei falou que está disposto a abrir oportunidade e treinar algumas pessoas com deficiência'. Eu fui e, já na primeira aula, me encantei. Pedi um quimono à minha mãe. Ela perguntou se eu não queria esperar umas aulas, porque quimono é caro. Acabou que ela comprou. Foi um amor à primeira vista. Graças a Deus eu tive um técnico [Eduardo] muito bom no início, que teve toda a paciência e aprendeu junto comigo como dar aula para uma pessoa com deficiência".

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