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Emoção e estatística: Rômulo e Bulgarelli contam os bastidores da NBA na TV

Rômulo e Bulgarelli, dupla da ESPN que abre a pré-temporada 2021-22 com Giovannoni hoje (7) - Reprodução/Instagram
Rômulo e Bulgarelli, dupla da ESPN que abre a pré-temporada 2021-22 com Giovannoni hoje (7) Imagem: Reprodução/Instagram

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

07/10/2021 04h00

Quem acompanha a NBA com alguma assiduidade ouve a voz de Rômulo Mendonça só de ler expressões como "porteiraço do ENEM" ou "brinquedinho assassino". O mesmo vale para Ricardo Bulgarelli, seu "It's over, baby" e os comentários detalhados em estatística. Os bordões do narrador e as informações do comentarista voltam a uma transmissão a partir das 23h (de Brasília) de hoje (7), no duelo entre Houston Rockets e Miami Heat, na ESPN 2.

É o primeiro jogo do canal nesta pré-temporada 2021-22, e o UOL Esporte ouviu os dois para conhecer os bastidores da NBA na TV. Como é a preparação para a transmissão? De onde vêm tantas estatísticas precisas? Como equilibrar a emoção com os comentários técnicos, para os leigos e para os iniciados no basquete? A dupla responde abaixo:

Como é o passo a passo da sua preparação pré-jogo? Onde você busca os dados, quais critérios usa para peneirar essas informações antes de a partida começar?

Rômulo Mendonça: "Busco notícias e informações em sites da cidade de cada time envolvido. Aí adiciono as informações que recebemos no site de dados e estatísticas exclusivo da ESPN matriz e, para completar, sempre vejo jogos anteriores das equipes envolvidas, principalmente, para serviço de League Pass da liga. Juntando tudo isso, dá a fórmula das transmissões."

Ricardo Bulgarelli: "Toda a preparação é exatamente igual, independente do campeonato, porque tento seguir um padrão. Na temporada regular, por exemplo, a escala sai com uma semana de antecedência. Aí vou assistir vídeos das equipes, ler o que os setoristas escreveram sobre o dia-a-dia dos times, checo os portais norte-americanos. As estatísticas ficam para o dia do jogo, porque tem jogo todos os dias e elas mudam sempre. E as curiosidades extraquadra, informações periféricas que vão construindo um banco de dados individual, dos jogadores de cada time. O Blake Griffin nasceu em Oklahoma, jogou lá, às vezes volta para jogar na cidade e a família está no ginásio; se a mãe do cara aparece, tenho que saber o nome dela, o nome do pai."

Às vezes, durante os jogos, notamos os comentaristas brasileiros passarem alguma informação e/ou estatística e, segundos depois, a mesma coisa aparecer na geração de imagens dos EUA. Vocês têm acesso ao mesmo banco de dados?

Bulgarelli: "A ESPN é muito farta com as estatísticas online, na NBA Brasil também tem uma intranet de play-by-play que é exatamente o que aparece no ginásio. O banco de dados é o mesmo, cabe à transmissão saber utilizar no momento certo. Acontece muito de o Rômulo antecipar uma informação que aparece para a ESPN inteira, e aí o cara da transmissão lá dos EUA também acha importante e coloca na tela. A coincidência é porque a fonte dos dados é a mesma. Durante o jogo também dá para pedir um levantamento específico: se um cara faz 20 pontos no primeiro quarto, e eu não sei se é a maior pontuação dele em um único quarto, pergunto lá, e os caras confirmam."

Já aconteceu de "sobrar" material e não dar tempo de usar durante a partida? Como é essa avaliação, com o jogo rolando, dos dados que são interessantes de comentar e os que não são?

Rômulo: "Sempre sobra, e é até natural que isso ocorra, porque são muitas informações disponíveis. Há sempre as informações gerais, que dão o contexto e são fundamentais para a apresentação do jogo, principalmente na primeira etapa; também os dados relacionados aos destaques do jogo e que geralmente são citados pela relevância dos personagens. Tem também as estatísticas do jogo em si, que vão ganhando força à medida que a partida avança e assim vão se tornando as principais ao longo da transmissão: os rebotes, pontos, assistências, pontos de contra-ataque etc. Pelo caminho, uma curiosidade também pode pintar em relação a um jogador menos relevante e à atuação dele, e é a situação do jogo que vai nos indicar usá-la ou não."

Bulgarelli: "Acontece todas as vezes porque temos que ter dados dos 15 jogadores de cada time. Se o jogo estiver equilibrado, vamos usar dez, 11 jogadores de cada equipe. Se tiver 30 pontos de diferença, tenho que estar preparado minimamente para a última opção de banco de qualquer time entrar em quadra —se ele é novato, filho de algum ex-jogador, se foi descoberto por um cara importante. Ou imagina se um cara assim mata a bola da vitória? Isso acontece. Das informações que eu preparo para o jogo, devo usar de 30% a 40%. O jogo precisa te levar para você usar, depende do que está acontecendo na quadra. Mas não é trabalho perdido, porque também faço jogos para a NBA Brasil, faço os programas; ou depois os confrontos se repetem, e algumas informações já estão adiantadas, basta atualizar. Nunca é desperdiçado."

É claro que cada comentarista tem suas características, mas de alguma forma todos precisam encontrar uma fórmula de comentar que equilibre as estatísticas e os comentários técnicos. Como encontrar esta fórmula?

Bulgarelli: "Esta fórmula é a grande sacada do comentarista. Tento encontrar o equilíbrio. Não dá para ser tão técnico, nem só estatística. E tem outro fator: sempre tem alguém assistindo pela primeira vez, e não dá para ser tão didático porque quem acompanha já sabe muita coisa. Tento comentar como se estivesse do lado da pessoa, no sofá. E aí, se aparecer um jogador das antigas na tela, e eu não sei quem é, isso me incomoda, porque o fã do esporte vai querer saber quem é, e eu não terei a resposta. Hoje eu já não sei de cabeça o nome dos pais do Blake Griffin, meu HD não é tão espaçoso assim, mas em um jogo desse nível, eu vou me preparar para esta informação não faltar."