Dreads, piercings, cabelo comprido, pulseiras e até uma camisa oficial do clube viraram motivo de ameaça nas arquibancadas em jogos do São Paulo. Nas últimas semanas, o UOL ouviu relatos de intolerância e medo crescente de torcedores, coagidos violentamente por apresentarem visual ou comportamentos que fogem de um padrão.
Padrão, esse, definido pela maior torcida organizada do clube, a Independente. "O papo é reto. A nossa instituição tem regras desde 1972 [...] Quer usar brinco, pintar o cabelinho, alargar a orelhinha, vai tranquilo, São Paulo futebol clube é de todos. Apenas não será um Independente, simples assim", diz uma publicação da torcida no Instagram.
A Independente nega qualquer tipo de coação a quem não é membro. Os depoimentos ouvidos pela reportagem, porém, indicam que a violência contra quem foge do padrão estabelecido por ela existe - inclusive para quem não é da torcida organizada. William Medeiros, que estava no estádio no jogo entre Palmeiras e São Paulo pela Copinha deste ano, afirma ter sido agredido junto a amigos na saída da Arena Barueri. Não foram os únicos. Na rua que liga o estádio à estação de trem, o "apavoro" comeu solto. Naquele momento, as calçadas estavam tomadas por torcedores organizados.
"Jogaram um copo de cerveja na cabeça do meu amigo porque ele estava de piercing. Começaram a gritar mandando que ele tirasse. Ele respondeu que não tinha como tirar, que nunca tinha feito isso, então arrancaram o piercing dele na unha. A orelha dele ficou muito machucada. Outro amigo nosso tentou tirá-lo dali, do meio daquela confusão, e levou um soco na costela. A gente nem tentou revidar, só queria ir embora dali. Isso destruiu minha saúde mental, nem consegui dormir essa noite. Fiquei em pânico."