Greve paralisa construções olímpicas e ameaça obra mais cara da Copa

Vinicius Konchinski*

Do UOL, no Rio de Janeiro

Uma greve geral de operários paralisou à meia-noite desta segunda-feira boa parte das obras da Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016 em execução no Rio de Janeiro. Segundo Sitraicp (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada Intermunicipal do Rio de Janeiro), o trabalho no Engenhão, Linha 4 do Metrô, Transolímpica e Transcarioca parou. As atividades no Parque Olímpico estão paralisadas deste quinta-feira.

O presidente do sindicato, Nilson Duarte Costa, afirmou que a greve envolve 30 mil trabalhadores. Eles não estão trabalhando porque reivindicam, entre outras coisas, um aumento de 10% em seus salários. Empresas teriam oferecido, no máximo, 9% de reajuste.

O salário médio de um trabalhador da construção pesada é de R$ 1.500, de acordo com o Sitraicp.

"Nós estamos em campanha salarial desde novembro", explicou Nilson. "Nossa assembleia votou por um reajuste linear de 20%. Já cedemos e aceitamos um aumento de 10%. As empresas só querem dar 9%. A diferença é de R$ 15. Essa diferença causou a greve."

Segundo Nilson, não há perspectiva para o fim da paralisação. Em contato com o UOL Esporte na manhã desta segunda-feira, ele disse que ainda não havia recebido qualquer contraproposta de empresas para que operários voltassem ao trabalho rapidamente.

Por causa da greve, a entrega da obra mais cara da Copa do Mundo de 2014 está ameaçada. Orçada em R$ 1,6 bilhão, a construção do corredor de ônibus Transcarioca --ligação o Aeroporto do Galeão à Barra da Tijuca-- deve ser concluída em junho, ou seja, dias antes do início do Mundial. A previsão, no entanto, não leva em conta a paralisação dos trabalhadores encarregados pela empreitada.

"Nós não somos os responsáveis pelo atraso", afirmou Nilson. "A greve é legítima. Se as empresas entrarem em um acordo com o sindicato, voltamos ao trabalho imediatamente."

Procurado pelo UOL Esporte, Rodolpho Tourinho, presidente executivo Sinicon (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada), entidade que representa as empresas do setor, disse que o reajuste de 9% é o limite que pode ser pago pelas companhias. Ele afirmou que o Sinicon vai procurar a Justiça para que ela determine qual o reajuste deve ser concedido aos trabalhadores.

Parque Olímpico

Operários da obra do Parque Olímpico da Rio-2016 também não estão trabalhando nesta segunda-feira. Desde quinta, eles estão paralisados para reivindicar melhor remuneração e a troca do sindicato que os representa em negociações com as construtoras responsáveis pela empreitada. Oficialmente, a paralisação não faz parte da greve geral.

Nesta manhã, eles realizaram mais um ato em frente ao canteiro de obras do Parque Olímpico, na zona oeste do Rio. Por volta das 6h da manhã, eles se reuniram e iniciaram uma manifestação. Juntos, caminharam para a avenida que passa em frente à obra, a Abelardo Bueno. Segundo operários, a via foi fechada e liberada após cerca de 40 minutos, quando a Polícia Militar (PM) interveio.

Gerson do Nascimento de Almeida, ajudante de obra no Parque Olímpico, estava na manifestação. Ele disse que o ato foi pacífico, mas acabou sendo reprimido pela PM. Ele contou que policiais militares chegaram a dar tiros para o alto para dispersar os operários. "Nós só queremos nossos direitos", reclamou ele.

Segundo Gerson, o Sindicato da Construção Leve, atual entidade representativa dos trabalhadores do Parque Olímpico, não é eficiente em negociações. Por isso, os operários querem que o Sitraicp assuma as tratativas.

Atualmente, cada operário do Parque Olímpico recebe R$ 180 em vale refeição por mês e não pode incluir ninguém de sua família em planos de saúde pagos pela companhia. "Se meu filho ficar doente, faço o que?", contestou Gerson.

A obra do Parque Olímpico é uma das maiores em execução para a Olimpíada. Segundo a prefeitura do Rio, mais de R$ 1,5 bilhão estão sendo investidos no local. O consórcio Rio Mais, que toca a obra, é formado por Odebrecht Infraestrutura, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken.

Na quinta-feira, o UOL procurou representantes do grupo. Recebeu uma nota informando que a Rio Mais cumpre todos os termos da convenção coletiva. Nesta mesma nota, a concessionária informou que os operários do Parque Olímpico voltariam a trabalhar nesta sexta, o que não ocorreu.

A EOM (Empresa Olímpica Municipal), que monitora as obras olímpicas no Rio, também foi procurada. Informou que não vai se pronunciar.

*Atualizada às 15h23

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