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Como tricampeã brasileira de patinação artística parou no balé do Ratinho

Paula Donati, bailarina do Programa do Ratinho há seis anos, foi patinadora profissional e hoje dá aulas - Reprodução/Instagram
Paula Donati, bailarina do Programa do Ratinho há seis anos, foi patinadora profissional e hoje dá aulas Imagem: Reprodução/Instagram

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

21/11/2019 12h00

Resumo da notícia

  • Paula Donati foi patinadora artística profissional, campeã brasileira em 1998, 2000 e 2002
  • Ela se aposentou em 2005, quando deu foco em dar aulas. Hoje trabalha em três escolas
  • Além disso, dança no SBT há seis anos após outros quatro na Record, com Gugu
  • Paula foi fazer teste para ser assistente de palco e acabou entrando como bailarina na TV

"Minha primeira recordação da vida sou eu sentada no chão chorando porque queria que meu pai comprasse um patins. Ele até brincava que eu nem sabia andar direito, como ia patinar?"

A menina nascida em Curitiba e criada em São Paulo foi matriculada pelos pais nas aulas de patinação artística do São Paulo Futebol Clube aos 4 anos. Transformou o encantamento de ver as moças patinando nos supermercados em hobby. Superou desafios do corpo que seus treinadores consideravam inadequado, pela altura e peso, para o esporte. Treinou além dos horários que a mãe pagava. Pegou gosto. Impressionou pelo desempenho. Até que essa menina virou a patinadora Paula Donati.

Ela se profissionalizou no esporte, conquistou títulos brasileiros de sua categoria na classe internacional em 1998, 2000 e 2002, representou o país em competições sul-americanas e mundiais e pendurou os patins há 14 anos. Hoje aos 34, dá aulas de patinação artística para 200 crianças em três diferentes escolas e ainda acumula outro emprego, como bailarina do "Programa do Ratinho", no SBT.

Paula Donati - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Paula começou a trabalhar na TV em 2009, na Record, com o apresentador Gugu Liberato
Imagem: Reprodução/Instagram

"Patinação é esporte, mas também é arte. Na época tinha a nota A, da parte técnica, e a nota B, da parte artística. Eu comecei a fazer aulas particulares de dança quando era criança para melhorar essa parte artística e ter uma boa atuação. Meu destaque mesmo era isso, as pessoas diziam que choravam me vendo dançar pela interpretação que eu fazia, eu gostava de músicas lentas e com história", conta Paulinha, que nunca se profissionalizou, mesmo na dança.

"Um tempo depois de parar de patinar eu estava andando no shopping quando um produtor com a blusa da Record me parou. Perguntou se eu já tinha trabalhado em televisão e se não tinha interesse em ser assistente de palco do Gugu. Eu mal assistia TV nessa época, mas tinha certeza que o Gugu era do SBT (risos). Achei a história estranha, disse que não tinha interesse e fui embora. Quando cheguei em casa à noite entrei no Orkut e vi que um moço que fazia festas e baladas tinha colocado no status dele sobre a seleção para o programa do Gugu e era tudo verdade. Aí decidi ir na Record com a cara e a coragem..."

Ela lembra do diálogo mais ou menos assim:

- Você que veio fazer o teste para bailarina?

- Não, vim fazer para assistente de palco.

- Sem chance. As assistentes de palco vieram com o Gugu do SBT.

- Então acho que vou embora, não sou profissional, sou muito alta...

- Não, não. Fica. Queremos mudar o padrão, mais mulherão. Tenta.

"Eu senti que tinha uma chance. Fiz cinco testes e passei. Eu tinha a habilidade da dança que herdei da patinação. Minha dificuldade era decorar coreografias, porque na patinação eram três ou quatro o ano inteiro. E no programa eram de sete a dez a cada programa. No Ratinho ontem foram 17 coreografias, é muito difícil."

Bailarinas do Ratinho - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Cintia Mello, Ingrid Prado, Ariane Vuono, Paula Donati, Natalia Farkuh e Amanda Vieira, do balé do Ratinho
Imagem: Reprodução/Instagram

Paula Donati trabalhou no Programa do Gugu do começo ao fim, de 2009 a 2013. Ficou um tempo fora do ar até que sua coreógrafa foi contratada pelo SBT e a chamou para dançar no Programa do Ratinho. Já são seis anos na função. "O Ratinho é sensacional, a energia das meninas é muito legal. Trabalhar no programa nem é trabalho, é diversão. Como é à noite, eu chego depois de já ter dado aula, então é meu momento fora da patinação em que sou muito feliz."

Patinação levou Paula à Califórnia

Além do São Paulo Futebol Clube, Paula também patinou pela Portuguesa, que era referência na época, e fez trabalhos específicos com um treinador de Santos chamado Kadu. Ele a levou para aprimorar o talento nos Estados Unidos. "A partir de 9 anos todas as férias eu passava nos Estados Unidos, em dezembro, janeiro e fevereiro treinando na Califórnia. Minha infância foi totalmente dedicada à patinação."

Paula Donati patinando - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Aposentadoria da patinação profissional foi em 2005
Imagem: Acervo pessoal

Ela diz que "nem consegue fazer as contas" dos Paulistas vencidos. As medalhas estão na casa dos pais, Luiz Carlos e Luciana, em Cotia. "Na época eram três campeonatos ao longo do ano e era feito um cálculo das colocações. Nos três anos em que fui campeã brasileira eu ganhei os três campeonatos do ano. Lembro bem do primeiro, em 1998, por ser o primeiro e porque eu tenho a fita", diz a patinadora que representou o Brasil nos Mundiais de Florença-ITA, Wuppertal-ALE e Roma-ITA. A melhor colocação foi o 16º lugar: "Na época isso era muito bom para o Brasil".

Paralelamente à carreira na patinação, Paula começou a dar aulas na escola onde o irmão estudava aos 15 anos. Era uma rotina pesada: ia para a escola de manhã, depois dava aula e então seguia para os treinos. Aí se formou e foi fazer faculdade de Educação Física. Teve uma hora que não deu mais para administrar: "Era último ano, com TCC e estágio obrigatório. Ou eu trancava a faculdade, ou parava de patinar. Eu não ganhava muito dinheiro na patinação, mais gastava. É um esporte superelitizado. Um colã de competição custa R$ 3 mil e você precisa de vários. Patins são em torno de R$ 6 mil e você precisa de uns três pares. A bolsa-atleta que eu tinha era de R$ 800. Ou me mudava para a Itália para ir além no esporte, ou, como fiz, resolvi que me dedicaria à faculdade e daria aula."

Preconceito e "retiro" com Leonardo

"Por eu não ser bailarina formada sempre houve muito preconceito por parte das outras meninas, que acham que estamos invadindo a área delas. Igual a mim tem várias. Mas eu lutei muito, treinei muito, ensaiei muito para conseguir meu espaço ali", conta Paula Donati, que desde a estreia na TV com Gugu só ficou três meses fora do ar.

"Nesse meio-tempo depois que acabou o Programa do Gugu me chamaram para dançar com o cantor Leonardo, fazer a turnê dele. Só que eu dava aula de patinação, disse que não faria shows em dia de semana, só fim de semana", lembrou. Quando voltou à TV, a rotina ficou novamente cansativa: "Dava aula em duas escolas durante a semana, de noite gravava o Ratinho e viajava sexta para voltar segunda, às vezes para o Nordeste, com o Leonardo. Aí optei por parar",

Hoje, dá aula e dança na TV. "Tive medo de atrapalhar no começo, das mães falarem: 'Ah, é bailarina, é dançarina da TV'. Mas graças a Deus sou muito respeitada, minhas aulas têm até lista de espera. Neste ano farei no ginásio de Itapecerica da Serra um show grande, para 8 mil pessoas. Estou na correria. Será dia 7 de dezembro. Viro uma doida nesses últimos meses, é sempre o dia mais feliz da minha vida."

Nunca desafie um patinador. Se uma coisa ele aprendeu na vida é cair e levantar quantas vezes forem necessárias.

"Eu sempre penso: agora só tem que dançar? Antes eu tinha que dançar, pular, sorrir, girar, lembrar coreografia, fazer saltos triplos. Era muito difícil. O esporte prepara a gente para a vida. E a patinação me preparou, me ajudou em tudo. Eu aprendi a lidar com o imprevisível, de cair e levantar."