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Palmeiras procura caminhos para a vida sem Dudu, o símbolo da virada vencedora dos últimos anos

Danilo Lavieri Coaboração para o UOL, em São Paulo Alexandre Schneider/Getty Images

Como vai ser a vida do Palmeiras sem Dudu? O jogo de quarta-feira, contra o Corinthians, já mostrou que a torcida terá de se preocupar com a lacuna deixada pelo camisa 7, que foi jogar no Al-Duhail, do Qatar.

Há quem discuta se o "Baixola" merece ou não estar na galeria de ídolos, mas é indiscutível que o atacante era símbolo de um time que chegou no topo de quase tudo o que disputou nos últimos anos e virou o resumo do Alviverde de 2015 para cá.

A diretoria aposta na base para a substituição técnica, comemora o dinheiro que entrou para melhorar a vida financeira do time, mas ainda não tem a menor ideia de quem será o sucessor de Dudu na identidade com o torcedor.

Alexandre Schneider/Getty Images
Divulgação

Dudu tapa ao menos 25% do buraco criado na pandemia

Com a paralisação do calendário por conta da pandemia, até mesmo os clubes mais organizados financeiramente sofreram. Com o Palmeiras, referência no assunto dinheiro nos últimos anos, foi a mesma coisa. Dudu deixa o Alviverde, então, como chegou: como um salvador da pátria. Não foi um gol, mas a diretoria comemora como se fosse.

O Palmeiras deixou de receber verbas com uma de suas mais importantes propriedades, seu torcedor. O que entrava com bilheteria zerou e houve queda vertiginosa na arrecadação com sócio-torcedor. Assim, o time se vê numa missão quase impossível: arrecadar R$ 160 milhões para tentar fechar o ano no azul.

Com a saída de Dudu, o Palmeiras consegue, inicialmente, cerca de 25% desse valor: foram R$ 43 milhões arrecadados com o primeiro empréstimo. Existe, ainda, a previsão de mais R$ 36 milhões, que entrariam em 2021, com a provável aquisição pelo Al-Duhail em definitivo. Isso sem contar que o Palmeiras ainda terá direito a 20 % em uma futura revenda. Ao menos por enquanto, o plano é pegar toda essa verba para aliviar o caixa.

Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Como suprir a ausência em campo?

Mas, como diz boa parte da torcida, time de futebol não é banco para comemorar lucro, quem, então, vai assumir o papel de Dudu na liderança técnica? Quem vai pegar a bola, colocar debaixo do braço e só parar quando a rede balançar?

Por anos, o time se acostumou a poder confiar nos (menos de) 1,7m de Dudu. Estava difícil? Coloca nele e espera para ver o que sai. Foram 70 gols em 305 jogos, além de 78 assistências. A distância é tão grande que, no atual elenco, o que mais marcou gols depois dele foi Willian: com 46. No gráfico abaixo, que mostra os artilheiros do Palmeiras no Brasileirão de pontos corridos, você pode ter uma noção da importância do jogador.

Agora, a discussão no Palmeiras está sobre quem tem capacidade para assumir esse papel. Seria Rony uma possibilidade pelas características de velocidade e drible? Contra o Corinthians, os números foram parecidos. Enquanto Dudu tinha médias de 57,5 toques, 1,8 dribles e 3,3 faltas, Rony marcou na quarta-feira 58 toques, 2 dribles e sofreu 4 faltas. Em termos de eficiência, porém, ele ficou devendo.

A solução pode vir, também, de outra maneira de pensar o jogo. No lugar de um time dependente de um craque, uma equipe que encontra saídas coletivas quando se encontra em dificuldades. Nos últimos cinco anos, porém, o aproveitamento do time caiu quando Dudu não jogou: com ele, o Palmeiras teve 64,1% de aproveitamento; sem ele, 57,2%.

Cesar Greco/Palmeiras

Base é aposta

Em uma das poucas entrevistas que deu nos últimos tempos, Maurício Galiotte afirmou que aposta na base para achar o "novo Dudu" — os resultados alcançados com Gabriel Jesus até o título de 2016 dão lastro para isso. O tempo já mostrou, porém, que a paciência da torcida com os garotos que vêm da base não é tão grande. E o momento de carência deixa até os mais tolerantes impacientes.

Gabriel Verón é o primeiro nome que vem à cabeça do torcedor. Destaque da Copa do Mundo sub-17, o atleta renovou recentemente com o Palmeiras por uma multa de 60 milhões de euros e é a grande aposta para o futuro. Rápido e driblador, teve um bom início de 2020, mas se machucou dias antes da reestreia no Paulista.

Além dele, o Alviverde ainda tem fé em atletas que foram contratados para amadurecer nas categorias de base: Wesley e Angulo passaram o ano de 2019 sendo testados e agora esperam chances com Luxemburgo. Luan Silva foi contratado do Vitória e também está na fila.

Miguel Schincariol/Getty Images Miguel Schincariol/Getty Images

Quem será o novo ídolo do torcedor?

O Palmeiras sofrerá para achar uma substituição no aspecto técnico, mas mais difícil ainda será encontrar alguém que se identifique tanto com o torcedor e com a camisa do Palmeiras. No elenco atual, há alguns candidatos a assumir esse posto e conquistar a difícil torcida palestrina.

O goleiro Weverton, por exemplo, está em seu terceiro ano com a camisa palmeirense, mas ainda tem uma longa estrada a percorrer. Campeão do Brasileirão de 2018, o goleiro tem participações importantes, mas ainda não mostrou o carisma de Dudu. Um pouco à frente dele está Gustavo Gómez, que poderia assumir o cargo de xerifão do Alviverde, mas sua indisposição com a diretoria por desacerto financeiro atrapalha.

Felipe Melo tem histórico de jogador vencedor, mas sua postura divide opiniões. É difícil imaginar ele virando unanimidade entre os palmeirenses como era com Dudu. Bruno Henrique foi capitão do deca e Willian é o artilheiro do time na temporada, mas os passados corintianos de ambos pesam.

Dudu, além de gols, de títulos e da liderança ainda carregava o chapéu sobre os rivais do dia de sua contratação. Em entrevista ao UOL Esporte, por exemplo, o ex-diretor do Verdão Alexandre Mattos lembra que, quando contratou o atacante, Corinthians e São Paulo estavam muito mais próximos do negócio. Juntando tudo isso, é difícil imaginar alguém que consiga atingir o patamar atingido pelo camisa 7.

Ricardo Nogueira / Folhapress

Dudu ficou perto de sair três vezes

Os números, os feitos e as conquistas... Claro que os mais de cinco anos de Dudu no Palmeiras não foram resumidos só a momentos bons. O jogador se viu em alguns momentos de bastante contestação, como quando errou pênalti contra o Santos, na partida de ida da final do Paulista de 2015. No jogo de volta, ele ainda empurrou o árbitro Guilherme Ceretta de Lima na Vila Belmiro e chegou a pegar seis meses de suspensão (depois foi diminuída para seis jogos).

Anos depois, quando ele mesmo já se considerava um cara mais equilibrado, voltou a ouvir o som das cornetas por perder o pênalti da final do Paulista em 2018 contra o Corinthians. De lá para cá, passou a evitar a marca da cal e deixou a tarefa de bater pênaltis para seus companheiros — o que também gera críticas.

Naquele ano, inclusive, o atacante ficou bastante chateado com as críticas e chegou até a marcar um gol sem nem comemorar, contra o Internacional, pelo Brasileirão. Depois, pensou em sair, mas não conseguiu uma proposta boa o suficiente para a diretoria abrir mão de seu principal jogador. Após fazer as pazes com a torcida, ergueu a taça do Brasileirão de novo no fim do ano.

Se desta vez o atacante teve o "sim" da diretoria para sair, em outras duas ocasiões ele recebeu propostas tentadoras da China que balançaram o jogador. Sem conseguir a liberação, ficou chateado e, criticado pela torcida, não escondeu a insatisfação em reuniões com a diretoria. Mais de uma vez, deu declarações cobrando respeito das arquibancadas. Até lembrava um pouco um outro camisa 7 polêmico que é ídolo do palmeirense: Edmundo.

Acusação de agressão foi decisiva

Dudu diz que deixou o Brasil às pressas por não aguentar mais ligar a televisão e ver seu nome envolvido em polêmica. Acusado pela ex-mulher Mallu Ohana de agressão, ele afirmou que pediu desculpas para Maurício Galiotte por envolver o nome do clube em notícias negativas, apesar de sempre jurar inocência.

No Qatar, ele ficará longe dos filhos, os Duduzinhos, que serão seu principal vínculo de ligação com o Brasil e com o Palmeiras. Os dois são sócios e frequentadores assíduos do clube, onde fazem futebol e vivem vida de pop-star, com fotos a todos os momentos.

Aos 28 anos, o atacante já foi para o Oriente Médio decepcionado com a falta de chance na seleção e agora sabe que não tem mais nenhuma perspectiva de ser chamado. Seu objetivo é fazer história — e muito dinheiro — no Qatar e, quem sabe, até defender a seleção dona de casa na próxima Copa. O processo de naturalização, no entanto, é praticamente impossível. O jogador não escondeu que ainda pretende voltar ao Brasil e defender o Palmeiras. Resta saber quando.

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