Bum-bum-bum

O que Luciano Amaral, o menino do Mundo da Lua e do Castelo Rá-Tim-Bum, está fazendo na bancada da ESPN?

Beatriz Cesarini e Thiago Tassi Do UOL, em São Paulo Divulgação

"O que o Pedro do Castelo Rá-Tim-Bum está fazendo na ESPN?". Essa é só uma das perguntas que muitos telespectadores fizeram (e fazem até hoje) quando Luciano Amaral apareceu no comando de um programa no canal esportivo. Os que estão ligados já respondem com uma frase que já virou meme: "É você ou o Luciano que está no Mundo da Lua?"

Fã de esporte desde a infância, ele chegou ao canal em 2018 e iniciou a jornada lá com o clássico "feijão com arroz": sem inventar moda. "A mecânica de apresentar não me deu nervosismo porque ia falar com a câmera, ler um TP quando necessário, trabalhar com uma grua, chamar um link... Mas o assunto em si me gerava um certo nervosismo, justamente porque é um público também muito apaixonado. Se você acaba citando um dado ali que não é o real ou se acaba se confundindo vira agulha no palheiro", explicou o apresentador paulista de 41 anos.

No começo eu evitava fazer gracinha, até por conta do clássico 'Pô, é o moleque do Castelo Rá-Tim-Bum que tá apresentando o programa de futebol?'. Eu tinha uma preocupação do tipo, vou fazer aqui, ó, vou fazer quadrado"

Em entrevista ao UOL Esporte, o apresentador repassou a linha do tempo de sua carreira: de Lucas Silva e Silva (Mundo da Lua), passando pelo Pedro (Castelo Rá-Tim-Bum) e pelos eSports até chegar nos dias de hoje, em que já encara a apresentação esportiva com menos nervosismo e mais naturalidade.

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Amor por esporte na TV é herança do pai

Uma das memórias mais marcantes da infância de Luciano tem muito a ver com sua realidade hoje. Era rotina: o paulista levantava de sua cama e sempre se deparava com seu pai em frente à televisão acompanhando uma partida de futebol ou programas esportivos.

"Meu pai era um torcedor do Flamengo/Santos porque ele morava no Rio, depois voltou para São Paulo e mudou pro Santos. E é apaixonado por futebol... Claro que jogava bola com ele, mas lembro de uma cena que é muito marcante na minha vida: acordar domingo de manhã em nosso apartamento de um dormitório no centro da cidade, chegar na cozinha e ver uma televisãozinha verde, daquelas bem antigas, na TV Cultura", contou Luciano.

"Eu acordava e assistia com ele o Campeonato Alemão... Também tinha o Desafio ao Galo, além de todo tipo de futebol. Não importa o time que estava jogando, a gente ficava ali e era um jeito de estar com ele também. Tinha aquela coisa junto e aprendendo um pouco, sabe? Então acho que a paixão por futebol veio bem dele assim", concluiu.

Assista ao papo com Luciano Amaral

Eu entrei na ESPN e fui fazendo o básico, até para um cartão de visitas: 'Ó pessoal, eu sou apaixonado por futebol como vocês, eu gosto de futebol, eu assisto aos campeonatos, vamos lá'

Luciano Amaral, sobre começar 'tocando pro lado' na ESPN

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Do sofá para o estúdio

O amor pela ESPN é antigo, e Luciano não fala isso porque é funcionário da emissora da Disney hoje em dia. A televisão da casa do atual apresentador titular da edição matinal do Sports Center sempre esteve sintonizada na emissora, considerada uma dos precursoras quando o assunto é mídia esportiva.

"O canal que tava sempre aqui. Só agora que não, é porque eu tô lá (rs). Mas sempre ficava assistindo o dia inteiro: 'Debate', aí depois ia para o programa 'Agora', e nos fins de semana tinham os jogos de futebol inglês... Sempre foi um canal que admirei bastante, ainda mais por ter essa pegada de ter os esportes americanos, que é algo que eu gosto bastante também. Então é muito louco pensar que eu estava no sofá, assistindo, e hoje eu posso apresentar", destacou Luciano.

Julia Chequer/Folhapress

Ex-diretor do Corinthians: momento constrangedor

O apresentador hoje está à vontade no comando de programas no canal da Disney. Mas houve dois momentos em que nem mesmo a experiência na TV e a formação como ator seguraram a tensão. O primeiro foi o incêndio no Ninho do Urubu. Luciano apresentava o "ESPN Bom Dia" e teve de entrar antes no ar para dar a notícia, ainda sem muitas informações.

O segundo episódio foi constrangedor: durante uma entrevista ao vivo na programação matinal, a pergunta foi para Luis Paulo Rosenberg, então diretor de marketing do Corinthians. O assunto eram os naming rights da Neo Química Arena, no ano passado. Na resposta, o diretor comparou o estádio a uma mulher com Aids. As palavras chocaram Luciano.

"Ele acabou caindo do Corinthians por conta disso. Só que, assim, aquilo foi tão impactante para mim que, na hora, quando o cara começou a falar aquilo... é um negócio tão absurdo o que ele estava falando que eu travei, sabe? É um negócio muito louco, e olha que já fiz muita TV, já fiquei muito em situações tensas. Eu lembro que ele estava falando e sabe quando você fica 'não, isso não, o que ele tá querendo dizer? É isso mesmo que eu tô ouvindo?'. E realmente foi algo bem impactante. Foi algo que me tirou do eixo do programa."

Reprodução

Luciano só apareceu na TV para ajudar família humilde

Quem vê Luciano Amaral na TV desde criança não imagina que o paulista precisou superar a timidez para aparecer na telinha. Tudo começou quando o então apresentador tinha seis anos e acompanhava a irmã, na época com 16, em testes de propagandas. Ele não tinha com quem ficar em casa. Até que o convidaram para uma avaliação.

"Rolou o papo daquele tipo 'não, mas ele é muito tímido e tal, é muito quieto'. Mesmo assim, acabei fazendo o teste e fui pegando o gosto. A primeira propaganda que eu fiz, inclusive, ficou bem marcada, que é do Vick Vaporub, o descongestionante nasal. E ficou tão famosa na época que depois foi sendo renovada. Ficou no ar durante anos", destacou.

"E aí uma coisa foi ligando na outra, comecei a fazer mais propagandas. E algo bem importante é que esse dinheiro que eu ganhava fazendo propaganda acabou virando uma renda muito importante para a casa. Nossa família não tinha muita grana, então foi bem importante para complementar o aluguel, para pagar as coisas de casa. Foi assim que começou mesmo a minha carreira".

Teste vai, teste vem até que chega a audição para um menino chamado Lucas Silva e Silva, que seria o protagonista do programa "Mundo da Lua", na TV Cultura. Luciano, que já não era mais tão tímido, se juntou a outras 300 crianças para tentar o papel. E conseguiu.

Não foi muito pensado, não foi planejado. Foi uma obra do acaso. Algo meio que dentro da necessidade de fazer dinheiro naquela situação, a princípio, mas também atrelado a um menino que acabou levando jeito para fazer essas propagandas, para fingir que estava ali fazendo um personagem, para se divertir de certa forma

Luciano Amaral

Reprodução Reprodução

Castelo vive até hoje

O Mundo da Lua foi o start para Luciano Amaral na televisão. Foi ali que ele se desinibiu, ficou conhecido no mercado e para o público e deu os primeiros passos na carreira. Mas foi o Castelo Rá-Tim-Bum, até pela dimensão que teve e tem até hoje, que o projetou de verdade.

"O tema de magia, que é notório, todo mundo gosta. E aí me dá uma outra exposição. Por mais que eu não fosse protagonista, acho que ele [o Castelo] foi o aval final. Assim ó: 'Cara, olha tudo que está colocado aí para você, é isso, não tem dúvida'", disse.

"E ali, no Castelo, realmente foi o que virou a chavinha: 'é isso que eu quero fazer para minha vida e que já comecei'. Já um pouco mais adolescente, com seus 13, 14 anos, ginásio para aquela coisa de já começar a pensar em colegial, escolha de profissão. Se eu não fizesse isso que eu faço, o que eu faria? Claro que seria algo ligado à comunicação, com certeza, por conta desse começo."

É por isso que o Castelo é até hoje presente em sua vida. Luciano não se importa nem um pouco quando o chamam de "o cara do Castelo". Não dá nem para ter saudade dessa época, aliás, já que ela não acabou. "Não dá para cortar minha resposta na metade, porque, assim, a minha primeira parte da resposta é: 'Não, eu não tenho nem um pouco saudade do Castelo Rá-Tim-Bum e do Mundo da Lua'. E aí vem a complementação: 'Porque eu vivo todos os dias isso'".

Reprodução

Pioneiro quando o assunto é eSports

Luciano Amaral foi um dos primeiros a dar holofotes aos jogos eletrônicos na televisão brasileira. De 2003 a 2006, o comunicador apresentou quatro programas de games. Não foi à toa que o jornalista Tiago Leifert, da TV Globo, o reconhece como o embaixador do eSports.

"É louco você ver que, por exemplo, de quando começou o G4 Brasil, lá em 2003 acho, a nossa preocupação era fazer um programa de videogame, algo sério, era quase um telejornal porque tinha uma pegada divertida, mas não podia ser brincando demais. Por quê? Porque videogame era visto só como coisa de criança. Esse era o mantra: é brinquedo. E, naquele momento, a gente tinha que praticamente catequizar as pessoas e mostrar o potencial do videogame, a questão financeira como negócio e plataforma de educação até", explicou Luciano.

"Nesse primeiro momento era isso... Catequizar nesse sentido de mostrar a importância do game. E claro que quando encontrei com o Tiago [Leifert], ele até brincou com isso, porque é realmente um momento que ninguém falava de videogame na televisão, né? Tinham essas preocupações todas e a nova mídia coberta de preconceito, assim como quando surgiram outras mídias também foram muito massacradas, o videogame também é coberto de ignorância a respeito do tema", acrescentou o apresentador.

Segundo Luciano, o videogame acaba sofrendo uma espécie de estereotipação por causa de fatos ruins associados aos jogos, como os tristes massacres, infelizmente recorrentes, em países como os Estados Unidos. "Existia uma falta de conhecimento a respeito do tema e grandes massacres eram ligados a videogame: 'Se o adolescente entrou e cometeu um crime é porque ele jogava'. Mas que jovem hoje, por exemplo, não curte esportes eletrônicos? Atrelar a violência a um jovem que joga videogame hoje é absurdo. É a mesma coisa que você atrelar a uma pessoa que ouve música ou assiste um filme... Mas, por falta de conhecimento, o game foi muito foi taxado e ainda continua sendo taxado", finalizou.

Curiosidades sobre Luciano Amaral

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Embaixador da Marvel...

"Eu posso dizer que eu tenho o emprego dos sonhos da maioria. Basicamente, de um monte de gente da minha idade, né? Porque o cara é embaixador da Marvel, então eu recebo vários produtos da marca em casa, produtos que nem foram lançados ainda, fico sabendo o que vai acontecer, o que eles vão fazer. A Marvel hoje é um negócio gigantesco. Nesses mais de 80 anos, tem muita história, mas realmente de 2000 para cá, quando o universo cinematográfico aconteceu, do Homem de Ferro 1 até a gente ir culminando nos novos filmes agora, a gente chegou nesse patamar de empresa."

Reprodução/YouTube

...mas não dá pra ter tudo

Imagina só você poder bater uma bolinha com um ídolo do seu clube. São-paulino, Luciano teve a oportunidade de cobrar um pênalti em Rogério Ceni em meio ao programa "Turma da Cultura". "Apresentei com o Rogério Ceni, estava lá ele de calça social, de sapato e colocaram um gol. 'Luciano, você vai bater um pênalti nele no meio do programa', programa ao vivo. Era a minha vontade, né? Imagina fazer um gol no Rogério? Eu cobrei e bati na trave, aí ficou muito engraçado". O apresentador hoje brinca que não fez o gol por respeito à história do ex-goleiro, mas a verdade mesmo é que faltou habilidade.

Reprodução/TV Rá Tim Bum

É tetra! Episódio marcante

Luciano Amaral teve a oportunidade de desfilar seu futebol em TV aberta no Mundo da Lua. E aí foi concentração ao máximo para não fazer feio. "Na minha cabeça era quase um 'pô, vou poder mostrar para mó galera que eu sei jogar bola mesmo', entendeu? Era um negócio muito maluco na minha cabeça, por mais que fosse ficção ali e tal, tanto é que foi colocado o time de juniores do São Paulo para fazer as cenas", contou. No fim, ele superou o nervosismo, conseguiu colocar força suficiente na bola e bater uma falta de longa distância no episódio que previu o tetra mundial da seleção brasileira antes da Copa de 94.

Reprodução

Pensar em que roupa usar?

"Eu gosto muito de roupa escura, roupa preta e tal. E aí, diversos momentos da vida, já me peguei do tipo 'p*, gostava da camiseta', mas aqui, ó, tá velha já, e eu já não acho mais ela. Agora, eu tô numa paranoia que é do tipo 'essa camiseta é muito legal', eu vou lá e compro uma. 'Ah, ficou muito legal'. Vou lá e compro mais cinco. Às vezes, acabam sendo meio iguais, são meio pretas, e a galera fica zoando, do tipo assim 'mano, você tá com a mesma camiseta?'. Eu falo 'não, é nova essa aqui, só que é outra, a outra tá lavando, essa aqui já é outra'. E eu acho bom, não tem nem o que pensar. Entra lá e pega a que você fica bem."

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"As pessoas estão doentes": o ato de influenciar

Luciano Amaral tem uma vida entretendo as pessoas. E é por isso que carrega o jeito engraçado e solto à frente das câmeras. Afinal, como alguém que respirou televisão desde criança e fez papéis em programas que marcaram época pode ser de outro jeito? Mas ele entende a responsabilidade social que carrega por ter sido a cara do Mundo da Lua e personagem do Castelo Rá-Tim-Bum. No entretenimento 2.0, as redes sociais, o apresentador da ESPN aposta em conteúdo para valer. Nada de rotina e publicações tediosas sobre o que está fazendo, comendo.

Tem quadro de notícias inusitadas, de reflexão e até de perguntas sem censura em horários noturnos no Instagram. Só que, entre uma brincadeira e outra, ele tenta fisgar as pessoas que o seguem para falar sério. "Eu uso um pouco desse entretenimento, dessa coisa mais engraçada para, às vezes, abordar assuntos mais sérios. Assim, as pessoas estão muito doentes. A sociedade está meio doente, né? E, às vezes, as pessoas não param para pensar nisso. A gente nunca teve tanto caso de depressão, aí tento passar uma mensagem ali, tipo uma reflexão do dia. Eu fui criando quadrinhos", conta.

A ideia é usar a rede social como uma extensão de tudo que faz e alertar para as mentiras que às vezes os conteúdos online escondem. "Tento ser de uma maneira leve e sem querer doutrinar ninguém. Você não pode julgar ninguém".

Luciano Amaral não vive no 'mundo da lua', está antenado aos problemas atuais nas redes sociais e quer ajudar as pessoas com o poder que tem de se comunicar.

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