Nº 1 do Brasil no badminton relata drama no México: 'Preso sem comunicação'

Principal nome do badminton brasileiro, Ygor Coelho vai procurar ser ressarcido após ter sido deportado do México e ficar fora da Copa Pan-Americana por Equipes. Ele relatou momentos de tensão após o desembarque no país, quando ficou retido no Aeroporto Benito Juárez, na Cidade do México, por mais de 24 horas.

Ygor atendeu à reportagem do UOL por telefone, já na residência na Dinamarca — ele atua pelo Triton Aalborg —, nesta madrugada pelo horário local. "Eu nem estou conseguindo dormir", explicou.

Estou em contato com o COB [Comitê Olímpico do Brasil], Comissão de Atletas, [a organização] Atletas pelo Brasil, Ministério do Esporte e Embaixada para me ajudar. Eu perdi um torneio que conta pontos para o ranking. Além disso, houve prejuízo financeiro e danos morais.
Ygor Coelho

O atleta, que participou de três Jogos Olímpicos, disse que, logo que chegou ao México, foi abordado na imigração por um senhor que o questionou se tinha visto americano, e ele respondeu negativamente, mas disse ter o comprovante de residência da Dinamarca.

Ele pegou, voltou com um papel para assinar, e disse que eu ia para uma segunda entrevista. Veio um guarda, pegou meu celular e meu relógio, e eu fiquei preenchendo um papel sem meio de comunicação algum.
Ygor Coelho

Brasileiro Ygor Coelho, do badminton, atua em time da Dinamarca
Brasileiro Ygor Coelho, do badminton, atua em time da Dinamarca Imagem: Reprodução Instagram

Ygor foi para a segunda entrevista e lhe foi perguntado o que estava fazendo no México. "Eu disse que ia jogar a Copa Pan-Americana de badminton. Ele me pediu várias informações e dei todas elas. Ele disse que, lamentavelmente, não poderiam deixar eu passar porque eu não tinha visto válido".

O atleta, que conta já ter entrado no México em outras oportunidades com o mesmo tipo de documento apresentado agora, aponta que teve de assinar um documento que dizia que estava violando uma regra da lei de imigração. "Eu tinha pesquisado antes e visto que era possível entrar com a residência da Dinamarca. Argumentei que era injusto o que estavam fazendo, mas ninguém queria me ouvir".

O brasileiro teve direito a duas ligações, uma para a família e outra para a Embaixada do Brasil. Optou pelo primeiro contato com as autoridades. "Eles disseram que não podiam fazer algo porque a imigração do México tinha regras próprias. Bateu o desespero, mas não desisti". Na segunda ligação, Ygor falou com Marco Vasconcelos, técnico da seleção brasileira, mas sem avanço nas tentativas de mudar o cenário.

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Fiquei preso sem comunicação, não podia tomar banho, escovar os dentes, nem beber água. Em um momento, pedi 'por favor' para beber água, e liberaram. Foi tenso, terrível.

Após cerca de 16 horas preso, Ygor conta com um rapaz que se identificou como integrante das Forças Armadas lhe deu a oportunidade para uma nova ligação, e ele voltou a falar com Marco. Desta vez, pediu para ele avisar à família. "A minha esposa [Karine Sousa] e Gwenaelle [Maitre, gestora esportiva] eram as pessoas mais próximas e sabiam que não seria necessário um visto mexicano".

No site da embaixada mexicana, no tópico "exceções de visto" tem um item que lista: "Documento que comprove residência permanente no Canadá, Estados Unidos da América, Japão, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, qualquer um dos países que compõem o Espaço Schengen, bem como os países membros da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia e Peru)". O "espaço Schengen" é uma área de livre circulação de pessoas dentro da Europa e que, atualmente, inclui 26 países europeus, dentre eles a Dinamarca.

A Confederação Brasileira de Badminton emitiu nota na manhã desta quinta-feira (13) informando sobre o episódio, mas Ygor contesta o tom. "Infelizmente, parece que a confederação lutou tarde demais. Fui deportado. Mas soltaram uma nota que dá a entender que eu estava errado".

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores disse que "tem conhecimento do caso e prestou assistência consular ao nacional".

Ele expôs nunca ter vivido algo parecido antes, mesmo tendo ido a diversos países para competir. "Já fui a quase 50 países e nunca passei por isso. Eu fiz tudo certo e fui preso".

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Veja nota da CBBd emitida na manhã de quarta-feira

"A Confederação Brasileira de Badminton (CBBd) lamenta informar que o atleta Ygor Coelho não poderá representar o Brasil na Copa Pan-Americana por Equipes de 2025, competição que ocorre no México a partir desta quinta-feira (13).

Ao desembarcar no México na quarta-feira (12), o jogador foi detido pelas autoridades locais por problemas com o visto de entrada. Ygor ligou para o Marco Vasconcelos, técnico da seleção brasileira de Badminton, que imediatamente acionou José Roberto Santini Campos, presidente da entidade.

Ciente da situação que o jogador estava vivendo, a CBBd iniciou ações para tentar solucionar a questão e auxiliá-lo, inclusive junto ao Comitê Olímpico do Brasil (COB) e à organização da Copa Pan-Americana, via presidente da Confederação Mexicana e Pan-Americana de Badminton. Por fim, a CBBD também acessou a Embaixada Brasileira na Cidade do México, que explicou que o atleta seria deportado como forma de cumprir a legislação do país-sede do campeonato.

Inicialmente, Ygor Coelho saiu de Billund, na Dinamarca, em aéreo emitido pela Confederação, e foi para Amsterdã, de onde seguiu para a Cidade do México. Segundo a legislação local, para entrar no país a pessoa precisa preencher um dos pré-requisitos a seguir: visto americano válido, visto canadense presencial válido ou o visto mexicano. No momento de sua entrada, ele estava com o visto americano vencido e o do Canadá não era o presencial. Ygor apresentou documento comprovando residência na Dinamarca, mas não foi suficiente para as autoridades locais.

A CBBd conseguiu contato com Ygor durante esta madrugada no Brasil e confirmou que ele voaria de volta para Billund, na Dinamarca, no voo 0686 da empresa aérea KLM. Ygor está bastante chateado com a situação e com a impossibilidade de representar o Brasil na Copa Pan-Americana por Equipes, e a CBBd segue em contato com o atleta e seus familiares para oferecer toda a ajuda necessária até seu retorno ao país onde reside".

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Nota do Ministério de Relações Exteriores

"O Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil no México, tem conhecimento do caso e prestou assistência consular ao nacional.

Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não fornece informações sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros".

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