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Avallone, Coutinho e Eurico Miranda: quem o esporte perdeu em 2019

Do UOL, em São Paulo

29/12/2019 04h04

O ano de 2019 representou grandes perdas para o mundo do esporte. O número de mortes que o jornalismo teve de noticiar de seus próprios colegas foi enorme, com nomes como o apresentador Roberto Avallone, o comentarista Juarez Soares, o narrador Rafael Henzel e a pioneira repórter Kitty Balieiro. No futebol, ainda demos adeus a Coutinho, o parceiro de Pelé, Gordon Banks, o campeão mundial inglês, e Cilinho, o inventor dos Menudos do Morumbi, entre outros. Ainda perdemos ícones entre os torcedores (Dona Salomé, torcedora-símbolo do Cruzeiro), no esporte para-olímpico (Marieke Vervoot) e no automobilismo (como Tuka Rocha).

Agora, o UOL Esporte relembra e homenageia, nesta reportagem, as grandes perdas que o mundo esportivo teve em 2019.

Gordon Banks (goleiro da seleção da Inglaterra)

Foto de arquivo mostra o goleiro Gordon Banks em 15 de dezembro de 1969 - Staff/Central Press/AFP - Staff/Central Press/AFP
Imagem: Staff/Central Press/AFP
Gordon Banks conseguiu uma façanha que nenhum supercraque foi capaz. O goleiro inglês, morto em 12 de fevereiro, aos 81 anos, precisou de um único instante para entrar na galeria de imortais da história do futebol. Foi com um movimento em reflexo que ganhou o mundo como "A Defesa do Século" -- e que frustrou uma finalização plasticamente perfeita de Pelé, de cabeça.

Mas talvez seja injustiça resumir o legado de Banks debaixo das traves por apenas uma fração de segundo, em um lance da derrota da Inglaterra para o Brasil na Copa de 1970. O goleiro foi, por exemplo, um dos sustentáculos da campanha do "English Team" em 1966, na única vez em que os inventores do futebol conquistaram um Mundial. Você pode saber mais sobre a vida dele aqui: Adeus a Gordon Banks - Dono da "Defesa do Século", goleiro inglês foi campeão mundial em 66 e fez história na Copa de 70.

Roberto Avallone (jornalista esportivo)

Roberto Avallone morre aos 72 anos - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Numa época sem o cardápio de esporte nas TVs fechadas, o Mesa Redonda de Roberto Avallone fez história na Gazeta de São Paulo, criando linguagens reproduzidas nos anos seguintes. O jornalista famoso por termos como "exclamação" e "interrogação" morreu no dia 25 de fevereiro, em São Paulo, aos 74 anos, vítima de um infarto do miocárdio — você pode ler mais sobre o adeus aqui: Avallone, exclamação - Cléber Machado, Milton Neves, Chico Lang e outros comentam morte do jornalista referência do esporte na TV.

Antes de chegar a TV, Avallone comandou uma elogiada equipe de Esporte no Jornal da Tarde, ganhando dois Prêmios Esso de reportagem. Já nas telinhas, alternou momentos célebres e polêmicos. Dividiu com Galvão Bueno a histórica transmissão do primeiro título do São Paulo na Libertadores, na extinta Rede OM, em 1992. Anos depois, teve uma briga folclórica com Milton Neves no ar de quase uma hora de duração.

Coutinho (artilheiro do Santos de Pelé)

Coutinho, em 2018 - Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos - Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos
Imagem: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos

Coutinho até hoje carrega um recorde no Santos. Com 14 anos, 11 meses e 6 dias, ele disputou uma partida profissional pelo clube. Foi o mais jovem jogador a usar o uniforme do time principal em uma partida oficial do clube. Pelé, Robinho, Neymar, ninguém fez isso tão novo.

Talvez por isso que ele tenha partido tão cedo. No dia 11 de março, o ataque mais famoso do futebol, aquele formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, perdeu seu primeiro integrante. Coutinho, que morreu aos 75 anos, ainda recusou a seleção de 1970 — história que você pode ler aqui: Simplesmente Coutinho - O adeus ao craque que, na Copa de 1970, disse não para um dos times mais importantes da história.

Eurico Miranda (dirigente do Vasco)

Retrato de Eurico Miranda de 2014 - Daniel Marenco/Fohapress - Daniel Marenco/Fohapress
Imagem: Daniel Marenco/Fohapress

Eurico Miranda morreu no dia 12 de março e deixou uma vasta história de ligação com o Vasco, com o futebol brasileiro e até mundial. Se alguém acompanhava o esporte, tinha uma opinião sobre esse personagem de personalidade marcante. Uns amavam, outros adoravam odiá-lo. Sempre polêmico, o todo-poderoso colecionou brigas e desafetos. Sempre apoiado na missão de defender seu clube, não tinha limites — brigou com CBF, Conmebol, rivais e imprensa. O cartola cruzmaltino mediu forças até mesmo com Pablo Escobar. A figura do homem de charuto na mão com um olhar de desdém não temia nem o poderoso traficante colombiano...

O dirigente brasileiro com ar mafioso venceu Escobar, mas perdeu aquele confronto (que você pode reviver aqui: Todo-poderoso - Eurico Miranda assistiu à glória e à queda do Vasco, e se manteve no controle até sua morte), mas, naquele episódio, mostrava o tamanho das brigas que estava disposto a comprar. E era prova pesada de que não seria fácil superá-lo nos bastidores.

Rafael Henzel (narrador)

Rafael Henzel durante Bienal do Livro em São Paulo - Iwi Onodera/UOL - Iwi Onodera/UOL
Imagem: Iwi Onodera/UOL

Em seu perfil no twitter, o jornalista Rafael Henzel apresentava duas datas de nascimento. A primeira, 25 de agosto de 1973, foi quando deixou o ventre da mãe, dona Lídia, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, para se aventurar no mundo, no futebol e no jornalismo. A segunda, 29 de novembro de 2016, marca o dia em que o vôo LaMia 2933 caiu em Cerro El Gordo, na Colômbia. Henzel foi um dos seis sobreviventes da tragédia que matou 71 pessoas, entre colegas de profissão, dirigentes, jogadores e funcionários da Chapecoense e tripulantes.

No dia 26 de março, a segunda vida de Rafael Henzel teve um inesperado fim. Oficialmente, após 45 anos. Mas sua segunda vida teve 27 meses e 27 dias (leia mais sobre ele aqui: Uma vida em 849 dias - Após sobreviver ao voo da Chape, Rafael Henzel narrou com Galvão, viajou o mundo e morreu jogando futebol). Nesse período, fez a narração da histórica estreia da Chapecoense na Libertadores em 2017. Apareceu em jogo da seleção brasileira ao lado de Galvão Bueno. Deu palestras e trabalhou muito. Henzel teve um infarto fulminante durante uma partida de futebol com amigos. Foi levado às pressas ao hospital, mas não resistiu. Se despediu vestindo chuteiras, dentro das quatro linhas, acompanhado da paixão que marcou sua vida, seu renascimento e, agora, sua morte.

Maurício Paludete (piloto de motovelocidade)

Maurício Paludete - Divulgação/SuperBike Brasil - Divulgação/SuperBike Brasil
Imagem: Divulgação/SuperBike Brasil

O piloto de motovelocidade Maurício Paludete morreu em 14 de abril após sofrer um acidente no autódromo de Interlagos, em São Paulo. Ele disputava o SuperBike Brasil 2019. O acidente ocorreu após do término da corrida. Depois da bandeirada, Paludete perdeu o controle da moto na reta dos boxes, passou pelo S do Senna e bateu no guard rail. No momento, a pista estava molhada por causa do tempo chuvoso. Paludete pertencia à equipe Misano Racing Team e disputava a categoria SuperBike Evolution, criada em 2017. Ele havia largado na 10ª colocação e terminado a prova na sexta posição.

Niki Lauda (tricampeão da F-1)

Morreu no dia 20 de maio Niki Lauda, um homem que, até seu último suspiro, foi absolutamente imortal. Ele podia fazer qualquer coisa, superar qualquer obstáculo, não importava o que nem qual. Apelidado Rato pelo não menos heroico David Purley durante uma altercação com toques de comédia no Grande Prêmio da Bélgica de 1977, ele viveu as sete vidas dos gatos — e em todas triunfou.

Nikki Lauda fórmula 1 - Mark Thompson/Getty Images - Mark Thompson/Getty Images
Imagem: Mark Thompson/Getty Images
Lauda foi um herdeiro rebelde que, no lugar de assumir os negócios da família e se tornar empresário ou banqueiro, virou piloto de carros de corrida, daqueles de chão de oficina. Virou gênio das pistas ao usar a mesma persistência com que enfrentou seus pais para transformar um talento pouco mais do que mediano ao volante em um fenômeno da F-1.

Quando já era bicampeão da principal categoria do automobilismo, tendo inclusive sobrevivido a um dos acidentes mais impressionantes da história, largou tudo para ser piloto de avião. Não deu certo, voltou a fazer o que melhor fazia: vencer corridas. Foi tricampeão mundial. Como tinha muitas vidas, ainda fundou mais uma companhia aérea e foi vital para a transformação da Mercedes de equipe mediana a dominadora de todas as corridas da atual temporada da F-1.

Juarez Soares (jornalista esportivo)

Juarez Soares em foto da RedeTV - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Juarez Soares morreu no dia 23 de agosto aos 78 anos. Ele estava em casa e foi levado às pressas para a Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo. Já debilitado em razão de um câncer, teve parada cardiorrespiratória por. Foi o fim de uma trajetória pública das mais relevantes, na política e, principalmente, em 57 anos de jornalismo esportivo.

Conhecido pelo apelido China, estreou em 1961 e passou por todos os grandes canais de TV do Brasil, inclusive a Globo, onde foi o único repórter de campo na icônica Copa do Mundo de 1982. Sua trajetória o trouxe ao UOL em 2014 como comentarista convidado dos jogos da Copa do Mundo no Brasil. Saiu do ar só em abril, na Rede TV!. Mas se manteve nas ondas do rádio, em que também foi voz marcante ao longo dos anos. Uma dedicação que deixa saudades e lições. E que apareceu até em seus trabalhos como vereador e secretário de São Paulo.

Anthoine Hubert (piloto da F-2)

Anthoine Hubert - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

O piloto Anthoine Hubert morreu no dia 31 de agosto, após um grave acidente na Fórmula 2, que envolveu ao menos três carros. O francês de 22 anos foi atingido pelo carro de Juan Manuel Correa durante a primeira prova do fim de semana da categoria, na Bélgica —momentos após o treino classificatório da Fórmula 1. Nascido em Lyon, Hubert começou a correr de kart em 2006, com 12 anos, e passou a se destacar. Em 2013, passou para a Eurocup Formula Renault 2.0, evoluindo até a Fórmula 3 e a GP3 Series em 2016 —nesta última categoria, foi campeão em 2018. O ápice havia sido o anúncio de sua entrada oficial como piloto da BWT Arden na Fórmula 2. Participou de 16 corridas, com duas vitórias. Ele fazia parte da equipe de jovens talentos da Renault.

Chester Williams (campeão mundial de rúgbi)

Chester Williams - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Único atleta negro na seleção sul-africana campeã mundial de rúgbi em 1995, Chester Williams morreu em 6 de setembro aos 49 anos, vítima de um ataque cardíaco. Chester se aposentou dos gramados em 2001, chegou a ser treinador do time da África do Sul de rúgbi de sete (variação da versão original, com 15 atletas) e seu último trabalho foi na Universidade do Cabo Ocidental. "A notícia da morte de Chester é devastadora e difícil de acreditar, já que ele ainda era jovem e parecia ter boa saúde", disse o presidente da confederação sul-africana de rúgbi, Mark Alexander.

Sahar Khodayari (torcedora de futebol)

torcida do irã - Pilar Olivares/Reuters - Pilar Olivares/Reuters
Imagem: Pilar Olivares/Reuters

A iraniana Sahar Khodayari ateou fogo ao próprio corpo após ser processada por tentar entrar em um estádio de futebol. Ela morreu no dia 8 de setembro por causa das graves queimaduras. Ela estava internada em um hospital desde que se auto imolou após despejar gasolina no seu corpo no dia 1º daquele mês, diante do Tribunal Revolucionário Islâmico de Teerã. O ato desesperado chocou muitos iranianos. Sahar Khodayari tinha 29 anos e não queria ir para a cadeia, mas corria o risco de enfrentar até seis meses de prisão. Disfarçada de homem, ela tentou entrar num estádio. No entanto, a participação em jogos de futebol é proibida para mulheres e meninas no Irã.

Marieke Vervoort (campeã paraolímpica)

Marieke Vervoort - Francois Nel/Getty Images - Francois Nel/Getty Images
Imagem: Francois Nel/Getty Images

A paratleta Marieke Vervoort, que disputou os Jogos Paraolímpicos de 2012, em Londres, e de 2016, no Rio, morreu em 22 de outubro aos 40 anos, por meio de uma eutanásia. Vervoort tomou a decisão em 2008, quando já travava uma batalha contra uma doença muscular degenerativa. Na Bélgica —país de origem da paratleta—, esse procedimento é considerado legal. Na competição de Londres, a belga garantiu uma medalha de ouro histórica. Quatro anos depois, no Brasil, garantiu outra premiação —dessa vez, a medalha de prata. Na edição de 2016, ela falou sobre a dificuldade para viver. "É uma dor ininterrupta de uma doença espinhal degenerativa e incurável. É muito difícil para o meu corpo. Em cada treinamento, sofro por causa da dor. E em toda corrida eu treino duro".

Tuka Rocha (piloto da stock car)

tuka rocha - Greg Salibian/Folhapress - Greg Salibian/Folhapress
Imagem: Greg Salibian/Folhapress

O ex-piloto de Stock Car Tuka Rocha, de 36 anos, não resistiu aos ferimentos de um acidente aéreo e morreu na manhã de 17 de novembro. Tuka, que se chamava Christiano Chiaradia Alcoba Rocha, estava no jatinho que caiu durante uma tentativa de pouso na pista de um resort em Barra Grande, Bahia. Ele foi a terceira vítima fatal do acidente. As irmãs Maysa Marques Mussi, de 27 anos, e Marcela Brandão Elias, de 37, também morreram. Tuka Rocha teve 80% do corpo queimado e estava entubado para se recuperar de intoxicação causada pela inalação de gases tóxicos e de queimaduras. Ele passou por cirurgia para a limpeza das queimaduras, contudo, um dia antes de falecer, médicos informaram à família que seu estado era irreversível.

Kitty Balieiro - Reprodução/Instagram/kittybalieiro - Reprodução/Instagram/kittybalieiro
Imagem: Reprodução/Instagram/kittybalieiro
Kitty Balieiro (pioneira do jornalismo esportivo)

A jornalista Kitty Balieiro morreu em novembro, em São Paulo, após sofrer um infarto. Ela tinha 62 anos, fez carreira no jornalismo esportivo e teve passagens por emissoras como SBT, Cultura, RecordTV, Globo e ESPN Brasil. Na ESPN, Kitty atuou como chefe de redação e gerente de projetos para eventos internacionais. Deixou a emissora em 2012, depois de 17 anos. Desde então, ela passou a se dedicar à Associação Beneficente Fraternitas Nosso Lar, que ajuda moradores de rua e comunidades abandonadas.

Cilinho (técnico de futebol)

cilinho - Matuiti Mayezo/Folhapress - Matuiti Mayezo/Folhapress
Imagem: Matuiti Mayezo/Folhapress

Em 28 de novembro, morreu o ex-técnico de futebol Cilinho, aos 80 anos, em sua residência na cidade de Campinas. Otacílio Pires Camargo sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) em abril de 2018 e, desde então, fazia acompanhamento médico. Nascido em Campinas, no interior de São Paulo, Cilinho começou a carreira de técnico na Ferroviária, de Araraquara, com apenas 27 anos, e é até hoje o recordista de jogos como treinador da Ponte Preta —com 345 partidas em nove passagens pelo time campineiro. Foi no São Paulo, porém, que o trabalho do técnico ganhou maior projeção. Contratado pelo clube tricolor em 1984, comandou o time campeão paulista do ano seguinte com os "Menudos do Morumbi", geração consagrada pelo quinteto Silas, Muller, Pita, Careca e Sidney.

Dona Salomé (torcedora de futebol)

Dona Salomé - Agência i7 - Agência i7
Imagem: Agência i7

Torcedora-símbolo do Cruzeiro, Maria Salomé da Silva morreu em 10 de dezembro, em Belo Horizonte, aos 86 anos. No dia em que o time foi rebaixado à Série B, Salomé esteve no Mineirão e passou mal durante o jogo. Ela chegou a ser atendida no posto médico do estádio e depois foi encaminhada para um hospital na região Centro-Sul de Belo Horizonte. A torcedora acabou não resistindo e morreu por complicações cardíaca. Antes do rebaixamento do time, ela disse a uma amiga: "Sabe, minha filha, se o Cruzeiro cair, meu coração não aguenta. Eu morro. Não nasci para ver meu time na Série B".

Nereu Pinheiro (técnico de futebol)

nereu pinheiro - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O técnico Nereu Pinheiro, que acumulou passagens vitoriosas por Sport e Santa Cruz, entre outros clubes de Pernambuco, morreu em 12 de dezembro, aos 69 anos, em Recife, por causa de um tumor na cabeça. Ele estava internado há quase dois meses. Responsável por revelar vários jogadores na região do Nordeste, entre eles Juninho Pernambucano, ex-Sport, Nereu Pinheiro ficou marcado na história do Santa por conta do acesso à Série A em 1999; pelo time rubro-negro, foi vice da Copa do Brasil de 1989 - derrotado pelo Grêmio na decisão.