Segundo o Código Brasileiro de Trânsito (CBT), não é permitido circular de bicicleta em "vias de trânsito rápido ou rodovias, salvo onde houver acostamento ou faixas de rolamento próprias". Na descrição de vias de trânsito rápido apresentada dentro do próprio CBT enquadram-se apenas três locais na capital paulista: as marginais Pinheiros e Tietê e a Avenida 23 de Maio.
Para formalizar uma competição, neste caso, seria necessário fechar as rotas com planejamento prévio das autoridades de trânsito e segurança locais, além de arcar com custos altos de logística e procedimentos obrigatórios de entidades esportivas. Esse é um obstáculo comum no caminho do desenvolvimento da modalidade, defendem os apoiadores do Rachão, essa competição pirata que invade as marginais nas manhãs de alguns fins de semana.
O que não quer dizer que ser "ilegal" é uma premissa do evento. Na edição de dezembro de 2017, após conversa prévia entre ciclistas e órgãos da prefeitura, o Rachão contou com a maior parte do trajeto fechado pela Polícia Militar e apoio da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) nos cruzamentos. Em 2018, ano de troca de cargos políticos e do episódio da queda parcial de um viaduto na marginal na altura do Jaguaré, as tentativas de contato não prosperaram.
"Tivemos que partir para o 'plano C': chegar ao ponto combinado, largar e acelerar para a chegada. Sem olhar para trás", conta Roberto Zanata, sergipano radicado em São Paulo aficionado por ciclismo de estrada, que idealizou o Rachão em 2016 ao lado de amigos do pelotão. Mesmo sem nenhum regulamento ou registro oficial, Zanata dá a cara a bater quando o assunto é o Rachão.
"Tem vários pontos falhos, vamos falar a verdade... Mas as críticas são melhores do que os elogios. Vendo o pessoal 'socando o pau' em mim nos últimos anos, eu abri os olhos: antes eu só via os caras na bike, eu não enxergava os perigos reais. Isso tem ajudado ao Rachão evoluir", diz.
"Ninguém ali faz questão de ser uma prova ilegal, pelo contrário", agrega Samuel Ferraz, ciclista, treinador e autor dos canais de YouTube SamucaZarref e Powerlink Bike no YouTube, que competiu nos rachões Tarja Preta e Faixa de Gaza, "filhos" do Milão. "Se houver apoio, ótimo. E o que acho nobre é justamente isso: se não houver, ok também, o evento vai rolar".
Contatadas pelo UOL, a CET e a Secretaria Municipal de Transportes (SMT) de São Paulo não quiseram se manifestar sobre o assunto, alegando que não há nenhum pedido de autorização para o Rachão em 2019.