A única chance de vencer

Pai da tenista Teliana Pereira deixou sertão por trabalho no sul e deu à filha a oportunidade de brilhar

Beatriz Cesarini e Rubens Lisboa Do UOL, em São Paulo Cristiano Andujar

A decisão de José Pereira de deixar para trás a vida de cortador de cana-de-açúcar no povoado de Barra da Tapera, em Águas Belas, no sertão pernambucano, mudou a vida de toda a família, principalmente da filha Teliana Pereira, que mais tarde se tornaria uma das maiores tenistas do Brasil. Foram quase 3 mil quilômetros até Curitiba, capital do Paraná. Como um desbravador, o pai foi sozinho em busca de emprego e melhores oportunidades e só conseguiu levar a família inteira dois anos depois.

José, que já tinha dois irmãos morando na capital paranaense, trabalhou na construção civil e fez pequenos bicos. Enquanto, no sertão pernambucano, a mulher, Maria Nice lidava com a ausência do marido e com o luto pela morte de uma das filhas, de apenas sete meses, por desidratação. Quando conseguiu se fixar como "faz-tudo" em uma academia de tênis, José buscou toda a família para viver com ele.

Na longa viagem de ônibus, a pequena Teliana começava a ver um mundo diferente, embora ainda não conseguisse entender exatamente o que estava acontecendo. "Todo mundo no ônibus, eu era muito nova, não tinha muita consciência de tudo que estava acontecendo. Eu tenho um pouquinho dessa lembrança. Eu lembro da gente chegando na ruazinha da casa que a gente morava em Curitiba. Nossa primeira casa, asfaltada, né, sendo que lá onde eu morava era tudo de chão. Já tem algo diferente aqui, né?", relembra, em entrevista ao UOL.

A pequena Teliana ainda não sabia, mas iria descobrir muito mais coisas diferentes. O mundo se abriria para ela. Ela iria conhecer outras cidades, Estados e países, com uma raquete de tênis nas mãos, e alcançaria um posto entre as 50 melhores tenistas do mundo. Teliana anunciou a aposentadoria das quadras em setembro deste ano, aos 32 anos, mas o amor pelo tênis continua vivo dentro dela, igual na infância.

Cristiano Andujar
Cristiano Andujar/Divulgação

Do Sertão de Pernambuco a Curitiba

Quem ouve Teliana Pereira falar nota um forte sotaque curitibano de quem adotou a cidade e não faz nenhuma questão de viver em outro lugar. A paixão pela capital paranaense, onde ela descobriu a raquete de tênis, a bolinha amarela e o saibro, supera a descoberta do frio -no inverno, a temperatura em Curitiba chega na casa dos 10°C —, tão diferente do clima escaldante do sertão pernambucano.

A cidade é bem diferente, mas a gente foi super bem acolhido. Como a gente não tinha roupa de frio, as pessoas que jogavam na academia, que frequentavam, davam para gente

Teliana Pereira

Tem uma coisa que eu sempre falo: Curitiba nos acolheu. Então, hoje, não consigo me ver morando outro lugar, porque eu sou simplesmente apaixonada por aqui. Essa cidade é incrível

Teliana Pereira

Arquivo pessoal

Teliana Pereira com o irmão e técnico Renato Pereira, seu primeiro treinador Didier Rayon e Alexandre Zornig em encontro durante participação em Roland Garros

Um imigrante francês na vida da família Pereira

Uma das pessoas mais especiais na vida de Teliana e da família Pereira em Curitiba foi o francês Didier Rayon. Ele comprou a academia onde José trabalhava. Não demitiu o patriarca e ainda se aproximou da família.

"Meu pai ficou na academia durante muito tempo. Sinceramente eu nem sei, perdi as contas, mas deve ter ficado no mínimo uns 15 anos. A minha irmã trabalhou ainda mais que o meu pai na academia com o Didier".

Além do pai, a mãe e os irmãos passaram a trabalhar na academia. Teliana recolhia as bolinhas para os frequentadores. Naquele momento era uma forma de ajudar no orçamento doméstico, mas teria um impacto ainda maior na vida de todos depois de alguns anos.

Quando algum aluno faltava, Didier levava os filhos do seu José para a quadra e ensinava a eles os fundamentos do esporte. "[Quando eu tinha] uns oito, nove anos, o Didier começou a me dar raquete. Quando faltava alguém que pagava o treino, ele me colocava [na quadra]. Na verdade, meu amor pelo tênis começou porque o [irmão] Renato já jogava e eu adorava ver o Renato jogando. Nossa, eu parava tudo para assistir".

Arquivo pessoal

Família de Teliana na academia de Didier. (Acima: José Pereira Junior (irmão), José Pereira (pai), Maria Nice (mãe), Teliana, Renato (irmão), Leila (irmã). Abaixo: Juliana (irmã), Valdelice (irmã), Renan (irmão) e Diego (sobrinho)

Falta de dinheiro para viajar e fome após ser campeã

Família Pereira no tênis

A academia de Didier Rayon virou uma segunda casa para família de Teliana Pereira. Se em Pernambuco, o trabalho dos pais e dos irmãos mais velhos era na roça, em Curitiba o ambiente era o do tênis. Ela e os seis irmãos ajudavam na manutenção da quadra - passavam o vassourão para alinhar o piso, limpavam as linhas e molhavam o piso —, e pegavam as bolinhas, enquanto esperavam a oportunidade para aprender o esporte.

Renato foi o primeiro dos irmãos Pereira a se tornar pupilo de Didier. Depois os outros foram entrando na quadra, transformando o tênis em um esporte familiar. O único da família a trocar a bolinha e a raquete pelas chuteiras foi Diego Monteiro, sobrinho de Teliana, que é um dos goleiros do Coritiba.

Aos nove anos, ainda sem entender muito bem como funcionava a pontuação no tênis, Teliana participou do seu primeiro torneio. E ganhou. Foi o primeiro título da longa parceria com o francês, que seria seu técnico e a levaria a entender o mundo do esporte.

Arquivo Pessoal

Nem sabia contar, nem sabia o que estava acontecendo. Só sabia que tinha que ganhar os pontos. E fiquei com o Didier até meus, se não me engano, 21 anos. Bastante tempo."

Teliana Pereira

Neve pela primeira vez

Teliana percebeu que a brincadeira com o tênis poderia mudar sua vida quando passou a receber mais atenção do técnico Didier Rayon. Além de iniciá-la no esporte, a levou para participar de competições em diferentes lugares do mundo e a ensinou o idioma francês. Aos 12 anos, ela estava em Paris, onde conheceu a neve. Foi também na capital francesa que Teliana deixou de ver o tênis apenas como "brincadeira de criança" e passou a entendê-lo como profissão.

"Foi tudo muito na inocência. Na verdade, eu comecei a perceber assim quando o Didier começou a me dar um pouquinho mais de atenção, às vezes, eu treinava sozinha com ele. Quando ele me levou pela primeira vez para França, eu tinha 12 anos. Ali eu já entendi que não era só uma brincadeira, que realmente poderia ser algo muito mais sério", conta Teliana.E quem iria imaginar que a menina do sertão conheceria a neve? Aconteceu na capital francesa...

Eu estava no quarto com o Didier. Eu estava dormindo e ele me acordou. Ele falou 'vem aqui', ele estava na janela, né? Daí eu acordei e fui. Quando eu cheguei [vi] assim tudo branco. Eu acho que essa é uma das melhores memórias que eu tenho assim de infância

Teliana Pereira

Chave para mudar a vida da família

A relação com o francês, segundo define a própria Teliana, sempre foi de pai e filha. "Eu convivi muito mais com ele do que com o meu próprio pai. Então ele falava, eu estava fazendo, foi um negócio assim", diz a ex-tenista.

Ela diz que na adolescência, entre 14 e 15 anos, com vitórias em diversos torneios, já tinha consciência de que o tênis poderia mudar sua vida. Mas, ainda assim, nunca teve a pressão de em relação aos resultados em quadra.

"Eu já tinha um destaque muito grande, mas eu achava que era apenas a consequência do que eu estava fazendo na quadra. Não tinha um peso assim, sabe? Eu não tinha, de verdade. Eu acho que eu era muito inocente. Só depois que comecei a perceber que eu poderia mudar não só a minha vida, mas poderia mudar a vida da minha família toda. Daí eu comecei a levar muito mais sério", completa.

E foi essa leveza em relação às responsabilidades e a consciência de sua origem que a fizeram superar momentos difíceis, como viajar sozinha, precisar da ajuda dos frequentadores da academia de Didier e até não ter dinheiro até para comer em um torneio internacional.

E eu acho que eu só cheguei onde cheguei porque eu sempre consegui usar essas situações [adversas]. Eu me fortalecia, sabe? Se tem uma coisa que eu nunca fiz na vida, e principalmente na minha carreira, foi me fazer de vítima.

Teliana Pereira

Arquivo pessoal

"Realização de um sonho"

O tênis sempre foi tido como um esporte elitizado e, para Teliana, a primeira adversária na sua carreira foi justamente a pobreza. Por essa razão, comprar uma casa para a mãe era um dos seus grandes sonhos.

"Foi em 2014. Nunca vou esquecer desse dia. Eu tinha meus objetivos tão claros na minha cabeça. Eu não desistia quando estava em quadra porque o meu sonho sempre foi ajudar a minha mãe. A gente sempre morou de aluguel e eu sabia que o sonho dela era ter uma casa. Então em muitos momentos, principalmente, nos difíceis, eu pensava nisso", relembra Teliana.

A primeira coisa que eu fiz quando ganhei dinheiro com o tênis foi comprar a casa dela. Nada supera o sentimento que eu tive quando nesse momento. A gente tem até uma foto na frente da casa. Lembro da gente entrando, minha mãe chorando, eu chorando. Foi a minha maior conquista. O tênis me proporcionou momentos incríveis

Teliana Pereira

Vanderlei Almeida / AFP Photo

Após lesão no joelho, esperança perdida

O início promissor de carreira como profissional de Teliana foi marcado com a disputa dos Jogos Pan-Americanos Rio-2007, quando ela conquistou a medalha de bronze nas duplas femininas ao lado de Joana Cortez. Mas a sua sequência foi turbulenta, com uma lesão no ombro, outra mais grave no menisco do joelho e incertezas.

"Machuquei o meu joelho e, na hora, eu achei que não era nada demais. Eu fiquei sabendo que tinha sido muito mais grave do que eu tinha imaginado, mas que existia a possibilidade de não operar, até porque eu era muito nova, e era uma cirurgia muito simples, né?"

Mas o tratamento menos invasivo não estava funcionando, e as dores continuavam. Teliana decidiu operar o joelho em fevereiro de 2009, imaginando um retorno breve, o que também não aconteceu. Enquanto perdia dinheiro e pontos no ranking, procurava diferentes médicos — um especialista chegou a sugerir que as dores que sentia eram mentais—, sem saber se conseguiria voltar a jogar ou se teria que ser submetida a uma nova cirurgia. A única certeza que tinha era que não pretendia abandonar as quadras. Foram mais de sete meses até decidir por uma nova cirurgia.

"Todos esses meses eu não sabia se conseguiria voltar a jogar porque parecia ser algo tão simples, mas ao mesmo tempo ninguém resolvia. Foi muito difícil. Eu não cheguei a pensar em parar, isso não passou pela minha cabeça, mas tinha dias que eu não tinha vontade nenhuma de levantar, eu não tinha vontade de fazer fisioterapia. Eu perdi as esperanças em vários dias e aí foi que entrou minha família. Minha mãe, nossa, minha mãe foi muito forte, então ela me dava muita força".

Cristiano Andujar/Divulgação

Bronca com CBT

Sem pontos no ranking e sem dinheiro para viajar, Teliana contou com o apoio do então namorado Alexandre Zornig, ex-tenista, que reuniu um grupo de pessoas para auxiliar no pagamento de despesas com fisioterapia e viagens para competir.

Foi com essa ajuda mensal que superou a fase nebulosa pela qual passou após atrito com a Confederação Brasileira de Tênis. A entidade a havia incluído no Projeto Olímpico Rio-2016, realizado em parceria com o Ministério do Esporte. Com Gustavo Kuerten como um consultor e Larri Passos como coordenador, o projeto previa que parte dos atletas treinasse na academia do técnico, em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Teliana aceitou, com a condição que continuasse a preparação para a Olimpíada em Curitiba, com o irmão Renato.

Não houve acordo e ela foi excluída do grupo. Como consequência, perdeu o apoio financeiro e ficou fora de uma Fed Cup, Copa do Mundo do tênis feminino, realizada justamente em Curitiba no início de 2012. "Eu já tinha tomado muita porrada, então não me não me surpreendeu, sabe? É uma coisa que eu tenho muito claro e todas as vezes que puderam me tirar, me tiraram".

Ao perder o apoio da CBT, Teliana deixou de disputar torneios no Brasil e voltou a subir no ranking. Demorou apenas alguns meses para que ela fosse procurada pela entidade com a proposta de patrocínio via Correios.

A parte que eu fiquei mais chateada, que foi que quando também me tiraram desse projeto, falaram que eu não tinha comprometimento com o tênis. Essa foi a única vez que eu fiquei realmente sentida porque tem uma coisa que eu tinha e tenho até hoje é comprometimento com o tênis.

Teliana Pereira

Cristiano Andujar/Divulgação Cristiano Andujar/Divulgação

Quebras de tabus

O Brasil esteve distante da elite do tênis feminino por décadas até a entrada de Teliana em cena. Ela foi a responsável por quebrar uma série de tabus: ao estrear no top 100 em julho de 2013, encerrou um hiato de 23 anos; ao jogar o Aberto da Austrália, em janeiro de 2014, pôs fim a 20 anos de jejum; quando venceu a primeira rodada de Roland Garros, em maio de 2014, derrubou outro tabu de 23 anos; e ao vencer o seu primeiro título WTA em Bogotá, em 2015, encerrou um período de 27 anos sem conquistas de uma brasileira.

Teliana se consolidou como uma das melhores tenistas do país ao conquistar dois títulos de WTA, chegar ao posto de 43º do ranking - o melhor após Maria Esther Bueno e Niege Dias - e representar o Brasil na Olimpíada do Rio de Janeiro. O segredo para quebrar tantos tabus? Se fechar em uma redoma virtual para não perder o foco.

"O tênis feminino estava muito carente e era engraçado, porque tudo o que eu fazia tinha um impacto muito grande. Eu vou ser muito sincera, eu não entrava na internet. Tentava ao máximo não ter essas informações, porque eu achava que poderia me prejudicar", destacou.

"Eu me blindei de uma maneira que, sinceramente, eu tenho certeza que me ajudou muito. Quando você começa a ter acesso a esses números, é inconsciente, mas se pressiona. Imagina: eu estava em uma semifinal, se eu entrasse na internet para ver tudo que falavam, eu não ia ganhar nem ferrando. Então eu não vivia nesse mundo de euforia, sabe? Sempre mantive meus pés no chão. Acho até que em algum momento talvez tenha faltado ter um pouquinho mais de noção de tudo que eu estava fazendo, mas foi do jeito que tinha que ser", acrescentou Teliana.

Leonardo Muñoz / EFE Leonardo Muñoz / EFE

Memórias do Sertão em jogo contra Serena em Roland Garros

Passou um filme na minha cabeça. Eu lembrei de onde eu saí e imaginei a realidade que eu teria se meu pai não tivesse a coragem de sair do sertão.

Teliana Pereira

Na idade que eu estava, já teria, sei lá, cinco, seis filhos, e estaria lá trabalhando na roça. Mas não. Eu estava em Paris, jogando contra a Serena Williams

Teliana Pereira

"Se eu fosse homem, teria tido mais reconhecimento"

Quando entrava em quadra, o principal objetivo de Teliana não era ganhar logo de cara, mas sim evoluir a cada dia e ser um bom exemplo para os futuros atletas. Mesmo com receio do peso da palavra referência, a ex-tenista precisou admitir a ela mesma que tinha se tornando um símbolo para muita gente, principalmente para as meninas que queriam construir uma carreira no tênis.

"Teve um momento que eu entendi que realmente eu era referência, mas eu nunca eu nunca gostei muito de carregar isso. Se parar para pensar, eu senti falta de uma referência? Teria sido melhor se tivesse uma. Então percebi que ajudei bastante ao conseguir quebrar esses tabus. As meninas que estavam juntos jogando: Bia Haddad, Gabriela, Paula... Elas passaram a acreditar que elas também podiam chegar", disse. Para Teliana, essa falta de referência é reflexo de um esporte que, no Brasil, dá peso diferente a homens e mulheres. Dentro das quadras ou fora delas, a ex-atleta sempre lutará para ver as mulheres tendo mais chances no tênis brasileiro.

"Sempre deixei muito claro nas entrevistas, quando só tinha eu ali no top 100: 'Estou muito feliz, mas é inadmissível a gente não ter mais meninas' Então quando eu ganhava um torneio, quando eu fazia algo muito grandioso, eu ficava feliz porque eu sabia que elas estavam lá e que elas estavam vendo aquilo ali. Então com certeza elas iam também passar a acreditar mais", destacou.

"A gente, como mulher, tem que estar sempre fazendo um pouquinho mais. O tênis feminino nunca foi visto de forma igual. Nunca. Sempre tivemos muito menos destaque. Se eu fosse homem, de verdade, acredito que teria tido muito mais reconhecimento, porque o tênis masculino era e é visto com outros olhos".

Eu acredito que as coisas estão mudando. Hoje a gente já recebe para jogar. A CBT vai fazer um torneio que vai pagar premiação igual. O bom de tudo é que hoje existe a intenção de que, pelo menos seja igual. E, na verdade, não é nem só no tênis, né? As mulheres lutaram, elas estão conseguindo e estamos conquistando nosso lugar. Não é questão de competição. É igualdade.

Teliana Pereira

Arquivo Pessoal

Volta ao Sertão para recuperar energias

Com a carreira consolidada, Teliana resolveu voltar a sua terra no fim de 2015. A ex-tenista precisava respirar e encontrou em Barra de Tapera o melhor combustível para se recuperar após um ano complicado.

"Sempre tive o sonho de voltar para lá. Eu senti que eu estava precisando recarregar as minhas energias, tinha sido um ano muito difícil. Conquistei resultados incríveis, mas dei tudo de mim, me esforcei ao máximo. Essa energia que precisava estava lá, onde nasci. Estava perdendo o brilho pelas coisas", contou Teliana.

"As pessoas que vivem lá têm as condições mais difíceis, mas que povo alegre, sabe? São extremamente felizes, tudo é motivo de festa. Foi muito bom. Eu vi minha vózinha que, nossa senhora, vejo pouquíssimo. O povo de lá sofre, mas mostra que a vida é muito simples e que ela é boa, nós que temos o dom de dificultar e achar que tudo está ruim. Eu pude recuperar esse brilho no olhar e valorizar tudo que estava acontecendo na minha vida", concluiu.

Cristiano Andujar/Divulgação

Olimpíada do Rio: "Ali tudo fez sentido"

Em 2016, Teliana realizou o sonho de todo o atleta de alto rendimento: disputou a Olimpíada. Para a ex-tenista, aquilo foi praticamente o auge em sua carreira. Foi ali, no Rio de Janeiro, que ela realmente processou tudo o que já tinha conquistado com o esporte.

"A Olimpíada teve um peso muito grande. Estar entre os melhores atletas de todas as modalidades faz você se sentir especial. Tudo fez sentido. Todos aqueles anos de sofrimento, de correria e de obstáculos de superação? Ali tudo fez sentido. Eu não não joguei bem, estava com dificuldade no cotovelo, dores... Mesmo assim ficou gravado, porque a ficha caiu. Percebi que tudo que eu vinha fazendo era muito grandioso, então foi sensacional, foi inesquecível", exaltou.

Uma pessoa que ajudou muito Teliana naquele ano foi o ex-jogador de futebol Alex, que jogou no Palmeiras e no Coritiba. Ambos se identificavam com as histórias no mundo do esporte e trocavam muitas figurinhas. "Ele me ajudou muito com a parte mental, ficamos muito próximos porque ele já tinha passado muita coisa. Ele é uma pessoa incrível, gosto muito dele. Ele tem uma cabeça incrível, é muito centrado. Quando eu estava com alguma dificuldade, conversava com ele. E a gente se conectou cada vez mais, porque o meu sobrinho joga no Coritiba e a Maria, filha dele, joga tênis", contou.

A história da foto que emociona e resume relação com a mãe

A hora de dizer adeus

Em 28 de setembro de 2020, Teliana Pereira anunciou o fim de seus dias como tenista profissional. Aos 32 anos de idade, decidiu dar adeus às competições e aos treinamentos intensos. Agora está se adaptando à nova rotina, bem diferente. Apesar das dúvidas quanto ao futuro, tem certeza de que o tênis nunca sairá da vida dela.

"Eu já não tinha a mesma força, não acordava mais com a mesma disposição, eu já não me doava tanto como eu fazia antes, então tudo estava ficando muito mais difícil. Viajar estava impossível, sair de casa me batia uma tristeza muito grande porque eu queria ficar, aí eu percebi que tinha algo errado. E eu sempre tive muita consciência dos meus pontos fortes, sabia que um deles era a entrega e eu já não queria, já não conseguia mais me entregar igual então aí eu percebi que estava na hora de encerrar o ciclo", disse Teliana.

"Em nenhum momento pensei ou fiquei com dúvidas quanto à decisão. Eu tenho certeza absoluta e quando eu penso em tudo que eu passei é com muito carinho. Só vem sentimento bom e estou satisfeita para caramba", acrescentou.

Agora é o momento de inverter os papéis. Desde que se aposentou, Teliana não perde uma partida de tênis. Na televisão, é claro. Ela assiste a tudo do conforto de sua casa e está perfeito.

"Eu sempre tive uma rotina, um objetivo, sonhos... Hoje me deparo com uma situação diferente, eu não tenho rotina. Eu não sei ainda ao certo qual caminho eu vou seguir, isso é novo, então o novo assusta, né? Mas ter decidido para de jogar, nossa senhora, está uma maravilha, no sofazinho aqui feliz da vida assistindo a um tênis", completou.

O tênis é tudo. Ele foi tudo para mim. Hoje tenho 32 anos e o que foi a minha vida? Tênis. Acho que o tênis é a minha vida. Foi e vai continuar sendo porque eu tenho muito ainda o que fazer pelo esporte.

Teliana Pereira

Cristiano Andujar/Andujar Press Cristiano Andujar/Andujar Press

O futuro

O futuro é longe das quadras, mas apenas como jogadora. Teliana não quer abandonar aquilo que representa a sua vida. Ainda está amadurecendo as ideias, mas já sabe que pretende direcionar suas forças para o tênis feminino e para ajudar crianças do sertão nordestino.

"Acho que eu posso contribuir demais. Quero passar experiências, mostrar o caminho. Vivi tantas coisas e creio que posso colaborar com as meninas que sonham em se tornar atletas. Tenho outro sonho que é poder ajudar as crianças lá do sertão através do tênis, mas como? Talvez um projeto social. Eu tenho conversado com várias pessoas para tentar organizar as ideias, mas ainda é tudo muito muito novo", destacou.

Para muitos, o tênis é aquele esporte em que você segura uma raquete e manda a bolinha para o outro lado da quadra. Para Teliana, representa vida, é o sinônimo de mudanças e vitórias. Se um dia uma academia de tênis abriu as portas para toda sua família, hoje, ela e os irmãos têm sua própria academia, tocada por Renato, que se tornou técnico e parceiro de Teliana nos momentos mais vitoriosos da carreira.

"O tênis me transformou. É uma paixão. A nossa história não acabou. O ciclo, dentro de quadra, sim, mas ainda tem muita coisa para fazer. Se eu tivesse que definir, diria que é tudo. Tenho uma gratidão enorme. Esse esporte transformou a minha vida e a vida da minha família inteira", concluiu.

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