FUTEBOL À CANETA

Há quarenta anos, o jornalismo esportivo perdia
Nelson Rodrigues, dono da realeza de Pelé

Ana Flávia Oliveira e Talyta Vespa

À sua majestade, Pelé

Nelson Rodrigues foi o primeiro a chamar Pelé de "rei", quando o jogador tinha apenas 17 anos. Junto à admiração, o escritor brigava e esbravejava contra qualquer um que quisesse arrancar-lhe a coroa.

"Ninguém até hoje escreveu de forma tão pessoal e poética sobre futebol", celebra o cronista Ruy Castro quando se refere a Nelson Rodrigues. Há exatos quarenta anos o escritor morria como um dos mais importantes cronistas, jornalistas e dramaturgos do Brasil -e, por que não, o maior nome da literatura esportiva?


Nelson Rodrigues foi craque com as palavras: transformou análises em expressões incorporadas ao vocabulário do torcedor brasileiro. Viveu a literatura no período em que existia conexão firme entre torcedor e time e narrou clubes e passes. Mas Nelson gostava, mesmo, era da seleção.


Por ser dele o nome colado à bandeira fincada sobre a narrativa esportiva, o UOL Esporte celebra sua vida, seu legado e sua obra imortal.

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Pela literatura, Nelson Rodrigues criava paralelos que fugiam da obviedade futebolística. Na curtíssima e autoexplicativa "Os irmãos Karamazov", o escritor comparava o duelo sanguinário entre Fluminense e Flamengo, em julho de 1912, à rixa entre irmãos retratada no livro de Dostoievski.


O jogo foi o primeiro Fla-Flu da história - codinome criado pelo irmão de Nelson, Mário Filho, anos depois. Ruy Castro é breve quando diferencia o escritor dos outros cronistas da época, inclusive do próprio irmão: "Ele era um gênio. Os outros tinham, no máximo, talento e, mesmo assim, nem todos".

Nelson foi o primeiro a chamar Pelé de rei. A ele, a realeza era pura, clara, explícita e nua. Pelé era o maior, era lenda. Ruy Castro conta que, muito provavelmente, o escritor sequer chegou a conhecer o ídolo. Ainda assim, deu a ele o nome que se perpetua até hoje - e Pelé tinha apenas 17 anos.


"A realeza de Pelé" chegou à Manchete Esportiva em 1958. Se solidificou, consagrou e propagou, como a trajetória de seu dono. Nelson Rodrigues morreu em 21 de dezembro de 1980. Nesta série, o UOL Esporte destaca algumas das crônicas que revolucionaram o pensar esportivo, transformaram jogadores anônimos em ídolos e tornaram delicioso o processo acompanhar futebol.

Reportagem - Ana Flávia Oliveira e Talyta Vespa

Narração - Ana Flávia Oliveira

Edição - Pedro Ivo Almeida

Design - Marcos de Lima

Motion design - Santhiago Botture