O Palmeiras tinha uma missão no início da temporada de 1989: acabar com o sofrimento do palmeirense. Já eram 12 anos sem título e havia pouco dinheiro em caixa. Disposto a inverter a lógica, o presidente Carlos Facchina meteu a mão no bolso e engatou uma sequência de contratações para o técnico Emerson Leão. Foram oito já em janeiro.

Mas nenhuma encheu os olhos da torcida. O meia Neto, vindo do Guarani, chamava mais atenção pela "eterna briga" que travava "contra a obesidade", de acordo com a revista Placar daquela semana. Em um coquetel oferecido aos recém-contratados, ele recusava salgadinhos e refrigerante, e comemorava:

Estou 100 g abaixo do meu peso normal."

Neto

Neto nunca teve vida fácil sob o comando de Leão. Apesar de titular, era constantemente substituído, o que irritava sua personalidade explosiva. Em abril de 89, o Palmeiras enfrentou o Corinthians no Morumbi diante de impressionantes 102 mil torcedores.

Neto marcou o primeiro, de cabeça. Foi comemorar perto da torcida corintiana e beijou a camisa do Palmeiras. Deu passe pro segundo, de Gaúcho, e construiu a vitória diante do arquirrival. Mas foi substituído por Lino no segundo tempo.

Saiu de campo "com uma carranca de causar medo" e sem dar entrevista, segundo a Placar. "Uma atitude deselegante", criticou o presidente corintiano Vicente Matheus. "Resolvi me acalmar antes de enfrentar os microfones", se explicou Neto depois.

Após deixarem o Palmeiras, Neto e Leão nunca mais se encontraram. O meia virou ídolo no Corinthians, campeão brasileiro de 1990. O treinador foi campeão brasileiro com o Santos em 2002 e preparou o São Paulo campeão mundial de 2005.

Os dois não deixaram de se criticar mutualmente. "Sempre foi um mau filho, um mau pai e um mau profissional, desde criança com problema", disse Leão quando treinava o Goiás após ser cornetado por Neto na TV.

Os dois só fizeram as pazes no passado, quando o apresentador convidou seu antigo treinador para gravar um vídeo em seu canal no Youtube. "Eu sei que você foi duro, é seu estilo. Eu peguei muito do que você fez comigo em 89 e trouxe pra minha vida hoje como comentarista, como pai, como pessoa mesmo", disse Neto.

"Você foi estrela de primeira grandeza muito novinho. Você era bom. E quando você se deparou com um treinador diferente você assustou um pouquinho. Hoje você jogava em qualquer time, inclusive no meu", devolveu o treinador.