Ao entrar no ônibus e passar pelo cobrador, as meninas agradecem pelo mesmo motivo: é mais um dia em que conseguem pagar passagens para ir ao treino. A viagem dura mais de uma hora para cada uma delas, mas todas gostam daquilo. Odeiam quando falta dinheiro, porque há duas opções: faltar ao treino ou entrar pela porta de trás - ou "maiar", como manda o dialeto alagoano.
Quando descem do ônibus, andam um bocadinho até chegar à casa em que moram o técnico Leno Santos e sua esposa, Laís. Ele deixou muitas coisas para trás para estar onde está: morando de aluguel em uma casa ao lado de um campo de terra.
Em três anos, investiu mais de 50 mil reais para dar condições de treino às meninas do Liverpool de Maceió, o time feminino que ele mesmo fundou. No ano passado, vendeu a própria casa para custear inscrições e material esportivo que as meninas usam. Depois, vendeu o carro pelo mesmo motivo. Vive assim, de aluguel, e é otimista: a cada ano, repete que as coisas vão melhorar. "Você vai ver", garante Leno.
Nas estantes, os troféus. Na sala apertada, as meninas calçam as chuteiras ou tênis, e Leno conversa com a equipe de reportagem. Apresenta o outro técnico do time, Jorge de Andrade, sócio do Flamengo e da Conflaria, uma filial da torcida capitaneada por Peu, ex-atacante campeão mundial em 1981.
As meninas ficam prontas. É um dia de sol, todo mundo caminhando junto pela rua. Ignora-se o calor. As seis bolas verdes, que custaram R$900,00 e ainda não foram pagas, dançam pelos pés. É dia de treino de futebol na terra da Rainha Marta.