Assustador: brasileiro enfrenta onda gigantesca de 30m em tempestade; veja
Em meio aos ventos e chuvas fortes da poderosa tempestade Hermínia, o brasileiro Willyam Santana foi à Praia do Norte, em Nazaré, em busca das ondas gigantes. A vontade de realizar sonhos amenizou o temor e, na última terça-feira (28), o sergipano impressionou o mundo ao surfar uma onda de estimados 30 metros.
Em entrevista ao UOL, Will - como é conhecido - detalhou o sentimento de participar de um momento arriscado e memorável. A tempestade que acometeu a Europa nos últimos dias era tão forte que as autoridades portuguesas chegaram a fechar o Porto de Abrigo, mas o brasileiro já estava na água e confiava em toda a estrutura de segurança que é montada aos big riders.
"Quando eu saí, a imagem já estava viralizando, geral falando que a onda foi enorme. Confesso, na hora eu sabia que era muito grande, só que como eu não tinha visto o vídeo, eu não tinha noção do que realmente foi. Cada ângulo que eu via era uma surpresa nova. Foi algo único na minha vida, além de bastante extremo e assustador. Eu nunca imaginei que seria capaz disso em meio a uma tempestade", contou o surfista ao UOL.
Ao lado de Will estava o experiente piloto de tow-in Éric Rebière, que passou todas as orientações para o surfista sergipano e pediu concentração. O mais importante, segundo ele relatou à reportagem, era manter a calma e não deixar o pé sair das alças da prancha (o footstrap).
"Fiquei calmo ali, a gente começou a pegar umas ondas pra direita, que é o meu forte. Fui ganhando confiança, e quando eu estava na corda, o Eric ia tentar me colocar numa onda pra direita, mas no meio do caminho ele viu que a esquerda ia ser boa. Eu virei o lado da prancha e fui descendo com bastante velocidade. Minha prancha nunca correu tanto na minha vida, ela batia, vibrava no meu pé. Eu só não queria que meu pé saísse", descreveu Will.
"Eu só estava focado naquilo e sempre observando a onda para que ela não quebrasse nas minhas costas, porque esse é o perigo do acidente. Então, você tenta não pensar nisso, mas é inevitável, esse é o medo de quem está tentando surfar uma onda desse tamanho. Eu consegui fazer uma linha boa, e realizei um feito bem histórico, surfar essa onda gigante de backside, que é mais difícil ainda, porque você fica com as costas para a onda. Mesmo assim, ainda quero bater o recorde mundial de surfar a maior onda do mundo", destacou o brasileiro.
Will sabia da força da tempestade e até teve dificuldades para dormir um dia antes de pegar a onda histórica. O fenômeno foi diferente porque se formou já muito próximo da costa de Portugal e isso que tornava a prática do surfe em Nazaré ainda mais perigosa que o normal.
"Estava dividindo a casa com o Eric, e ele me passou bastante confiança, me deu segurança. Na hora eu estava com bastante medo, mas o Eric falou: 'Cara, você pode pegar a maior onda da tua vida'. Ele tinha mais algumas outras pessoas para puxar, mas os outros atletas acabaram viajando para outros lugares porque não queriam surfar aqui, por estar muito grande e perigoso. Acabou que o destino colocou nós dois e aconteceu esse feito. Eu estava dentro do oceano, vento muito forte, as ondulações muito grandes", contou Will.
Com uma lista vasta de entrevistas e sua imagem espalhada pelas redes sociais, Will relembrou toda sua trajetória e agradece por estar em Nazaré naquela terça-feira.
"Foi um sentimento de gratidão. Essa é a palavra. Eu me sinto uma pessoa muito grata, uma pessoa escolhida por Deus. Esse é o principal sentimento que eu tenho, porque eu sei que você tem que estar na hora certa, no lugar certo, com as pessoas certas. Fui uma pessoa escolhida e sou muito grato por ter vivenciado esse momento", comentou.
A tempestade Hermínia devastou muitas regiões da Europa com ventos que atingiram 180 km/h. Foram emitidos avisos meteorológicos em algumas zonas de Espanha, Portugal, França, Reino Unido e Irlanda.

Determinado
Will nasceu em Sergipe e desde criança compartilhava com todos a vontade de se tornar surfista de ondas gigantes, embora vivesse longe do litoral. Na escola, ele era até motivo de chacota, enquanto os amigos sonhavam com profissões totalmente diferentes.
O atleta conheceu o esporte através de um tio que morava perto da praia, mas os pais não tinham condições financeiras para comprar uma prancha para Will. Então, quando a família se juntava para passear no litoral, ele encontrava uma tampa de isopor para surfar na água e perdia a noção do tempo, o que chegou a lhe render algumas broncas.
"Quando eu tinha uns 12 anos, fui passear pelo bairro sozinho e encontrei uma oficina de moto com uma prancha bem velha pendurada. Perguntei para o dono - o Zé Luiz - e ele contou que um rapaz que estava devendo uma grana, tinha largado a prancha lá. Ele topou me vender, mas eu não tinha dinheiro. Voltei para casa e vi a bicicleta da minha irmã lá. Peguei escondido e troquei", contou.
Claro que gerou o maior rebuliço quando a irmã mais velha e a mãe ficaram sabendo do negócio de Will. Apesar disso, ele ficou com a bendita prancha e passou a treinar na própria cama. Foi amor à primeira vista.
O tempo passou, Will conseguiu se profissionalizar em Sergipe até que a situação financeira da família piorou. Ele, então, decidiu procurar oportunidades no Rio de Janeiro e passou a dar aulas para famosos como Dani Suzuki e Bianca Andrade. Posteriormente, há cerca de oito anos, conheceu João Chumbinho e o ensinou sobre mergulho, uma de suas especialidades.
A amizade transcendeu, Will falou sobre o sonho de se tornar surfistas de ondas gigantes e foi apresentado, então, ao irmão de João: Lucas Chumbo.
"Fiquei um mês no México e subiu um swell muito gigante na praia de Porto Escondido, que é bastante perigosa, várias pessoas já morreram ou se acidentaram. Era a minha oportunidade, mas eu não tinha uma prancha adequada. O Lucas soube e me ligou: 'eu tenho uma prancha zero, fala com o dono do hotel, pode pegar lá'. Peguei a prancha, fui para a água com bastante medo. Me deram, também, um colete especial", contou.
"Ficamos mais de duas horas no mar, ninguém pegava onda porque apesar de grande as ondas estavam fechando. Já tinham morrido dois atletas nesta temporada, geral com medo dentro do mar. Eu lembro que eu baixei minha cabeça dentro d'água e falei: 'pô Deus, esse é meu sonho, mas eu não sei se é possível. Se vier uma onda que seja agora'. Quando eu levantei a cabeça, veio uma onda muito grande. Por instinto, comecei a remar muito forte. Logo começou a viralizar, todo mundo me dando parabéns, explodiu. Essa foi minha primeira onda", concluiu.
A partir daí, a vida de Will mudou de vez. Ele passou a conseguir mais apoio e patrocínios e vive seu sonho como surfista de ondas gigantes.
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