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O que se sabe do ex-jogador da NFL suspeito de matar 6 e se matar nos EUA

Autópsia investiga se Phillip Adams, que jogou seis temporadas na NFL, tinha doença neurodegenerativa causada pelo esporte - Jim McIsaac/Getty Images
Autópsia investiga se Phillip Adams, que jogou seis temporadas na NFL, tinha doença neurodegenerativa causada pelo esporte Imagem: Jim McIsaac/Getty Images

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

14/04/2021 04h00

Um caso de múltiplos assassinatos chocou os Estados Unidos nos últimos dias. Phillip Adams, ex-jogador da NFL, é suspeito de ter matado seis pessoas a tiros horas antes de cometer suicídio. Poucas perguntas foram respondidas, pois a tragédia ainda está sob investigação, e até o cérebro do atirador será estudado por possível doença neurodegenerativa causada por pancadas na cabeça durante anos de dedicação ao futebol americano.

O crime aconteceu na cidade de Rock Hill, na Carolina do Sul. Na tarde da última quarta-feira (7), a polícia encontrou os corpos do médico Robert Lesslie, diretor de um hospital psiquiátrico da região, da sua esposa Barbara, de dois netos do casal (de cinco e nove anos) e de um técnico de ar-condicionado que trabalhava na casa. Outro técnico chegou a ser socorrido em estado grave, mas morreu no hospital no sábado (10).

Na ocasião, a testemunha que chamou a polícia disse ter ouvido "cerca de 20 tiros" e dito que duas das vítimas, os dois trabalhadores, estavam do lado de fora da casa. Em outra ligação para o serviço de emergência, um colega dos dois funcionários contou que um deles lhe telefonou dizendo "fui baleado, por favor, avise a polícia". O suspeito fugiu do local, e a investigação começou.

Cerca de dez horas depois, já na madrugada de quinta-feira (8), policiais cercaram a casa em que Phillip Adams estava e retiraram os pais do suspeito do local. Segundo as autoridades, o ex-atleta atirou contra si mesmo após um impasse com a polícia. Ainda de acordo com a polícia, Adams foi o responsável pelos assassinatos do dia anterior.

Na versão oficial, Adams dirigiu até a casa da família Lesslie e usou duas armas (de calibres 45 e 9 mm) para cometer os assassinatos. Depois, dirigiu para a casa dos pais, percorrendo poucas centenas de metros. Nesta casa, ele foi cercado, já na noite de quarta, e teria cometido suicídio. Ele tinha 32 anos.

O xerife Kevin Tolson, do condado onde fica a cidade, disse em entrevista coletiva que a polícia "recolheu evidências que ligavam Adams à cena do crime" na casa dos Lesslie, por isso o tomaram como suspeito e o procuraram na casa de seus pais —Tolson não deu detalhes sobre tais evidências, alegando que a investigação ainda está em curso.

As razões para o tiroteio, no entanto, ainda são um completo mistério. Há a hipótese de que Adams tenha sido paciente de Robert Lesslie, mas a investigação não confirma esta informação. A polícia ainda procura entender se o ex-jogador tinha de fato algum tipo de relacionamento com o médico ou com outra das vítimas.

A hipótese da família Adams é a de que os seis anos como jogador profissional de futebol americano lhe causaram algum tipo de doença cerebral. "Posso dizer que ele era um bom garoto, um bom garoto, que não falava muito nem incomodava ninguém. Acho que o futebol americano bagunçou sua cabeça", disse o pai de Adams a um canal de TV.

O ex-jogador terá seu cérebro examinado para a investigação descobrir se ele tinha, por exemplo, encefalopatia traumática crônica (ETC, antigamente conhecida como "demência pugilística"). Esta doença neurodegenerativa não é incomum em ex-atletas e causa comportamentos agressivos súbitos, além de outras desordens cognitivas. Este estudo pode demorar meses até ficar pronto.

Phillip Adams jogou em seis equipes da NFL. Foi draftado pelo San Francisco 49ers em 2010 e liberado após uma lesão séria no tornozelo; rodou por New England Patriots, Seattle Seahawks, Oakland Raiders e New York Jets antes de se aposentar pelo Atlanta Falcons em 2016. Entre as várias contusões que sofreu estão duas concussões em um período de apenas três partidas, em 2012.

Scott Casterline, que foi empresário de Adams, disse que o ex-jogador sofreu muito desde a aposentadoria. "Foi difícil para ele deixar o jogo, especialmente por ser um cara tão dedicado quanto era. Ele estava machucado e sentia falta do futebol americano, mas não absorvia nenhum conselho que lhe ofereciam. Dizia que sim, mas não fazia", afirmou, enfatizando que Adams não bebia ou consumia drogas.

Robert Lesslie era um proeminente médico de 70 anos, especialista em medicamentos para pacientes em emergência. Foi autor de 12 livros e fundou um hospital na Carolina do Sul. "Vinte e cinco anos na sala de emergência me ensinaram muitas coisas. Eu sei, sem dúvidas, que a vida é algo frágil", escreveu em um dos livros. Ele e a mulher Barbara (69 anos) deixam quatro filhos. As crianças, Adah (9 anos) e Noah (5), eram dois de seus oito netos. James Lewis e Robert Shook, ambos de 38 anos e que trabalhavam na casa, foram as outras duas vítimas.