Sobre sacrifícios e limites

Tiago Splitter conta como corridas na montanha, a morte da irmã e dores constantes o levaram ao topo da NBA

Tiago Splitter Especial para o UOL Esporte, de Nova York (EUA) Julia Rodrigues/UOL

Você já questionou o que poderia acontecer com a sua vida se tivesse feito escolhas diferentes? Eu já.

O ápice da minha carreira na Europa aconteceu em um dos momentos mais difíceis da minha vida. Eu fui campeão da Copa do Rei com uma cesta no último segundo e ganhei MVP da temporada e MVP das finais. Eu estava numa bad. Minha irmã tinha morrido fazia uma semana.

O único momento em que eu não pensava na Michelle era dentro da quadra, só ali eu conseguia me distrair e sair daquela bad vibe. Eu me culpava. Será que eu devia ter saído do Brasil? Será que não tinha?

A única certeza que eu tinha era que havia feito tudo o que eu podia naquele momento. Até levar remédio escondido na mala para o Brasil eu levei.

Meus pais foram para lá assistir, de surpresa. Foi um momento muito emocionante. O time todo veio para cima de mim depois do jogo, todo mundo comemorando e chorando ao mesmo tempo.

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A Michelle também jogava basquete e tinha vindo com meu irmão passar um Natal lá na Espanha. Parecia tudo bem. Lembro que uns dois ou três meses depois, meu pai ligou. Ela estava com leucemia. Eu nem sabia o que era isso direito. Só sei que era meu pai chorando de um lado do telefone, eu chorando do outro. A gente pensava assim: "Vai dar tudo certo. Ela é forte, ela vai superar isso".

Na prática o que a gente viveu foram altos e baixos. Depois de um ano, o câncer tinha desaparecido. Ela voltou a jogar, e foi um momento de muita alegria. Mas tinha aquele pouquinho de cautela, porque a gente sabia que podia voltar. E voltou.

A gente pensou até em trazê-la para os Estados Unidos. Eu tinha sido "draftado" pelos Spurs, e eles ofereceram um avião para levá-la aos EUA. Só que a minha irmã já estava tão fraca que a gente não achava que aguentaria viajar tanto tempo dentro de um avião. Então, ela acabou ficando em um hospital em Campinas. Minha mãe teve que se mudar de Blumenau, em Santa Catarina, para lá. Ficou basicamente dormindo numa cadeira de hospital durante dois anos.

O problema é que, no momento em que a leucemia volta, você só tem uma chance: o transplante. A minha medula e a do meu irmão não eram compatíveis com a dela. A gente tinha 50% de chance, mas não era compatível. Começamos um projeto para tentar encontrar um doador de medula. A gente mobilizou a cidade inteira, fez um trabalho lá em Blumenau e chegou até o Rio de Janeiro, onde achamos uma pessoa compatível.

Aí apareceu outro problema: para fazer o transplante, era necessário um remédio que estava em falta no Brasil.

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Como é que a gente vai achar esse remédio? Ela tinha que fazer a operação o quanto antes. Eu não podia esperar. Muito menos ela. Então, o que eu fiz foi comprar esse remédio na Espanha e levar para o Brasil, clandestinamente.

Os médicos me orientaram que esta era uma situação normal e que, se eu levasse o remédio, eles fariam o transplante. Falaram que eu não era a primeira pessoa que estava fazendo isso. Comprei uma mala, coloquei dentro um isopor com gelo e embarquei com o remédio para o Brasil.

Era o único jeito de salvar a vida da minha irmã. O que você faria nessa situação?

Infelizmente, o corpo dela rejeitou a medula. Eu já tinha voltado para a Espanha quando recebi uma das ligações mais difíceis da minha vida: "Tiago, vem pro Brasil porque eu não sei quanto tempo ela vai durar."

Quando eu cheguei, ela já estava nas máquinas. Estava muito inchada. Eu lembro de só falar para os médicos: "Não quero que ela tenha dor, por favor. Faça alguma coisa para que ela não tenha dor". E foi assim. Dois dias depois que cheguei, a gente a levou pra Blumenau, a nossa cidade, para o enterro.

E, então, o basquete voltou a ser a minha válvula de escape.

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Depois de passar por uma experiência dessas, você pode falar que tudo o que eu enfrentei depois foi fácil. Mas não foi. O cair e levantar, cair e levantar do esporte é cruel justamente porque está sempre lá.

Um ano depois daquela final fiz a transição da Europa para a NBA. Eu era o melhor jogador da minha posição do basquete europeu quando cheguei ao San Antonio Spurs, em 2010. Enfim, eu estava na NBA! Mas eu não jogava.

Imagine a situação: o melhor jogador de um continente chegar e simplesmente não jogar. Será que eu estava fazendo algo de errado? Será que eu merecia estar ali?

Tudo bem que eu tinha uma casca grossa, mas naquele momento perguntei: "Será que a NBA é muito grande para mim?"

Até o técnico do San Antonio percebeu. Um dia, depois de um jogo, eu estava indo para o ônibus, e o Gregg Popovich me puxou pelo braço.

- Senta aqui. Você está triste? Você está bravo?

- Sim, estou triste e estou bravo.

- É por você não estar jogando?

- É.

- Bom, é melhor você não ficar triste porque você não vai jogar, mesmo. O time já está pronto. O time já está encaixado. É o mesmo time do ano passado. Continue treinando forte. Você está treinando bem. Continue por esse caminho que ano que vem você vai jogar mais.

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Aquilo deu uma aliviada na tensão. Eu não estava fazendo nada de errado, ninguém tinha alguma coisa contra mim, eu não estava treinando pouco. Pelo menos eu sabia que estava fazendo a coisa certa.

O importante foi a sinceridade. É difícil um técnico ter essa sinceridade e ser tão claro com um jogador. Ele nunca me prometeu que talvez eu jogasse. Disse que não iria jogar e foi assim. E o que aconteceu no ano seguinte? Eu joguei.

Nesses primeiros jogos, tudo acontece muito rápido dentro da quadra. É um negócio de outro de mundo. Os jogadores são muito maiores, os braços muito mais compridos. O timing do passe, o timing de como você vai arremessar. Tudo muda. Também é um jogo mais desgastante porque você sobe e desce, sobe e desce, a velocidade do jogo é muito maior. Eu tive que me adaptar fisicamente. Ganhei 10 kg de massa na NBA.

Meu primeiro jogo na NBA foi no Staples Center, contra o Los Angeles Clippers. Até hoje lembro da primeira jogada. Eu joguei um "pick-and-roll" com o Manu Ginóbili, que passou a bola pra mim e eu enterrei. Foi um momento que marcou aquela alegria de estar na NBA, de fazer parte desse sonho, da melhor liga do mundo.

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O sonho tinha sido desenhado quando eu tinha catorze anos. Você tem ideia do que é ter 14 anos e ver a NBA como uma possibilidade?

Para você entender as circunstâncias, temos de voltar para o início. Com 12, 13 anos, eu dei aquela esticada. Aos 14 anos, já tinha dois metros de altura, treinava no time adulto de Blumenau. E esse momento de aprender a brigar com os caras mais velhos fez com que eu tivesse muita facilidade de jogar com os atletas da minha idade. Não dava nem para comparar.

Durante um Sul-Americano com a seleção sub-16 no Chile, recebi convites de alguns olheiros que me viram jogar. E o time da Espanha, o Baskonia, me chamou para conhecer o clube, a cidade de Vitoria-Gasteiz, o país.

Fui com meu pai e com a minha mãe, treinei com o pessoal de lá. Para mim tudo era muito diferente. Saí de uma cidadezinha pequena de Santa Catarina e estava na Europa, em um país novo, com uma língua nova.

Mas meus pais não queriam a mudança. Todo mundo sabia do meu potencial, mas queriam ver alternativas. O Vasco estava montando um grande time e já tinha feito um convite - foi nessa época que o Nenê chegou e, logo depois, foi draftado pela NBA - e tinha também a oportunidade de jogar sem remuneração nos EUA, no "high school", e morar na casa do Danny Ainge, que hoje é gerente geral do Boston Celtics. Eu tinha essas três opções.

Quando soube que na Espanha era um contrato de dez anos com cláusula de saída para a NBA, a decisão pesou. Eu tinha 14 anos e já estavam falando em NBA! Fora isso, eu iria receber salário desde o primeiro dia, e o contrato previa viagens anuais para a minha família ir lá me visitar. Eu fui.

Até aqui, tudo foi fácil. Inclusive a despedida. Sempre que fazia essas viagens, era "tchau, tchau ", virava a cabeça e ia. Sofro mais se ficar lá abraçado três horas, conversando.

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As coisas ficaram mais difíceis quando comecei a treinar por lá. Os treinos eram muito mais puxados do que eu estava acostumado. Minha mãe morou comigo nos primeiros três meses na Espanha, para adaptação. Lembro de voltar dos treinos e pedir para ela fazer massagem em mim porque a dor era imensa. Um dia, saímos quase escondidos para procurar um creme tipo Gelol. Eu não queria falar para ninguém que estava cansado, que tudo doía.

Eu não ia reclamar, não queria mostrar debilidade para eles. Eu queria que eles ficassem felizes de me ter no time. Nunca reclamei.

Nem mesmo quando enfrentei os treinos mais difíceis da minha vida. No meu segundo ano na Espanha, tínhamos um técnico sérvio que fazia a gente levantar às 6h da manhã e correr em jejum no meio da montanha. O time todo voltava, tomava café e ia dar piques no campo de futebol. Fazia academia, voltava, almoçava, dava uma descansada de tarde e treinava de novo basquete.

Eu vi gente vomitar sangue, cair no chão com cãibras em todos os músculos do corpo. Aquilo era uma loucura. Um dia, eu chorei. Escondido, é claro. Falei para mim mesmo que iria voltar para o Brasil. Se tivesse que passar por aquilo para virar jogador, eu não iria virar jogador.

Mas eu não desisti, os outros jogadores não desistiram. No fim daquele período de treinamentos, a gente percebeu que não era uma questão física. Era uma questão mental. Isso que eles estavam ensinando para a gente.

Eu converso com todos os caras que passaram por aquele time. A gente aprendeu que, no final do jogo, quando a gente está mais cansado, com aquela pressão enorme pairando sobre nós, nada disso é comparado ao que a gente passou naqueles treinamentos.

No fim das contas, aquela loucura criou uma casca grossa em mim, na minha carreira e na minha vida pessoal. Foi assim que eu sobrevivi a perda de Michelle e o que aconteceu comigo nos meus últimos anos de basquete.

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Depois de ser o primeiro brasileiro campeão da NBA, eu fui o primeiro da liga a jogar com uma prótese de quadril. Foram mais de 12 meses de recuperação, de muita fisioterapia, para poder voltar a jogar. E não é que tenha voltado a jogar num nível espetacular. Não foi mesmo. Fui até um pouco medíocre. Mas eu estava tão feliz de poder voltar a jogar que não importava.

As coisas começaram a dar errado no final da minha passagem pelo San Antonio Spurs. Eu estava com problemas de panturrilha. Tive duas ou três rupturas de fibra. Quando fui para o Atlanta, o fisioterapeuta falou assim no primeiro dia de sessão: "Tiago, o teu quadril não tem muito movimento, é bem travado". Aí eu falei: "Bom, sempre foi assim. Desde que eu me conheço, eu nunca tive muito movimento no meu quadril". "Vamos fazer uma ressonância e ver como é que tá?".

Fizemos a ressonância, e o médico veio falar comigo. Um não. Dois ou três médicos. Já achei estranho na hora, uma reunião de médicos. "A gente tem uma notícia para te dar: você não tem mais cartilagem. Essa dorzinha que você está sentindo só vai aumentar e você provavelmente vai ter que parar de jogar. Você está praticamente correndo osso no osso".

No começo, era só uma dorzinha. Mas essa dorzinha limitava o movimento da minha perna e carregava muito a panturrilha. Limitava o movimento de correr, então eu não esticava a perna pra frente e pra trás em toda a sua extensão. Para resolver essa pressão na panturrilha e as rupturas de fibra, a indicação foi abrir a passada. Só que quando eu passei a fazer isso, claro, a dor no quadril começou a aumentar, aumentar e aumentar.

Como era um desgaste de anos, é difícil saber o porquê disso acontecer. Pode ser uma questão genética. Pode ser por ter corrido demais na montanha. Pode ser por ter jogado profissionalmente cedo demais, ter treinado muito de uma só forma, fazendo um mesmo movimento. Só sei que para mim não interessava mais o motivo. A única coisa na minha cabeça era como eliminar aquela dor.

Chegou um momento em que estava tão insuportável que não conseguia mais nem botar uma meia no pé. Eu tinha que tomar dois ou três comprimidos só para treinar. Tomava injeção para jogar. Meu fígado já não estava mais nem assimilando as drogas.

Como atleta, você toma muitos remédios para dor. Não é bom, mas você acaba tomando. A torcida espera o melhor de você e você quer jogar sem dor para render ao máximo.

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Só que ninguém sabe o que está acontecendo dentro do teu corpo. Ninguém sabe se o Tiago está sentindo dor. A única coisa que vai sair no dia seguinte é "o Tiago jogou mal" no jornal.

Então, você toma remédio, toma injeção. Você quer a melhor performance possível dentro da legalidade. Falei com os melhores especialistas de quadril nos EUA. Até falei com o especialista que operou o Guga Kuerten. A única solução que eles deram era uma prótese.

"Tiago, tenho prótese nova. Já teve um jogador de hóquei que jogou com essa prótese. Teve um jogador de futebol americano indoor que fez essa prótese e jogou. Se você colocar, vai ser o primeiro jogador da NBA. Não vejo outro jeito de você continuar a jogar".

Esse momento foi exatamente antes da Olimpíada do Rio de Janeiro. Ou seja: se eu faço a cirurgia, não jogo a Olimpíada. Dos dois jeitos, eu não ia conseguir jogar. Mas, com certeza, fazendo a cirurgia não ia ter como. E foi um momento de sabedoria para Deus me dizer o que eu tinha que fazer.

A minha vida estava sendo afetada pela lesão. Eu não dormia bem por causa da dor no quadril, não conseguia me vestir direito, tomava tantos remédios para jogar. Eu não queria isso. Como é que vou continuar com o quadril desse jeito? Vou fazer a operação.

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O fato de ter uma chance de jogar de novo foi importante. Também teve um pouco de orgulho na parada. Mostrar que tinha conseguido. Ia ser o primeiro cara a jogar com isso aqui na NBA.

Não é uma operação fácil.

Eles cortam o glúteo no meio, desencaixam e lixam a cabeça do fêmur. Então, colocam um capacete de metal. Depois, dentro do quadril, botam outra peça que encaixa esse capacete do fêmur no quadril. O nome é "hip resurfacing". É uma espécie de prótese moderna para a pessoa continuar com atividades físicas. Não é a prótese de quadril de um idoso, por exemplo. Nessa outra, eles cortam a cabeça do fêmur, metem um pino lá dentro no meio do fêmur e a cabeça toda é nova. A minha, não. Não existe esse pino no meio do osso. Só colocam o capacete ao redor do fêmur.

Meu irmão, o Marcelo, estava comigo no hospital. Teve que me ajudar em tudo. Para ir ao banheiro, sentar na privada, tomar banho. Tudo. Eu só conseguia me apoiar numa perna e pronto.

Nesse momento, tudo era um desafio. Eu tentava levar na esportiva. Cada pequeno passo era uma vitória. O dia em que eu deixei de usar uma muleta. O dia em que eu deixei as duas muletas. O dia em que eu consegui andar sozinho. O dia em que dei o primeiro trote. O dia em que eu arremessei pela primeira vez. Eram pequenas vitórias que eu comemorava muito.

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Teve gente que questionou, óbvio. "O que você tá fazendo? Tu já teve a tua carreira". Só que eu não ia jogar a toalha enquanto tivesse 0,5% de chance de voltar a uma quadra de basquete. Não ia.

Foram 13 meses muito difíceis de ir treinar sozinho, de passar cinco, seis horas por dia fazendo fortalecimento da perna, natação, bicicleta, esteira. No meio disso, eu tive ruptura de fibras na coxa por tentar voltar a jogar. É difícil, porque você acaba mudando a forma de correr. Grupos musculares que antes você não usava e de repente está utilizando demais. Eles acabam rompendo.

Você reaprende a correr. Andar primeiro, depois um trotezinho, depois correr, depois mudar de direção, depois pular. Foram vários obstáculos antes de poder voltar à quadra de verdade.

Depois da cirurgia, acabei trocado para o Philadelphia. Eu já cheguei falando: "Conta comigo que eu vou treinar, vou fazer de tudo para voltar a jogar". O esforço diário era constante. Eles me mandaram até para a G-League, uma espécie de liga de desenvolvimento da NBA, para ganhar alguns minutos de treinamento.

Não é muito normal um jogador que foi campeão da NBA descer e ir jogar na G-League. Mas eu queria mostrar pra eles que eu queria isso. De verdade. Joguei até um jogo na G-League para mostrar pra eles que eu estava realmente afim.

Eu queria jogar um jogo de basquete na NBA mesmo com um quadril de ferro. Esse era o meu objetivo. E como falei, foi aquela minha força mental que me ajudou a encarar essa situação.

Tiago Splitter

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Eu joguei oito jogos no final da temporada. Tive duas semanas de férias e voltei a treinar. Comecei a sentir uma leve dor no meu lado esquerdo. No dia seguinte, mais dor, mais dor, mais dor. Aquela mesma dor que sentia do lado direito todos esses anos atrás agora eu começava a sentir no lado esquerdo.

Liguei pro mesmo médico. A gente tentou fazer outro tratamento com injeções dentro do quadril. Voltei a treinar e... Dor, dor, dor. Liguei para o médico, e ele falou: "Tiago, infelizmente teu quadril está igual ao outro. Osso no osso. Agora é sua decisão. Você vai querer fazer a mesma cirurgia no outro lado, ou você vai querer parar de jogar?".

Vendo a situação em que eu estava, a minha idade... Se eu tivesse que fazer outra cirurgia, ia demorar mais um ano pelo menos para quem sabe conseguir voltar. Passar por tudo aquilo de novo. Com a primeira cirurgia, eu já tinha perdido praticamente 40% da minha velocidade. Com outra cirurgia, ia ficar impossível jogar basquete profissionalmente.

Com um lado você até consegue enganar, mas dois quadris operados? Numa liga como a NBA, que está cada vez mais rápida, cada vez com menos jogadores na minha posição. Chegou o momento. Falei com minha mulher e decidir parar de jogar.

Talvez desse para continuar na Europa, mas chegou um momento em que eu também tinha de pensar na minha vida fora do esporte. A minha primeira operação tem validade de 20 anos. Ou seja, em 18 anos eu vou ter de fazer uma outra cirurgia nesse quadril.

Provavelmente vou ter que fazer outra no meu esquerdo também. Estou falando de quatro cirurgias. Eu teria de viver em um hospital, não quero isso para minha vida.

Chega uma hora que você tem de pensar no seu futuro como pedestre, na rua. Não quero ficar numa cadeira de rodas. Se uma dessas cirurgias dá errado, se tem uma infecção no osso, alguma coisa, você está ferrado... Eu posso tentar a sorte uma vez. Mas muitas outras eu não vou.

Hoje, meu momento é de descobrir no que eu sou bom fora de quadra. Eu sei o que a gente precisa para ser um time campeão. Eu sei como o time tem que treinar. Eu sei como funciona o processo de selecionar um atleta. Ainda não sei o que eu quero fazer até o fim da minha carreira. Mas tenho a sorte de estar no Brooklyn Nets, um time que me dá a possibilidade de aprender e de começar uma nova caminhada.

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Quando as pessoas querem vender jornal, tumor benigno vira câncer. Quatro cirurgias são 20. E as manchetes sempre são: "A menina com mais de 200 tumores". Isso mais todos os blá blá blás...

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