O logo dos Jogos Olímpicos de 2016 foi lançado sob muita expectativa, diante de milhares de pessoas, na praia de Copacabana. Três dias depois da festa, a peça está cercada por acusações de plágio que surgiram na internet. Consultados pelo UOL Esporte, designers se mostraram satisfeitos com a marca e descartaram a possível inspiração no símbolo de uma fundação norte-americana.
Peça foi criada pela agência Tátil, veio a público no Reveillon e agradou a maior parte dos designers
Símbolo da ONG americana que já foi copiada pelo logotipo oficial do Carnaval de Salvador de 2004
Montagem feita pelo designer Douglas Cavendish para defender que o logo de 2016 não é um plágio
Seleção de logos que também lembram conceitos ou formas dos de 2016 e da Telluride Foundation
Os elogios vieram de diversos lugares. Blogs brasileiros e internacionais de design manifestaram satisfação com a escolha da marca. O Caligrafitti, por exemplo, classificou o logotipo como “sensacional”.
“Eu amei o logo de 2016. Há um espírito ali. Tem muito movimento e a ideia de trabalhar e jogar juntos é algo que todos entendem. Ao mesmo tempo, também lembra os aros olímpicos. Parabéns ao designer e ao Comitê”, disse o designer norte-americano Felix Sockwell, que em julho chegou a recriar o logo da Copa do Mundo de 2014 em seu site, indignado com a qualidade da peça.
“É um ícone simples, que representa todo o espírito olímpico, ao mesmo tempo em que de alguma maneira representa a cultura local”, disse o site Brand New.
“O trabalho realizado procura atender com brio à encomenda e traz aspectos que o situam numa linhagem do design atual: o encantamento das curvas; a perfeição do algoritmo, que busca, como no ideal olímpico, superar a precariedade do gesto humano; a ilusão de tridimensionalidade e gradações abstratas de cor que terminam por abdicar da natureza planar do ritmo e do desenho modernos, em que menos era mais. A forma pura da razão”, disseram Elianne Jobim e Rodolfo Capeto, professores da Uerj, em artigo publicado pela Folha de S. Paulo.
Só que a euforia pelo logotipo durou pouco. Ainda no dia 1º de janeiro, o blog do Cruz publicou que a marca se assemelha à da Telluride Foundation, uma ONG norte-americana. O símbolo desta instituição havia sido “fonte de inspiração” em 2004 para a organização do Carnaval da Bahia.
O logotipo da Telluride Foundation, por sua vez, seria baseado na pintura “A Dança” do pintor francês Matisse. Fred Gelli, autor da peça, e o Comitê Organizador de 2016 negam a inspiração.
“O Comitê realizou uma extensa busca mundial de marcas que tivessem elementos presentes na marca dos Jogos Rio 2016. E tanto o Comitê quanto o Comitê Olímpico Internacional [COI] avaliaram que as marcas encontradas na busca não apresentavam conflito com a marca dos Jogos Olímpicos de 2016”, disse a entidade, em resposta aos questionamentos do UOL Esporte.
Os designers consultados também discordam da acusação. “São ridículas tais comparações. Aquela fundação tem o direito sobre formas que representam pessoas se abraçando? Acredito que não. O traço é diferente. A maneira como as pessoas se abraçam e se entrelaçam é diferente”, disse Daniel Campos, designer e criador do site LogoBR.
“São nítidas as diferenças de forma, silhuetas, traços e semântica entre as duas propostas. São dois desenhos completamente distintos nos aspectos formais, porém tem o mesmo contexto: ‘pessoas coloridas que se abraçam’”, disse Douglas Cavendish, designer gráfico que chegou a espalhar uma explicação no Twitter para elucidar o imbróglio.
Os designers concordam que aos olhos de um leigo, nem tão atento às formas e terminologias da área, a comparação parece plausível. Guilherme Sebastiany, sócio-fundador da agência Sebastiany, especializada em produção de logos, explica que as questões técnicas separam, sim, a coincidência de um plágio.
“Toda vez que uma marca é criada, ela usa de um repertório que é comum. Usam-se cadeiras, objetos, maçãs, pessoas, etc. Até as abstratas usam objetos comuns. Todas seguem um repertório que qualquer um conhece. É normal. Só devemos estar com a atenção redobrada para que o resultado final tenha algo de único, seja um grafismo, um traço ou outro detalhe”, disse o designer.
O UOL Esporte tentou entrar em contato com a Telluride Foundation, mas não obteve resposta. Caso queira tomar alguma providência sobre o assunto, e ONG deverá ter dificuldade para convencer os juízes responsáveis, segundo o especialista consultado pela reportagem.
“Toda a criação desse gênero vai encontrar antecedentes. Neste caso você tem de levar em conta os direitos autorais e as marcas. No primeiro, você vai levar em conta não só a ideia, mas também a forma, porque a ideia [de pessoas se abraçando] é até junguiana. No tocante à marca, você não pode confundir o público com uma outra empresa. Por isso, eu não vejo grandes problemas”, disse Denis Barbosa, sócio do Denis Borges Barbosa Advogados, escritório especializado em propriedade intelectual.
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