#NuncaCriticado

Danilo Avelar conta como suportou perseguição nas redes sociais para renascer no Corinthians

Arthur Sandes e Samir Carvalho Do UOL, em São Paulo Reprodução/TV UOL

Questionado se achou exageradas as críticas que recebeu dos corintianos no ano passado, Danilo Avelar se remexe na cadeira, pensa por três segundos e deixa a sinceridade escapar em um tom de voz abaixo do usual. "Achei...", admite. Então retoma sua desenvoltura na entrevista, com honestidade quanto ao que pensava na época. "Não era possível: se eu era tão ruim, então por que eu continuava jogando?"

A trajetória de Avelar com a camisa do Corinthians se divide em dois momentos muito distintos, a grosso modo separados entre 2018 e 2019. Se antes o lateral tinha que se segurar para não discutir na internet, agora mostra ter muito mais confiança, virou um dos homens da confiança de Fábio Carille e mostra disposição para encarar o que vier. Quem antes o xingava no Twitter agora se desculpa e o chama de "lenda".

Na relação conturbada com os torcedores, Danilo Avelar diz ter se controlado individualmente, mas viu sua família sofrer muito com as críticas sobre suas atuações. Ele admite que deixou a desejar em algumas partidas, mas entende que as cobranças não tiveram nenhum embasamento tático. Uma perseguição sem muita razão de ser, do seu ponto de vista.

No papo exclusivo com o UOL Esporte, o lateral corintiano também falou da perda de memória após um choque de cabeça em jogo recente do Corinthians; contou do preconceito que sofreu na Ucrânia; e revelou dez minutos de enorme sufoco contra o francês Kylian Mbappé.

Reprodução/TV UOL

"É muito fácil criar perfil fake e falar abobrinha; não posso dar ouvidos"

Reprodução/TV UOL

Agora é "Avelenda"?

Danilo Avelar é o jogador de linha com mais tempo de jogo no Corinthians em 2019, além de vice-artilheiro do time com quatro gols. O ressurgimento neste ano fez disparar o número de torcedores arrependidos de tê-lo xingado no passado. Não à toa alguns chegaram a criar no Facebook uma "reunião para pedir desculpas ao Avelar", enquanto outros passaram a se referir ao lateral como "Avelenda".

A empolgação não comove o jogador. "Tem gente que me xingava e depois de três meses estava elogiando. Pô, decide", brinca, admitindo que às vezes é difícil ignorar alguns comentários. "Uma coisa ou outra afeta, sim, e eu penso 'se você está falando isso, então vai lá e faz, se acha que é tão fácil'. Dá vontade de falar algumas coisas, mas vou ficar dando moral? Às vezes o cara fala mal para chamar a atenção, aí eu respondo, e o cara fica feliz", afirma.

Uma destas respostas teve enorme repercussão há pouco mais de dois meses, quando o lateral esquerdo marcou o gol da vitória corintiana no dérbi contra o Palmeiras, na fase de grupos do Campeonato Paulista. "Se o Avelar fizer um gol hoje, eu fico um ano sem beijar", havia escrito um torcedor, ao que o corintiano respondeu com uma única palavra. "Moiô" (sic).

Reprodução/TV UOL

"Se o Arana voltar, vamos disputar espaço, brigar"

Atualmente Danilo Avelar é o "plano A" do Corinthians para a lateral esquerda, mas nem sempre foi assim. No início do ano o clube negociou longamente o retorno de Guilherme Arana, mas não conseguiu convencer o Sevilla (ESP) a liberá-lo nos termos que gostaria. A volta do jogador esfriou demais e parece até descartada, mas Avelar não fugiria da briga por posição caso o Alvinegro apostasse em ambos.

"Ele é um jogador talentosíssimo e fez por merecer para ter ido embora [para a Europa]. Se voltasse - ou voltar -, cabe a mim disputar espaço, brigar. Ou até alternar para outra posição, mas me abalar, não. Caso efetuem a minha compra e ele volte, legal: o clube está apostando em dois laterais. E aí, o que vai fazer? Vamos colocar o Avelar de zagueiro? Tentar o Arana mais para frente? Existem alternativas", entende o lateral esquerdo.

O Corinthians já negocia com o Torino (ITA) a compra de Danilo Avelar, que está emprestado até a metade deste ano. A primeira proposta alvinegra foi recusada, mas as conversas ainda estão no início, e o Alvinegro pretende fazer um esforço para ficar com o jogador em definitivo.

Perda de memória e noite no hospital após choque de cabeça

Recentemente Danilo Avelar precisou passar uma noite no hospital após bater a cabeça no jogo entre Corinthians e Ceará, pela Copa do Brasil. Ele subiu para disputar uma bola no alto, foi atingido e caiu meio atordoado. Por isso ficou em observação e teve que passar por uma ressonância magnética antes de receber alta

Christof Koepsel/Bongarts/Getty Images

Preconceito na Ucrânia e título com Neuer

Um bom Campeonato Paulista com o Rio Claro, em 2010, fez o lateral chamar a atenção do Karpaty FC, da Ucrânia. Foi emprestado e em seis meses virou peça fundamental da equipe, sendo logo comprado em definitivo. Internamente, porém, a frequência no time titular causava mais temor do que admiração nos companheiros.

"Então eles não me viam como um cara que estava lá para ajudar, viam um brasileiro que poderia roubar o lugar de um amigo deles, um ucraniano. Por isso me deixavam um pouco de lado, não tocavam a bola", conta Avelar, que no ápice do problema foi deixado de fora de uma conversa entre os atletas.

"Os jogadores fizeram uma reunião entre eles e deixaram a gente de fora; eu estava com dois espanhóis. Vimos que não tinha ninguém no vestiário e achamos estranho. Quando entrei na sala, vi todos eles reunidos. Todo mundo ficou parado; perguntei o que estava acontecendo, e ninguém respondeu. Aí percebemos que estávamos sendo excluídos. Rolou algumas discussões, e a gente saiu", recorda.

Sem clima, Danilo Avelar foi emprestado ao Schalke 04 (ALE), no qual conquistou o único título da carreira: a Copa da Alemanha de 2010/11 ao lado de Manuel Neuer (foto acima), Raúl e Julian Draxler. Ele ainda voltaria à Ucrânia antes de passar pelo futebol italiano, pela França e então chegar ao Corinthians no meio do ano passado.

Matteo Bottanelli/NurPhoto via Getty Images

Um ano e meio parado na Itália

Avelar trocou a Ucrânia pela Itália, onde encontrou um futebol muito diferente taticamente. Após dois anos e meio de destaque no Cagliari (ITA), ele deu um passo à frente ao assinar com o Torino e chegou animado ao novo clube, mas o destino o golpeou. Justamente na boa fase, sendo até cotado na seleção italiana, o lateral sofreu lesão no joelho e viu a carreira sair dos trilhos.

"Tive quatro lesões nos joelhos, duas de ligamento cruzado e duas de menisco no mesmo joelho. No cenário do futebol, isso é pesado, muito pesado", diz Danilo Avelar. "Eu cheguei no Torino, fiz três jogos sensacionais, com assistências, melhor em campo? Aí vem a lesão. Uma série de lesões, e eu fiquei um ano e meio, quase dois anos sem jogar."

O lateral diz ter rodado a Itália inteira atrás de um especialista, tentou diversos fisioterapeutas, mas não conseguiu retomar a condição física que tinha. Por isso, preferiu ser cedido por empréstimo ao Amiens (FRA).

"Rolou muita coisa, e eu não consegui enxergar a luz no fim do túnel, fiquei desanimado. O clube já não me enxergava legal, no país estava sendo visto como um jogador que só se machucava... Então optei por sair do país e fui para a França para me reerguer de novo", relembra Avelar.

Di María deu para marcar, mas Mbappé...

Leia Mais

Lucas Lima/UOL

Zé Elias

Ex-volante, ídolo do Corinthians, conta como aguentou pancadas no futebol e na vida

Ler mais
Lucas Lima/UOL

Neymar pai

Responsável pela carreira do maior craque do país mostra lado coruja: "Vou mimar meu filho"

Ler mais
Lucas Lima/UOL

José Trajano

O homem que criou a ESPN Brasil ficou mais no bar que na escola e não completou o Ensino Médio

Ler mais
Alexandre Rezende/UOL

Givanildo Oliveira

Rei do Acesso, técnico tem mais de 40 títulos na carreira, mas nunca teve o valor que merece

Ler mais
Topo