Ouro no Pan, carateca sofre por recursos para competir: 'Me endividando'

Medalhista de ouro no caratê nos Jogos Pan de Santiago-2023, a brasileira Bárbara Hellen vê os próximos passos na carreira se tornarem uma incógnita devido à falta de recursos financeiros.

Ela busca financiamento para a atual temporada e mira a participação no Pan-Americano da modalidade que vai acontecer no México, em maio. Recentemente, ela não conseguiu comparecer a uma etapa da Premier League do circuito mundial, que foi realizado na China.

Desde o final do ano passado estou em busca de patrocínios. Já estive em algumas competições em 2025. Fui para Geórgia, Paris, fiz camping [período de treinos] em Las Vegas e Europa, mas tudo isso do meu bolso. Chegou um momento em que percebi que, na verdade, estava me endividando.
Bárbara Hellen

Líder do ranking brasileiro feminino -61 kg, Bárbara se inscreveu no torneio e buscou auxílio nas redes, mas não conseguiu angariar o valor necessário. Ela conta que a ausência também causou prejuízos esportivos.

"Chegou o momento que teria competição da China. Eu falei: 'Não tenho condições de ir, mas vou tentar algum movimento'. Busquei contatos para patrocínios e fiz uma vaquinha online. No começo, a cotação estava na casa dos R$ 25 mil, mas, com o passar do tempo, foi para R$ 40 mil, e isso com trechos 'quebrados' de viagem aérea", aponta.

Na plataforma de arrecadação online, a atleta colocou como custo estimado para a temporada R$ 95 mil, incluindo taxas de inscrição, passagens aéreas, hospedagem e alimentação, dentre outros pontos.

Foi uma decisão difícil, doeu muito, porque era uma competição importante. Hoje, estou no Top 32, mas não ter isso nessa etapa vai fazer a minha posição no ranking mundial cair. Agora, para estar na World Games, competição super importante, vou ter de batalhar para ser campeã do Pan-Americano.

Felipe Gonçalves, treinador e noivo de Bárbara, acompanhou a atleta também custeando as viagens. "Um atleta sem um técnico é muito diferente porque, quando está junto, é como se estivessem duas pessoas lutando. Se eu vou sozinha e a adversária está lá com o seu técnico, alguém que ela tem uma boa ligação e treina todos os dias, é muito mais fácil de ler a luta. Por isso, há esse esforço. Mas toda cotação de custos que faço, simulo valores para uma viagem sozinha".

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Bárbara, atualmente, treina em Pouso Alegre, Minas Gerais, cidade natal dela. Ela, agora, se prepara para participar do Pan-Americano que será realizado no México, no fim de maio.

"Continuo firme e tento fazer o meu melhor dentro das condições que eu tenho. Se eu conseguir participar de algumas outras [competições], vou participar. Tenho o Pan-Americano e estou indo atrás de recursos. Depois, tem uma outra Premier League. Vamos ver se vai dar certo. Estou me organizando para tentar ir ao máximo de competições internacionais, que pontuam e me dão ritmo para as próximas".

Ela foi ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, em 2023, mas lamenta que o topo do pódio na competição não tenha se convertido em investimentos.

Essa medalha no Pan me deu mais motivação em continuar treinando, competindo e tendo novas conquistas, mas imaginei que, depois dela, teria um reconhecimento e encontraria mais patrocínio, mais pessoas querendo se associar à modalidade, coisas do tipo, mas, infelizmente, não aconteceu essa outra parte.

Diante do cenário de incertezas, a carateca decidiu dar novos passos também em um desejo que estava em segundo plano em meio à carreira esportiva: está cursando medicina.

Estou no primeiro período, comecei agora. Desde novinha, sempre quis cursar medicina. Quando fiz 18 anos, fiquei em dúvida, mas coloquei meu foco no esporte e não me arrependo. Mas, diante do que tenho enfrentado atualmente, comecei a pensar nisso e entendi que, talvez, fosse o momento de começar. Eu amo o esporte, mas preciso olhar essa questão da carreira. Comecei e estou conciliando a rotina de estudos com a de treinos e competições.

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