Vôlei com mistão e no atletismo vai quem quer. Pan-2015 vira um problema

Daniel Brito

Do UOL, de Brasília

  • Luiz Pires/VIPCOMM

    Seleção de vôlei terá de montar duas equipes para disputar o Pan e Liga Mundial

    Seleção de vôlei terá de montar duas equipes para disputar o Pan e Liga Mundial

O calendário de competições internacionais se tornou um quebra-cabeça para algumas das principais confederações brasileiras por causa da data de realização dos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Vôlei, atletismo, natação, handebol e basquete estão elaborando estratégias diferentes para tentar lutar pela medalha de ouro na competição continental e fazer uma boa figura nos demais torneios internacionais.

A cidade canadense recebe o evento de 10 a 26 de julho. Esta data, contudo, é péssima para quem tem pretensões de medir seu desempenho contra atletas do mundo todo e não apenas das Américas. É o caso, por exemplo, do vôlei.

O Pan estará em sua primeira semana quando os quatro melhores times do mundo desembarcarão no Rio de Janeiro para a fase final da Liga Mundial. A etapa decisiva do principal campeonato do ano se desenrolará de 15 a 19 de julho. No feminino, o problema é idêntico, mas um pouquinho mais tarde.

Quando os canadenses realizarem sua festa de abertura da competição em Toronto, as comandadas de José Roberto Guimarães estarão na Tailândia, para a segunda semana do Grand Prix. A competição se estenderá até o último dia do Pan, em 26 de julho. As finais serão nos Estados Unidos.

Assim, a CBV entrou em uma sinuca de bico. Ou manda os figurões para os torneios mundiais ou aposta no título das Américas. O mais provável é que o Pan seja disputado com um time misto, mesclando grandes nomes com jovens promessas. Mas a entidade evita cravar esta informação por enquanto.

"Se as datas baterem, evidentemente que o Brasil jogará com duas equipes. Cabe à FIVB [Federação Internacional de Vôlei] verificar que grandes forças do voleibol estão nas Américas, e dar a devida importância à competição continental. O Brasil conta com um grande número de atletas de potencial para defender nossa seleção, portanto, o planejamento deve seguir neste sentido. Em todas as competições o vôlei brasileiro entra para vencer. Tanto a Liga Mundial quanto o Grand Prix, o Brasil é o maior vencedor, e defenderá essa hegemonia. A CBV ainda não elegeu a prioridade, dado que o planejamento ainda não foi fechado", avisou, em nota de sua assessoria de imprensa, a confederação.

No handebol parece haver um diálogo maior entre IHF (Federação Internacional de Handebol) e suas afiliadas no continente. O Mundial de juniores está programado para o Brasil, no Rio Grande do Sul, entre o final de junho e o início de julho. As datas não batem com Toronto, mas atrapalham a preparação das seleções que contam com jovens no elenco principal. "Vamos nos reunir com a IHF e pedir para mudar essa data ou para o início de junho ou para o mês de agosto, todos no continente podem ser prejudicados. Acho que vamos conseguir", afirmou ao UOL Esporte Manoel Luiz Oliveira, presidente da CBHand (Confederação Brasileira de Handebol).

O atletismo parece ser a modalidade mais bem resolvida com o calendário internacional de 2015. O Mundial de Pequim começa em 22 de agosto, quase um mês após o término do Pan. Os problemas com fuso horário, recuperação física e ciclos treinamento, contudo, levaram a CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo) a privilegiar o evento chinês.

"O Mundial é um parâmetro verdadeiro, porque vai estar o mundo inteiro lá, como o próprio nome já diz", afirmou Antonio Carlos Gomes, superintendente de alto rendimento da confedeação. "Por isso, nós já avisamos  ao COB [Comitê Olímpico Brasileiro] e ao presidente Nuzman [Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB] que quem não quiser ir para o Pan, não vai. Agora, se não for, vai ter que mostrar resultado em Pequim", explicou.

A delegação brasileira em Toronto deverá ser de no máximo 80 competidores, contra 50 em Pequim. "Acho que todos vão querer ir para o Canadá, os atletas brasileiros gostam de falar e por no currículo que são medalhista Pan-Americanos", disse Gomes. "Então, para esses aí, é competir no Pan e entrar no avião no dia seguinte para voltar para o Brasil. Ficam cinco dias e depois embarcam para aclimatação no Japão", completou.

Problema no garrafão feminino
No basquete, o técnico da seleção feminina Luiz Augusto Zanon não deve levar ao Canadá nossa melhor equipe. As atletas que atuam na WNBA, a liga profissional dos Estados Unidos, estarão em início de temporada e dificilmente os clubes devem liberá-las. Três brasileiras disputaram o campeonato na temporada 2014, encerrada em setembro: a ala-pivô Damiris, pelo Minnesota Lynx, e as pivôs Nádia e Érika, pelo Atlanta Dream. O que significa dizer que Zanon terá de arrumar uma solução caseira para o garrafão verde-amarelo em Toronto.

Já a natação ainda analisa qual melhor maneira de obter os melhores resultados no Pan e no Mundial de esportes aquáticos de Kazan, na Rússia. As provas em Toronto vão de 14 a 18 de julho e o brasileiro pretende levar 36 representantes (18 para cada gênero). As provas da modalidade no Mundial se iniciam em 2 de agosto. O país se fará presente com 26 nadadores no masculino e 26 no feminino.

Não haverá escala no Brasil entre o Canadá e a Rússia. Em 13 dias de um evento para o outro é preciso recuperar-se fisicamente, adaptar-se ao fuso horário de sete horas de diferença do Canadá para a Rússia e estar pronto para competir em alto nível. E a competitividade no Mundial é muito maior do que no Pan.

"Os Jogos de Toronto dão mais visibilidade, o programa de provas é feito nos moldes dos Jogos Olímpicos do ano seguinte, além da convivência com vários atletas de outros esportes, que já dá para sentir como será no Rio-2016", explicou Ricardo de Moura, supervisor de natação da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). "Não pretendemos usar um canhão para matar uma mosca e nem uma espingarda para matar um elefante. Ainda estamos avaliando a melhor opção. Mas o fato é que temos de colocar os jovens para competir", previu Moura.
 

*Colaborou Fábio Aleixo

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