Ousadia e alegria Real

Qual a importância, para a seleção de Tite, o papel de Vini Jr. e Rodrygo na conquista da Champions pelo Real?

Bruno Andrade e Diego Garcia Para o UOL, em Paris (França) JAVIER SORIANO / AFP
Matthew Ashton - AMA/Getty Images

Brasileiros. Com 21 anos. Atacantes. Presente e futuro. Cada vez mais destaque no clube mais vencedor da Europa. Vinicius Junior e Rodrygo agora também são campeões da Champions League.

A dupla seguramente vai se lembrar para sempre da campanha do Real Madrid na Liga dos Campeões de 2021/22, que terminou em grande estilo diante do poderoso e temido Liverpool: vitória por 1 a 0, no Stade de France, em Paris. Os dois foram decisivos e provaram durante toda a competição que caminham para formar uma dupla brasileira que pode durar, quem sabe, mais de uma década em um dos clubes mais importantes do mundo.

Em uma seleção brasileira em buscas de protagonistas para ajudar Neymar na Copa do Mundo do Qatar, no final do ano, a conquista não poderia vir em melhor hora. Tite, que assistiu à partida concentrado com a seleção em Seul, na Coreia do Sul, certamente está agradecendo a Carlo Ancelotti nesse momento.

Peter Byrne/PA Images via Getty Images

14 vezes Real Madrid

Pela 14ª vez na história, o Real Madrid é o campeão da Champions League e, desta vez, com o protagonismo de um brasileiro. Neste sábado (28), em uma tarde marcada pela confusão fora dos portões do Stade de France, em Paris, os merengues mediram forças com o Liverpool e venceram por 1 a 0, com um gol anotado por Vinícius Júnior no início do segundo tempo.

O jogo mais aguardado do futebol europeu nesta temporada foi de domínio técnico do Liverpool. Os ingleses pressionaram do início ao fim, mas pararam nas mãos do belga Thibaut Courtois, que viveu noite inspiradíssima. Copeiro, o Real Madrid soube colocar em prática a tática montada para a final com o Liverpool e, em um contra-ataque de velocidade, construiu a jogada que definiu o resultado em Paris.

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O herói

Titular desde o início da competição, Vinicius Junior foi o homem do jogo na 13ª partida do Real Madrid na Champions em que vestiu a camisa 20. Após dividir os holofotes com o francês Karim Benzema em todo o torneio, foi dele o gol da vitória, aproveitando um preciso cruzamento de Valverde. Com isso, somou quatro gols e anotou seis assistências. Desempenho acima da média que acabou também por colocá-lo como referência e grande esperança ofensiva da seleção que vai buscar o hexa no Qatar.

No Real há quatro temporadas, o ex-flamenguista, que custou 45 milhões de euros, muito em breve vai ser premiado por todo esforço nos gramados da Europa: está perto de ter o contrato renovado até junho de 2028 — o atual tem duração até junho de 2024. O novo acordo é garantia de mais longos anos de brilho com a camisa merengue.

Sob a tutela do treinador italiano Carlo Ancelotti, Vini Jr. teve uma visível evolução nas finalizações, algo que foi duramente cobrado durante os primeiros passos na carreira. Há quem diga que merece acabar a atual temporada entre os cinco melhores jogadores do mundo.

Buda Mendes/Getty Images

Melhor do mundo esse ano? Vinicius Jr. Fez uma grande temporada, o Benzema também. Pelo que eu vi, eu assisti muito pouco futebol para ser sincero, mas pelo que eu vi dos jogos, eu torço pelo Vinicius".

Neymar, antes do jogo, sobre o brasileiro.

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Angel Martinez/Getty Images

O xodó

Rodrygo chegou uma temporada depois de Vinicius Junior, passou por um processo de adaptação e, nesta temporada, teve uma frequência significativa no time. Assumiu, sobretudo, um papel importante: entrar no segundo tempo e mudar os cenários dos jogos.

Também contratado por 45 milhões de euros e à espera de uma renovação contratual (vínculo atual é válido até junho de 2025), o ex-santista é uma espécie de "xodó" da comissão técnica. Participou de 11 jogos na edição de 2021/22 da Liga dos Campeões, marcou cinco gols e deu duas assistências.

O grande momento do jovem atacante na principal competição europeia aconteceu na segunda mão da semifinal, diante do Manchester City, no Santiago Bernabéu. Entrou aos 23 minutos da segunda parte e balançou duas vezes a rede na vitória de virada por 3 a 1 — sofreu ainda o pênalti convertido posteriormente por Benzema.

Lucas Figueiredo/CBF

Como Tite vê a dupla

Não há como negar que a campanha do Real Madrid mudou o patamar de Vinicius e Rodrygo com Tite e a seleção brasileira. Justamente por aquilo que os dois fizeram de melhor na temporada sob o comando de Ancelotti.

O pé atrás que Tite tinha com Vini Jr tinha justamente a ver com as finalizações. Em uma entrevista ao Intercept, o treinador explicou a dinâmica. Segundo ele, era preciso trabalhar para transformar a habilidade e velocidade em gols. "E ele conseguiu isso, graças a seu trabalho e de Ancelotti", disse o treinador.

Além disso, um incômodo inicial por parte do treinador teria sido superado graças ao filho de Tite, Matheus Bachi. Mais jovem, ele conseguiu um discurso que o jogador compreendeu, explicando a ausência de Vini em algumas convocações.

Com Rodrygo, chamou a atenção o jeito que o atacante consegue transformar poucos minutos em grandes atuações. Ao entrar, na maioria das vezes, no segundo tempo dos jogos e conseguir mudar o rumo das partidas, ele ganha fichas para uma vaga na Copa do Mundo. Em um mundial com cinco substituições, por exemplo, pode ser valioso para a seleção ter um jogador com tanta eficiência que não precisa começar entre os 11 titulares.

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Claro que dá para sonhar [com o título da Copa do Mundo], ainda mais se tratando de Brasil. Estamos primeiro pensando nos títulos aqui, não adianta pensarmos na Copa se ainda tem título para ganhar aqui. Temos muitas opções, o Tite vai ter muita dor de cabeça porque dá pra fazer uma lista de 40 jogadores. Isso é bom para nós, para seleção e para todo mundo".

Casemiro, pentacampeão da Champions League.

REUTERS/Fernando Kallas
Jovem torcedor do Liverpool chora em área que foi atingida por gás de pimenta

Final tem invasão de torcedores e gás de pimenta

O pré-jogo da final foi marcado por muita confusão, brigas e invasões de torcedores sem ingresso ao Stade de France. Os diversos problemas fora de campo levaram a Uefa a atrasar o jogo, que, depois de muita indefinição, começou com 35 minutos de atraso, às 16h35 (Horário de Brasília). A reportagem do UOL acompanhava a confusão ao lado da grade do estádio quando policiais que faziam a segurança do evento usaram gás de pimenta contra fãs ingleses que tentavam se aproximar das catracas de entrada e foi atingida. Vários outros jornalistas estrangeiros passaram pelo mesmo sufoco.

Segundo a imprensa francesa, cerca de 70 mil ingleses foram para Paris, apesar de apenas 20 mil ingressos terem sido disponibilizados para a torcida do Liverpool. O resultado foi uma superlotação nos arredores do estádio. A 15 minutos do início do jogo, diversas pessoas tentaram invadir o Stade de France, pulando grades e correndo para as arquibancadas. O UOL testemunhou alguns desses corredores tentando chegar ao lado de dentro. Relatos também foram feitos à reportagem de torcedores ingleses entrando sem ingressos e sem passar por revista.

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Reprodução/Twitter

O "pai"

Cristiano Ronaldo foi o primeiro a sair. Sérgio Ramos seguiu caminho igual. Mesmo com os experientes Marcelo, Casemiro, Kroos e Modric no elenco, o Real Madrid parecia ter ficado órfão de um líder indiscutível dentro e fora de campo, um goleador que pudesse puxar para si a responsabilidade. Karim Benzema não se escondeu.

O brilhantismo do francês foi o segredo do sucesso da atual temporada do time comandado por Carlo Ancelotti. Aos 34 anos, foi o artilheiro isolado na campanha vitoriosa da La Liga, com 27 gols, e diversas vezes foi decisivo na conquista do 4º título europeu na história dos merengues, também com a artilharia da competição: 15 gols. Ao todo, balançou a rede 44 vezes em 46 jogos em 2021/22.

Embalado por ter atingido os principais objetivos do clube que defende desde 2009, Benzema, que fez desponta como o maior candidato a receber o prêmio de melhor do mundo. O camisa 9 está perto de recolocar a França no primeiro lugar do pódio, algo que não acontece desde 2003, com o ídolo madridista Zinedine Zidane.

Kevin De Bruyne, do Manchester City, e Mohamed Salah e Sadio Mané, do Liverpool, até podem "incomodar", mas é improvável que o tão sonhado prêmio individual fuja das mãos de Karim Benzema, que, não menos importante, passou a carregar outro título na bagagem: o de "pai" dos mais jovens do Real, em especial de Vinicius Junior, com quem criou um entrosamento que ultrapassa o limite das quatro linhas.

Estamos muito felizes e orgulhosos desta equipe. Fizemos a dobradinha e merecidamente. Foi um jogo difícil, mas sempre é na Champions League, ainda mais numa final. Significa muito para mim ganhar outra Champions League aqui no meu país".

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Benzema, após o título

Reprodução/Instagram

O rei

Único campeão nacional nas cinco principais ligas do mundo, Alemanha (Bayern de Munique), Espanha (Real Madrid), França (PSG), Itália (Milan) e Inglaterra (Chelsea), Carlo Ancelotti é o obreiro da conquista do Real.

Campeão europeu, com o mesmo o Real, em 2013/14, o treinador voltou ao Santiago Bernabéu com o desafio de substituir o ídolo e campeoníssimo Zinedine Zidane no arranque da atual temporada. Chegou sob desconfiança, visto a passagem irregular de dois anos pelo Everton, e teve muitos obstáculos para passar por cima dos críticos.

Aos 62 anos, Ancelotti foi contestado especialmente ao ser goleado pelo Barcelona, por 4 a 0, em março, num momento muito delicada em La Liga. Não tremeu. Houve quem pedisse sua demissão. No entanto, teve o apoio dos mais experientes do grupo, como Marcelo, Casemiro, Modric e Benzema, com quem já havia trabalhou entre 2013 e 2015, e segurou a pressão.

Também conquistou a confiança dos mais jovens: Éder Militão, Valverde, Vinicius Junior e Rodrygo. É muito querido por todos os jogadores e pela alta cúpula madridista. O tradicional 4-3-3 foi a chave para o histórico italiano comemorar o título oficial de número 23 na longa carreira como treinador, que contempla ainda duas "orelhudas" da Liga dos Campeões como jogador (ambas pelo Milan).

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Roteiro de filme

Conquistar a "La 14" não foi nada fácil. O Real Madrid até começou a edição de 2021/22 da Liga dos Campeões com o pé direito, com uma vitória fora de casa em cima da Inter de Milão, por 1 a 0. O jogo seguinte, no entanto, foi decepção pura: derrota em casa, por 2 a 1, para o Sheriff. O modesto clube da Moldávia fez tremer os bastidores dos merengues.

Apesar do tropeço histórico, o Real assegurou a primeira colocação do Grupo D, com 15 pontos (cinco vitórias e uma derrota). Foram nos duelos de mata-mata que a equipe espanhola provou porque tem a camisa mais pesada do futebol internacional: três remontadas marcantes.

Entre altos e baixos, viradas e sofrimentos, lágrimas e sorrisos, os merengues passaram por cima dos badalados PSG de Neymar, Messi e Mbappé, Chelsea de Thiago Silva, Kanté, Havertz e Lukaku, e, especialmente, Manchester City, de Kevin De Bruyne, Bernardo Silva e Pep Guardiola.

A cereja do bolo foi o Liverpool de Salah, Mané e Klopp, das equipes mais bem organizadas do mundo nos últimos anos. Prevaleceu, no entanto, a mítica merengue. Pela décima quarta vez na história da Liga dos Campeões.

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