Adriano Imperador é daqueles atacantes que deixaram saudade. O corpanzil, o arranque imparável e a canhota precisa marcaram uma geração inteira, e não é à toa que um de seus gols mais fantásticos reúna todas estas características. O UOL Esporte volta no tempo para 17 de outubro de 2004.

Era outro mundo. Na Palestina, Yasser Arafat estava à beira de sua controversa morte. Na Ásia já havia indícios do surto de gripe aviária que aconteceria em 2005. E também, quando Internazionale e Udinese jogaram em Milão, nós ainda não conhecíamos o jogo GTA San Andreas ou a banda mexicana RBD.

Adriano já era um colosso. Havia feito o gol do título da Copa América contra a Argentina, três meses antes, e chegava à partida com 9 gols em 9 jogos na temporada. A coroação do Imperador já tinha rolado na temporada anterior, mas foi nesta 2004-05 que Adriano começou a expandir seu império.

A Inter tinha uma legião argentina: Burdisso acabara de chegar, Verón e Cambiasso dominavam o meio, e Julio Cruz era opção no ataque. O time ainda tinha Materazzi, Vieri e Oba Oba Martins. Era mais ou menos esse pessoal que recebia a Udinese naquele domingo de primavera; 60 mil no Giuseppe Meazza.

Adriano abriu cedo os trabalhos, após uma falta sofrida por Vieri. Logo aos seis minutos o camisa 10 partiu para a cobrança do meio da rua e aí, bem, é melhor ver com os próprios olhos:

Golaço de falta de Adriano, mas que passou para a história como aperitivo para o prato principal que viria quatro minutos depois. Um escanteio da Udinese sobrou no campo de defesa da Inter, o craque partiu com ela dominada e só parou lá dentro.

O primeiro a tentar contê-lo, o brasileiro Felipe Dal Bello, caiu no círculo central, ficou para trás e deve lembrar do lance até hoje. Depois sobrou para o italiano Valerio Bertotto tentar fazer alguma coisa, mas ele correu tanto para trás que acabou se atrapalhando.

No balanço, para lá e para cá, um caído no meio-campo e outro tropeçando na entrada da área. Se liga na íntegra do golaço:

Com dois gols na frente, a Inter pôde administrar como quis o restante do jogo. A Udinese chegou a diminuir no começo do segundo tempo, mas logo em seguida Vieri fechou o placar em 3 a 1 com um toquinho sutil na saída do goleiro. Um domingo todo dos centroavantes.

No fim, a Internazionale teria uma temporada frustrante. Chegou a ficar 38 jogos invicta (sim, 38!), mas cedia empates demais: foram sete seguidos na Série A depois deste jogo fantástico de Adriano. Depois, duas derrotas nas quartas da Champions para o rival Milan —de Dida, Cafu e Kaká e cia.

Adriano fez dois gols na final da Copa da Itália 2004-05, o primeiro título nacional da Inter em 16 anos. Naquele ano a equipe não venceria a Série A, mas era uma temporada de prelúdio: dali para frente foram quatro títulos seguidos com Adriano.

Felipe Dal Bello joga até hoje. Depois da Udinese ele passou por vários times italianos, até pela própria Inter, e no ano passado reforçou a Manzanese Calcio, da quarta divisão. Mais velho, o italiano Bertotto passou por Siena e Venezia antes de se aposentar em 2009.