Quando o jogo era do bicho

A história das "relações íntimas" do jogo do bicho com o futebol carioca entre as décadas de 1960 e 1990

Bernardo Gentile Do UOL, no Rio de Janeiro Manoel Pires/Folhapress

Destaque do Guarani em 1986, o recém adulto Craque Neto, de 20 anos, passou brevemente pelo Bangu. O jogador, que viria a ser ídolo do Corinthians na década seguinte, viveu três meses nos gramados da zona oeste do Rio de Janeiro. Assim que pisou em Moça Bonita, Neto foi encontrar Castor de Andrade, o patrono do clube, na sala da presidência. Além das boas vindas, recebeu as luvas da negociação. Para sua surpresa, em uma mala de dinheiro vivo.

Neto manifestou, então, o receio de andar pelo Rio de Janeiro abonado. Castor achou graça: "Fique tranquilo, meu filho. Aqui ninguém vai mexer com você", disse, num sorrisinho de canto de boca.

Patrono do Bangu, Castor de Andrade investiu tanto dinheiro no clube da zona oeste que o transformou em uma das grandes potências do futebol brasileiro dos anos 1980. A questão é que os fundos para esse investimento vinham do jogo do bicho —contravenção da qual Castor foi um dos maiores expoentes no país.

Naquela época, bicheiros como ele faziam suas próprias regras —e ai de quem não as respeitasse! O poder estava enraizado em todas as esferas da sociedade. Incluindo o futebol.

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Onde (e quando) tudo começou

O jogo do bicho foi criado pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. O intuito da brincadeira era arrecadar dinheiro para manter os animais no recinto. Todos os dias, sorteava-se um bilhete com a figura de um animal. Ganhava quem, por sorte, tivesse o bichinho em questão em seu bilhete.

A popularização da jogatina aconteceu com rapidez. Posteriormente, os animais foram associados a séries numéricas da loteria, as pessoas passaram a usar sonhos e coincidências para escolher o seu bicho e o jogo passou a ser praticado largamente fora do zoológico —transformando o Rio de Janeiro na "capital do jogo do bicho".

No futebol, o jogo do bicho chegou paralelamente ao profissionalismo. Até 1910, o esporte era amador e, à medida que a popularidade foi crescendo, a rivalidade e a vontade de investir nos times aumentava tanto quanto.

A origem do termo "bicho"

Para aumentar o emprenho dos jogadores, os sócios dos clubes ofereciam recompensas em dinheiro em caso de vitória. Para que não fosse institucionalizado o "prêmio", aqueles atletas amadores diziam que a quantia que entrava havia sido ganha no "jogo do bicho", legalizado à época.

Essa é a origem do termo "bicho" no futebol, até hoje usado para identificar a parte variável do pagamento a jogadores de futebol —o termo se refere a um incentivo financeiro aos atletas em vitórias ou na obtenção de objetivos, como um título ou a classificação para torneios variados. Normalmente, a quantia é paga com dinheiro vivo.

A relação entre o jogo de azar e o esporte, porém, chegou ao ápice no Brasil quando os bicheiros mergulharam de cabeça no mundo do futebol. A ligação com um clube se tornou uma maneira de os contraventores ganharem apoio e aceitação popular em meio a sua principal função. Vale ressaltar que as duas atividades cresceram juntas: um precisava de popularidade, o outro, de dinheiro.

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Castor de Andrade, o Eurico das décadas de 60, 70 e 80

No Bangu, o poder era explícito: Castor de Andrade foi um dos primeiros a apostar no futebol —ele era dono das bancas da zona oeste e se tornou patrono do clube. Por lá, criou uma estrutura de primeira linha, contratou grandes jogadores e teve bom desempenho esportivo por décadas.

Os atletas o chamavam de Doutor Castor. A população usava uma alcunha mais saborosa: Dom Corleone. Castor de Andrade foi o mais famoso e poderoso dos bicheiros, e, entre os contraventores, era conhecido como o "chefe de todos os chefes".

Formado em direito na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Castor foi dono de metalúrgica, de lojas comerciais e de postos de gasolina. O salto para a gerência das bancas de Seu Zizinho, seu pai, aconteceu antes mesmo do diploma de advogado. Sob seu controle, a brigada zoológica controlada pela família deixou o patamar de negócio lucrativo para se transformar em império.

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Cartola do futebol e do samba

Apaixonado por futebol e samba, ele logo percebeu que os dois poderiam ajudar a legitimar sua atividade principal. Logo, reforçou o papel de mecenas no futebol do Bangu e adotou também a principal escola de samba da região, a Mocidade Independente de Padre Miguel. Fundou, ainda, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, a Liesa.

Para fãs de longa data, a comparação com Eurico Miranda é inevitável. Dirigente influente nos bastidores, fazia manobras políticas em prol do clube que comandava. Foram pelo menos três décadas como patrono do Bangu. Esses foram os melhores anos da história do clube.

Castor seduzia os atletas com presentes, oferecia carros e apartamentos, e uma estrutura esportiva de elite. O Bangu de Castor tinha campo de primeira linha, dormitórios confortáveis e até mesmo alguns aparelhos de academia —fato raro à época.

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Em campo com um "trezoitão"

Sempre presente nos jogos do clube, Castor de Andrade tinha um companheiro que jamais faltava: seu revólver. Era um 38 todo dourado e com cabo em madrepérola, sempre ao alcance da mão.

Em uma partida contra o América, em 1966, o árbitro Idovan Silva marcou um pênalti duvidoso para adversário, que empatou o jogo em 2 a 2. Castor invadiu o campo com a arma em punho. Foi contido pelo Major Hélio Vieira, responsável pela segurança da partida, que o conduziu para o banco de reservas. Ao lado do treinador, viu o Bangu conseguir a virada. Curiosidade: o gol que marcou a vitória do time de Castor veio de um pênalti tão duvidoso quanto o primeiro.

O "trezoitão" acompanhou o bicheiro em uma famosa negociação. Castor foi até São José do Rio Preto negociar com Marinho, que viria a ser um dos grandes destaques do time na grande campanha do Brasileiro de 1985 —ele foi eleito o craque daquele campeonato. Em certo momento, a negociação emperrou. O bicheiro, então, colocou a arma de fogo em cima da mesa. Batata: voltou com o reforço.

As ameaças aconteciam, também, no próprio Bangu. Principalmente quando alguém derrapava em sua cartilha. Atrasos eram inaceitáveis —e o ponta Marcelinho, prata da casa do clube, descobriu isso de um jeito ironicamente amigável. Após perder o horário em algumas atividades seguidas, o jovem foi chamado na sala da presidência, onde deu de cara com um nada satisfeito Castor de Andrade.

Marcelinho responsabilizou o transporte coletivo pela falha com o horário. Sob a promessa de que não se atrasaria novamente, ganhou um carro assim que deixou a sala de Castor. "Quem conviveu com ele diz que era um dos melhores chefes, mas você tinha que rezar pela cartilha dele", contou Marinho anos depois.

Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal

Esquadrão da malandragem

Com o dinheiro de Castor de Andrade, o Bangu rapidamente se consolidou como uma força no Rio de Janeiro. Marco, Moisés, Ademir Vicente, Carlos Roberto, Alcino, Tobias e Renê chegaram à zona oeste para formar o "'esquadrão da malandragem". Com jogadores tão experientes, o Bangu dava liberdade ao elenco.

O grupo poderia fazer o que quisesse e com a anuência do presidente. Queriam churrasco? O patrono pagava. Chope depois do treino? Tá liberado —mas só dois por atleta, para manter a forma. "Papai Castor convida todo mundo para mastigar uma carne macia e tomar uma cerveja, que garganta seca não solta palavra", disse aos companheiros o experiente Moisés após um puxado treinamento, como publicou a revista Placar, em 1981.

Carros, apartamentos ou dinheiro extra de presente, além da liberdade de interferir na organização tática do time. Era uma versão à Bangu da Democracia Corinthiana, que fazia sucesso no mesmo ano de 1982. Como o time carioca, o grupo paulistano também atuava na gestão do elenco e influenciava em decisões táticas. Só que, ao contrário do Bangu, cujo movimento não tinha qualquer viés político, o do Corinthians teve papel ativo no movimento das Diretas Já, nos últimos anos do regime militar.

Tudo isso, na opinião de Marco Antônio, lateral-esquerdo da seleção brasileira de 1970, fazia do Bangu o "paraíso do futebol brasileiro". Para Castor, esses jogadores mesclavam sabedoria e picardia, "uma forma mais refinada de malandragem", de acordo com o peculiar bicheiro na mesma reportagem.

O patrono, no entanto, mudou de tática anos depois. Dispensou os atletas experientes e apostou em um time recheado de jovens. Foi o fim do "Esquadrão da Malandragem". Mas rendeu ao clube seu melhor resultado em campeonatos nacionais, o vice-campeonato de 1985.

Arquivo Que fim levou/3º Tempo

Abertura, mas com muito respeito

Castor de Andrade tinha uma personalidade tranquila. Mas só quando o time estava ganhando, como conta o volante Carlos Roberto, um dos integrantes daquele "esquadrão da malandragem". "Ele era um cara sério, mas era brincalhão. Principalmente quando estava ganhando, bem", contou o jogador, que passou pelo Botafogo antes de chegar ao Bangu.

"Ele cobrava também. Todos conhecíamos ele e ninguém abusava. Pelo contrário: tínhamos muito prazer em nos esforçar. Era tudo pago em dia. Não faltava nada. Éramos muito respeitados também".

O meio-campista era um dos grandes destaques daquele Bangu. "Foi um período muito bom, pois ele montou um time forte e arcava com o compromisso em dia. Todo mundo gostava dele. Era um time malandro, experiente, mas sempre no bom sentido. Tínhamos tudo do bom e do melhor. Comíamos em restaurantes caros, concentrávamos em hotéis cinco estrelas. Enfim, éramos muito bem cuidados".

Os jogadores e Castor

O Bangu estava concentrado em um hotel cinco estrelas e um jogador, que não vou falar o nome, estava cortando a unha do pé bem na portaria. O Castor viu e fez uma reunião cobrando postura. Éramos jogadores do Bangu e tínhamos que ter postura digna. A curiosidade é que no jogo seguinte o tal jogador foi barrado pelo treinador, que teve uma conversa com o doutor pouco antes

Carlos Roberto

Teve um companheiro nosso que foi até a sala da presidência conversar com o Castor. Mas foi de chinelo de dedo. Ele não sabia que o Castor detestava isso. Assim que ele viu a vestimenta, tratou de dar um esporro no cara: "Você entra no meu escritório assim?". No fim das contas, o camarada se deu bem. É que depois da bronca ele ganhou um enxoval em uma loja do amigo do Doutor

Carlos Roberto

Divulgação

Botafogo: o fim do jejum de 21 anos

Bangu e Botafogo foram os dois times que mais tiveram relação com o jogo do bicho. No Botafogo, quem dava as cartas era Emil Pinheiro. Ele chegou ao clube durante o jejum de 21 anos sem títulos —e em sua primeira grande crise financeira. Seu dinheiro foi o cartão de entradas em General Severiano, onde, até hoje, é celebrado por muitos como peça fundamental para a reerguida do Alvinegro.

O período de 21 anos sem títulos foi cruel. Antes de iniciar a seca, em 1968, o alvinegro era um dos principais times do país. Com uma série de administrações ruins e certa dose de azar, chegou até a vender a sede. O fundo do poço. Enquanto o Botafogo se destruía, porém, Emil Pinheiro erguia um império. Comprou todos os pontos de jogo de bicho na região da Barra da Tijuca quando o bairro ainda era subdesenvolvido. Com o crescimento do local, o contraventor ficou milionário.

Mas por que Emil Pinheiro, milionário, resolveu investir seu dinheiro no Botafogo, um clube falido? Enquanto o alvinegro precisava do dinheiro do bicheiro, Emil tinha um desejo: um título como homenagem póstuma ao seu filho, botafoguense fanático, que tinha morrido em 1978 em um acidente aéreo.

Após tirar o Botafogo da fila, em 1989, Emil concorreu e venceu a eleição para presidente do clube. Assim que assumiu a pasta, tratou de trazer dois homens de confiança para a direção do Glorioso: os também bicheiros Carlinhos Maracanã e Luizinho Drummond.

Botafogo/Divulgação

Emil trouxe Mauro Galvão, Gottardo e Renato Gaúcho

Emil Pinheiro não era muito fã de futebol, mas tinha o que o clube precisava naquele momento: dinheiro. O Botafogo anabolizado pelo jogo do bicho oscilava entre bons e maus negócios. Chegou a montar um elenco com 44 jogadores em 1988 com nomes como Claudio Adão, Marinho e Éder Aleixo. Nesse grupo, havia um claro problema de vaidade.

Com a experiência adquirida —e com a inabalável vontade de investir—, Emil fez melhores contratações nos anos seguintes. Trouxe grandes atletas, como Mauro Galvão, Wilson Gottardo, Renato Gaúcho, Paulinho Criciúma, Renato Gaúcho, Carlos Alberto Dias e Hugo de León.

Quando Valdir Espinosa assumiu esse elenco, começaram a ser criadas as condições para o fim da fila. No estadual de 1989, o Botafogo fez campanha irretocável e chegou à final contra o Flamengo invicto. Com um gol de Maurício, Emil Pinheiro finalmente conseguiu cumprir a promessa e dedicar um título do Glorioso ao filho.

Claudine Petroli/Estadão Conteúdo

Ajuda e resenha

Emil Pinheiro não era considerado um dos grandes bicheiros do Rio de Janeiro. Ele ganhou fama justamente por ter se tornado patrono do Botafogo. Com os jogadores, a postura era parecida com a de Castor com o elenco do Bangu. Wilson Gottardo, zagueiro multicampeão pelo Alvinegro, recorda de várias contribuições feitas pelo bicheiro nos bastidores e que pouca gente ficou sabendo.

"Eu vi ele ajudar muita gente dentro do clube. Jovens da base que estavam subindo e ele pagou parte da faculdade, ajudou a comprar um carro. Ele foi fantástico para o Botafogo. Só o critica quem não sabe da história, quem não o conheceu. Algumas pessoas têm preconceito por ser bicheiro, mas isso é uma estupidez. Posso enumerar pessoas que têm profissões de altíssimo nível e que tem uma conduta... por isso digo que é estupidez e ignorância, pessoas que não o conheceram, não sabem o que ele fez".

Mas não era apenas o dinheiro que tornava Emil uma pessoa respeitada no Botafogo. Apesar de ser sério, o bicheiro contava varias histórias. As preferidas? Do tempo em que serviu ao exército e foi à guerra. "Ele não era muito de conversa porque era um verdadeiro monólogo", diverte-se Gottardo. "Só ele que falava. Era muito enraçado. Tinha uma memória fantástica. Contava tudo o que passou no exército. Passou frio e teve todo um processo para descongelar os pés. Aprendeu a atirar, dizia ele que muito bem. Não tinha derrota, só vitória. Era uma pessoa muito querida, muito querida".

Que saudade daquela época, quando os males eram menores nas comunidades e regiões carentes. Faltam esses líderes nesses espaços. Óbvio que sei que eram contraventores. Existe a lei, mas estou falando de relacionamento, dele como pessoa, o respeito que tinha. Não havia esse pavor de andar pelas ruas, de ver pessoas armadas

Wilson Gottardo

Fim de uma era

A passagem do bicheiro chegou ao fim em 1992, com uma grande desilusão: o time perdeu a final do Campeonato Brasileiro para o Flamengo. O alvinegro era considerado favorito, tinha um elenco que contava com Carlos Alberto Dias, Valdeir e Renato Gaúcho, e ainda chegou à final com a melhor campanha da competição.

O Bota tinha a vantagem de jogar por dois empates para ficar com a taça, mas perdeu por 3 a 0 o primeiro jogo. No intervalo entre as partidas da decisão, porém, uma grande polêmica explodiu: Renato Gaúcho, mesmo com a derrota, se encontrou com o amigo Gaúcho, atacante do Flamengo, em um churrasco de comemoração rubro-negra pela vitória. Foi o estopim para que meio time fosse mandado embora por Emil Pinheiro.

No segundo jogo, já sem Renato Gaúcho, que nunca mais pisou em General Severiano, o Botafogo empatou por 2 a 2 com o Flamengo e ficou com o vice-campeonato. Emil ficou tão decepcionado com a situação que deixou o cargo de presidente. E levou com ele seus investimentos.

Antonio Gaudério/Folhapress Antonio Gaudério/Folhapress

Os crimes dos bicheiros

Até aqui, você leu histórias de homens folclóricos e cheios de dinheiro. Mas é bom lembrar: bicheiros viviam, de fato, como mafiosos —com o futebol como plano de fundo. Seus seguranças eram policiais que abandonavam a farda para receber muito mais dinheiro defendendo criminosos.

A primeira prisão de um dono de jogo do bicho foi em 1993: 14 chefões foram condenados a seis anos de prisão, pena máxima para o crime de formação de quadrilha ou bando armado. Entre eles, estavam Castor de Andrade e Emil Pinheiro, Carlinhos Maracanã e Luizinho Drummond, todos ligados a clubes de futebol em algum momento.

A aproximação do jogo do bicho com futebol —e com o carnaval— não acontece por acaso. Investir na comunidade preserva a imagem do bicheiro junto à população e legitima a ação dos contraventores em suas regiões. A imagem de patronos dos pobres, responsáveis pelas alegrias do povo, é usada para diminuir o impacto dos crimes que cometem —é a mesma estratégia que grupos criminosos usam até hoje.

Itamar Miranda/Estadão Conteúdo

A prisão de Castor de Andrade

Castor foi preso disfarçado no Salão do Automóvel de 1994, em São Paulo —ele era apaixonado por carros e tinha uma coleção de veículos importados. Preso, nem mesmo as grades interferiram em seu poder: sua cela era um quarto de luxo com direito a ar condicionado, máquina de lavar roupas, frigobar e televisão. Festas regadas a champagne e caviar eram comuns.

Quando conseguiu na Justiça o direito de cumprir o restante da sua pena em prisão domiciliar, seguiu dando as cartas. Castor não cumpria a exigência de ficar em casa, em Copacabana e fazia o que queria, onde quisesse. Tanto que morreu em 1997, ainda cumprindo pena, após se sentir mal em um jogo de baralho na casa de um amigo, no Leblon.

Bicheiros largaram futebol, mas o carnaval, não

Apesar da paixão, os bicheiros já não fazem parte do futebol. O último a encabeçar um clube foi Emil Pinheiro, no Botafogo até 1992. Por outro lado, o jogo do bicho segue firme no Carnaval. A explicação é fácil. Segundo o jornalista Aydano André Motta, especialista em jogo do bicho e relação da contravenção com as cidades, futebol e carnaval, o que leva bicheiros a investirem em um ou em outro são motivos diferentes.

"As pessoas conectam futebol e carnaval quando não existe nenhuma conexão entre as duas coisas. Os clubes do Rio são criações totalmente da elite, até o Vasco é de colônia, mesmo que suburbana. Eles se estruturam em uma lógica de sócios. Paixão que envolve muita mais gente", diz.

"Para um bicheiro entrar em um clube, mesmo em uma fase falida, existe rejeição. Já em uma escola de samba, ele manda e as pessoas estão felizes com isso. É uma estrutura completamente diferente", completa Aydano.

Para se ter uma ideia, algumas escolas de samba no Rio de Janeiro têm um bicheiro como patrono. Beija-Flor, com Aniz Abraão David, Rogério Andrade, na Mocidade, Capitão Guimarães, da Viradouro, são exemplos dessa relação explícita entre o carnaval e o jogo do bicho.

Castor de Andrade, aliás, será tema de samba-enredo no carnaval de 2021: ele é o tema da Unidos de Bangu, que disputa o grupo de acesso.

Maurilo Clareto/Estadão Conteúdo Maurilo Clareto/Estadão Conteúdo

O jogo do bicho hoje

Chamado de "a maior loteria ilegal do mundo" e viva há quase 130 anos, o jogo do bicho segue vivo em outra rotação. Ainda é fácil encontrar uma banca para fazer uma aposta em bairros do Rio de Janeiro. Os bicheiros de hoje, porém, têm dinheiro investido em um número muito maior de atividades legais e tocam a vida com mais tranquilidade.

Além disso, a movimentação para a liberação das apostas pode mudar o jogo do bicho. Até 2018, sites de apostas esportivas eram considerados contraventores como os bicheiros. O ex-presidente Michel Temer, no entanto, iniciou o processo para legalizar a atividade. Em decreto de dezembro de 2018, o governo legalizou as apostas online, mas deu prazo de dois anos para a regulamentação do mercado, a ser feita por técnicos do Ministério da Fazenda. O prazo pode ser prorrogado por mais dois anos.

A pauta tem sido debatida no Congresso e gera divisão. Ainda não há indicativo de quando o jogo vai, de fato, ser legalizado. O fato é que o presidente Jair Bolsonaro tem sido pressionado por lobistas —uma vez que a liberação geraria uma boa arrecadação.

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