Ilha da luta

UFC viaja até uma ilha artificial para realizar quatro eventos com força total em meio à pandemia

Brunno Carvalho Do UOL, em São Paulo Divulgação/UFC

Leve os maiores lutadores do planeta para uma ilha deserta e promova combates duas vezes por semana durante 14 dias. O que parece o roteiro de um filme B ou a dinâmica de um jogo de videogame é real. Em um mundo atingido pela pandemia do Covid-19, foi justamente essa a solução encontrada pela maior franquia de lutas do planeta para contar com todos os seus talentos.

O UFC foi para uma ilha artificial construída em 2009 chamada Yas — a mesma que já recebe uma prova de F-1. Foi construída pelo governo dos Emirados Árabes Unidos como joia de um ambicioso plano de turismo e consiste em um espaço paradisíaco de 2,5 mil hectares que, além de abrigar lutas, tem o parque de diversões da Ferrari e o GP de Abu Dhabi da F-1.

Ali, ao lado da doce vista das águas do Golfo Pérsico, o UFC realizará quatro eventos, começando hoje (11) com a edição 251. Serão quatro disputas de cinturão e um "esquadrão brasileiro" de 24 atletas subindo ao octógono. Mas o que exatamente é essa "Ilha da Luta"? O UOL Esporte responde a essa pergunta agora.

Divulgação/UFC

Ninguém sabe como os esportes vão mudar depois dessa pandemia. Vai ser um ano interessante. A 'Ilha da Luta' vai ficar por aqui por um tempo

Dana White, presidente do UFC

Divulgação/UFC

Como vai funcionar a Ilha da Luta

O UFC montou um octógono no meio da praia, mas os golpes não serão desferidos por lá. A temperatura de 41º C prevista para Abu Dhabi no dia do primeiro evento deixa qualquer possibilidade de luta ao ar livre fora de cogitação. O local funcionará apenas como peça de divulgação do projeto comandado por Dana White.

Os lutadores se enfrentarão, mesmo, no "Flash Forum", um espaço para eventos que já recebeu shows da britânica Dua Lipa e do norte-americano Prince. Um poderoso sistema de ar-condicionado terá a missão de aliviar as altas temperaturas.

"Quando me falaram que eu ia lutar na Ilha da Luta, fiquei me achando. Fico imaginando esse lugar só com gente falando sobre luta, com camisas de luta. É a Disney da luta."
Amanda Ribas, que integra o card do UFC 251.

A pandemia do Covid-19 fez com que o UFC fechasse um trecho de 11km da Ilha de Yas. Mais de 2,5 mil pessoas estarão confinadas dentro de uma "Zona de Segurança", para evitar risco de contágio.

A organização afirma que mais de 3.300 testes de Covid-19 serão realizados durante todo o período da "Ilha da Luta", incluindo o tempo em que os atletas ficaram confinados antes de viajarem para Abu Dhabi.

Para se adequar ao fuso horário dos Estados Unidos, as lutas em Abu Dhabi começarão de madrugada local e terminarão já ao amanhecer.

O que fez o UFC levar seus eventos a Abu Dhabi?

A "Ilha da Luta" foi a solução encontrada pelo UFC para um problema que os eventos dentro dos Estados Unidos não resolviam. A pandemia limitou o acesso ao país norte-americano e deixou mais difícil que os atletas "internacionais" participassem dos cards da organização.

Os brasileiros, por exemplo, não podem entrar nos Estados Unidos desde 24 de maio. Na "Ilha da Luta", 24 representantes do país estarão espalhados pelos quatro cards — o número seria maior se não fossem os casos de Covid-19 pré-evento.

Achei do caramba essa ideia da Ilha da Luta. Os brasileiros que estão aqui, os europeus que não podem entrar nos Estados Unidos. Vai ser uma chance de a gente poder lutar. Senão ia ficar um negócio reduzido e o UFC corria o risco de perder contratos. No acordo com os atletas, eles têm que lutar pelo menos duas ou três vezes no ano."
Rogério Minotouro, que lutará no último evento da Ilha da Luta.

Jeff Bottari/Zuffa LLC Jeff Bottari/Zuffa LLC

Agenda de eventos

UFC 251 - 11/07

Card Principal (23h, de Brasília)

  • Meio-médio: Kamaru Usman x Jorge Masvidal*
  • Pena: Alexander Volkanovski x Max Holloway*
  • Galo: Petr Yan x José Aldo*
  • Palha: Jessica Andrade x Rose Namajunas
  • Mosca: Amanda Ribas x Paige VanZant

Card Preliminar (19h, de Brasília)

  • Meio-pesado: Volkan Oezdemir x Jiri Prochazka
  • Meio-médio: Elizeu Capoeira x Muslim Salikhov
  • Pena: Makwan Amirkhani x Danny Henry
  • Leve: Leonardo Santos x Roman Bogatov
  • Pesado: Marcin Tybura x Alexandr Romanov
  • Mosca: Raulian Paiva x Zhalgas Zhumagulov
  • Galo: Karol Rosa x Vanessa Melo

UFC FIGHT NIGHT - 15/07

Card Principal (23h, de Brasília)

  • Pena: Calvin Kattar x Dan Ige
  • Galo: Frankie Edgar x a definir**
  • Palha: Carla Esparza x Marina Rodriguez
  • Meio-médio: Abdul Razak Alhassan x Mounir Lazzez
  • Mosca: Molly McCann x Taila Santos
  • Mosca: Tim Elliott x Ryan Benoit

Card Preliminar (20h, de Brasília)

  • Pena: Jared Gordon x Chris Fishgold
  • Meio-pesado: Modestas Bukauskas x Vinicius Moreira
  • Pena: Ricardo Ramos x Lerone Murphy
  • Médio: John Phillips x Dusko Todorovic
  • Mosca: Diana Belbita x Liana Jojua

UFC FIGHT NIGHT - 18/07

Card Principal (22h, de Brasília)

  • Mosca: Deiveson Figueiredo x Joseph Benavidez*
  • Médio: Jack Hermansson x Kelvin Gastelum
  • Leve: Marc Diakiese x Rafael Fiziev
  • Mosca: Ariane Lipski x Luana Carolina
  • Mosca: Alexandre Pantoja x Askar Askarov

Card Preliminar (19h, de Brasília)

  • Meio-pesado: Roman Dolidze x Khadis Ibragimov
  • Peso-casado: Grand Dawson x Nad Narimani
  • Leve: Joe Duffy x Joel Alvarez
  • Galo: Brett Johns x Montel Jackson
  • Mosca: Tagir Ulanbekov x Oleksandr Doskalchuk
  • Leve: Davi Ramos x Arman Tsarukyan
  • Pesado: Carlos Felipe x Serghei Spivac

UFC FIGHT NIGHT - 25/07

Card Principal (0h, de Brasília)

  • Médio: Robert Whittaker x Darren Till
  • Meio-pesado: Mauricio Shogun x Rogério Minotouro
  • Meio-médio: Alex Cowboy x Peter Sobotta
  • Pesado: Fabrício Werdum x Alexander Gustafsson

Card Preliminar (21h, de Brasília)

  • Meio-médio: Danny Roberts x Nicolas Dalby
  • Pesado: Tom Aspinall x Jake Collier
  • Pesado: Justin Tafa x Raphael Pessoa
  • Pena: Movsar Evloev x Mike Grundy
  • Galo: Bethe Correia x Pannie Kianzad
  • Galo: Nathaniel Wood x Umar Nurmagomedov
  • Meio-médio: Ramazan Emeev x Shavkat Rakhmonov

*luta valendo cinturão
**Frankie Edgar ainda aguarda para saber quem será o substituto de Pedro Munhoz

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Covid atinge "esquadrão brasileiro" e afeta luta pelo título

No duelo de forças entre o Covid-19 e o UFC, a doença levou a melhor quatro vezes. É esse o número de atletas cortados dos eventos da "Ilha da Luta" por causa do vírus: Gilbert Durinho, Pedro Munhoz, Vinicius Moreira e Anderson Berinja. O surto da pandemia atrapalhou até os planos da luta pelo título na divisão dos meio-médios.

Gilbert "Durinho" enfrentaria Kamaru Usman pelo cinturão, mas o teste feito nele ainda em Las Vegas deu resultado positivo. Durinho nem sequer viajou para Abu Dhabi, e o UFC precisou improvisar Jorge Masvidal como novo desafiante ao título.

Para o brasileiro, o percalço tem um culpado claro: o estado da Flórida, onde mora. A reabertura total da região fez com que os casos de Covid-19 superassem 224 mil — há pouco mais de 20 dias, eram cerca de 80 mil infectados.

"As pessoas não estão usando máscaras, estão andando para todo o lugar. Não estamos seguros em nenhum lugar. É preciso ficar em casa", lamentou Durinho à "ESPN" dos EUA.

Além dos lutadores, outros quatro brasileiros membros das equipes de atletas que participarão de algum dos cards também foram diagnosticados com a doença.

Mike Roach/Zuffa LLC/Zuffa LLC)

Pedro Munhoz

O paulista foi diagnosticado no dia 6 de julho. Ele enfrentaria Frankie Edgar no card do dia 15. "Estou me sentindo bem, vou me recuperar. Eu e o Frankie Edgar lutaremos em breve".

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Reprodução/YouTube @UFC BRASIL

Vinicius Moreira

O brasiliense estava confinado em São Paulo quando recebeu o diagnóstico de Covid-19. Ele iria enfrentar Modestas Bukauskas no mesmo card de Pedro Munhoz, no dia 15 de julho.

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Anderson Berinja

O paulista enfrentaria Jack Shore, também no dia 15. Ele participou de manifestações pedindo a reabertura das academias em São Paulo e foi diagnosticado com a doença em 3 de julho.

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Mais uma luta por cinturão corre risco

Deiveson Figueiredo vive um drama para saber se terá a chance de lutar pelo cinturão dos moscas. O brasileiro se preparava para viajar para Abu Dhabi quando foi informado que seu teste para Covid-19 havia dado positivo.

O caso de Deiveson, porém, é diferente dos outros brasileiros retirados por causa da doença. Ele já contraiu Covid-19 em maio. Por isso, sua equipe tem esperanças de que o novo teste que será realizado na manhã de hoje (11) dê negativo. Se isso acontecer, ele viajará para os Emirados Árabes no domingo (12).

O OMS (Organização Mundial de Saúde) já analisou alguns casos como o de Deiveson, quando uma pessoa já diagnosticada com o vírus apresenta resultado positivo em um teste feito tempos depois. Na análise feita com pacientes na Coreia do Sul, o órgão indicou que se tratavam de células mortas do pulmão com o material genético já inativo do vírus, o que causava o "falso positivo".

Caso seja mantido no card, Deiveson espera ter a alta temperatura do país árabe como sua aliada no duelo contra Joseph Benavidez. Ele veio de Souré, na quente Ilha de Marajó, no Pará, e está preparado para os mais de 40º C que o esperam.

"Tem dia que minha cidade bate 45º C brincando. Vai ser o clima perfeito para mim. Vou usar como sauna, desidratar e subir na balança".

O UFC tem uma carta na manga caso Deiveson não possa viajar. A organização escalou Alexandre Pantoja como reserva da disputa de cinturão. Inicialmente, ele enfrentará Askar Askarov, mas se for necessário, mudará de rival e tentará o título dos moscas.

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Eu vim da selva, sou um animal feroz. Vou entrar lá para me divertir

Deiveson Figueiredo

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Aldo será azarão dessa vez

José Aldo dominou por muito tempo a categoria dos penas. Sua invencibilidade de oito anos e as sete defesas consecutivas de cinturão colocavam o brasileiro entre os melhores pesos por pesos do MMA. Mas a realidade agora é diferente. Aldo desceu para os galos e o favoritismo ficou para trás.

Ele vai enfrentar a promessa russa Petr Yan, que vem de cinco vitórias consecutivas no UFC e aparece como favorito para conquistar o cinturão vago.

"Pela situação nesse momento, não é surpresa ser apontado como azarão. Ele é um cara novo, está subindo na categoria. Mesmo com a minha história, meu domínio foi no peso de cima. As pessoas se questionam sobre o meu corte de peso, como eu vou me portar, é compreensível. Mas tudo isso vai mudar a partir de sábado", disse, em coletiva virtual.

Aldo foi escalado para disputar o cinturão mesmo tendo perdido a única luta que fez nos galos, contra Marlon Moraes. Inicialmente, o manauara enfrentaria Henry Cejudo, mas o então campeão se aposentou, deixando o título vago.

Acho que estão me subestimando, sim. Principalmente por causa da minha última luta. Mas vão mudar o pensamento depois de sábado

José Aldo

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Rogério Minotouro se despede com trilogia

O último evento na "Ilha da Luta", em 25 de julho, marcará a despedida de Rogério Minotouro do esporte. Era para ser no meio da torcida no coração de São Paulo. Mas a pandemia levou para um lugar bem distante e sem a presença do público.

Um dos principais nomes da geração brasileira pioneira do MMA, Minotouro se despedirá aos 44 anos e com uma terceira luta contra Maurício Shogun. Ele perdeu as duas anteriores — uma no Pride e outra no UFC —, mas quer provar que consegue vencer o curitibano antes de pendurar as luvas.

"Eu tenho muita admiração pelo Shogun, é um grande atleta, um campeão. Essa luta vai ser como um tira-teima para mim. A segunda foi muito parelha e eu acho que ganhei. Vai ser uma oportunidade para mostrar que tenho condições de ganhar dele".

Josh Hedges/Zuffa LLC via Getty Images Josh Hedges/Zuffa LLC via Getty Images

Anderson quase foi demitido do UFC em evento na "Ilha da Luta"

A "Ilha da Luta" é uma novidade do UFC, mas não é a primeira vez que a organização leva eventos para a Ilha de Yas. No mais memorável deles, Anderson Silva venceu Demian Maia e chegou a correr risco de ser demitido por Dana White.

Como acontecia em quase todas as lutas do "Spider", a torcida estava claramente a seu favor naquele combate de 2010. Pelo menos até o fim do segundo round. Foi nesse momento em que Anderson deixou a luta de lado para focar nas provocações a Demian. A torcida não gostou e trocou os gritos de "Silva" por "Maia", além de sonoras vaias ao fim de cada round.

Na parte final da luta, Demian não escondia a frustração e fazia repetidos gestos pedindo para que Anderson lutasse. Mas o então campeão seguia circulando pelo octógono e desferindo cada vez menos socos. Faltando um minuto para o fim do combate, o "Spider" foi advertido pelo árbitro Dan Miragliotta, que ameaçou tirar um ponto dele caso a postura se mantivesse.

A situação ficou mais crítica quando Dana White se recusou a subir ao octógono para entregar o cinturão dos médios a Anderson após a luta. Dias depois, o chefão da organização afirmou que demitiria o brasileiro em caso de reincidência.

"Se ele agir assim de novo, eu o demitirei. Eu não me importo se ele é o melhor peso por peso do mundo, eu não me importo se ele é o campeão dos médios, eu o demitirei", disse à "ESPN".

No fim das contas, Anderson não foi demitido. A Ilha de Yas ainda receberia outro evento em 2019 antes de se tornar palco da mais peculiar experiência do UFC: a Ilha da Luta.

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