"Mais" Esportes

Disney lança Star+, projeto de streaming com foco maior em esporte, mas se afasta do futebol nacional

Beatriz Cesarini e Rodrigo Mattos Do UOL, em São Paulo Divulgação/Disney

"Não somos protagonistas, somos observadores". É com essa mentalidade que a Disney lança o Star+ no Brasil, seu novo projeto de streaming no país. Com grande quantidade de conteúdo esportivo, a plataforma quer oferecer ao telespectador uma "Olimpíada por fim de semana", mas sem o futebol nacional. O motivo? A empresa enxerga "falta de organização" na modalidade por aqui.

A Disney tem, até agora, os direitos da Copa do Nordeste e, no momento, não pretende entrar na briga pelo Campeonato Brasileiro ou pela Copa do Brasil. A multinacional acredita que as competições do exterior, como campeonatos europeus, têm melhor gerenciamento e custo-benefício. "Hoje se mantém do jeito que está. Simplesmente porque a gente entende que está mais organizado de uma maneira geral. E o retorno é muito bom."

"A gente não descarta ouvir, conversar [sobre direitos de torneios brasileiros]. Mas, hoje, vai ser do jeito que está. A Libertadores é um exemplo que tem dado muito certo, temos a Copa do Nordeste. Os europeus estão indo melhor ano a ano. Quando se fala em futebol nacional, sabemos muito bem como está... A gente é um observador, e não é protagonista. Então, esperamos uma solução. Podemos conversar a qualquer momento. Nunca dizemos não de cara", explicou o chefe de Esportes da Disney, Carlos Maluf, em entrevista exclusiva ao UOL.

Divulgação/Disney
Fernando Moreno/AGIF

Direitos de transmissão no Brasil

O que pode mudar a postura da empresa é a Lei do Mandante, que já está aprovada no Congresso e dá aos times que sediam os jogos todos os direitos da partida. Mas as perspectivas de investimentos ainda estão distantes.

Para entender a postura da empresa, é preciso entender o sistema de venda de direitos de transmissão no Brasil. Esse sistema funciona, na maior parte dos casos, de forma diversa do restante do mundo. As negociações são individualizadas para o Campeonato Brasileiro, mas feitas pela CBF sem concorrência formal para a Copa do Brasil. Isso explica a reticência de empresas como a Disney de atuarem de maneira mais forte no mercado nacional.

Até 2011, os clubes negociavam de forma coletiva o Brasileiro, pelo Clube dos 13. A entidade, porém, foi implodida por movimento liderado pelo Corinthians e, a partir dalí, o mercado passou a ser regido por contratos clube a clube. E, pela legislação ainda em vigor, uma emissora tinha que negociar com os dois clubes que disputam um jogo para fazer uma transmissão.

A Lei do Mandante, aprovada no Congresso e à espera de sanção presidencial, vai dar o direito só ao dono da casa. Isso simplificará negociações, mas a distância ainda será grande dos torneios europeus, por exemplo, em que clubes negociam coletivamente seus direitos usando ligas esportivas. Há uma iniciativa assim fundada pelos clubes neste ano, mas essa liga está travada no momento.

Na Europa, as ligas negociam em nome dos clubes nos mercados interno e externo. Há concorrências com regras para competições maiores como a Liga dos Campeões, e Premier League.

As competições que a Disney tem no mercado sul-americano funcionam assim. A Copa Libertadores, que tem a Conmebol como dona de direitos, teve uma concorrência formal vencida pela Fox Sports para TV Fechada. A Copa do Nordeste, que é organizada por uma liga, também tem os direitos vendidos coletivamente.

Divulgação

O que é o Star+?

É o novo serviço de streaming da Disney foi lançado hoje (31), com foco em público adulto. Além das ofertas de esporte da dupla ESPN e Fox Sports, conta com séries como "This is Us", "The Walking Dead" e "American Horror Story", desenhos voltados a públicos mais velho (em comparação com o do Disney+), como "Simpsons", e um acervo de filmes como "Deadpool", "Logan", "Bohemian Rhapsody" e "O Diabo Veste Prada" e franquias como "Alien", "Duro de Matar" e "O Planeta dos Macacos" —o serviço é uma oferta conjunta dos conteúdos de Disney Television Studios, FX, 20th Century Studios, Star Original Productions, National Geographic Original Productions e mais.

Divulgação/Disney
Cristiano Lima, diretor de entretenimento da Disney Brasil

"Uma Olimpíada por fim de semana"

Ao lançar o Star+ com conteúdo de esportes, a Disney fala em transmitir "uma Olimpíada por fim de semana". As palavras são de seu diretor de esporte, Carlos Maluf. A ideia é espalhar o conteúdo utilizando plataforma. Como exemplo, estarão lá todos os jogos da Premier League ou as partidas de tênis do US Open —que começou nesta semana.

"Modéstia à parte, a gente vai fazer o que a Globo fez, e não quero citar, uma Olimpíada por fim de semana, por dia", diz Maluf. "O Star+ é um espaço ilimitado, isso traz realmente uma oferta absurda. E traz, também, a democracia. Digamos que seja um time menor da Inglaterra. Você pode ver no Star+. No linear tem cinco canais, mas lá é infinito", completou Cristiano Lima, chefe de entretenimento da Disney.

A Premier League, apesar de ser um torneio de futebol, é um exemplo da comparação com Olimpíada e Globo. O grupo brasileiro mostrou As Olimpíadas de Tóquio-2020 no Globo, em vários canais no SporTV e em seu próprio serviço de streaming, o Globoplay —incluindo transmissão de todos os eventos, alguns deles só com áudio ambiente. No Campeonato Inglês, a ESPN vai transmitir quatro dos seis jogos dos maiores times, Liverpool, Arsenal, Manchester United, City, Chelsea e Tottenham, nos seus canais a cabo por rodada. Os outros dois estarão no Star+. Jogos de times menores, que normalmente não seriam disponibilizados, também estarão lá. O mesmo vai acontecer com partidas do Campeonato Português. Vale também para eventos como o US Open, de tênis, e de outros esportes — principalmente dos EUA.

Esse espaço ilimitado, portanto, vai depender de cada final de semana e dos conteúdos disponíveis. Maluf ressalta que, para o Brasil, a Disney tem direitos que não possui no exterior. "O que a gente está fazendo no Star+ é inovador. Ninguém nunca fez no Brasil, talvez no mundo."

Quais esportes e campeonatos é possível acompanhar?

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Com conteúdo para público específico, aposta é em venda combinada com Disney+

Além das competições esportivas, o Star+ conta com atrações de entretenimento focadas no público adulto. Por mais que seja embasada em estudos internos, não há como negar que a criação de um streaming com conteúdo limitado — quando se fala em engajamento de público — é uma ideia arriscada. É mais uma plataforma em meio à chuva de outras que tem por aí.

Hoje, se o brasileiro quiser assinar os principais serviços de streamings, como Netflix, HBOMax, Amazon Prime ou UOL Play, entre outros, vai desembolsar mais de R$200 por mês. Os executivos da Disney no Brasil dizem que um dos importantes chamarizes aos novos usuários será justamente o Disney+, o outro streaming da companhia, além da grande quantidade de competições esportivas.

"De fato pensamos em uma oferta combinada. Do ponto de vista comercial, o Disney+ e o Star+ formam uma coisa diferente do que tem no mundo inteiro. A gente tem uma oferta de esporte que não tem em nenhum lugar do mundo. Com ambas as plataformas, a gente tem a possibilidade de expandir e falar com todos os públicos. Foi como a companhia entendeu que estrategicamente era pra oferecer. Para o único consumidor, pode não ser tão vantajoso do ponto de vista financeiro, mas para uma família é", explicou Cristiano Lima, diretor de conteúdo da Disney no Brasil.

O espectador que quiser assinar o combo com Disney+ e Star+ vai pagar por volta de R$ 45,90 por mês. Para dois serviços, os valores estão dentro do que é praticado no mercado nacional até agora:

  • Apple TV+: R$ 9,90
  • Amazon Prime Video: R$ 9,90
  • UOLPlay: R$ 15,90
  • Globoplay: R$ 22,90
  • HBO Max: R$ 19,90
  • Looke: R$ 16,90
  • Netflix: R$ 25,90
  • Paramount+: R$ 19,90
  • Starzplay: R$ 14,90
  • Telecine: R$ 37,90
Pinho/Unsplash

Streaming x TV fechada

A soma dos valores acima supera os R$ 200,00. É um número alto se você pensar na situação econômica brasileira, já que, além dos streamings, os brasileiros costumam ter, também, planos de TV por assinatura, geralmente são atrelados a celular, internet e telefone fixo. A conta fica alta e muitas pessoas já refletem se vale a pena manter o gasto com a TV fechada.

A vantagem das plataformas digitais é a opção de assistir um evento na hora e como preferir. Apesar disso, a comodidade e o hábito de zapear canais ainda pesa.

"Um dos pilares para a Disney é a TV fechada. Não vejo mudança de cenário em qualquer curto prazo. Só vejo como um novo pilar. É uma nova plataforma. Não vamos deixar de priorizar as TVs fechadas, porque é um dos fortes pilares que temos em todas as frentes. Essas oportunidades que surgiram no streaming são pela demanda. É aproveitar o tanto conteúdo que temos e que não conseguimos colocar na televisão. Temos conteúdo que não era exibido", disse Maluf.

"Concordo que existem vários outros players posicionados, mas confiamos no conteúdo que a gente tem. Em pouco tempo, cada pessoa vai entender o que cada plataforma tem para oferecer. E a gente tem tudo para ser altamente competitivo nesse mercado", completou Cristiano Lima.

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