O Super Bowl da pandemia

Público reduzido, show do intervalo adaptado e mais. Como a covid impactou o maior evento do esporte

Lucas Tieppo Colaboração para o UOL, em São Paulo Mike Ehrmann/Getty Images

A temporada 2020 da NFL chega ao fim neste domingo (7) com o aguardado confronto entre Tom Brady e Patrick Mahomes no Super Bowl 55. Tampa Bay Buccaneers e Kansas City Chiefs disputarão a final da liga em um cenário diferente daquele que os fãs do esporte estão acostumados.

Esportivamente, os ingredientes estão todos lá e com muitas possibilidades de recordes, principalmente para Brady. A estrela, que já é recordista de participações na finalíssima — dez edições —, também pode se tornar o jogador com mais títulos no evento, atingindo sete conquistas e superando qualquer outro atleta e até mesmo as franquias da liga em número de títulos (Pittsburgh Steelers e New England Patriots têm seis troféus cada).

Aos 43 anos, o quarterback dos Bucanneers também pode confirmar a condição de jogador mais velho da posição a levar o título. O Super Bowl deste domingo também será o primeiro da história a reunir os dois últimos quarterbacks vencedores — Brady (2019) e Mahomes (2020). Aliás, aos 25 anos, esse último poderá se tornar o jogador mais jovem da posição a ganhar o evento duas vezes seguidas.

Mas nem tudo nesse Super Bowl histórico tem a ver com esporte. Em uma temporada marcada pela pandemia do novo coronavírus, a NFL decidiu manter a programação desde o início e, apesar de algumas algumas partidas terem sido adiadas e equipes terem sofrido com desfalques, a decisão será realizada na data esperada, mas de um jeito um pouco diferente.

Os Estados Unidos convivem com milhares de mortes pela doença e isso impactou na preparação da cidade de Tampa para sediar o maior evento esportivo no mundo. Enquanto a NFL parece ter controle sobre o que acontecerá dentro do estádio, o temor é por uma nova onda de infecções envolvendo quem ficará do lado de fora. E o fato de os Buccaneers jogarem em casa, algo inédito na liga, aumenta o perigo.

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NFL tenta manter um Super Bowl com cara de Super Bowl

Sim, o Super Bowl 55 terá tudo o que o fã da modalidade está acostumado a ver na grande final da temporada, mas com algumas adaptações. Haverá o tradicional evento de abertura com o hino norte-americano sendo cantado pela dupla Eric Church e Jazmine Sullivan e o show do intervalo terá a apresentação do cantor canadense The Weeknd. No entanto, não teremos aquelas centenas de pessoas em volta do palco durante a apresentação.

Nem por isso pense que o show será menos impactante. O artista revelou que ele e sua equipe investiram mais de R$ 38 milhões do próprio bolso para assegurar uma apresentação "cinematográfica" e minimizar a ausência do público.

Durante o jogo, os atletas e membros da comissão técnica seguirão os protocolos de segurança da liga e usarão máscaras enquanto não estiverem em campo. Eles também estão sendo testados duas vezes por dia nas últimas duas semanas.

Nas arquibancadas, haverá público, mas em número reduzido para evitar aglomeração. Dos 66 mil lugares que geralmente são liberados no Raymond James Stadium, apenas 25 mil estarão ocupados. O restante terá rostos de torcedores em cartazes. As primeiras fileiras serão isoladas para evitar contato entre fãs e atletas, com separação de seis metros.

Após o jogo, a NFL preparou uma cerimônia de premiação para Tampa Bay Buccaneers ou Kansas City Chiefs seguindo a tradição, com a entrega do troféu Vince Lombardi e declarações do dono da equipe vencedora, treinador e principais jogadores. Porém, familiares e pessoas próximas não deverão ter acesso ao campo como costuma acontecer.

Nick Tre. Smith/Icon Sportswire via Getty Images

Público na arquibancada e homenagens

O Super Bowl é o evento mais desejado dos fãs de futebol americano e geralmente acontece com os estádios lotados, mas a edição deste domingo será um pouco diferente. A prefeitura de Tampa permitiu que somente 25 mil pessoas estivessem presentes no estádio, apesar de não haver um limite para a presença de público em eventos esportivos no estado da Flórida.

Mesmo com milhares de torcedores, o jogo não é considerado de alto risco por ser realizado em um estádio aberto. Ainda assim, cada pessoa que comprar ingresso receberá um kit com máscara, álcool gel e outras instruções para evitar o contágio. E, claro, será necessário manter o distanciamento social.

Do total de ingressos disponíveis, a NFL reservou 7,5 mil para profissionais da área da saúde que atuaram no combate à pandemia. Todos os convidados devem estar vacinados com as duas doses. Os outros 17,5 mil ingressos foram vendidos para os torcedores dos Buccaneers e dos Chiefs.

E como manda a lei do mercado, como a oferta é pequena e a demanda é alta os valores dos ingressos atingiram números expressivos. Uma entrada para o duelo chegou a custar US$ 40 mil (R$ 215 mil) no site de venda oficial da liga. Na última quinta-feira (4), a imprensa norte-americana noticiou que ainda era possível comprar ingresso, mas a média dos valores estava na casa dos US$ 7 mil (R$ 37 mil).

Outra mudança será a proibição do uso de dinheiro para comprar comida, bebida e outros itens. Apenas cartões serão aceitos nas lojas e pelos vendedores que circulam pelo estádio.

Jamie Squire/Getty Images

Chiefs quase viveram um surto às vésperas do jogo

Mesmo com todos os protocolos de segurança e com a precaução em alta por se tratar de um Super Bowl, o Kansas City Chiefs correu o risco de enfrentar um surto de covid-19 em seu elenco. Na última quarta-feira (3), foi confirmado que o barbeiro oficial da equipe testou positivo para o vírus.

O jornalista da ESPN norte-americana Adam Schefter revelou que o profissional estava realizando um corte no último domingo (31) quando soube do resultado e foi imediatamente isolado. Naquele dia, ele tinha mais de 20 pessoas, entre jogadores - como o quarterback Patrick Mahomes - e outros membros da equipe na agenda.

Dois atletas da equipe, o center Daniel Kilgore e o receiver Demarcus Robinson, foram isolados e colocados na lista de potenciais contaminados. Por causa de todos os protocolos, a franquia só viajará para Tampa na véspera da decisão.

Octavio Jones/Getty Images

O que mudou na preparação da cidade

Receber um Super Bowl mexe muito com toda cidade que o sedia e gera uma movimentação de cerca de 400 milhões de dólares (R$ 2,1 bilhões). A NFL se instala na localidade e leva toda a organização necessária para a realização de um evento deste porte. Geralmente, a liga reserva grandes espaços de eventos para promover comemorações de gala e convívio entre imprensa, jogadores e membros das franquias.

Neste ano, no entanto, todas as entrevistas coletivas pré-jogo foram realizadas de forma online, e a tradicional "opening night" na segunda-feira pré-Super Bowl não foi realizada.

A NFL também realizou mudanças nas ações de convivência com o público, principalmente na NFL Experience, um grande espaço onde os torcedores podem vivenciar a experiência de ser um jogador da liga e ter acesso a exposições e apresentações variadas.

As tradicionais festas paralelas organizadas pelos patrocinadores também não foram realizadas este ano, tudo para evitar aglomerações.

Enquanto o cenário parece sob controle dentro do estádio, as autoridades de Tampa estão preocupadas com aglomerações em bares e outros locais da cidade. Por isso, a prefeita Jane Castor emitiu uma ordem exigindo o uso de máscara mesmo em espaços abertos.

Setores que geralmente lucram com um Super Bowl, como o hoteleiro e o de eventos, amargam prejuízo, já que investem no evento há anos e estão vendo uma quantidade bem menor de pessoas circulando pela cidade, pois a presença de visitantes vindos de Kansas City está sendo desestimulada.

"Já ia ser um Super Bowl diferente, pelo menos por causa da pandemia. É difícil saber a lista completa de todos os outros eventos não organizados pela NFL que foram cancelados", disse Santiago Corrada, CEO do Visit Tampa Bay.

Dustin Bradford/Icon Sportswire via Getty Images

Como a covid-19 impactou a NFL

A NFL decidiu, por diversos motivos, não repetir a experiência da NBA e não criou uma bolha para a disputa da temporada. Com mais atletas e membros de comissão técnica envolvidos e por ser um esporte que exige mais estrutura física, a liga de futebol americano manteve a temporada com 17 semanas e com cada equipe jogando 16 vezes, como de costume.

Mesmo com os rígidos protocolos criados para manter a segurança dos atletas, algumas franquias sofreram com surtos da doença durante a rotina de treinos, jogos e viagens. Ainda assim, o número de contaminados entre pessoas ligadas à NFL pode ser considerado baixo.

O diretor médico da NFL, Allen Sills, revelou na última quarta-feira (3) que a taxa de testes positivos foi de apenas 0,08%. "Sentimos que as instalações dos nossos times eram realmente alguns dos locais mais seguros possíveis", disse.

Segundo o médico, a liga teve 262 casos de covid-19 entre jogadores e 463 entre outras pessoas ligadas aos times do dia 1º de agosto até a véspera do Super Bowl. A taxa apresentada por Sills leva em conta que os profissionais foram testados diversas vezes durante a temporada.

Mike Ehrmann/Getty Images

O Super Bowl dentro de campo

Pela primeira vez um time jogará em casa o Super Bowl, mas isso não faz do Tampa Bay Buccaneers o favorito para o confronto. A equipe de Tom Brady terá muito trabalho para derrotar o atual campeão, Kansas City Chiefs.

Será um confronto de gerações. De um lado, Brady. Do outro, Patrick Mahomes. O veterano quarterback de 43 anos disputará o seu 10º Super Bowl e tentará vencê-lo pela sétima vez. Já Mahomes, apontado como sucessor do rival deste domingo, poderá se tornar bicampeão da liga aos 25 anos de idade.

O jogo terá transmissão da ESPN a partir das 19h (de Brasília) com abre o jogo e esquenta para a decisão. A bola vai voar a partir das 21h e a transmissão ficará por conta de Fernando Nardini e Paulo Antunes.

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