Mitologia moderna

Depois de 25 anos de idolatria no São Paulo, Rogério Ceni precisa de 18 meses para virar "Mito" em Fortaleza

Bruno Grossi Do UOL, em Fortaleza Marília Camelo/UOL

Os tênis brancos já absorveram a cor alaranjada do saibro. Deslizam, derrapam e sustentam um corpo de costas arqueadas e braços compridos, embebido em suor. "Venho aqui só para me estressar" é o desabafo que sucede o saque errado. E é da boca para fora. A quadra de tênis, na verdade, é seu oásis. Seu templo de meditação. Sua terapia para fugir do estresse de um trabalho intenso, aos 46 anos de idade.

Do outro lado da quadra, o adversário tem apenas 21 anos e se chama Felipe. É o melhor jogador de tênis do clube. Tem até patrocínio para disputar campeonatos. E corre muito. Mas há coisas que só se resolvem com a experiência. Foi assim que um voleio desmontou qualquer chance de Felipe reagir. A bola, cheia de curva, matou o garoto, que caminhou incrédulo para conferir se a marca na quadra terrosa indicava, de fato, um ponto sofrido.

"Achou que não ia, né? Não adianta olhar, não, foi dentro!". Rogério grita e sorri de euforia, feito um menino. Era óbvio que o tênis não o estressava. O problema era perder. O joelho esquerdo, calejado, doía mais. A quadra ficava maior. Felipe, mais rápido. Depois do ponto de classe, tudo se inverteu. Rogério tem certeza que conseguiu desestabilizar o rival.

A vitória por 6-4, em pouco mais de uma hora de jogo, o deixou sem fôlego. Foram necessários alguns minutos para reajustar a respiração pesada. A garrafa de água pareceu sumir em um gole. O adversário derrotado chegou para comentar os lances da partida, a primeira entre eles. A partir de agora, eles serão parceiros em um torneio de duplas. É preciso deixar tudo ajustado.

Outros colegas de clube trocavam ideias regadas a drinks. Atrasaram a volta para casa, a contragosto das esposas, para ver a improvável vitória de Rogério, aplaudidíssimo. Pouco depois, Rogério recebe uma nova ovação. Um grupo na calçada, do lado de fora do clube, estica o pescoço para encontrá-lo pela grade e ganha a noite de sexta-feira com fotos e autógrafos.

O tenista amador é uma divindade em Fortaleza.

Marília Camelo/UOL
Marília Camelo/UOL

Tênis é o repouso do "revolucionário" Ceni

Rogério Ceni prometeu, após o Mundial de Clubes de 2005, que não jogaria mais tênis até encerrar a carreira de goleiro. A promessa foi cumprida ao longo de uma década e encerrada com prazer com o início da vida como treinador. Estar com uma raquete em mãos passou a significar o momento de descompressão para alguém que é tão viciado em trabalho.

Em Fortaleza, a rotina é dura. Requer esforço físico e mental o tempo todo. Rogério encara um trajeto de quase uma hora, todos os dias, para chegar ao CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú, na região metropolitana da capital cearense. Monta e remonta o elenco do Fortaleza a cada ano. E precisa quebrar a cabeça até para mudar a estrutura do clube.

A partir de ideias de Rogério, a diretoria do Leão do Pici colocou em prática reformas no CT e na sede e novos métodos de trabalho. Não havia, por exemplo, ar condicionado nas instalações de Maracanaú. Não havia nutricionista para controlar a alimentação dos atletas. O clube, hoje, está em estado permanente de transformação. Dentro e fora de campo.

Isso é uma forma de explicar o tamanho da festa feita pelos torcedores para Rogério na partida contra o São Paulo, no dia 12 de maio. Quem acompanha de perto a jornada de Rogério Ceni em Fortaleza se encanta com a disposição, com a entrega do técnico. E determina: "ele é um revolucionário".

Ar livre e madrugada fazem o técnico funcionar melhor

O escritório de Rogério Ceni no CT Ribamar Bezerra é imaculado. Paredes extremamente brancas, lousas preenchidas com capricho e objetos posicionados de forma simétrica. A bagunça que uma reunião pode criar é contida diariamente. Mas esse não é, nem de longe, o local favorito do treinador. Rogério ama estar em campo. Faz questão de estar ao ar livre na maior parte do dia. E mantém essa busca indo treinar tênis e até quando chega em casa. O terraço do apartamento, sem nenhuma ostentação, é onde ele passa horas, invade a madrugada e traça os planos para o Fortaleza crescer ainda mais.

Sou de fácil adaptação. Quando tive que deixar a casa dos meus pais para morar debaixo da arquibancada do Morumbi, também era um choque cultural grande, por sair do Mato Grosso para São Paulo. Está no pacote esse tipo de mudança, com diferenças culturais. Mas estamos tentando. É um recomeço para mim

Muita gente me pergunta por que não fui para a área administrativa, para ser presidente do São Paulo. Não penso nisso. Primeiro porque presidente do São Paulo não é uma profissão, ou ao menos não deveria ser. Depois porque não gosto de lugares fechados. Gosto de estar no campo, do ar livre

Rogério Ceni, técnico do Fortaleza

Matheus Sebenello/AGIF Matheus Sebenello/AGIF

Goleiro, artilheiro, técnico e arquiteto

Quando chegou ao Fortaleza, no fim de 2017, Rogério Ceni saiu à procura de um lugar para realizar a pré-temporada do time. Encontrou no CT Ribamar Bezerra, que era dividido entre categorias de base e sócios do clube, uma solução. Mesmo que a primeira impressão soasse como um aviso para recuar e encontrar outra opção.

Foi preciso convencer a diretoria a tirar parte da base dali, acabar com a rotina de churrascos dos sócios e iniciar uma série de melhorias no local. Campos receberam sistemas provisórios de irrigação e alojamentos e salas ganharam um pouco mais de conforto. Mas ainda era pouco. Rogério queria uma estrutura ainda melhor para o futuro e decidiu transformar também a sede do Pici.

Bem mais próximo do centro de Fortaleza, o CT Alcides Santos abriga os dirigentes, um velho e pequeno estádio e instalações desgastadas. Rogério chegou um dia à sala do presidente Marcelo Paz com papéis cheios de esboços de plantas para que o local fosse reformado. O técnico colocou a mão na massa para fazer os desenhos e depois até sentou com um arquiteto para colocar seu próprio projeto em prática.

As reformas já estão em andamento e devem terminar até o fim deste ano.

  • Gramados

    No CT Ribamar Bezerra, Rogério pediu para que os campos recebessem reparos. A ideia era deixá-los mais próximos do gramado do Castelão, para o time se acostumar a treinar com mais velocidade. O problema é que não seria possível instalar um sistema de irrigação automático. Então, mangueiras externas são posicionadas sobre o campo que será usado a cada dia e molham o gramado para deixá-lo mais liso. Na sede do Pici, o novo gramado terá drenagem e irrigação automatizados, o que aproximará as condições dos treinos das encontradas no Castelão.

  • Alimentação

    Uma das primeiras medidas de Rogério foi mudar a alimentação dos jogadores. Ele percebeu que não havia um cuidado tão grande com essa área e avisou a diretoria de que uma rotina de refeições mais saudáveis ajudaria a melhorar o rendimento do time. A cozinha foi modernizada, o refeitório ganhou mesas maiores, com toalhas sempre limpas, e um ar condicionado. Também foi preciso contratar uma profissional para trabalhar como nutricionista e montar a dieta dos atletas: Melina Frota saiu do Vasco da Gama para trabalhar no Fortaleza com Nataniel Uchôa e Antônia Porfírio.

  • Alojamentos

    Não havia espaço para o time profissional ficar hospedado ou ao menos descansar no CT Ribamar Bezerra. A base ocupava os quartos existentes, que ofereciam pouco conforto e não tinham ar condicionado, mesmo diante do forte calor que acomete a região. Rogério pediu para que o alojamento fosse modernizado e cada quarto teve ar condicionado instalado. Essas instalações, no futuro, serão exclusivas da base. Enquanto isso, na sede do Pici, um alojamento ainda melhor será feito para o time profissional usar. Serão menos quartos, mas com mais conforto, para abrigar 30 pessoas.

  • Preparação física

    Uma das grandes dificuldades encontradas pela comissão técnica de Rogério Ceni estava na preparação e recuperação física dos atletas do Fortaleza. Os equipamentos disponíveis no CT Ribamar Bezerra eram muito antigos. Nada tecnológico. Trocá-los, entretanto, exigia um gasto que o clube não poderia cobrir diante de outras prioridades desde a chegada do treinador. Os novos aparelhos só começaram a chegar neste semestre e a academia ainda passa por reformas no piso. A piscina, que antes servia para o lazer dos sócios, é usada para tratamento fisioterápico.

Mudança geral na rotina do clube

Assessoria de imprensa

Até o acesso à Série B do Brasileirão, em 2017, o Fortaleza quase nunca levava o assessor de imprensa Fábio Marques para viagens, já que dificilmente algum jornalista acompanhava o Leão. Quando Rogério Ceni chegou, Fábio explicou o cenário e ouviu do técnico que, sem ele, não concederia nem sequer entrevistas coletivas fora de casa. Desde então, Fábio está sempre com a delegação. Rogério também se preocupa com a imagem do clube. Não quis atender a Rede Globo com entulhos da reforma do Pici ao fundo. E levou um quadro para decorar o escritório no CT Ribamar Bezerra, onde atendeu o UOL Esporte e a Fox Sports.

Estratégia de segurança

Além da assessoria de imprensa, hoje muito mais reforçada diante do crescimento do Leão com Rogério Ceni e a volta à elite do Brasileirão, o clube também passou por mudanças na segurança. Antes, no máximo um profissional viajava com a delegação. Quando muito. Na Série B do ano passado, Rogério já havia sinalizado a importância de ter um segurança nas partidas longe do Ceará. Para esta temporada, com mais viagens e estádios mais cheios, foi indicado que mais um segurança passasse a fazer as viagens. O assédio, principalmente sobre Rogério, tem sido maior até mesmo nos jogos no Castelão.

Tenho sempre o objetivo de fazer algo diferente acontecer. Para mim, era retomar a carreira que foi interrompida muito precocemente no São Paulo. Para o clube, havia muita necessidade de mudança. A parte legal é que eles ouvem. Não necessariamente conseguem concluir, mas por falta de verba mesmo

Rogério Ceni, sobre o trabalho de reestruturação feito no Fortaleza

Rogério participou da concepção do projeto do novo CT. Ele idealizou, desenhou num papel e mostrou tudo o que precisávamos. Se tivéssemos dinheiro sobrando, algumas obras já estariam mais adiantadas. Fazemos no nosso tempo e por conta própria, sem ajuda, mas não podemos deixar o sonho parar

Marcelo Paz, presidente do Fortaleza

Marília Camelo/UOL Marília Camelo/UOL
Stephan Eilert/AGIF

Publicidade turbinada pelo Mito

A presença e o sucesso de Rogério Ceni impulsionam também o mercado publicitário e de marketing do Fortaleza e fora do clube. O número de sócios-torcedores tem crescido (está perto dos 29 mil e com meta de chegar a 45 mil), patrocinadores se interessaram mais pelo Leão e marcas locais tentam a todo custo atrair o técnico para ser garoto-propaganda. Rogério nunca teve o costume de se aventurar em comerciais e já frustrou uma empresa que queria juntá-lo a Lisca, ex-treinador do Ceará, e a banda Aviões do Forró.

Cotas de TV poderiam diminuir abismo

Apesar de se orgulhar do trabalho de reconstrução que faz no Fortaleza, Rogério Ceni entende que as dificuldades poderiam ser menores se houvesse um equilíbrio maior na distribuição de renda para os clubes brasileiros. Para o técnico, as cotas de televisão tornam o futebol do país ainda mais desigual, principalmente quando se compara os grandes centros com o futebol nordestino.

"Deveria ser dividido por algumas proporções diferentes. Posição de chegada no campeonato anterior, o quando vende no pay-per-view, o quanto atrai de público no estádio. É preciso ter um modelo mais amplo. Claro que a disparidade vai e tem que existir, porque o Flamengo tem mais torcida que o Fortaleza. É óbvio. Mas não pode ser uma diferença de um para dez. Na Inglaterra essa diferença fica em um para três e você já dá a condição ao time menor de existir e ter um baita centro de treinamento", critica Rogério, que também faz ponderações aos dirigentes do Brasil:

"Os clubes do Brasil só vão resolver seus problemas quando tiverem donos. Porque aí ninguém vai mais rasgar dinheiro. Gastar dinheiro dos outros é fácil. Só assim teremos maior responsabilidade de gestão e até fiscal, com clubes que tenham ações de mercado, torcedores participando, com normas estabelecidas. Nós treinadores precisamos estudar e evoluir. E mais que os treinadores, quem nos contrata e gere os clubes também precisa evoluir".

Marília Camelo/UOL Marília Camelo/UOL

Transformando "lixo" em ouro

Não haveria exaltação ao avanço estrutural do Fortaleza com Rogério Ceni se os gols e os títulos não estivessem saindo. E como têm saído! Em 18 meses de trabalho, o técnico coleciona duas taças - Brasileirão da Série B de 2018, no primeiro título nacional de um clube do Ceará, e Campeonato Cearense - e levou o Leão à primeira final da história na Copa do Nordeste.

Destaca-se também a capacidade de fazer jogadores criticados conseguirem render. O caso mais recente é o de Romarinho, atacante que surgiu como grande promessa do Globo, do Rio Grande do Norte, e passou sem brilho pelo Fluminense. O Fortaleza, mesmo assim, decidiu apostar nele.

A torcida via Romarinho como o atacante que, em quase um ano, não tinha feito nem um gol sequer. Rogério o via como moderno. Na semifinal da Copa do Nordeste contra o Santa Cruz, o Castelão se converteu em um poço de xingamentos quando Romarinho foi chamado para entrar. Gestos desesperados tentavam fazer com que a substituição fosse cancelada.

Rogério bancou Romarinho e, em poucos minutos, o atacante fez um golaço e evitou o empate do Santa Cruz. Ao fim da partida, os mais empolgados pediam até vaga na seleção brasileira. E, no jogo seguinte, contra o São Paulo, Romarinho entrou ovacionado em campo. "Eu só posso agradecer a Deus e ao professor Rogério Ceni, que nunca desistiu de mim. Enquanto as pessoas me xingavam, me chamavam até de lixo e de outras coisas que nem quero falar, ele me deu confiança para que eu mostrasse meu trabalho", vibrou Romarinho.

Isso mostra como é importante não desistir de um jogador que treina puxado e é moderno. O trabalho dele é recompensado. Eu já vi ele entrar vaiado e fiz questão de vê-lo saindo aplaudido. O reconhecimento interno ele construiu há tempos. Mas o reconhecimento externo, com palmas, é mais difícil. Ele tem potencial e o Fortaleza não pode desperdiçar

Marília Camelo/UOL Marília Camelo/UOL
LC Moreira/Futura Press/Folhapress

Gramado do Castelão sofre com "técnico-jogador"

Observar Rogério Ceni à beira do gramado impressiona. Ele anda, corre, gesticula, grita e, muitas vezes, parece até que vai entrar em campo. Se um adversário corre desavisado pela lateral pode se assustar com a presença de Rogério batendo palmas, com as pernas arqueadas, como se ajudasse seu time a marcar. Técnicos adversários se revoltam. Cinco membros da comissão do Santa Cruz chegaram a levantar indignados durante a semifinal da Copa do Nordeste, acusando as invasões. Os quartos árbitros cansam de repreendê-lo. E no Castelão, o gramado, assim como nos tempos de goleiro, se desgasta, fica amarelado e com barro aparente devido ao vaivém do "técnico-jogador".

Ceni durante partida contra o Palmeiras no Allianz Parque. Foto: Anderson Lira/Brazil Photo Press Ceni durante partida contra o Palmeiras no Allianz Parque. Foto: Anderson Lira/Brazil Photo Press

Guardiolismo é trocado pelo heavy metal de Klopp

Rogério Ceni sempre colocou Pep Guardiola como um de seus maiores guias para a carreira de técnico. Chegou a conhecer os métodos do espanhol antes mesmo de se aposentar como goleiro. E, no ano passado, usava o princípio de jogo do Manchester City para tentar fazer o Fortaleza funcionar. Toque de bola paciente, pontas bem abertos e muitas finalizações após tabelas e infiltrações.

Para 2019, com as transformações sofridas pelo elenco, se viu obrigado a mudar. O novo espelho vem do estilo heavy metal, como o próprio Jürgen Klopp se define, imposto pelo alemão no Liverpool.

"No ano passado jogávamos com 500, 600 passes por jogo. O City parte de 600, chega a 900 por jogo. Hoje em dia no futebol brasileiro, dentro dos gramados disponíveis, das condições climáticas e técnicas, bater 600 passes num jogo com fizemos é bem bacana. Era um estilo mais City. Neste ano, ficamos entre 250 e 300 passes, mas com uma intensidade muito maior. Diria que é muito mais parecido com o Liverpool. E mostra que não existe jeito correto de jogar futebol", explica Rogério.

Marília Camelo/UOL Marília Camelo/UOL

Entre Carilles e Sampaolis

A prova de que Rogério Ceni acredita na frase "não existe jeito correto de jogar futebol" é a forma como fala de Fábio Carille e Jorge Sampaoli. São dois técnicos completamente distintos, com currículos que justificam os elogios recebidos, mas que sofrem com muitas críticas e estigmas. Rogério até se diz mais fã do estilo do argentino que comanda o Santos, mas não deixa de admirar o trabalho do corintiano.

"Falam que o Carille joga muito fechado. Não sei, mas se ganhou três vezes seguidas o Campeonato Paulista, deve ter algo de bom. E não tem porque não elogiar um profissional desse. Fazem o mesmo com o Mano Menezes. "Ah, mas o Mano só joga por uma bola". Três anos no Cruzeiro, com duas taças da Copa do Brasil, Campeonato Mineiro... Até perder ele sabe, é raro ver o time dele ser goleado", opina Rogério.

Quando o assunto é Sampaoli, o técnico do Fortaleza fala com mais conhecimento de causa. Afinal, passou uma semana fazendo uma espécie de estágio com o argentino no Sevilla e tenta repetir alguns de seus ideais de futebol: "Ele é um baita treinador. As pessoas ficam meio assim, mas não, você tem que elogiar, pô! O cara é bom! Se não fosse, não teria sido campeão com a seleção chilena, não teria ido a uma Copa do Mundo com a Argentina... Não tem porque nós treinadores não elogiarmos um cara como ele".

Ganhar ou perder envolve uma concorrência muito forte. Liverpool e Tottenham estão há cinco anos apostando em projetos que ainda não renderam títulos. E um deles vai continuar sem se perder a Liga dos Campeões. Mas os donos desses clubes reconhecem que um bom trabalho está sendo feito. O trabalho não pode ser medido só pelo resultado final. Aqui no Brasil, tem clube que já está no terceiro treinador da temporada

Rogério Ceni, sobre os finalistas da Champions

Marília Camelo/UOL

"Tite não tem tatuagem e merece estar na seleção"

Rogério Ceni é amigo e admirador de Levir Culpi. Escreveu até o prefácio do livro do ex-técnico do Atlético-MG. Mas isso não o impede de discordar das ironias sobre os elogios a Jorge Sampaoli, registradas em entrevista ao programa "Bem, Amigos!", do SporTV. Levir disse que por ter "tatuagens e andar de bicicleta", o argentino já poderia comandar a seleção brasileira, em referência aos jornalistas que elogiam o argentino.

"Eu adoro o Levir, é um cara sensacional. Mas eu não tenho tatuagem e não ando de bicicleta. Detesto, inclusive (risos). Sampaoli tem capacidade de ser treinador de qualquer seleção do mundo, pelo que sabe e pelo que faz. O Tite também tem essa capacidade. E acho que também não tem tatuagem e nem anda de bicicleta. Aliás, está sempre elegante e merece demais dirigir a seleção brasileira", afirma.

Rogério não consegue entender a divisão que tem sido criada entre técnicos brasileiros e estrangeiros ou entre treinadores jovens e mais experientes. Para ele, a solução é compartilhar para qualificar: "Se você quer ver o futebol crescer, compartilhe as histórias de sucesso. Como o debate que a CBF fez com Sampaoli, Tite e Fernando Diniz. Eu fui convidado, mas não pude ir. Eventos assim pegam opiniões divergentes e compactuam para o mesmo objetivo. São caras legais, novas ideias, novos conceitos e novas formas de ver futebol".

Como atleta nunca tive vontade de jogar na Europa. Como treinador, tenho, mas acho até mais improvável que aconteça. Acho difícil um treinador brasileiro conseguir espaço em um grande centro europeu. Pela língua, até por um certo preconceito. Precisamos nos desenvolver mais para ter mais visibilidade. Talvez um caminho seja entrar por um mercado mais secundário, mas é difícil. Se eu gostaria? Sim, de fato gostaria. Vai acontecer? Acho pouco provável.

Rogério Ceni, sobre tentar ser técnico no futebol europeu

Neymar: "Muito pressionado, mas já experiente"

Ainda como goleiro do São Paulo, Rogério Ceni chegou a criticar a postura de Neymar, então um jovem em ascensão no Santos. Hoje, como técnico, se mostra um pouco mais compreensivo. No caso do soco do atacante em um torcedor francês, por exemplo, Rogério tenta apresentar os dois lados da história: "Não deveria acontecer. Mas ele é realmente muito pressionado, vinha de uma derrota em final e perdeu a cabeça. Mas, ao mesmo tempo, já é experiente para encarar isso, não é mais garoto".

Não espere também que Rogério condene a forma como Tite tem conduzido o tema. "É muito difícil ser treinador da seleção. E essa história é muito pessoal pela forma como o treinador avalia, se vê como ato grave, empurrão, soco... Até prefiro não comentar muito, porque tudo vira polêmica. Já é muito difícil ser treinador de seleção, com todo mundo opinando muito sobre tudo. Convocar ou não, manter o Neymar como capitão são decisões pessoais. Precisamos respeitar", pondera.

Acho que é muito cedo. Minha carreira começou agora. O Tite, por exemplo, tem duas décadas de trabalho em alto nível e o perfil da seleção. Sabe lidar com os mais variados aspectos e isso é mais importante ainda na seleção, que não envolve só o trabalho de campo. A gestão de vestiário é essencial e ele faz muito bem. A própria CBF hoje deu uma renovada grande, com muita gente boa para dar suporte. Se eu suportar um longo caminho, quem sabe um dia apareça a oportunidade

Rogério Ceni, sobre as chances de ser técnico da seleção brasileira no futuro

Adriano Vizoni/Folhapress

Não se pode exigir um novo Rogério Ceni

"Tudo mudou. Então não dá para esperar que as coisas e as pessoas sejam iguais a antes. Ainda há algumas exceções. Até dentro da seleção há jogadores um pouco mais maduros, que podem agir de uma forma diferente de liderança. Mas é, realmente, uma geração muito diferente. Os meus valores e os valores que gostaria de ver no meu time são outros. Você tem que se adaptar e compreender que o mundo evoluiu, mudou.

Se mudou para melhor ou não, a gente ainda não sabe. Todos já foram jovens e já tiveram seus desejos e suas vontades. Só que hoje os brinquedos e as vontades são outros. Eu sou um cara muito antiquado. Sou mais velho, tenho 46 anos e vejo o mundo como era antes. Não sou ligado em rede social. O grande prazer da vida, para mim, é o contato direto, pessoal e diário.

Só uso meu celular para ligações, mensagens e e-mail. Só posto, e ainda assim muito pouco, no Facebook. Não tenho Instagram. São gerações diferentes. O mercado mostra que é assim. Quando eu era garoto, a família dividia uma Coca-Cola de um litro só no almoço de domingo. Ninguém trocava de televisão, ninguém tinha filmadora. Hoje, lançam uma TV a cada semana e qualquer um pode filmar o que vê pelo celular. As coisas explodiram".

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