Rubinho faz crítica à F1: 'Hoje é mais para bolso cheio do que talento'
Rubens Barrichello analisou o cenário atual da Fórmula 1 e revelou os desafios do trabalho com o filho, Dudu, na Stock Car.
O ex-piloto de F1, que já vestiu os uniformes de Ferrari, Williams e Honda, relembrou histórias da carreira em entrevista exclusiva para o programa Pole Position do canal UOL, comandado pela colunista Julianne Cerasoli.
O que Rubinho disse
Ao início da conversa, Rubinho relembrou o forte calor enfrentado em Singapura, quando disputou o GP na região.
O atleta ainda brincou sobre um tubo dentro do carro que enviava água para a boca do piloto, durante pistas com forte calor: "O que mais acontecia na corrida da Malásia e de Singapura era você ouvir aquele barulho da máquina que empurrava água para o teu tubo na boca. O barulho de 'acabou a água, chefe'. E você ouvindo aquele barulho no final de prova era maçante para a cabeça."
Singapura foi, pra mim, uma descoberta sensacional de um país limpo, limpo. E era demais de calor, né? É uma pista que é muito física, por isso até eles pensavam em fazer a corrida mais à noite, mas eu adorava a corrida aí. E eu tenho saudade de viajar pelo mundo, principalmente guiando um 'formulãozinho'
Rubens Barrichello
O próximo GP de Singapura ocorre no domingo (22).
Instrução a "prodígio" e crítica à F1
Rubinho foi questionado sobre o bom momento vivido pelo argentino Franco Colapinto, de 21 anos, na Fórmula 1.
O brasileiro contou história de quando deu dicas ao novato, quando ainda disputava corridas de kart, em um encontro em Nova Orleans, nos Estados Unidos.
Eu falei 'eu tenho uma missão aqui, eu vou ali falar com esse garoto'. E aí eu cheguei pra ele e eu falei: 'Franco, eu queria que você soubesse que tem dia que ganha e tem dia que perde. Não são todos os dias que ganhamos. Aliás, perdemos muito mais do que ganhamos. Então, se você conseguir respirar, você vai ter muito sucesso na sua carreira'. Eu fico muito feliz por ele,
Rubinho, ao reconhecer o sucesso de Colapinto
Barrichello também comentou como tem sido difícil para a evolução de alguns pilotos, e julgou a Fórmula 1 pela procura monetária acima da habilidade dos corredores:
Hoje é uma Fórmula 1 que ela dá muito mais pro bolso cheio do que pro talento, entendeu? Os três primeiros de cada categoria internacional deveriam ter um teste, deveria ter uma situação aberta, como as categorias menores têm. Só assim que a gente vai conhecer os talentos reais (...) Hoje a gente vive em uma forma que é muito talentosa, sem dúvida nenhuma, mas sem dúvida também tem gente ali que não chegaria lá para nada, entendeu? Não tem jeito. Tem gente ali que não merecia estar, está fazendo hora extra
Corrida com os filhos e terapia
Rubinho fez a transição para a Stock Car em 2012, quando correu a convite da equipe Medley Full Time. Hoje, corre ao lado de um de seus filhos, Eduardo Barrichello, na competição.
Após contar pequena história de quando assistia aos jogos do Corinthians com o pai, ainda aos oito anos, Rubinho abriu o coração sobre o sentimento de ver as conquistas do filho.
O filho veio pra ser melhor que o pai, uma versão melhor, né? Tudo que eu mais quis sempre pras crianças é que eles propagassem a história dos Barrichello em termos de humildade, que foi o que meu pai sempre pediu. É lindo poder ver alguém que chega pra mim e fala bem do Dudu e do Fefo [Fernando Barrichello, segundo filho de Rubinho]
Rubens Barrichello sobre os filhos pilotos
O automobilista afirmou também que precisou de auxílio psicológico para deixar Dudu enfrentar as próprias dificuldades dentro da pista, e evitar o lado "paizão" no ambiente profissional: "Eu tive que fazer muita terapia e o Dudu também, porque não é fácil trabalhar em família", contou.
Newsletter
OLHAR OLÍMPICO
Resumo dos resultados dos atletas brasileiros de olho em Los Angeles 2028 e os bastidores do esporte. Toda segunda.
Quero receberUm outro competidor vai, boom, dá uma pancada no Dudu, e o próximo que vai chegar nesse competidor sou eu. Como é que eu passo por ele e finjo que nada aconteceu? A vontade de mandar o cidadão longe é gigante", brincou Rubinho. "É (uma experiência) mágica, mas precisa de muita concentração para não se envolver em coisas que não me cabem
Tranquilo ou no sofrimento?
Em desafio proposto pelo Pole Position, Julianne pergunta entre "isso ou aquilo" para o piloto. Rubinho foi colocado à frente de vários desafios bem-humorados e que fizeram o automobilista escolher apenas uma dentre as situações.
Ser tricampeão com qualquer equipe ou apenas um com a Ferrari? Sem hesitar, Rubinho respondeu a primeira opção: "Ah, tricampeão com qualquer equipe".
Vencer uma competição com tranquilidade ou no sofrimento? Na resposta, o piloto brincou com o time de futebol do coração: "Aqui é Corinthians, né? Na última curva, no sofrimento".
Vencer um GP no Brasil e nunca vencer um mundial, ou ser campeão do mundo e nunca conseguir um GP brasileiro? O atleta fez sua escolha e se declarou ao país de origem: "Aquele 2003 (quando precisou abandonar corrida por falta de combustível) é uma história que é todo dia ainda muito engasgada. Mas eu sou tão brasileiro. Eu sou tão devoto ao Brasil. E a cor, a forma, a luta, a resiliência, que eu ainda preferiria ganhar São Paulo (nacional)."
Se você fosse um chefe de equipe: você preferiria ter Adrian Newey projetando seu carro ou o Ayrton Senna pilotando seu carro? Rubinho ficou em dúvida e ainda relatou necessidade de pensar mais sobre as situações, mas respondeu: "Dois monstros, eu precisaria pensar um pouco. Mas, de bate pronto: o Ayrton num carro ruim não conseguiria, talvez, me dar tanto quanto o Newey refazendo tudo".
Você preferiria ser filho de Jos Verstappen ou de Lawrence Stroll? O primeiro, pai do automobilista Max Verstappen e ex-competidor da Fórmula 1. O segundo, investidor e um dos donos da Aston Martin. Rubinho, porém, deixou a resposta em branco: "Eu tenho histórias que você fica sabendo, você acaba entrando dentro de um julgamento do que é ou do que não é. Sem querer puxar muito a sardinha, eu gostaria de ser filho meu", brincou. "Eu acho que tudo tem que ser tratado com amor. E aí, da forma como eles fazem, eles devem ter o amor deles da forma como são. Então, eu tive tanto orgulho de ser filho do meu pai que agora eu só posso pensar nos meus".
O programa Pole Position, apresentado por Julianne Cerasoli, será exibido no canal de UOL Esporte no Youtube. O primeiro episódio está disponível no player do topo desta página.
Deixe seu comentário