Adeus, Mamba

Uma das maiores lendas da NBA, Kobe Bryant morreu ao lado da filha, estrela em ascensão nas quadras

Do UOL, em São Paulo Fred Lee/Getty Images

Não é só Los Angeles que está de luto. A partida trágica do maior jogador da história dos Lakers, a franquia mais popular da NBA, abalou o mundo. Kobe Bryant era tão gigante dentro de quadra, que estrelas do esporte, do cinema e da música eram fãs confessos. O ala armador morreu ontem (26), aos 41 anos, em um acidente de helicóptero em Calabasas, condado de Los Angeles. As causas da queda ainda estão sendo investigadas.

Assim que as primeiras notícias do acidente começaram a circular no início da tarde (12h local), uma onda de choque, choro e devoção tomou conta das redes sociais e da cidade que lançou Kobe ao estrelato. Na noite anterior, Kobe tinha feito seu último tweet, parabenizando LeBron James por ter ultrapassado sua marca de 33.643 pontos na NBA. Ironias do destino.

A tragédia seria ainda maior do que inicialmente imaginado. O basquete não perdeu apenas Kobe, mas seu legado direto nas quadras. A filha Gianna, de 13 anos, estava entre as outras oito vítimas fatais. Gigi tinha um caminho traçado desde muito cedo: a WNBA. Kobe e Gianna estavam a caminho da Mamba Academy, onde o time de Gigi, treinado pelo pai, iria enfrentar o Lady Heat, de Fresno.

Além de Kobe e Gigi, o técnico de basebol John Altobelli, da Orange Coast College, sua mulher, Keri, e a filha Alyssa também estavam no helicóptero. Alyssa era a armadora no time de Gigi.

A seguir o UOL Esporte relembra como Kobe Bryant se transformou na maior lenda do basquete desde Michael Jordan em 20 anos de carreira na NBA passando pela disseminação de uma mentalidade vencedora, os títulos, as polêmicas, a vida familiar e até um Oscar.

Às vezes, as coisas não fazem sentido. Você tem de superar. Nós todos temos de ser fortes. Nós brincávamos sobre a 'mentalidade mamba', agora todos nós vamos precisar dela. Somos todos Lakers hoje.

Doc Rivers, técnico do rival LA Clippers

As pessoas acham que, porque você compete com alguém, vocês não têm um relacionamento. Mas com a disputa você tem mais respeito. Não tenho muito a dizer agora. Apenas estou muito triste.

Doc Rivers, horas após a morte de Kobe Bryant

Jonathan Daniel/Getty Images Jonathan Daniel/Getty Images

Mamba-negra: uma mentalidade

Com cestas espetaculares, inúmeras jogadas acrobáticas, carisma e todo o holofote que Hollywood pode amplificar, Kobe atingiu um status de lenda viva da NBA antes mesmo de chegar aos 30 anos. Foi o que disseminou e aplicou como a "Mentalidade Mamba".

A mamba-negra é uma cobra venenosa que habita a África e é considerada um dos predadores mais eficazes do continente. Dependendo da região que atacar, sua picada tende a resultar na morte de um ser humano em menos de 20 minutos.

Para Bryant, foi a metáfora perfeita para a imagem que pretendia cultivar. O autointitulado apelido viralizou. Não era somente a representação de uma figura ameaçadora para marcadores. Também vendia uma série de tênis da Nike e gerou um livro de autoajuda. O conceito, em sua concepção e vendagem, foi muito além de um cestinha letal em quadra. "A mentalidade mamba é a busca incessante por respostas. É aquela curiosidade infinita de querer ser melhor, de entender as coisas. A mentalidade mamba é a sua trajetória, é sua competição, sem se preocupar com o resultado, sem se preocupar com o que as pessoas estão dizendo. Você só esta concentrado naquele momento", afirmou.

Em entrevista ao Hollywood Reporter, porém, Kobe admitiu que a metáfora era uma autodefesa projetada quando se defendia numa corte do estado do Colorado sobre a acusação de estupro, em 2004: "Havia muita coisa rolando, pessoalmente, com essa situação, e eu senti que o jogo, que sempre foi algo sagrado para mim, estava sendo afetado".

"Precisei criar uma espécie de alter ego, para, quando em quadra, ser alguém diferente, e não ser a pessoa que estava sentada num tribunal. Ajudou a manter a minha sanidade. E aí se tornou algo diferente", disse Kobe.

Um forasteiro

"Mas como assim, garoto? Jogar na NBA? Olha, ouça o que tenho a lhe dizer. Acho melhor você pensar em outra coisa para a sua vida". Foi essa resposta que Kobe Bryant ouviu de um professor do Ensino Médio na Pensilvânia quando ele, então um menino de 14 anos, respondeu que sonhava em jogar na melhor liga de basquete do mundo.

Kobe havia recém-chegado da Europa, onde viveu com seu pai, o ex-jogador Joe Bryant, entre 1984 e 1992 na Itália. Joe, que teve uma carreira medíocre na NBA, vestiu as camisas dos times do Rieti, Reggio Calabria, Pistoia e Reggiana. Ainda deu um pulo na França. Viajado, deu o nome ao seu filho em referência ao famoso bife japonês.

Quando voltou para casa, Kobe sabia que precisava treinar mais que os outros. Por ser visto, de certa forma, como um forasteiro. Sua habilidade já era razoável para um menino de 14 anos, mas a capacidade atlética estava abaixo dos garotos do segundo grau. Para o técnico Gregg Downer, da Lower Merion High School, era questão de tempo até aquele garoto virar uma estrela da NBA. Bastava amadurecer fisicamente.

O astro, durante sua turnê de despedia da NBA na temporada 2015-16, falou com clareza sobre a importância de Downer em seu desenvolvimento. O técnico fazia as vezes de linha-dura, exigindo ao máximo daquele jovem ala e o acompanhava em longas sessões no ginásio, antes dos treinos oficiais.

Em 1995, Kobe teve média de 31,1 pontos, 10,4 rebotes e 5,2 assistências, sendo eleito o melhor jogador do estado. Um ano depois, foi escolhido no Draft da NBA. A liga estava se abrindo para que jogadores pulassem do ensino médio direto para o profissional, sem passar pela etapa universitária. Mas, para um jogador de sua posição, o movimento ainda era considerado chocante. Pivôs eram mais bem aceitos.

Para muitos "insiders" que o haviam visto jogar, porém, não havia precocidade nenhuma nessa decisão. O treinador Tom Thibodeau viu o adolescente de perto em meados dos anos 90, quando o ala foi convidado a treinar com alguns veteranos do Philadelphia 76ers.

Esta é realmente uma história incrível. Ele treinou conosco por uns dois, três dias. Acabou sendo uma situação até engraçada, porque o Kobe é tão alucinado por treinamento que ele não saiu do ginásio em que treinávamos nem por decreto. Ficava lá horas e horas arremessando, treinando fundamentos. Ficou conosco mais de um mês e queria mais. Com 16 anos, ele competia de igual para igual com veteranos da NBA

Tom Thibodeau, ex-treinador na NBA e considerado um dos maiores estrategistas defensivos da liga.

Uma vez um companheiro de time no Reggiana chegou ao vestiário desolado. Já tinha acabado o treino e e pensei que talvez ele tivesse se machucado. Perguntei se estava tudo bem. A resposta foi: 'Acabei de perder do seu filho de 12 anos no um-contra-um. Acho que vou me aposentar amanhã'. Pedi a Kobe que até o final da temporada apenas treinasse, mas que não desafiasse mais meus companheiros daquela maneira

Joe Bryant, pai de Kobe

Sobre mãos santas

É verdade: Kobe nunca jogou contra Oscar Schmidt. Mas, entre tantas referências e inspirações de sua época na Itália, o renomado ala brasileiro, com sua "mão santa", se destacava. O astro já admitiu que tentava emular movimentos do cestinha brasileiro no quintal de casa.

Oscar enfrentava o pai de Kobe, Joe, em quadras italianas. Quando pegava na bola na linha dos três pontos, era comum ouvir de sua torcida o clamor por "bomba!" —que arremessasse logo! Entre 1982 e 1990, teve médias de 32,2 pontos em 284 partidas. Pensando no estilo que Kobe adotaria em sua vitoriosa carreira na NBA, a reverência a Oscar faz todo o sentido.

"Ele gostava de mim justamente porque eu ganhava muito em cima do pai dele. E ganhava fazendo muito ponto. Ver o que esse cara se tornou e saber que ele me tem como referência é um baita orgulho pra mim. Todas as vezes que nos encontramos ele foi de um carinho impressionante comigo", disse o "mão santa"em entrevista anos atrás.

"Kobe é uma lenda do basquete. Está entre os melhores, se é que não é o melhor de todos os tempos. Pra mim ele é o melhor. Ele representa o basquete, a essência do jogo, a essência de quem treinou muito pra chegar longe e ninguém vai poder tirar dele. Ele foi grande", completou Oscar.

Tudo (ou quase) para ser um Laker

Kobe Bryant jogou os 20 anos de sua carreira pelos Lakers. Não dá para pensar no ala sem imaginar tão logo o amarelo e o roxo colorindo seus trajes -mesmo que em duas ocasiões em sua carreira o ala tenha ameaçado deixar a franquia: em 2004, chegou a flertar com o Los Angeles Clippers, e em 2007 pediu para ser trocado, e o Detroit Pistons ficou perto de adquiri-lo.

Era o destino, certo? Bem, em retrospecto, até podemos pensar assim. Mas, para que o ala entrasse na NBA via Los Angeles, foi preciso uma manobra, e tanto, nos bastidores.

Primeiro que, em 1996, sua trajetória rumo ao estrelato não era nada certa. O establishment do basquete americano ainda queria direcionar o jovem ala à NCAA, a liga universitária. Havia muita gente torcendo o nariz. Mas Kobe, impetuoso desde sempre, tinha realmente outros planos.

Ao se candidatar ao "Draft" da liga, contratou um dos agentes mais influentes da história do basquete: Arn Tellem, que foi decisivo no processo. Ameaçou diversos clubes interessados para que não escolhessem seu cliente, caso contrário ele não se apresentaria.

Aí entrou na jogada Jerry West, ele mesmo uma lenda dos Lakers e então gerente geral da franquia. O flerte era mútuo, e West convenceu o Charlotte Hornets a selecioná-lo e trocá-lo pelo pivô sérvio Vlade Divac, um veterano já consolidado na liga e bastante popular em Los Angeles.

Bryant ficou dois anos em cultivo no banco de reservas da franquia. Mas, aqui e ali, dava indícios de seu potencial. Em 2000, já formava uma dupla devastadora com o pivô Shaquille O'Neal, sob a orientação do técnico Phil Jackson (hexacampeão da liga com Michael Jordan).

Mike Blake/Reuters Mike Blake/Reuters

Kobe e Shaq, o par (im)perfeito

Não é que tenha sido fácil. Em 2000, antes de despachar o Indiana Pacers na final -na série que, para muitos, encaminhou Kobe em direção ao panteão da liga—, o Los Angeles Lakers sofreu para eliminar o Portland Trail Blazers pela Conferência Oeste. O confronto só foi decidido no sétimo e último jogo, e o time chegou a ficar contra a parede em seus domínios.

Mas era assim que se construía dinastias. Ou pelo menos assim imaginava a NBA na virada do século: o futuro era de Shaq e Kobe, e não havia muito o que a oposição pudesse fazer. Philadelphia 76ers, em 2001, e New Jersey Nets, em 2002, foram testemunhas disso, os outros dois vices no tricampeonato da franquia californiana.

Acontece que, entre 2000 e 2002, a relação das duas superestrelas dos Lakers se deteriorou de maneira corrosiva para o clube. Uma guerra fria entre egos acabou ganhando temperatura muito mais quente no vestiário, a ponto de até a imprensa que cobria a equipe se dividir entre aqueles que falavam com Shaq e aqueles que tratavam com Kobe. O técnico Phil Jackson também assumiu um lado, o do pivô.

O ambiente já era insustentável. Ao final do Campeonato de 2004, Kobe ameaçou --ou blefou contra-- a franquia: era ele ou o superpivô. Mais jovem e já mais popular entre os torcedores, mesmo às voltas com uma denúncia por estupro, Bryant foi o escolhido. O'Neal foi trocado para o Miami Heat por um pacote pouco generoso e Jackson, demitido. Um ano depois, o treinador publicaria um livro ("A Última Temporada") com relatos devastadores sobre o ala, a ponto de escrever que não estava surpreso pelas denúncias policias contra o astro.

O curioso é que, menos de dois anos depois da publicação do livro, Kobe e Jackson se reuniriam em Los Angeles. Um campeonato e meio de penúria sem o treinador forçou o ala a rever seus conceitos, ao passo que o técnico ainda entendia que, em termos de talento, Bryant poderia muito bem ser a figura capaz de levar um time rumo ao título. Jackson sempre disse ver muitos traços semelhantes entre o então jovem astro e Michael Jordan, especialmente no que se refere a uma dedicação obsessiva pela vitória.

Os Lakers patinaram por um tempo até que voltaram a decidir o título em 2008. Foram atropelados pelo arquirrival histórico, o Boston Celtics, mas conquistaram o bicampeonato em 2009 e 2010, numa revanche contra os Celtics.

J. Emilio Flores/Getty Images J. Emilio Flores/Getty Images

O ano que Kobe quis esquecer

Durante boa parte da temporada 2003-04, Kobe Byrant teve de dividir atenções entre a quadra e o tribunal. Ele respondeu a um processo criminal no estado do Colorado por estupro. Mas o caso não chegou a ir a julgamento.

Uma funcionária do luxuoso hotel de Lodge & Spa, na região de Edwards, denunciou Bryant à polícia local, mas depois se recusou a testemunhar contra o atleta. Quando a acusação foi cancelada, Bryant assumiu ter mantido relação sexual com a jovem de 20 anos, mas que ela teria sido consensual. Na época, o astro dos Lakers já era casado e tinha uma filha.

A defesa do jogador alegou que a acusação teria ocultado deliberadamente um exame de perícia que apontava que as feridas genitais sofridas pela jovem e apresentadas como prova para denunciar Bryant não correspondiam às de um estupro.

Testes de DNA realizados no jogador e na funcionária também teriam apontado que a jovem teve relações sexuais com três homens em três dias, antes e depois da alegada agressão.

A promotoria decidiu retirar as acusações contra o ala, cinco dias antes de os advogados de ambas as partes apresentarem suas alegações iniciais.

O caso foi encaminhado na esfera civil. As partes chegaram a um acordo extrajudicial, estimado em torno de US$ 5 milhões (cerca de R$ 20 mi, na cotação atual).

Noah Graham/NBAE via Getty Images Noah Graham/NBAE via Getty Images

Aquiles e a filosofia

Em 12 de abril de 2013, LeBron James já havia formado seu supertime em Miami. O San Antonio Spurs era um exemplo de sustentabilidade em alto nível. O Oklahoma City Thunder despontava com um núcleo extremamente promissor.

Enquanto isso, em Los Angeles, do vestiário dos Lakers saíam muito mais histórias que beiravam o folhetinesco do que qualquer coisa mais inspiradora. Havia muita gente ao redor da NBA, então, preparada para dizer que, não, o time não teria mais vez como postulantes ao título. É óbvio que para Kobe Bryant isso era algo inaceitável.

Então, nos seis jogos que antecederam a trágica ruptura de um tendão de Aquiles, o ala praticamente se recusava a sair de quadra: descansou em apenas 14 de 288 minutos possíveis. Não dá para ligar causa e consequência aqui, mas o aparentemente indestrutível corpo do craque chegou a um limite.

De certa forma, ali acabou a carreira de Bryant. Ele ainda estendeu seu currículo até 2016, mas já não era sombra do cestinha que atormentou a liga durante toda a década anterior. Ele disputou apenas seis partidas no campeonato de 2013-14 e 35 no posterior. Uma temporada da liga tem 82 jogos.

Até que em 2015-16, se recompondo de uma série de problemas físicos, abrindo mão de treinos com o time, conduziu uma autêntica turnê de despedida pela liga. Tinha torcida em cada parada, elegia atletas adversários para distribuir mimos (um par de tênis, uma camisa assinada etc.) e conselhos.

A "Mentalidade Mamba" já era mais uma filosofia do que uma prática, enquanto sua conta de Twitter se tornava bastante popular. Kobe se despediu como um simpático e sábio veterano, algo talvez impensável para o combativo personagem de anos atrás. Foi aclamado pelas novas gerações, e sua influência foi muito além do basquete. Diversos esportistas de outras modalidades, como os tenistas Novak Djokovic e Naomi Osaka, têm se pronunciado nos últimos dias para citar o ídolo como um mentor que tinham. Já não era mais um destruidor, mas um construtor .

Todos nós sabemos o quão grande ele era como jogador, mas ele foi além do jogo. Ele era um competidor, e isso não tem igual. Foi o que o tornou tão atraente para todo mundo: seu foco, competitividade e desejo de vencer.

Gregg Popovich, técnico do San Antonio Spurs e da seleção norte-americana

Um Oscar para Kobe

Para alguém que se habituou a ser reverenciado diariamente por gente como Jack Nicholson, Leonardo DiCaprio e Denzel Washington, dá para dizer que ganhar um Oscar seria mais que natural?

Pois, na premiação cinematográfica de 2018, a "Mentalidade Mamba" se mostraria triunfante mesmo dois anos depois de sua aposentadoria, levando a estatueta de curta-metragem de animação por "Dear Basketball". Foi uma produção que Kobe co-dirigiu e escreveu com Glen Keane, num material baseado em poema que publicou ao se despedir das quadras.

"Como jogadores de basquete, nós realmente deveríamos nos calar e driblar [uma bola]. Mas estou feliz que estejamos fazendo muito mais que isso", afirmou, ao subir ao palco da cerimônia.

A crítica, diga-se, não foi muito favorável ao curta, sugerindo que o Oscar entregue tinha muito mais a ver com a popularidade de Kobe diante de sua boa e velha plateia hollyoowdiana. O filme ganhou ainda um Emmy e foi selecionado para o renomado festival de Tribeca.

Reprodução/SLAM

Mambacita, o legado interrompido

O retorno de Kobe às quadras já era esperado, ainda que simbolicamente. A filha Gianna despontava como jovem estrela, sustentada pela habilidade com a bola e arremessos que lembravam o estilo de jogo do pai. Gigi parecia predestinada a carregar o legado Bryant.

Os dois treinavam juntos todos os dias, eram vistos frequentemente em jogos da NBA, da WNBA e da NCAA. Vídeos da jovem em ação viralizavam há anos, assim como a reação do pai, orgulhoso de sua "mambacita". Arremessos de três, giros, bandejas, dribles, tudo já fazia parte do repertório da jogadora.

Na semana passada, Kobe tinha contado à repórter Ashley Brewer, da ABC que agora a filha estava trabalhando num "fadeaway jumper", um difícil arremesso com salto em queda para trás. Gigi era filha de Kobe com Vanessa Bryant e tinha outras três irmãs: Natalia, 17, Bianka, 3, e Capri, de apenas 7 meses.

Enquanto a WNBA aguardava atentamente o amadurecimento da jovem promessa, times universitários já paqueravam o pai com a expectativa de contar com a menina em seu elenco. Dentro de casa, no entanto, Gigi tinha deixado clara sua vontade de ir à UConn. Dentre as Huskies que passaram pelo grupo do técnico Geno Auriemma estão as maiores estrelas do basquete norte-americano: Diana Taurasi, Sue Bird, Maya Moore e Breanna Stewart.

Junto com a dedicação da filha à modalidade da família, Kobe passou a adotar um discurso feminista no esporte. Há apenas uma semana, ele afirmou em entrevista à CNN que "há algumas jogadoras que poderiam competir na NBA hoje". Dentre as favoritas para disputar de igual para igual com os ex-colegas, Kobe citou: Elena Delle Donne, Maya Moore e Diana Taurasi, conhecida como a "Mamba Branca".

Paul Morigi/WireImage Paul Morigi/WireImage

Bola no pé

A passagem da infância à adolescência na Europa não ensinou a Kobe Bryant apenas um ou outro movimento de Oscar Schmidt. O jovem americano também se viu tomado por experiências que despertariam sua paixão. Na Itália, era impossível ficar à margem do futebol.

A despeito de toda a sua exuberância atlética, não há relatos de que o cestinha histórico dos Lakers tivesse qualquer talento excepcional em driblar a bola com os pés. O que não o impediu de, anos depois, versar sobre a outra modalidade feito um expert -antes mesmo de o futebol virar febre entre os astros da liga de basquete, Kobe já podia se gabar como um aficionado.

"Por ter crescido na Europa, vi logo como é intensa a experiência dos torcedores com o futebol. Futebol está num nível diferente, claro. É como se fosse uma religião, algo único, mesmo, posso garantir", afirmou em entrevista ao site da Fifa, em 2013, durante visita ao Brasil para assistir a jogos da Copa das Confederações.

Kobe era visto com frequência em estádios e acompanhava de perto os Mundiais. Há inúmeras fotos do astro com jogadores como Ronaldinho Gaúcho e David Beckham, e as seleções inglesa, francesa e, claro, norte-americana. Kobe tinha o costume de levar as filhas Gianna para conhecer as estrelas da seleção norte-americana, com direito a bate-papos com a sensação Megan Rapinoe.

Frederick M. Brown/Getty Images Frederick M. Brown/Getty Images

O dia em que o Flamengo sonhou em ter Kobe

Pouca gente sabe, mas Kobe Bryant chegou a ser um nome cogitado para integrar o elenco do Flamengo. Em 2011, a NBA vivia uma grave crise, com o segundo maior locaute da história da liga. A disputa trabalhista entre jogadores e donos dos times atrasou o começo da temporada e encurtou o número de jogos de 82 para 66.

Do lado de cá, o Flamengo celebrava a presença de Ronaldinho Gaúcho em seu elenco de futebol e a chegada de Leandrinho no basquete. Com a presença de uma estrela da NBA, o clube sonhou ainda mais alto.

Quem lembra a jogada ousada é Arnaldo Szpiro, então diretor de basquete na Gávea. "Um dirigente tinha contato com o pessoal dos EUA e trouxe essa possibilidade, colocou essa proposta na mesa. Sentamos eu, Patricia [presidente] e Calu [vice-presidente de esportes olímpicos], mas não dava, né? Eram valores totalmente fora da nossa realidade."

O sonho durou pouco. "A gente tentou por um ou dois dias alguma empresa que pudesse bancar isso na época. Mas era muito pouco tempo para um projeto tão grande", explicou Szpiro.

Andrew D. Bernstein/NBAE via Getty Images Andrew D. Bernstein/NBAE via Getty Images

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