Põe na tela

Datena está cansado de programas policiais e até de viver, mas ainda sorri com memórias do futebol

Bruno Grossi e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo Diego Padgurschi/UOL

José Luiz Datena está cansado de apresentar programas policiais. Diz que é impossível ser feliz assim. Também diz que não precisa de muito mais tempo de vida: "Ficar velho é uma grande merda. Dá tudo errado. Você fica mal, tem problema de saúde pra cacete, começa a broxar, dar problema pra família. Não vejo graça nenhuma. Acho legal para os outros que chegam aos cem anos, mas meu projeto de vida não é viver tanto assim".

Só que por trás dessa casca, criada por duas décadas de contato direto e diário com notícias sobre violência, há um Datena que ainda sorri. O jornalista de 62 anos tenta esconder e até jura que não assiste mais aos jogos do Corinthians, seu time do coração. Mas um escudo do clube feito de madeira decora seu camarim na sede da Band e ajuda a desmenti-lo.

O futebol ainda permanece vivo naquele que um dia foi um repórter esportivo descolado, especialista em matérias bem-humoradas e, claro, sem pudor. As lembranças da bola provocam os maiores sorrisos e são capazes de fazê-lo pensar no futuro. E é por elas que Datena nos convidou a viajar durante quase duas horas de entrevista:

Meu, o que eu vou falar? Isso me lembra um livro do Che Guevara, O Diário da Motocicleta, que virou filme depois. Ele mesmo escreve no começo do livro: "Olha, isso aqui é a minha vida. Se você gostou, legal. Se você não gostou, que você se exploda, cara".

Você pode assistir à entrevista completa com Datena no canal do UOL Esporte no YouTube e ouvir a íntegra da conversa com o apresentador no Podcast UOL - Entrevistas: Datena.

O Galvão Bueno das enchentes

A vida como apresentador de programas policiais começou de forma inesperada para Datena. Um convite de Eduardo Lafon, executivo da Record no fim da década de 1990, mudou a rota da carreira do jornalista de Ribeirão Preto. A primeira reação foi recusar a ideia do interlocutor do Bispo Edir Macedo: "Não sabia fazer polícia e nunca via noticiário policial. Era só esporte, matéria engraçada".

Datena não tem vergonha nenhuma de dizer que o desafio foi motivado pela maior exposição e pelo ganho financeiro que poderia ter. Sua imagem rapidamente foi vinculada a notícias pesadas, tragédias cotidianas e crimes. Para o colunista José Simão, ele se transformou no "Galvão Bueno das enchentes". Datena ri disso tudo, mas admite que é difícil conviver com tanta carga negativa diariamente.

"Antigamente, as pessoas me viam no mercado e davam aqueles tapas nas costas falando 'e aí, Datenão!'. Eu fazia matérias de brincadeira, de sacanagem e as pessoas achavam que eu seria engraçado. Mas eu sempre fui invocado e me adaptei rápido à polícia. Mas algumas coisas enchem o saco. Hoje, o cara me olha e já imagina alguém esfaqueado, levando tiro, boiando na água... E quem me vê nos lugares já chega gritando: 'Ô, Datena, vai chover hoje?'. 'Sei lá, porra! Pergunta pra meteorologia".

As pessoas falavam que eu era tão diferente do que pareço no "Cidade Alerta" fazendo o programa "No Coração do Brasil", porque eu viajava, nadava com golfinhos. Queria o quê, caralho? Que eu desse uma porrada no golfinho, chutasse a baleia branca?

José Luiz Datena, sobre a imagem pesada que passou a transmitir aos telespectadores

Cada ação é uma reação. O ambiente te faz agir diferente. Eu penso em fazer uma gracinha hoje e de repente tenho que falar que morreram 25 em um acidente, que o homem matou a mulher com tiro na cabeça. Como é que alguém sai legal desse programa?

José Luiz Datena, na entrevista concedida ao UOL em camarim da Band

Ormuzd Alves/Folhapress Ormuzd Alves/Folhapress

As pessoas falam que é difícil trabalhar comigo. E é mesmo. Mas eles têm uma sorte. Eles trabalham comigo e depois vão embora pra casa. E eu que tenho que me aguentar 24h por dia? Eu não sou, realmente, um cara agradável e nem tenho vontade de ser. Não sou legal, mas levo minha vida

José Luiz Datena, sobre seu mau humor diário

Teu passado é uma bandeira

Datena jura que não passa perto de assistir o futebol brasileiro. Fala que o jogo piorou tecnicamente, reclama da lentidão das partidas e da demora para as faltas serem cobradas. Mas isso é suficiente para ele fugir também do time do coração? "Eu fico nervoso. Porra, eu já vi tanto time do Corinthians jogar, que agora vejo isso aí e fico nervoso", desabafa.

A solução é assistir ao futebol internacional, pelo espetáculo e por deixá-lo distante dos perrengues da vida de repórter de campo no Brasil: "Foram 40 anos vendo futebol na beira do gramado. O que já tomei de raio, de chuva, de copo de mijo na cabeça, de porrada... A gente sempre apanhava. Eu peguei bode".

Mas não se engane. Esse lado rabugento é só mais uma das cascas de Datena. O esporte — principalmente o futebol — ainda o inspira e é capaz de fazê-lo sonhar até com um canal de YouTube. "Se eu falar que quero falar de esporte aqui já vão me acusar de querer tomar o lugar de fulano, de sicrano... Então, no máximo, eu penso em ter um programa de rádio. Aqui na Band o pessoal da rádio tem tudo contra mim, e eu dava uma puta audiência. Era um programa de primeira qualidade. Não adianta. Talvez, então, eu faça uma rádio minha no YouTube. Depois, se foder com eles, não vão poder reclamar".

Diego Padgurschi/UOL Diego Padgurschi/UOL

O esporte ainda o faz sorrir

Se Datena cogita voltar a falar de esporte é porque ainda se alimenta das boas lembranças. Consegue sorrir até quando conta as aventuras inventadas por Luciano do Valle para narrar basquete ou futebol americano na madrugada, muito antes da consagração dos narradores da ESPN nessas modalidades. E diz que daria conta de se arriscar novamente na locução desses esportes.

"Eu fiquei muito bom narrando basquete e vôlei, por exemplo. Mas fiquei bom porque ninguém queria fazer isso. O Luciano e eu éramos os únicos que queriam ir de madrugada. Eu seria capaz de narrar ainda hoje, mas não com a competência desse menino da ESPN que é engraçado pra caramba. O Rômulo [Mendonça]. Ele é muito bom. Se eu voltasse a fazer isso, faria com muito mais vontade do que os programas de polícia", decreta.

A grande dificuldade seria voltar a estudar as regras e jogadas do futebol americano: "Eu ficava com o Silvio Lancelotti narrando essa porra. E acho que o marido da Gisele, o Tom Brady, só joga até os 40 anos pra poder entender a porra do jogo (risos). Eu narrei um tempão e não entendia! Só falava que era o wide receiver e o caramba. Agora, pega o Everaldo Marques, o Paulo Antunes. Esses sacam tudo".

Acho que eu conseguiria ser um bom comentarista de esporte ainda hoje. Narrar eu já narrei Copa do Mundo, Olimpíada... Esporte é uma coisa diferente, um negócio legal

José Luiz Datena

Fred Flintstone dos Youtubers

O narrador Oliveira Andrande, que hoje também trabalha na Band, foi o responsável por tirar Datena do rádio e levá-lo para a televisão, ainda na EPTV, de Ribeirão Preto. A equipe do canal na época tinha nomes como Nelson Araújo, Heraldo Pereira, Jorge Kajuru, José Roberto Burnier e Marcelo Canellas. Diante de um time tão poderoso, Datena se viu obrigado a inovar.

"Eu precisei inovar e passei a ser considerado um repórter criativo. Eu em São Paulo e o Márcio Canuto lá em Alagoas. A gente só fazia matéria criativa. O que esses caras da internet fazem hoje, a gente fazia naquela época. A gente era youtuber da Idade da Pedra, o Fred Flintstone e o Barney", brinca.

A fama de Datena logo se espalhou. E esse repórter inventivo ganhou espaço no Globo Esporte em mais uma equipe de peso, com Roberto Cabrini, Gilson Ribeiro, Roberto Thomé, Luiz Andreolli e Luiz Ceará, sob coordenação de Osmar Santos. "Eu era quem mais fazia loucura", lembra. E foi assim que passou a ser o "Repórter Surpresa" das grandes coberturas.

"Eu ia para a Copa do Mundo e para a Olimpíada e nem via os jogos e provas. Nem entrava no estádio. Só fazia ambiente, matéria fingindo que desentortava a Torre de Pisa, entrevistei a Cicciolina [celebridade italiana polêmica]... A Globo também tinha mandado o Chico Anysio pra Copa de 1990 e na página amarela da revista 'Veja' disseram que eu estava fazendo uma cobertura humorística melhor do que a dele. Ou seja, eu era a antítese do que sou hoje", compara.

Diego Padgurschi/UOL Diego Padgurschi/UOL

Fora de la cancha é o caralho

Por mais que o Datena repórter esportivo fosse marcado por piadas e boas sacadas, já nessa época era possível ver o lado explosivo do apresentador. Na própria Copa do Mundo de 1990, na Itália, aconteceram duas de suas brigas mais memoráveis. E logo com Diego Maradona, o maior astro do futebol na época.

"Estávamos eu, o Silvio Luiz [narrador] e o José Carlos Mosca [cinegrafista] no centro de treinamento da Roma, onde a Argentina estava. O Maradona machucou e saiu para o banco sozinho. E naquela época a gente podia entrar de boa. Imagina hoje? Ele olhou pra mim e gritou: 'Fuera de la cancha, fuera de la cancha'. Ele estava certo, né? Com dor, medo de não jogaer e eu entrando no campo. Só que na hora eu não pensei e falei: 'Ah, vai tomar no seu cu'. Discutimos, mas de boa", relata.

Dias depois, em uma entrevista coletiva de Maradona, mais uma briga com o craque argentino, que havia passado por problemas familiares pela prisão de seu irmão pela polícia italiana: "Fiz uma pergunta em português e ele falou um 'no te entiendo'. Eu falei na hora: 'Não entende o caralho'. Aí acabou a entrevista. Alguns repórteres brasileiros ficaram me olhando com nojo. Pô, ele entendia perfeitamente a gente, jogava e era amigo do Careca. Ele só estava querendo cagar regra".

Peter Robinson/PA Images via Getty Images) Peter Robinson/PA Images via Getty Images)

Outros causos como repórter

  • Artilheiro na geladeira

    O São Bento se reforçava para o Campeonato Paulista quando contratou o artilheiro da edição anterior. Um jogador cobiçado, que foi bancada por uma marca de sorvetes da cidade. Datena, então, resolveu fazer uma matéria sobre essa peculiaridade. A ideia foi ainda mais peculiar: colocar o atacante no carrinho para o início da reportagem. Datena sabia que precisava gravar rápido para não deixar o jogador doente pelo frio, mas essa preocupação o fez errar o texto diversas vezes: "Quase matamos o cara de pneumonia".

  • Fantasma do rebaixamento

    Quando o Comercial, de Ribeirão Preto, estava perto de ser rebaixado no Paulistão, Datena e equipe pensaram em brincar com o "fantasma do rebaixamento". Inspirado nas gambiarras do cinema alternativo, a matéria ficou assim: "A gente pegou um lençol, amarrou em uma linha de pescar e ficava andando com isso falando que o Comercial podia cair. Tinha um cara embaixo, mas no fim a gente fez ele se jogar de um barranco e levantou o lençol assim que ele caiu. Era nosso efeito especial de filme horrível".

Eu tenho dó de quem trabalha hoje na imprensa, porque é muito mais difícil chegar em um jogador, em um treinador. Os caras parecem que inventaram a bola. Eu me daria muito mal agora. Puta que pariu, eu ia sair na porrada com essa gente todo dia. Os caras são malas pra caramba.

José Luiz Datena, sobre a possibilidade de repetir seu estilo como repórter nos dias de hoje

Ao mesmo tempo, hoje em dia os jogadores estão mais expostos e precisam se precaver mais. Tem gente que é metida mesmo, que é insuportável de você chegar perto. Mas para a maioria eu realmente entendo, porque é gente que só quer se preservar e tem razão de se preservar.

José Luiz Datena, sobre o difícil acesso a jogadores atualmente

"Donos da Bola" nasceu à revelia da Band

Fazer o "Brasil Urgente" por tanto tempo já trouxe consequências ao humor de Datena. Imagine ter mais um programa tomado por notícias policiais para fazer no dia. Essa foi uma ideia da Band no começo da década, com a criação do "SP Acontece". O apresentador não conseguia acreditar: "Os caras beberam água de cachoeira".

Apesar da revolta, Datena aceitou o programa. Mas resolveu minar o plano do canal aos poucos com a ajuda do comentarista e ex-jogador Neto. O espaço para esporte no "SP Acontece" aumentava a cada semana, até que Datena teve passagem relâmpago pela Record e a Band decidiu transformar o programa de vez em um esportivo, batizado de "Donos da Bola".

"Eu fui dobrando os caras e prometi ao Neto que o programa seria dele. Acho que esse foi o último grande barato que a televisão criou no esporte. E começou sendo um programa muito louco, non-sense total. Até revivi meu começo na Globo. Era telefone voando, os comentaristas na boca de um sapo... Eu fazia o 'congela o Ulisses" quando o Ulisses Costa [narrador] começava a falar e até a novela [Avenida Brasil] imitou. E o Neto se transformou no melhor apresentador de esportes, com uma audiência enorme".

Diego Padgurschi/UOL Diego Padgurschi/UOL

Luciano do Valle técnico de seleção?

As carreiras de Datena e Luciano do Valle se cruzaram diversas vezes. Os dois se arriscaram em modalidades pouco populares no Brasil e fizeram projetos paralelos juntos, como por exemplo uma seleção brasileira de masters. Luciano era o técnico — e isso era o princípio de um sonho de treinar o Brasil de fato — e Datena fez a besteira de convidar o amigo Sócrates para ser jogador.

"Eu menti que ele estava treinando todo dia, que estava bem fisicamente. O Magrão era meu amigo, como eu ia falar mal? Só que ele não jogava há muito tempo e a gente saía todo dia, tomava pra caramba. Eu bebia mais do que ele, só que eu perdi metade do pâncreas e ele teve cirrose. Na hora que eu chamei o Sócrates, o Rivellino me ligou: 'Puta que pariu, porque você foi falar que ele tá bem? Quer foder a gente? Agora vai todo mundo precisar correr por ele'".

O resultado da mentira de Datena para proteger Sócrates foi óbvio. No primeiro treino em Vinhedo (SP), "debaixo de um sol de rachar mamona", Sócrates ameaçou correr para receber lançamento, abaixou com as mãos na perna e provou a ira de Datena e do auxiliar Juarez Soares, também jornalista: "Datenão, acho que nosso meia tá passando mal".

"O Luciano deu um berro pra mim e eu já cheguei falando que foi uma indisposição só, porque tínhamos comido uns quibes na estrada. Falei que podia levar pro campeonato, sem problemas. O Luciano já foi falando que não ia admitir bebida na concentração lá na Itália, mas logo depois da preleção caímos na cachaça. Moral da história: o Magrão entrou e em 30 segundos teve uma distensão".

Não tem uma nova figura na narração. Os de hoje são todos caras muito bons, mas não vejo um que se destaque mais do que os outros. Eu gosto muito do Cléber Machado, que é meu amigo, e do Luis Roberto, que eu conheço há muito tempo. E essa molecada nova é toda do mesmo nível, um bom nível. Não tem mais nenhum cara como o Luciano do Valle, como o Galvão Bueno ou o Silvio Luiz. Mas há gente de um nível muito bom e de quem eu gosto.

José Luiz Datena

Ex-jogadores como comentaristas

"Enche o saco ficar ouvindo estatística toda hora". Essa é uma das razões para que Datena prefira ex-jogadores comentando futebol. Ele acredita que os números são mais úteis em outras modalidades, como o basquete, enquanto o futebol ainda é feito por intuição. E diz que aprendeu muito com a capacidade de ex-atletas para ler o jogo.

"Essa boleirada se transformou em comentaristas fantásticos. Uma vez, em um jogo do Corinthians contra o Bragantino, lembro que o Corinthians estava tomando um sufoco e o Mário Sérgio ficou sustentando que mesmo assim ia abrir o placar. E não deu outra. Eu vejo hoje o Casagrande e o Muricy, por exemplo, muito bons explicando como as coisas acontecem", destaca.

A relação próxima com ex-jogadores, como Sócrates, ajuda a explicar a visão de Datena. Mas uma frase proferida por Luciano do Valle também ficou marcada na cabeça do apresentador: "Ele sempre me falava: 'Datenão, como é que eu vou pedir um diploma de jornalismo pro Pelé comentar futebol?' Ele tinha razão".

Fiz grandes amigos no futebol. O Mário Sérgio virou meu irmão, o Leão, o Neto, o Sócrates, o Rivellino, o Gerson... E o Tostão, que ficava comigo direto em um hotel aqui em São Paulo. São as melhores memórias da minha carreira

José Luiz Datena, sobre a relação com jogadores de futebol

Minha carreira também me fez conhecer gente como o Luciano do Valle, como o Juarez Soares, o Elia Júnior. Eu fiz transmissões com Gerson, Pelé, Rivellino. Olha esses caras. Eu chegava a chorar, era o maior barato

José Luiz Datena, sobre os amigos e experiências da vida como jornalista

Papo com Doutor

Pouca gente sabe, mas Datena e Sócrates mantiveram juntos um programa de TV em Ribeirão Preto. E o foco não era futebol. A dupla falava sobre cultura, política e abria espaço para o esporte só de vez em quando. Ivan Lins, Chico Buarque, Ciro Gomes e outras personalidades foram entrevistados. Até que...

"Eu estava na Record na época e esse programa era de uma afiliada da Record, mas depois mudou de emissora. Eu não podia mais participar assim. Então eu virei diretor do programa sem ninguém saber. O cartunista Pelicano fez uma caricatura do Magrão pra fazer o novo cenário e virou 'Papo com Doutor'. Eu não podia usar meu nome e virei o Duda Almeida, diretor. Era um barato!".

A história mais saudosa do programa aconteceu quando Datena terminou uma gravação e foi para um bar beber com Sócrates. Enquanto se embriagavam, lembraram que havia faltado gravar uma das propagandas que seria exibida naquela edição. A dupla voltou para o estúdio um tanto quanto alterada e terminou o serviço em meio a crises de riso.

"Lembra dessa porra de cartilagem de tubarão? Então, tinha propaganda disso aí! Eu começava: 'Bem, a cartilagem de tubarão é um dos melhores produtos para os mais variados problemas. O Doutor Sócrates, que é médico, vai explicar um pouco mais'. Aí o Magrão solta um 'pra vocês verem que tubarão não tem câncer, viu?'. A gente gargalhava, já de fogo, e não terminava nunca de gravar. Era muito engraçado vê-lo falando que tubarão não ficava doente e morria velho".

Outro merchan feito por Datena provocou uma frase célebre de Sócrates. A dupla estava viajando de São Paulo para Ribeirão Preto em avião de uma companhia chamada Brasília, em uma permuta pelos anúncios no programa. De repente se armou uma tempestade e o avião balançou sem parar. "Caiu várias vezes, só não bateu no chão", ri Datena.

As pessoas começaram a se desesperar dentro da aeronave e passaram a xingar Datena por ter feito propaganda daquela companhia aérea: "Me chamavam de filho da puta e avião, ó, caindo. Me ofenderam a viagem inteira. Uma hora eu virei e pergunte: 'Magrão, você não tá com medo, não?'. Ele respondeu: 'Eu tô, porra, mas o que vou fazer. Se cair, caiu".

Bongarts/Getty Images Bongarts/Getty Images

Datena era zagueiro quando conheceu Sócrates

A amizade entre José Luiz Datena e Sócrates começou nas categorias de base do Botafogo, de Ribeirão Preto. O Doutor já estava em um time acima e era tratado como estrela. Datena era "o único ruim", mas conseguiu ser capitão com uma receita simples: "Já xingava todo mundo e dava porrada pra caralho".

Datena foi zagueiro na maior parte do tempo, mas também foi um lateral-direito que "apoiava como um raio e defendia como um tigre", mas que só jogava por "ser amigo de todo mundo e falar demais". Hoje, por achar o futebol brasileiro ruim, acredita que faria sucesso. Mas sabe que fez um bem ao esporte por escolher investir na carreira de jornalista.

"Percebi que não tinha muito jeito no primeiro toque que dei numa bola (risos). E aí lembro de uma conversa com o Telê Santana, em que ele estava indignado por ver uma foto do [Carlos Alberto] Parreira pisando na bola. Ele falou: 'Datena, quem pisa assim na bola não pode ser técnico da seleção brasileira'.

A cada vez que você perde um cara que fez parte da sua história, você perde um pedaço de você. O Magrão sempre foi meu ídolo e era muito melhor contar as histórias com ele presente

José Luiz Datena, sobre o amigo Sócrates, que morreu em 2011

Como seria a Globo com Datena de volta?

"Eu já me imaginei de volta. Quem não imagina são os Marinho, embora eu tenha conhecido o Robertinho, que é um moleque bom pra caralho, genial e vai reformular um pouco a TV. Mas é claro que eu me imaginei na Globo de novo, fazendo um programa lá. Aliás, se a Globo quisesse bater a Record na hora do almoço, eu tenho certeza que eu daria um chinelo na Record. De montão, não tenho dúvida nenhuma disso. Os caras iam ter que rebolar lá.

Quando eu saí da Record num dia e estreei na RedeTV!, que dava três pontos, no outro dia, elevei pra 14 pontos. Eu levava a audiência. E sei que se eu saísse da Band hoje e fosse pra Globo, eu daria um caralhão de audiência, mas eu prefiro ficar na Band porque a Band é a minha casa e me dá liberdade pra trabalhar e daí por diante.

Mas hipóteses são hipóteses. Eu jamais irei trabalhar na TV Globo outra vez e duvido que trabalhe em outra televisão que não seja a Band. É muito difícil eu trabalhar em outra televisão, mesmo porque duvido que alguém queira me contratar..."

24.out.2012 - Flávio Florido/UOL 24.out.2012 - Flávio Florido/UOL

O que Datena pensa sobre Neymar

Li Ming/Xinhua

Não deveria ter jogado a Copa

"Eu acho que foi uma cagada o Neymar jogar a Copa na Rússia. Ele só se fodeu, não tinha condição de jogar. Visivelmente tirava o pé nas divididas. Não foi o Neymar que conhecemos. Depois daquela contusão no pé deu alguma zebra. Eu tenho medo que mexam em mim porque quebrei a costela em uma brincadeira que o Neto fez comigo e eu desmaiei, imagina se o cara vai aguentar ficar levando porrada no pé que machucou."

Michael Reaves/Getty Images/AFP

"Quem voa muito acaba se f..."

"O Neymar é nossa melhor aposta ainda, não adianta falar que não. O Neymar é o nosso grande jogador, é o cara que desequilibra. Eu só acho que ele não tem a condição física de antigamente, mas é gênio, joga pra caramba. Aconteceram algumas coisas na vida do Neymar que o fizeram botar um pouco mais o pé no chão. E é bom ele ficar com o pé no chão mesmo, porque quem voa muito acaba se fodendo no fim das contas."

TF-Images/Getty Images

Consumido pelo sistema

"Não vejo ninguém com tanta habilidade como o Neymar. Não vejo nem Messi e nem Cristiano Ronaldo com a habilidade dele. Mas o problema é que o Neymar virou um produto violento de consumo. Tem um marketing enorme em cima do cara, então não sei se ele consegue sustentar isso e é consumido pelo sistema. O Messi é o Papa Franciso? Claro que não, mas você não o vê em boates. Quem aparece demais se expõe."

REUTERS/Susana Vera

Neymar pai fez uma "cagada"

"O Pai do Neymar ajudou muito mais, defendeu o filho em posições que só o pai defende. Porra, é um meio difícil de você lidar e para lidar com essa gente você não pode ser a freira que chegou na boate. Eu senti uma falta desgraçada do meu pai, principalmente para ter me ajudado na profissão. Eu talvez fosse uma pessoa melhor com ele por perto dando dicas. A única cagada do Neymar pai foi a saída do Barcelona para o PSG."

Cristiano Ronaldo é um cara grossão, mas genial. Nuinca vi isso. Ele ganha a Bola de Ouro com méritos, mas se você olhar ele não tem nada que indique que seja melhor que o Messi, que o Mbappé, que o Neymar. É durão, mas faz gol pra cacete e jogadas incríveis. É esquisito? É, mas se funciona, funciona

José Luiz Datena, sobre Cristiano Ronaldo

Diego Padgurschi/UOL Diego Padgurschi/UOL

Vida política

Há, além do esporte, um outro assunto que ainda faz Datena pensar em uma mudança brusca de vida. Mas partir para um novo rumo quando o corpo e a mente pedem descanso não é fácil. Isso explica porque a cada eleição o nome do apresentador ganha força para candidaturas, mas Datena sempre recua. O novo teste deve ser em 2020, já tomado por convites para disputar a prefeitura de São Paulo.

"Meu plano de vida é morrer logo (risos), mas a verdade é que sempre me perguntam sobre ser político. Só que toda vez que eu penso em ser vejo cagada pra todo lado. Já fui pré-candidato ao senado e no meio do caminho descobri coisas que me mostravam que não valia a pena. Conviver com aqueles caras não ia dar certo. Já me procuraram da direita, da esquerda, do centro... Falei com Marcio França, com o presidente Bolsonaro... Não sei se teria saco, mas também não tenho mais saco pra televisão", avalia.

A reflexão de Datena continua: "Só sei que não seria ladrão. Talvez não seja competente, e por isso não estou convencido. Pode ser pra prefeito, vice, não sei. Ou presidente, por que não? Se o Luciano Huck pode, eu também posso. Ainda preciso de um start para decidir".

Sou um cara meio invocado, que não faz média com ninguém, não fica abraçando e cumprimentando ninguém, dando a mão... Quem sabe se eu entrar na política eu tenha que fazer isso, mas até agora não entrei. Se eu for pra política, é capaz que eu abrace até poste, carregue criancinha no colo.

José Luiz Datena, sobre a dificuldade de ser simpático

Diego Padgurschi/UOL Diego Padgurschi/UOL

Chega de viver

A relação de Datena com a morte é diferente. Soa estranha tamanha aceitação de que uma hora tudo vai deixar de existir para ele e "tudo bem". Isso passa pelos amigos que já morreram, pelos sustos causados por um tumor no pâncreas e pelo risco de perder a esposa, Matilde.

"Ela é a razão da minha vida. Sempre foi. Ela teve um problema muito sério, recentemente, que ela quase morreu, e eu, se ela morresse, morreria no mesmo dia. Sem a minha mulher nada mais tem sentido. Não tem filho, não tem neto, não tem nada", fala, sem medo.

A morte é tão natural para ele, que vira motivo de piadas, talvez em um mecanismo de defesa para sofrer menos. No dia da entrevista para o UOL Esporte, foi abordado por um amigo com uma notícia bizarra: uma vidente avisou que Datena morreria naquele dia em um acidente de carro. O apresentador se divertiu: "Já são 13h30 e não morri porra nenhuma. Mas se eu morrer vai ser uma puta matéria pra vocês!".

Se eu não tenho medo de morrer, por que eu vou andar com segurança? Pra gastar dinheiro? Se o cara quiser te matar, ele contrata o seu segurança pra te matar ou então ele vai, sequestra a família do seu segurança e fala assim: 'Se você não matar o cara, eu mato a sua família'. E aí? Nosso maior segurança é Deus, e todo mundo tem um tempo na vida

José Luiz Datena, sobre não ter medo de morrer

Curiosidades que você nunca imaginou sobre Datena

  • Vencedor de prêmios Herzog

    Datena começou a carreira no esporte na EPTV, filiada da Globo, mas se notabilizou por ganhar dois prêmios Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Um deles falava sobre fome na região de Ribeirão Preto, considerada uma das mais ricas da época, e outra sobre reintegração de posse.

  • Filiação ao PT no passado

    Quando jovem, diz ter "seguido a moda de ser de esquerda". Assim, resolveu se filiar ao Partido dos Trabalhadores (PT), mas jura que nunca participou de reuniões. Depois, foi ligado ao Partido Progressista (PP) e ao Democratas (DEM). Ainda não sabe se quer entrar na política de vez.

  • A invenção da sigla Band

    Por acreditar que "Bandeirantes" era uma palavra longa demais para ser dita em transmissões, Datena começou a chamar o canal apenas de "Band". Essa prática chegou a ser repreendida pela emissora, que alegava que a palavra lembraria "bandido". Luciano do Valle o ajudou a manter o apelido.

Não adianta tentar se definir. Hoje, me considero de centro, mas está todo mundo virando de centro. É tudo pai de santo pra ir pro centro, uma grande macumba. Até o Dória, um puta cara de direita, quer dizer que é de centro

José Luiz Datena, sobre a polarização da política brasileira

Lula tem direito a recursos na Justiça e acho que se ele foi injustamente condenado, ele vai ser justamente absolvido. Agora, se tiver que pagar pelos crimes que dizem que ele cometeu, tem que pagar

José Luiz Datena, sobre a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

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