Um coração, duas paixões

Comentarista na final, Zinho evita torcida em duelo de ex-times Fla e Palmeiras: "não posso me dar o direito"

Beatriz Cesarini e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo LucasTavares/Folhapress

São sete títulos com o Flamengo e oito com o Palmeiras. Zinho foi criado como jogador na Gávea e triunfou ao lado de lendas como Zico e Júnior. Depois, foi um dos protagonistas dos anos dourados do Verdão na 'era Parmalat'. Seu currículo apresenta uma lista caprichada de taças, dos dois lados dessa "ponte aérea".

Ou seja, poucas figuras reúnem uma bagagem tão completa para analisar a final da Libertadores de 2021, protagonizada pelas duas principais equipes de sua carreira. Flamengo e Palmeiras se enfrentam amanhã em Montevidéu, às 17h (de Brasília), ambos em busca do tri sul-americano.

Já em Montevidéu para comentar a decisão deste sábado pelos canais do Grupo Disney, Zinho assegurou que não escolhe um lado para torcer. Tudo em nome do profissionalismo: "não tem como eu ficar nessa de torcedor porque eu vou estar lá, eu vou fazer programas ao vivo".

Durante o papo com o UOL Esporte, o pentacampeão mundial com a seleção também comparou o Fla atual com os times célebres em esteve presente e ainda disse ver virtudes do Palmeiras de hoje semelhantes às equipes históricas de Luxemburgo e Felipão.

Sobre favoritismo, muito cuidado nas palavras: "fica 50% para cada lado". No entanto, Zinho diz ver os paulistas com ligeira vantagem na questão física do elenco.

LucasTavares/Folhapress

"Alguns jogos tem repertório. Mas na maioria..."

Zinha fala de Palmeiras, Flamengo e da carreira de comentarista; assista a íntegra

Reprodução/YouTube

Papel de comentarista impede escolher torcida

O coração de Zinho estará dividido pela metade nesta final, é o que assegura o antigo ídolo rubro-negro e palmeirense, com currículo cheio de títulos pelos dois lados. Mais importante do que isso, no entanto, o antigo meio-campo afirmou que o trabalho como comentarista no Grupo Disney exige que ele seja imparcial.

"Não posso me dar o direito de ficar torcendo, né. Eu tenho que dar minha opinião, às vezes, ela vai ser polêmica, às vezes, vai ser divergente do que o cara pensa do time dele. O torcedor, eu até entendo a paixão dele, o problema é assim quando um debate vira briga, discussão porque você não concorda com a opinião do outro, isso é um debate", afirmou.

Sem nenhum tipo de muro, eu já falei aqui da minha história toda nesses dois clubes e eu estou trabalhando, não tem como eu ficar nessa de torcedor porque eu vou estar lá, eu vou fazer programas ao vivo, vou fazer entradas, vou ter diálogos com torcidas do Flamengo, com torcida do Palmeiras, vou falar com jogadores de ambos os times.

Zinho, sobre a atuação como comentarista na cobertura do Grupo Disney na final da Libertadores

Staff Images / CONMEBOL

Palmeiras atual é misto de 93/94 com 98/99

Em 1993, Zinho estava no elenco comandado por Vanderlei Luxemburgo, que tirou o Palmeiras da fila com o título do Campeonato Paulista sobre o Corinthians -- o meia, inclusive, marcou um gol no jogo decisivo. Mais tarde, após uma passagem pelo Japão, o armador retornou ao time e conquistou a primeira Libertadores alviverde, em 1999, já dirigido por Luiz Felipe Scolari.

Segundo o ídolo, o Palmeiras de hoje, atual campeão da Libertadores nas mãos do português Abel Ferreira, reúne características daqueles dois elencos vitoriosos.

"Foram duas épocas, treinadores diferentes, modelos diferentes. Para mim, o grande Palmeiras de 93/94 encantou mais. Além de conquistar, jogava o fino da bola, né. O de 98/99 conquistou também principalmente a Libertadores, mas tinha um estilo de jogo do Felipão, um pouco diferente do que jogava aquele nosso de 93/94", disse.

"Acho que esse modelo hoje do Palmeiras é um meio desses dois. Em alguns momentos, eles jogam futebol mais refinado daquele de 93/94 e, às vezes, um jogo mais objetivo, mais de organização, mais de comprometimento de um coletivo, que era aquele 98/99. Então é a mescla."

Instagram/Reprodução
Comentarista Zinho com o técnico Jorge Jesus nos estúdios do Fox Sports

Flamengo de Jesus lembrou "anos Zico"

E como a cria da Gávea enxerga o Flamengo finalista da Libertadores? Com o time ainda em adaptação ao trabalho de Renato Gaúcho, Zinho diz não conseguir traçar paralelos entre o elenco atual e os grupos antigos do Rubro-Negro. Por outro lado, o ex-atleta destacou o trabalho anterior de Jorge Jesus. Segundo o meia aposentado, o time de 2019 lembrou as equipes de 1981 e 1987, lideradas por Zico, por ter o estilo de jogo ofensivo e objetivo.

"O time de 2019 se compara se muito ao de 81. Acho que primeiro o de 19 tinha que comparar com o de 87... Se ganhar, aí vamos falar do de 81. Foi um momento espetacular com o Jorge Jesus. Cara, encaixou naquele momento a chegada de alguns jogadores com um modelo de jogo diferente, o 4-1-3-2. Muita gente fala que era 4-2-3-1, mas, para mim, não", diz o comentarista.

"Era o Arão mais comum primeiro, Gerson se adiantava na linha do Arrasca e do Everton Ribeiro, com o Bruno Henrique e o Gabigol mais centralizado e o Bruno Henrique caindo, às vezes, mais para o lado esquerdo com marcação com linha alta."

Reprodução/Instagram

Zinho se vê em Everton Ribeiro, Arrascaeta e Scarpa

Conforme foi se destacando no futebol, Zinho passou a ser visto como um jogador à frente de seu tempo. Ele era um meia ofensivo e, também, considerado uma referência para o início das jogadas. Segundo o próprio ex-atleta, seu estilo de jogo pode ser comparado a dois atuais rubro-negros.

"Em 92, com mais maturidade, mais experiente, eu já era mais protagonista ao lado do Júnior, como um organizador. De repente, o Everton Ribeiro e o Arrascaeta possam lembrar um pouco mais de como eu jogava. Até mais o Everton Ribeiro, porque o Arrascaeta pisa mais na área e faz mais gols, eu não era tão artilheiro. No lado do Palmeiras, tem o Gustavo Scarpa, que pode se parecer mais comigo porque faz esse lado fechando", analisou.

Enceradeira, não!

Era um programa de humor que não era para falar de tática. Na Copa, todo mundo tem que falar de futebol, todos os programas. Só que com humor, sempre alguém chora, né? A minha família chorava: meu pai, minha irmã, minha esposa. Sabiam que aquela brincadeira era para me criticar. Eu não vivi isso na hora, porque estava concentrado com a seleção, representando o meu país, realizando um sonho de criança, mas vi o sofrimento da minha família.

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Era uma forma de criticar o modelo de jogo, mas não tinha o entendimento tático da minha função para aquele time. E foi bom que nessa pandemia foi reprisada toda a Copa, e muita gente, que não tinha visto, me ligava: 'Zinho, pessoal falou que vocês jogavam feio, mas, caramba, vocês dominavam todos os jogos'. Tinha aquelas linhas de quatro, a gente ganhava, mas não sofria. Mas explicar isso na época da paixão, da loucura, não tem como.

Zinho, sobre o legado da seleção brasileira de 1994 e sobre as críticas pesadas daquela época

SE Palmeiras

Zinho apoia Abel em críticas à organização do futebol brasileiro

Atual técnico do Palmeiras, Abel Ferreira costuma fazer críticas a alguns padrões de organização do futebol brasileiro. O português já criticou repetidamente o calendário apertado e também a falta de paciência com os treinadores. Zinho concorda com o comandante alviverde, que nem sempre agrada os analistas da imprensa neste território de opinião.

"A nossa cultura de que o treinador é sempre o responsável de tudo, acho que é exagerada. O esporte é coletivo e não dá para você centralizar só numa pessoa um resultado ou uma conquista ou uma derrota. Então, às vezes, o Abel quando fala que não há uma paciência, tem razão. A função do treinador é buscar o modelo ideal de um time, encontrar um time ideal e, às vezes, não há uma paciência para isso, a cobrança pelo resultado imediato, torcedor é paixão, ele quer ganhar toda hora, então, às vezes, isso é exagerado", opinou.

"Outra coisa que o Abel reclama muito é sobre o calendário. São muitos jogos. Como é que pode? Esses dias a seleção brasileira estava em campo e o Flamengo também. Só no Brasil que existe isso e atrapalha", acrescentou.

Marcello Zambrana/Agif

Jogo único equilibra final

A final da Libertadores será disputada em jogo único e campo neutro, no Estádio Centenário, bem distante de São Paulo e Rio de Janeiro. O modelo da Conmebol está em vigor desde 2019 e ainda causa controvérsia na comunidade do futebol. No entanto, para Zinho, a partida solitária na decisão da competição coloca as equipes em pé de igualdade.

O jogo único acaba dando uma emoção e uma equiparação às duas equipes. Num jogo único, daqui alguns dias o peso das camisas, a tradição desses dois times acaba igualando tudo, fica 50% para cada lado. Não adianta quem está vivendo o melhor momento, mas viajam para lá antes, foca só nesse jogo. São 90 minutos, é um encaixe do jogo, é o momento do jogo, e acaba premiando um dos dois times que chegaram com seus méritos numa final. Dá uma emoção diferente, não tem vantagem para ninguém, é aquela partida."

O Palmeiras vem de resultados ruins, mas está melhor fisicamente. O Flamengo tem bons resultados, mas muitos jogadores voltando de contusão. Jogo único vai valer o dia e encaixe da estratégia. Não tem favorito na minha opinião.

Zinho, em prognóstico para a final, com a razão também dividida

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Títulos de Zinho

  • Pelo Flamengo

    Campeonato Carioca (1986, 1991, 2004), Copa do Brasil (1990), Copa Rio (1991), Copa União - Módulo Verde (1987) e Campeonato Brasileiro (1992)

    Imagem: Reprodução
  • Pelo Palmeiras

    Campeonato Paulista (1993, 1994), Torneio Rio-São Paulo (1993), Campeonato Brasileiro (1993, 1994), Copa do Brasil (1998), Copa Mercosul (1998) e Copa Libertadores (1999)

    Imagem: Folha Imagem

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