Há quem diga que o mundo poderia ter acabado em outubro de 1962, quando, em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética posicionaram suas ogivas nucleares ao redor de Cuba. Foram 13 longos dias de ameaças e tensão, em um impasse que foi batizado de crise dos mísseis de Cuba e é considerado por muitos historiadores o episódio no qual a humanidade esteve mais próxima de uma guerra nuclear.
Guardadas as devidíssimas proporções, o Campeonato Brasileiro viveu neste final de semana a sua crise dos mísseis de Cuba. Enquanto Flamengo e CBF travaram uma batalha judicial pela realização ou não do jogo deste domingo com o Palmeiras, nos bastidores já se ouvia o prenúncio de uma guerra de consequências muito maiores do que o confronto no Allianz Parque. Em resposta às ações do Rubro-Negro, os outros clubes da Série A e pessoas ligadas à própria CBF já falavam em uma ação para remover o atual campeão da competição ou até paralisá-la inteiramente.
Assim como não veio para o mundo em 62, o cataclisma também não chegou para o Brasileirão. Antes que os cartolas pudessem começar a disparar sua artlharia, a CBF conseguiu no Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília, uma liminar que permitiu, minutos antes do horário previsto para o apito inicial, a realização do Palmeiras x Flamengo.
O 1 a 1 no Allianz Parque passou longe da competitividade e da emoção da disputa jurídica que o antecedeu, mas foi suficiente para desarmar um conflito com potencial para ser uma das maiores crises da história do futebol brasileiro.
O Brasileirão segue, com sua tabela e protocolos preservados, mas as articulações de uma guerra geral que esteve a minutos de ser deflagrada não vão ser apagadas. A paralisação dos jogos ou a exclusão do Flamengo serão deixadas de lado, mas o mal-estar entre o clube carioca, a CBF e os demais competidores do torneio não desaparece. Assim como em Cuba, nenhum míssil chegou a ser disparado, mas assim como o mundo em 62, o futebol brasileiro de 2020 está em guerra fria.