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Para Karen Jonz, repercussão do 'xerecou' mostra 'como estamos atrasados'

Karen Jonz é pioneira no skate brasileiro - Divulgação/Pedrita
Karen Jonz é pioneira no skate brasileiro Imagem: Divulgação/Pedrita

Do UOL, em São Paulo

15/09/2021 15h50

Karen Jonz e a expressão "xerecou no campeonato" ganharam o Brasil durante as Olimpíadas de Tóquio. Para a skatista, o tamanho da repercussão de sua fala mostra "o quanto uma xereca ainda choca as pessoas".

"O poder feminino e uma vagina imponente ainda não são coisas facilmente assimiladas pelo patriarcado: as mulheres terem tanto destaque, falarem o que pensam e terem controle sobre os próprios corpos causa estranhamento. Muita gente não sabe direito o que é uma, e isso só reflete o quão atrasado a gente ainda está, como sociedade, em relação a gênero e sexualidade.", disse em entrevista à 'Marie Claire'.

Jonz explicou que esse não é um termo que costuma usar, e acabou saindo no calor do momento. Ela diz que hoje tem muito mais facilidade em falar sobre o próprio corpo e a feminilidade, algo que a deixava confusa quando mais nova por problemas com transtorno alimentar causados pela tentativa de se encaixar no "padrão skatista".

"Aos 17 anos, eu também tinha bulimia, então tudo que era relacionado ao meu corpo era complicado. A bulimia surgiu bem em meio a essa confusão de gênero. Na minha cabeça, se fosse muito magra, a bunda não iria crescer, o peito sumiria e eu ficaria neutra. . Queria passar despercebida como mulher, ser reconhecida pelas manobras e pela habilidade, não pela aparência", completou.

Apesar de ter conseguido superar a bulimia sem acompanhamento psicológico, a skatista não recomenda: "Minha terapeuta diz que é muito raro uma pessoa que sofre de distúrbio alimentar conseguir passar por isso sozinha, sem ajuda. Mas com a terapia, entre outras coisas, passei a ter outro tipo de relação com a alimentação, e realmente hoje não tenho mais nenhum tipo de gatilho em relação à bulimia".

Outro período em que teve de superar dificuldades foi quando deixou de competir profissionalmente e engravidou. Quando deixou as pistas, o skate ainda não era um esporte olímpico, e Karen ficou "sem ter para onde ir", o que desencadeou um quadro depressivo na atleta.

"A gravidez em si foi um período de adaptação e aceitação, porque não podia andar de skate, não podia trabalhar, fazer nada.". Ela fala que o marido, o músico Lucas Silveira, também passou por essa adaptação e hoje os dois são pais muito mais felizes.

"A gente tem um acordo bom de um segurar a barra do outro quando está mais pesado para ele, ou mais pesado para mim. Hoje a gente se entende até melhor do que antes", finalizou Karen