Vinda de um lar desestruturado, no qual a mãe é dependente química e o pai passou a maior parte da infância dela preso por crimes hediondos, Juju teve como principais referências os avós, seu Francisco de Assis Sousa e dona Francisca dos Santos. A relação da mãe e do tio materno com as drogas é, sem dúvida, uma das lembranças mais dolorosa da infância da garota.

"Eu era pequena e não entendia quando presenciava a minha mãe transtornada por conta do vício. Ela misturava crack com bebida e brigava com todo mundo, arrumava encrenca por qualquer motivo. Meu tio, para comprar a droga, vendia minhas premiações e minhas roupas de marca. Eu ficava triste e chorava num canto sozinha. Passe o tempo que passar, não me esqueço de jeito nenhum destes momentos de conflito dentro da minha casa".

A fome também foi uma companheira inseparável na infância, já que a mãe também vendia os alimentos da família para manter o vício e pagar dívidas com traficantes. "Muitas vezes não tinha o que comer dentro de casa. Eu, mesmo criança, ia pescar na praia para poder comer. Teve um dia que eu procurei na praia umas baratinhas do mar, que ficam na areia enterradas quando a maré traz, para eu comer com arroz".

A ausência do pai também remete tristeza para Juliana. Ela cresceu com os pais mergulhados na criminalidade. "Meu pai sempre foi muito ausente, vivia preso. Não ter um apoio e o incentivo do pai e da mãe no esporte que eu amo sempre me doeu muito. Mas não guardo rancor deles. Nem dos maus tratos sofridos na infância quando minha mãe estava sob efeito do crack. Pelo contrário, quero libertar ela desta vida de sofrimento".

Orgulho? A família já tem de sobra. O avô da juliana, seu Francisco, de 72 anos, é corintiano roxo e exibe envaidecido a camisa do time paulista. O pôster com a foto da neta na parede é outra alegria. Enquanto fala da neta, ela se aproxima em silêncio e, por alguns minutos, os dois ficam entrelaçados por um forte abraço.

"Eu criei essa moça. Ela não teve pai e nem mãe. Eu e minha mulher demos a educação para ela. Quando ela viaja para competir, eu fico triste pela ausência, mas na torcida que ela volte com a vitória", diz seu Francisco, que é logo abraçado novamente pela neta. Os dois choram. "Vô te prometo que o senhor ainda vai se orgulhar de mim. Minha esperança para o futuro é me manter como atleta e estar dentro do circuito mundial. Quero ser campeã mundial e comprar uma casa para os meus avós", diz a jovem.

Sentada no chão do corredor que dá acesso ao cômodo onde a família mora, dona Francisca, conhecida como "Baixinha", amassa latinhas de cerveja com uma pedra que mal consegue levantar. Ela e o marido são aposentados, mas a idosa, de 69 anos, tenta complementar a renda da família com o dinheiro ganho com a venda de reciclagem. No final do mês, R$ 40 é o máximo que dona Francisca arrecada enchendo sacos e sacos de latinhas amassadas. "Quero viver para ver minha neta vencendo na vida. Não quero que ela passe pelo o que passei", desabafa Baixinha, com os olhos cheios de lágrimas.

Os avós da Juliana não possuem dentes na boca e sofrem com problemas graves relacionados à saúde bucal. A falta de dinheiro ainda é impedimento para que a neta consiga pagar um tratamento odontológico adequado para os idosos. "Queria tanto uma dentadura para sorrir. Eu evito dar risada para não fazer minha neta passar vergonha comigo", diz dona Francisca, sem saber que a surfista já tem muito orgulho da avó, com o sem dentes.

Durante a produção desta reportagem, entendi que só contar a história era pouco. Precisava fazer algo mais. Não fazia sentido, para mim, aquela rotina quase humana a que uma atleta vitoriosa estava exposta. Então, lancei uma vaquinha virtual.

Tentei mobilizar o maior número de amigos em uma causa do bem. O objetivo era arrecadar dinheiro para a compra de uma casa mais confortável para a surfista e a família dela. Publiquei um vídeo na minha conta do Instagram, esse aqui embaixo, e ele acabou viralizando.

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A vaquinha on-line cresceu e, em menos de 15 dias, ultrapassou a meta estipulada de R$ 100 mil. Juro, eu não acreditei. Uma galera do surfe, como Gabriel Medina, Caio Ibelli, Ítalo Ferreira e Alejo Muniz, também entrou em contato para oferecer ajuda. Grandes empresas, como marcas de surfe, também estão se mobilizando.

No fechamento desta reportagem, a grande boa notícia é que a casa nova, que também fica no Titanzinho, já está em negociação. Logo, logo Juju e família vão se mudar para lá!