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Ativistas acusam Tóquio de quebrar promessa de Olimpíada verde

David Ramos/Getty
Imagem: David Ramos/Getty

Andy Sharp e Katsuyo Kuwako

Da Bloomberg

20/04/2017 15h45

Grupos ambientalistas pediram uma investigação independente ao uso de madeira possivelmente originária de florestas malaias para a construção do estádio olímpico de Tóquio, dizendo que se trata de uma "violação significativa" do compromisso da cidade de organizar um evento sustentável em 2020.

Os sete grupos, entre os quais se incluem o Rainforest Action Network e o Friends of the Earth Japan, afirmaram em comunicado nesta quinta-feira que na madeira compensada tropical que está sendo usada para moldar concreto para o estádio havia marcações que pareciam pertencer ao Shin Yang, um grupo de companhias malaias. Os grupos ambientalistas afirmam que o Shin Yang faz parte de um conglomerado de seis grandes empresas madeireiras do estado de Sarawak, na ilha de Bornéu, um lugar onde, segundo eles, a exploração madeireira ilegal é generalizada e a destruição de florestas, "extrema".

Telefonemas e e-mails a Gary Tan, gerente-geral do Shin Yang, não foram respondidos imediatamente. A companhia afirma em seu website que segue práticas voltadas à proteção do meio ambiente e à garantia de uma silvicultura sustentável.

Shogo Iwatani, porta-voz do Conselho de Esporte do Japão, órgão responsável pela construção do estádio, disse que embora seja verdade que a madeira do Shin Yang estava sendo usada para molduras, o material atende as condições de sustentabilidade impostas pelos padrões do comitê organizador.

A construção central do evento foi selecionada em parte devido ao seu design com estrutura de madeira do renomado arquiteto Kengo Kuma, conhecido pelo uso de materiais naturais. O comitê organizador de Tóquio 2020 mantém um código de abastecimento sustentável para a madeira, que define que ela deve ser colhida por meio de uma atividade madeireira atenta à conservação do ecossistema e aos direitos dos povos indígenas. A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, tem afirmado que fará todo o possível para que a Olimpíada seja sustentável.

Série de escândalos

A euforia inicial do Japão pela apresentação da proposta vencedora diminuiu após uma série de escândalos. O design original futurista do principal estádio do evento foi cancelado devido aos custos crescentes, o logotipo foi alterado após acusações de plágio e promotores franceses disseram no ano passado que estavam investigando um pagamento feito a uma empresa de Cingapura em conexão com o processo de licitação.

"O estádio nacional é um edifício construído pelo governo federal e deve ser um lugar de orgulho nacional", disse Junichi Mishiba, do grupo Friends of the Earth Japan, no comunicado. "Tememos que isto possa ser um escândalo para a Olimpíada e para o Japão."

Os ativistas afirmaram que o comitê organizador permitiu um tecnicismo em sua política de aquisição de madeira que isenta a madeira compensada para cofragem usada para moldar concreto dos padrões de sustentabilidade ambiental e de direitos humanos.

A empresa Taisei, que lidera a construção do estádio, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Hana Heineken, assessora sênior da organização Rainforest Action Network, disse que o Japão é o maior importador global de madeira compensada tropical.

"O setor privado e o governo precisam reconhecer que o modelo atual de aquisição de madeira do Japão está completamente desatualizado", disse Heineken, em entrevista, nesta quinta-feira, em Tóquio. "Eles precisam fazer due diligence e checar de onde vem essa madeira."