O menino de 40 anos

No Paraguai, Ronaldinho Gaúcho faz aniversário na prisão e preso às decisões do irmão

JORGE ADORNO/REUTERS

Aos oito anos, voltando para casa depois de jogar bola, Ronaldinho Gaúcho viu toda a família reunida. Pensou se tratar de uma festa para comemorar os 18 anos de Roberto Assis, seu irmão mais velho. Foi o mano quem deu a notícia que mudaria tragicamente a vida de ambos: o pai deles, João Moreira, morrera na piscina após sofrer um acidente.

"Você tem sorte porque você tem Roberto. Mesmo que ele seja dez anos mais velho que você, ainda que ele já esteja jogando pelo Grêmio como profissional, Roberto estará sempre ao seu lado. Ele não será apenas seu irmão, ele será como um pai para você. E mais do que isso: ele será seu herói". Essas palavras foram escritas por Ronaldinho numa carta imaginária para ele mesmo aos oito anos de idade a pedido do site americano "The Players' Tribune".

Trinta e dois anos depois de virar órfão, Ronaldinho completa 40 anos, neste sábado (21), preso com seu irmão e ídolo em Assunção, no Paraguai.

Não é por acaso que os dois estão juntos nesse triste "rolê aleatório". Desde a morte do pai, Assis virou mentor, empresário e responsável por quase tudo na vida do irmão. Foi ele quem tocou a ideia de ter os documentos paraguaios, acreditando serem legais, segundo sua defesa, que colocaram os dois na prisão.

A seguir, o UOL narra a história do garoto de 40 anos preso ao irmão e com ele.

JORGE ADORNO/REUTERS

Em nome do irmão

Como pode Ronaldinho Gaúcho acabar preso com Assis depois de entrar no Paraguai portando passaporte e identidade paraguaios falsos?

Em busca da resposta para essa e outras perguntas que apaixonados do futebol no mundo inteiro fazem desde o último dia 6, a reportagem do UOL passou nove dias em Assunção. Entrevistou promotores, um juiz, advogados dos brasileiros, membros do governo local, quatro defensores de outros envolvidos no processo, administrador da cadeia e membros do estafe de Ronaldinho e Assis.

As autoridades preferem esperar pelas perícias nos celulares dos irmãos para tentar fechar o quebra-cabeça. A defesa afirma que ambos agiram de boa-fé, pensando que os documentos eram verdadeiros.

Mas Ronaldinho não desconfiou de papéis que o apontavam com nacionalidade paraguaia sem nunca ter morado no país (estrangeiros só podem obter passaporte local se morarem ao menos três anos do Paraguai)? A resposta dos defensores dos brasileiros direciona o protagonismo do episódio para Assis.

Os advogados dos irmãos afirmam que o mais velho deles foi fisgado pela ideia de ter documento paraguaio para poder abrir empresa no país (só a cédula da identidade do Paraguai é necessária) e pagar menos impostos. O argumento é de que a sugestão foi apresentada pelo empresário brasileiro Wilmondes Sousa Lira, também preso, e pela empresária paraguaia Dalia López, procurada pela polícia. Por essa versão, Assis acreditava que a documentação seria a legítima.

NORBERTO DUARTE / AFP

O estafe dos ex-jogadores descreve Ronaldinho como um cara que não se envolve nos negócios. Desde o tempo em que jogava, deixa todas as decisões contratuais e comerciais nas mãos do irmão, que considera como um pai. E assim teria sido feito no Paraguai.

O discurso interno entre as pessoas que assessoram os dois é de que Assis é honesto, mas às vezes se descuida. Essa é a tese para explicar como os dois ex-atletas se meteram nessa enrascada. O argumento é de que faltou cuidado para Assis ao topar o projeto da documentação paraguaia. A avaliação é de que ele falhou ao não consultar seus advogados sobre a papelada.

De acordo com membros do estafe da dupla, se tivesse feito isso, teria ouvido ser impossível se naturalizar paraguaio sem viver três anos no país. Saberia, também, que, ao pedir nacionalidade paraguaia, deixaria de ser legalmente brasileiro.

Apesar do suposto descuido de Assis, os advogados dos irmãos não o culpam por Ronaldinho passar o aniversário de 40 anos preso em Assunção. A situação só acontece, segundo os defensores, por conta de uma extensa lista de irregularidades que Ministério Público e Justiça teriam cometido no processo. "Não existia a ordem para prendê-los quando eles foram presos. A ordem era só verbal. Isso é totalmente ilegal", diz o advogado Sérgio Queiroz.

A defesa anexou no processo uma tabela com registros dos horários dos fatos para comprovar sua tese. Osmar Legal, um dos promotores do caso, nega que isso tenha acontecido. No entanto, ele não apresentou para a reportagem registros dos horários referentes aos atos relativos às prisões.

Reprodução/Instagram

O menino Gaúcho

Ronaldinho Gaúcho, porém, não é só polêmicas. Por isso, a reportagem também vai mostrar, nessas pílulas ao longo da reportagem, um outro lado do craque: o moleque. São histórias do início da carreira, do Grêmio, que mostram um garoto alegre e brincalhão.

Marcus Desimoni/UOL Marcus Desimoni/UOL

O dono da imagem

Essa total dependência de Ronaldinho vem desde os tempos de jogador. A reportagem teve acesso a documentos da época de Atlético-MG, que o atacante defendeu entre 2012 e 2013, que mostram Assis como o grande protagonista dos acordos.

O contrato que definia a comissão pela contratação e o documento que estabelecia direitos de imagem (R$ 150 mil mensais), premiação por títulos e bônus por patrocínios foram diretamente firmados com Assis por meio da Planet Invest - Fomento Comercial Ltda. A empresa tem o irmão de R10 como único sócio legal.

De acordo com o documento, a Planet Invest "detém com exclusividade os direitos negociais e de representação para licença do uso sobre a imagem, voz, nome profissional e/ou apelido esportivo de Ronaldinho Gaúcho". O jogador "se declarava ciente dos acordos com os clubes".

Em ambos os contratos, Ronaldinho aparece apenas como anuente. Ou seja: o craque era alguém que consentia com o acordo firmado. O único registro que não continha a aparição de Assis como contratado era o contrato de trabalho do jogador no regime CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas).

A presença de Assis no negócio é tão evidente que era a sua empresa que embolsava os valores de direitos de imagem e premiação do irmão. Todo o montante era depositado na conta da Planet Invest, exceto os salários de R$ 300 mil mensais recebidos na CLT.

No dia a dia, a situação era um pouco mais restrita. Embora tivesse livre acesso à Cidade do Galo, Assis não participava de reuniões importantes do clube.

Às vésperas de um jogo contra o Vasco, no Independência, pelo Campeonato Brasileiro, Ronaldinho cometeu um ato de indisciplina e, por pouco, não foi demitido por Alexandre Kalil, presidente do clube à época. O dirigente havia ordenado a demissão do atleta. No entanto, depois de escutar um pedido dos companheiros de elenco, revogou a decisão.

A dura bronca de Kalil em Ronaldinho, por exemplo, não contou com a presença de Assis. O irmão do craque estava frequentemente em Belo Horizonte, mas o deixava à vontade no vestiário com os companheiros.

Reprodução

Viciado em McDonald's

Nos tempos do Grêmio, Ronaldinho saia do estádio Olímpico e ia direto para o drive thru. Um amigo sentava no banco do carona, ao lado do motorista, para fazer o pedido. Era um ritual. Fez isso, inclusive, ANTES de um treino. "A gente tem que ir, Ronaldo. O treino vai começar em 40 minutos", disse o amigo. "Para aqui e vamos comer um Mc. Aqui mesmo", disse Ronaldinho. O aqui mesmo era em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre e relativamente distante do local em que ele teria de treinar.

REUTERS/Alexandre Vidal/Fla Imagem/Handout

Flamengo deu até renda de sócio. Recebeu indisciplina

A disputa pela contratação de Ronaldinho, no final de 2010, foi dura entre Palmeiras, Flamengo e Grêmio. Vencedor, o clube rubro-negro fechou um contrato que implicava no pagamento de R$ 43,7 milhões só em direitos de imagem, fora comissões e salário em carteira — a foto acima é da rescisão com o Milan e mostra a dupla Assis Moreira e o presidente do clube italiano, Adriano Galliani. Uma parte seria paga pela Traffic. Era para ser a maior contratação da década do futebol brasileiro, mas acabou em fracasso.

Para vencer a disputa, o Flamengo cedeu percentuais sobre patrocínios de sua camisa, a gestão e fatia de seu sócio-torcedor por nove anos e gatilhos de aumentos salariais. O negócio começou a ruir porque a Traffic não conseguiu fechar patrocínio e parou de pagar sua parte dos vencimentos. Como consequência, o clube também não conseguia cumprir o acordo de mais de R$ 1 milhão por mês.

Ao mesmo tempo, em campo, Ronaldinho começou a protagonizar episódios de indisciplina. Foram 12 faltas no período no clube, a maior parte em 2012. As desculpas iam de diarreia à insônia. Sua presença em noitadas anteriores a essas ausências, no entanto, eram notórias.

Sem receber, Ronaldinho rescindiu com o clube em maio de 2012 com um processo na Justiça em que requisitava o pagamento de R$ 40 milhões pelo clube. Quatro anos depois, as partes chegaram a um acordo por R$ 17 milhões. Uma conta bem cara para ver Ronaldinho estendido na cama enquanto deveria estar treinando.

REUTERS/Alexandre Vidal-Flamengo/Handout REUTERS/Alexandre Vidal-Flamengo/Handout

Assis levou camisas de loja por dívida

Também na passagem pelo Flamengo a figura de Assis era onipresente. Pouco antes do rompimento entre as partes, o irmão protagonizou uma confusão na loja da sede do Flamengo, na Gávea. Chegou ao local, foi selecionando um grande número de peças — relatos falam entre 40 e 80 itens — e afirmou aos funcionários que não iria pagar porque o clube tinha uma dívida com o jogador. De fato, o time rubro-negro devia salários a Ronaldinho na época.

As afirmações de Assis causaram constrangimento na loja e ele chamou o então vice-presidente de Finanças rubro-negro, Michel Levy, que apareceu para contornar o caso. O dirigente, um dos responsáveis pela contratação, cedeu a sua cota de camisas para Assis para tentar amenizar a situação. O empresário pagou por outros dois produtos e saiu depois de mais de uma hora no local.

Posteriormente, um conselheiro do Flamengo fez uma denúncia de roubo à polícia. Até foi aberto inquérito, mas não houve consequências posteriores. Ao final, o episódio serviu para escancarar os atritos entre o clube e o jogador. Tanto que, posteriormente, o jogador pediu a rescisão contratual.

Arquivo Folha

Bicicleta que fechou um treino

Em um treino, Ronaldinho fez um gol de bicicleta. Seria apenas mais um lance de genialidade da passagem do dentuço pelo Grêmio, mas os torcedores que assistiam a atividade começaram a provocar Celso Roth, então treinador do time. É que o comandante mantinha o craque no banco... No dia seguinte, Roth pediu e o clube restringiu acesso do público para evitar as cornetas.

Reprodução/Instagram

Como Assis criou a figura do "parça"

Sabe a história de jogador brasileiro levar "parça", cachorro e tudo mais que achar preciso para fora do Brasil para se adaptar melhor à vida no exterior? Ronaldinho Gaúcho foi um dos precursores dessa prática. O planejamento foi montado por Assis com o objetivo de deixar o craque preocupado apenas em jogar futebol.

Por exemplo, na luxuosa casa em Castelldefels, na Espanha, onde o astro morou enquanto defendia o Barcelona, ele tinha sempre a companhia da mãe, Miguelina, da irmã, Deisi, e de um primo que fazia de tudo para o astro. De jogar videogame a ser seu motorista. Havia também pelo menos um profissional para cuidar de sua preparação física diariamente fora do clube.

O estacionamento da mansão era repleto de carros oriundos de acordos com montadoras (selados por Assis). O local tinha até um salão equipado para funcionar como uma pequena balada, para os dias que Ronaldinho quisesse se divertir sem ficar exposto. Havia um esquema para ele fazer compras em shopping center depois do horário oficial de funcionamento.

Assis pensou em praticamente tudo para que Ronaldinho não precisasse desviar o foco de sua profissão. O irmão mais novo se acostumou com a blindagem do mais velho. Deixou contratos com clubes e todos os outros negócios nas mãos de seu ídolo de infância.

Francisco Seco/AP

O inventor dos rolês aleatórios

Hoje, o ex-jogador da seleção brasileira ganha dinheiro participando de eventos. Como nos velhos tempos, tudo fica a cargo de Assis. É ele é o inventor dos "rolês aleatórios", que fizeram Ronaldinho virar uma estrela no mundo dos memes — como na foto acima, batucando no encerramento da Copa do Mundo de 2018, que fez a torcida brasileira chegar ao ápice do fenômeno "Rei dos rolês aleatórios".

  • Ronaldinho "médico"

    Como ele foi parar dentro de um hospital, usando jaleco e touca de médico? Detalhe: de óculos escuros. Na verdade, ele não está em um hospital, mas em uma fábrica de suplementos alimentares que o contratou como garoto-propaganda. "Visita à fábrica da Nugevity, empresa parceira da NASA, aqui na Flórida. Conhecendo a estrutura e controle de qualidade dos produtos", postou Ronaldinho em janeiro de 2016.

    Imagem: Reprodução/Facebook
  • Ronaldinho boliviano

    Outra imagem que virou símbolo dos "rolês aleatórios" de Ronaldinho foi esta, em que ele aparece vestido com roupas típicas bolivianas. A cena aconteceu em 2013, quando jogava no Atlético-MG e viajou a La Paz para enfrentar o The Strongest pela Libertadores. O governador ofereceu um almoço para a delegação brasileira e prestou uma homenagem a Ronaldinho, presenteando o craque com um poncho, um gorro e um barquinho. O craque retribuiu a gentileza: além de usar o traje, entregou ao político a sua camisa 10 do Galo.

    Imagem: EFE
  • Ronaldinho segurança

    Em 2015, já sem clube, Ronaldinho foi a Dubai, nos Emirados Árabes, para uma gravação do reality show "The Victorious", que buscava novos talentos do futebol árabe. Disfarçado de segurança, ele pregou uma peça nos participantes do programa ao interromper uma partida de futevôlei e "confiscar" a bola. Quando os garotos viram a habilidade dele ao fazer embaixadinhas, perceberam de quem se tratava e foram à loucura.

    Imagem: Reprodução/Youtube
  • Ronaldinho medieval

    Esta imagem costuma ser compartilhada para reforçar a teoria de que Ronaldinho é um "viajante do tempo". Em 2004, ao lado de outros astros como Beckham, Totti e Roberto Carlos, ele estrelou um comercial da Pepsi que mostra uma batalha medieval de um exército armado contra a habilidade dos craques.

    Imagem: Clive Brunskill/Getty Images
  • Ronaldinho brigão

    Essa cena você pode ter recebido nas últimas semanas dizendo que Ronaldinho estava comandando uma rinha de brigas no presídio no Paraguai. Fake News. A imagem tem ainda Mike Tyson e os lutadores de MMA Fabrício Werdum e Roy Nelson em uma cena do filme "Kickboxer: A Retaliação", lançado em janeiro de 2018. Ronaldinho interpreta Ronaldo, um dos que ajudam o protagnista Kurt (Alain Moussi) a treinar para desafiar o campeão de um torneio clandestino de luta. O filme ainda conta com Jean-Claude Van Damme e Christopher Lambert.

    Imagem: Reprodução/Instagram
  • Ronaldinho Jedi

    Quando Ronaldinho compartilhou esta foto nas suas redes sociais, em 2017, a internet veio abaixo com memes tipo "Star Wars: O Último Jedibre". Ele se vestiu de Obi Wan Kenobi para a gravação de um comercial da Heineken sobre a Liga dos Campeões, que recriou lances famosos de jogadores na competição sob a ótica de grandes sucessos do cinema. A jogada escolhida para o Jedi Ronaldinho foi a cobrança de falta que ele bateu por baixo da barreira no jogo contra o Werder Bremen na temporada 2006/2007.

    Imagem: Reprodução/Instagram
  • Ronaldinho e seguranças armados

    Ronaldinho Gaúcho fazendo embaixadinhas com uma bola dourada em frente a um helicóptero protegido por seguranças fortemente armados. Como explicar esta cena? Aconteceu em 2011, no Rio de Janeiro, quando ele jogava no Flamengo. Era o lançamento da sua coleção especial de roupas assinada pelo estilista francês Christian Audigier. O evento também teve a participação aleatória de passistas de escola de samba.

    Imagem: AgNews
  • Rolê de moto

    Nada mais aleatório do que um rolê de moto dentro de um campo de futebol, e foi isso que Ronaldinho protagonizou em 2011, quando era jogador do Flamengo. Contratado como garoto-propaganda da montadora chinesa Traxx, ele gravou um comercial driblando cones no gramado, enquanto uma moto ao seu lado fazia o mesmo. Cinco anos depois, ele pendurou as chuteiras praticamente ao mesmo tempo em que a Traxx encerrou suas atividades no Brasil.

    Imagem: Divulgação
  • Chefe de estado árabe

    Não é novidade que Ronaldinho tem muita moral no mundo árabe (e no mundo inteiro). Mas, nesta foto, parece até que ele é um chefe de estado. O que ele estava fazendo ali? Pois bem: depois daquele reality show em que se fantasiou de policial, Ronaldinho voltou a Dubai no começo de 2017 para prestigiar a abertura de um simpósio internacional de boas práticas policiais, como convidado.

    Imagem: Divulgação
  • Artilheiro da penitenciária

    Depois de tantos rolês, o último deve ser o mais inesperado: preso em Assunção, Ronaldinho aceitou o convite de outros detentos e participou de um torneio por lá. Vídeos da performance de Ronaldinho em quadra circularam na web. Ele marcou cinco gols e deu outras seis assistências em uma vitória por 11 a 2. No fim, seu time se sagrou campeão, mesmo com Ronaldinho se recusando a jogar as partidas anteriores, segundo o jornal paraguaio 'Hoy'. Fotos após os jogos na Agrupación Especializada, onde ele está preso, em Assunção, mostram Gaúcho posando com os times e um troféu, cujo prêmio bônus era um leitão de 16 quilos.

    Imagem: Reprodução
Divulgação

Os outros problemas com a lei

Pirâmide financeira

Também neste ano, Ronaldinho virou réu em uma ação civil coletiva por pirâmide financeira. A empresa 18kRonaldinho tem bloqueado o dinheiro de clientes que investiram em suas atividades. O fato acontece desde o ano passado e, segundo a acusação, 150 pessoas foram lesadas. A ação pede R$ 300 milhões por danos morais e materiais por causa de sua ligação com a empresa 18kRonaldinho. Desde o ano passado, a firma tem bloqueado o dinheiro de clientes que investiram em suas atividades.

No ano passado, o UOL Esporte foi o primeiro veículo a noticiar as atividades da empresa, que dizia fazer marketing multinível e prometia rendimentos de até 2% ao dia, além de prêmios como um Porsche Panamera para quem comprasse pacotes que iam de US$ 30 a US$ 12 mil (aproximadamente, de R$ 130 a R$ 52 mil). A promessa era auferir rendimento de operações na criptomoeda Bitcoin.

Passaportes apreendidos

Em novembro de 2018, a Justiça do RS determinou a apreensão de passaportes e a restrição de emissão de novos documentos a Ronaldinho Gaúcho e a seu irmão e empresário, Roberto Assis. Ambos foram condenados por crime ambiental por conta da construção ilegal de um trapiche (ou píer, uma rampa para atracar embarcações náuticas), com plataforma de pesca e atracadouro na orla do Lago Guaíba, em área de preservação permanente, sem autorização.

Só R$ 24,36 na conta?

Ainda por conta da condenação por dano ambiental citada acima, que já somava dívida de mais de R$ 8,5 milhões, uma quebra de sigilo bancário mostrou que a dupla possuía apenas R$ 24,36 em suas contas. A decisão citava ainda que os réus não possuíam bens registrados em seus nomes e que o imóvel que gerou a condenação havia sido hipotecado, mas tinha uma "significativa dívida".

@Club_Cienciano/Twitter

Ausência em amistoso

Em 2018, Ronaldinho Gaúcho não compareceu a um amistoso no México e virou alvo de críticas por parte da imprensa e torcedores mexicanos. O ex-jogador foi para o país, mas decidiu faltar ao compromisso na cidade de Veracruz. Em nota, Ronaldinho justificou que se ausentou porque o contratante não cumpriu o contrato estabelecido.

Prisão não abala idolatria

"Ronaldinho é inocente. Isso é coisa de autoridade corrupta tentando tirar dinheiro dele". Afirmações como essa, feita pelo motorista de Uber paraguaio Gustavo, são ouvidas aos montes em Assunção quando se puxa conversa sobre a prisão do brasileiro.

Tal reação mostra que parte significativa dos fãs do ex-jogador da seleção brasileira não teve sua idolatria por ele abalada por conta da prisão. "Ronaldinho foi melhor do que Messi, mais mágico", disse Jose Fernando, motorista de Uber que conduziu a reportagem até a prisão em que Ronaldinho e Assis se encontram. "O que essas autoridades corruptas estão fazendo com Ronaldinho? Dói em mim", diz Madalena, uma senhora que se interessou pelo assunto ao saber que estava conversando com um jornalista brasileiro.

A noção exata de como muitos fãs fecharam com Ronaldinho no episódio dos documentos falsos é dada pela movimentação do lado de fora da "Agrupación Especializada de la Policia Nacional", onde ele e Assis estão presos. Crianças, adolescentes e adultos, com ou sem parentes presos, se acostumaram a ir até o local para tentar entrar e conseguir um autógrafo e uma selfie com o ex-jogador. O interesse em ver Ronaldinho de perto é tanto que Blas Vera, administrador do presídio e quartel, organizou pequenos tours de crianças para elas se aproximarem do ídolo. "Mas, por causa do combate ao novo coronavírus, não posso mais fazer isso", explicou ele.

O ex-jogador foi abraçado por outros presos. Além de receber alimentos como presente de fãs que moram na cidade, Ronaldinho ganha arroz e feijão preparados por outros detentos. Até churrasco eles já fizeram para o brasileiro e seu irmão. David Lima, que trabalha na área de marketing com Ronaldinho desde os tempos de PSG, tenta explicar porque os paraguaios ainda idolatram o jogador. "É porque o Ronaldinho provoca uma empatia muito grande nas pessoas. Sempre foi assim. Todo mundo gosta dele", disse David.

NORBERTO DUARTE/AFP NORBERTO DUARTE/AFP

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