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Brasileira disputa título mundial em meio a 10 shows por semana no Soleil

Itsa representa o Brasil no Mundial de breakdance, em Mumbai, na Índia - Arquivo Pessoal
Itsa representa o Brasil no Mundial de breakdance, em Mumbai, na Índia
Imagem: Arquivo Pessoal

Beatriz Cesarini

Do UOL, em São Paulo

08/11/2019 04h00

A dança de rua é a paixão de Isabela Rocha. Tanto que fez disso profissão e esporte. Itsa, como a jovem de 20 anos é conhecida, faz 10 apresentações por semana no espetáculo Bazzar, do Cirque du Soleil, e quando volta para os mais diversos hotéis ao redor do mundo todo, arrasta móveis e o que tiver atrapalhando no quarto para dançar mais, dessa vez Break Dance, modalidade na qual ela representará o Brasil no Mundial, hoje, no Red Bull BC One. O fôlego pra tudo isso é do amor pela modalidade que também está inserida em contexto urbano cultural. "Break é fome", define.

"É um desafio muito grande que estou tendo. Fazer 19 shows em 11 dias e ainda ter energia para treinar é um pouco complicado. Mas eu não me aguento mesmo assim... Chego no quarto do hotel, arredo minha cama de lugar, ligo para recepção, peço pra tirar carpete, sofá, tudo que está ocupando o espaço. Assim consigo, às vezes ter um lugar para dançar o que eu quero. Os shows [no Soleil], ainda sim, ajudam a manter o condicionamento físico e cuidar bem da alimentação", disse Itsa em entrevista ao UOL Esporte.

A paixão de Itsa pela dança vem desde cedo. Tudo começou quando o primo William virou vizinho da b-girl, que tinha 11 anos de idade na época. A mineira ficou fascinada ao se deparar com os movimentos que o jovem realizava durante os treinos no quintal de casa.

"William foi minha primeira referência de breaking. Ele se mudou para perto da minha casa e comecei a ver ele treinar no quintal. Depois fiquei pedindo para o acompanhar nos treinos, então conheci os amigos dele, que também dançavam. Quando vi já estava fazendo parte da Crew (grupo), entrando em batalhas", relembrou Isa.

Desde o ano passado, Itsa passou a integrar o elenco de bailarinos do Cirque du Soleil. Assim, a mineira viaja pelo mundo inteiro compartilhando com os espectadores os seus movimentos inspirados na dança de rua e, principalmente, no breaking.

"Fiz audição para dançar no Soleil em agosto de 2017, passei por todas as etapas e fui chamada cinco meses depois para participar da criação de um espetáculo que estreou em novembro do ano passado, o Bazzar. É um show para família e crianças, tem muitos acrobatas e números interessantes. É um trabalho intenso, de muitas viagens e exibições, mas muito aprendizado com outras culturas. Além de tudo, o Soleil nos ajuda a ter uma disciplina de atleta para executar bem os movimentos, e isso automaticamente ajuda no meu Breaking também", destacou a jovem.

A Itsa está entre as 22 melhores dançarinas do mundo e, hoje, vai batalhar pelo título mundial no Red Bull BC One ao lado de outras b-girls de destaque na cena pré selecionadas pela Red Bull.

"Breaking é um estilo de vida"

O break dance está muito próximo de se tornar uma modalidade olímpica a partir dos Jogos de Paris em 2024. Mesmo parecendo uma boa notícia, Itsa está apreensiva, porque teme que a dança como disputa na maior competição esportiva do mundo fuja das suas principais raízes.

"Ainda têm muitas coisas a serem definidas pelo Comitê Olímpico, muitos b-boys e b-girls estão a favor, e outros contra. Acho que devemos dar muita atenção para o que seria uma disputa de Breaking nas Olimpíadas. Eu, assim como muitas pessoas, vejo o Breaking como um estilo de vida. É preciso muito mais do que só treino para entender o que é isso, existem pessoas, crews, bairros, músicas que construíram essa história. Precisam ter consideração quando pensam em transformar tudo isso que foi criado em uma simples disputa esportiva", declarou.

E de onde vem o apelido Itsa?

Isa se considera uma pessoa 'não-binária', ou seja, que não se identifica exclusivamente a um gênero. Deste modo, sua identidade de gênero e expressão não limitam-se ao masculino ou feminino. Por esse motivo, muitos se perguntavam se ela era menino ou menina. Surgiu, então, o apelido Itsa.

"'It's a', na tradução do inglês para português, significa 'é um' ou 'é uma'. Eu, ideologicamente falando, me considero uma pessoa 'não-binário' ou 'queer' pode-se dizer também. O Itsa vem dessa repetida pergunta no inglês, "it's a boy? It's a girl?". Eu sou Artista, sou Humano, pessoa que expressa minha arte sem querer ferir a dos outros", contou.