Minotauro sobre investimentos e patrocínios: 'Eu queria ser um produto'
A última quarta-feira (7) foi dia de falar de dinheiro na Casa UOL Esporte. Em painel moderado por Alicia Klein, o astro do UFC Rodrigo Minotauro, a ex-judoca Mariana Silva e o ex-esgrimista veterano de quatro olimpíadas Renzo Agresta falaram sobre a importância da educação financeira e de um bom planejamento na vida dos atletas.
Atualmente trabalhando como assessora de investimentos, Mariana vê uma evolução na forma como atletas enxergam a necessidade de trabalhar sua vida financeira em relação ao que acontecia anos atrás. "Hoje, a questão de investimento, de poder se planejar financeiramente, está mais claro, está mais visível. Hoje você tem acesso, [através da] tecnologia, do marketing. Todo mundo fala sobre investimento, sobre se preparar, se planejar.", opinou a ex-atleta. "Porque, falando exemplo de mim mesma, quando eu era atleta, não pensava nessa questão da transição de carreira nem educação financeira. Mas eu tive a sorte de encontrar um ex-atleta olímpico que trabalhava na área, que era um assessor na época e falou comigo 'Mari, vamos se planejar financeiramente. Você hoje tem uma participação olímpica, você tem patrocínio, você pode fazer uma transição de carreira com mais tranquilidade e tudo mais.' E eu fui ajudada por esse assessor."
Lembrando que a carreira de atletas de alto rendimento é menor que a de pessoas no mercado de trabalho comum, Renzo, que também trabalha como assessor financeiro, reforçou a importância de esportistas saberem mexer com seu dinheiro. "Normalmente, depois que esse atleta se aposenta, tem uma diferença muito grande entre o que ele ganhava nos melhores momentos como atleta do que ele vai, eventualmente, ganhar na sequência. Então, eu acho que o planejamento financeiro é fundamental. É você tentar se programar para esses 10, 15 anos que você for. Se você tiver sorte, não tiver nenhuma lesão muito grave, para tentar fazer esse pé de meia. Se preparar para transição, para que, eventualmente, nesse seu novo cenário, que seu novo padrão de vida possa ser comportado com esse pé de meia que você fez na sua época como atleta."
"E outro ponto", seguiu o ex-esgrimista, "eu acho que é tentar capitalizar através de resultados. Dentro do possível, mas também através de divulgações. Eu acho que tem alguns jeitos do atleta também se capitalizar nesse momento [de exposição das Olimpíadas]. Ou pelo resultado, ou também ser um atleta midiático, consegue fazer através das suas participações em eventos, nas mídias sociais, conseguir patrocínios, etc. Então, se você conseguir juntar esse fator de capitalização com o fator de planejamento, eu acho que é uma boa dupla."
Filho de contador, Minotauro explica que conviveu com a educação financeira desde muito cedo e logo no começo da carreira já procurava oportunidades de capitalizar sua imagem. "Eu tive essa educação financeira do meu pai. Não tinha um cara como o Renzo do meu lado, mas tinha meu pai ali, fazendo a administração do que a gente fazia. E a gente pensava, todo atleta é um atleta, ele é uma marca. (...) Eu me lembro da primeira vez que eu cheguei em Tóquio para fazer uma luta, eu passei em um supermercado, em uma loja de conveniência, e tinham cinco produtos com cinco lutadores diferentes [estampados]. Eu falei 'eu quero ser um produto'. Hoje a gente tem uma marca de energético. (...) A gente conseguiu criar uma marca, na verdade, porque o atleta passa seus atributos. O lutador passa coragem. O cara da esgrima passa determinação, foco. Então, você tem que entender, no caso da gente, a gente tentou criar produtos em relação a isso, mas todo atleta tem que começar a carreira dele sabendo que o atleta, no auge da carreira, ele não vai passar pelos 35 anos. Então, eu tive mais ou menos esse planejamento.
Renzo lembra também que a educação financeira não é necessária apenas para que os atletas tenham seu "pé de meia" ao fim da carreira, mas para que eles também possam investir em si mesmos enquanto estão em atividade. "Tem estudos que mostram que o valor [investido] por medalha são alguns milhões de reais por medalha. Se você parar para pensar, quanto tempo demora para um atleta chegar na Olimpíada? São só os quatro anos [do ciclo olímpico]? São oito? São dez? São vinte? Quanto o atleta teve que gastar em cada treinamento, em cada viagem, em cada fisioterapia, em cada médico? Então, é um investimento gigantesco. Não só o atleta investe, mas o clube investe, o governo investe, os patrocinadores. Então, é um valor bem grande. Tanto que algumas estratégias de alguns países acabam se diferenciando nos Jogos Olímpicos, tentam justamente fazer essa conta e procuram investir em esportes individuais. Ou seja, a relação investimento por medalha é positiva. O que eu quero dizer com isso? No vôlei, você leva vinte atletas para uma medalha. No judô, um atleta, uma medalha. Ou até mais."
Segurança em investimentos
Os painelistas também deram conselhos para que pessoas que pretendem investir não caiam em esquemas, como o caso das criptomoedas envolvendo os jogadores de futebol William Bigode e Gustavo Scarpa. "Quando a esmola é demais, tem que desconfiar, né?", comentou Renzo. "Sempre que for ofertado para você algum tipo de investimento que parece ter uma rentabilidade exageradamente alta em comparação às outras oportunidades de mercado, se pergunte por que isso está sendo ofertado. Não tem almoço grátis, esse é outro ditado do mercado. Se alguém está te ofertando alguma coisa com uma rentabilidade exageradamente alta, ou tem um risco extremo, ou é esquema de pirâmide, nesse caso."
Para o ex-esgrimista, o controle das emoções também é essencial na hora de identificar maus investimentos. "O ser humano, ele tem alguns tipos de emoções, né? Uma das emoções é a ganância. Então, a gente controlar a nossa ganância é muito importante. Todo mundo quer ter uma boa posição, enriquecer ao longo do tempo, mas, normalmente, os principais exemplos que a gente vê na indústria financeira, ou de modo geral, que são bem sucedidos, foi uma construção de muitos e muitos e muitos anos. O que acontece é que, muitas vezes, essas pirâmides, elas fingem que são investimentos em criptomoedas, mas, na verdade, são pirâmides. Pesquise o que você está investindo. Nem sempre o que é ofertado para você é efetivamente aquilo que estão falando."
Indo na contramão de muitos esportistas, Minotauro já tinha uma ideia de como investiria seu dinheiro ainda durante a sua carreira: "naquele negócio mais conservador, foi o meu primeiro imóvel de aluguel", contou o ex-lutador. O empresário, no entanto, lembra que nem todo investimento seguro é garantido. Ele mesmo lembra que, durante a crise imobiliária de 2008, perdeu muito do dinheiro investido no mercado imobiliário. "Tudo é um risco, né? Eu estava com vontade de ganhar dinheiro.
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