Para mim, a volta do futebol na Coreia do Sul é a lição de que se você se prevenir e fizer tudo direitinho, tudo volta ao normal. É o ponto-chave: as pessoas levam na brincadeira, não se previnem, mas é a consciência da população que faz a diferença. A Coreia está muito perto da China e se recuperou rápido do vírus porque existe a preocupação com o próximo. Nosso treinador, Cho Deok-Je, sempre falava que devíamos nos preocupar com a família e com os amigos, não só com a gente.

No Brasil, vemos muitas pessoas fazendo festa, um indo na casa do outro. O povo, em vez de curtir as Lives cada um na sua casa, vai na casa do outro. O próprio governo estimulando a ir para a rua! Aqui não acontecia isso. Quanto mais o governo filtrasse e neutralizasse os casos, era melhor para todos. Aí no Brasil o povo leva na brincadeira até acontecer com alguém próximo. Torço para que melhore, mas sem esse papo de "se voltou futebol, voltou tudo". Se todos não tiverem a cabeça no lugar, fica complicado.

Meu time, por exemplo, não parou nem de treinar, sabia? Na verdade, a Coreia do Sul não parou, porque a população foi muito consciente e respeitou o isolamento social. Os comércios só paravam de funcionar se uma pessoa infectada passasse por lá.

Em janeiro, quando a doença se proliferava, nós estávamos fazendo pré-temporada na Tailândia. Já escutávamos rumores, víamos notícias sobre o vírus. Quando retornamos para a Coreia, íamos dar continuidade na pré-temporada em Jeju, mas é uma ilha que tem bastante turista. Por causa do vírus, o clube desistiu.

Então, todos os jogadores ficaram trancados no clube por um mês. Eu e os outros brasileiros não trouxemos nossas esposas de imediato, seguramos um pouco. Todos os jogadores aceitaram e ficaram dentro do clube. A rotina de treinos continuava igual, mas, de manhã, medíamos a temperatura do corpo, anotávamos e só depois treinávamos. Outra diferença é que cada garrafa de água e isotônico tinha o número da sua camisa, você bebia só os seus. Também distribuíam máscaras se precisássemos sair por algum motivo.

Em abril, anunciaram que o campeonato poderia ser retomado, então todos os jogadores fizeram o teste da covid-19. Se desse positivo para alguém da equipe, todos ficariam isolados durante 15 dias. Deu negativo para todos e aí foi possível retornar.

Viajamos para a cidade do jogo, Pohang, e dormimos no hotel. Dois jogadores em cada quarto. Normal. Mas todo o trajeto de Busan até Pohang sempre com uso de máscaras. Dentro do hotel também. O mais diferente é quando chegamos ao estádio: na descida do ônibus já tem uma pessoa da Federação junto com o médico do time e eles medem sua temperatura. Se der acima de 37,5 graus, você está cortado do jogo. Não tem como burlar. Você fica meio apreensivo, não tem como saber antes.

No vestiário, não pode abraçar ou cumprimentar ninguém, é tudo sempre com a mão fechada, soquinho ou bater com o braço. Antes do jogo, também: não fizemos aquela reunião abraçados. Até juntamos os jogadores, mas só para uma conversa mais distante. O protocolo de entrada também mudou. Antes, fazíamos fila para cumprimentar. Agora, param os dois times frente a frente e você cumprimenta com um movimento de cabeça. Só.

E portões fechados, claro, não tem ninguém além de funcionários dos dois times, arbitragem e imprensa no estádio, só isso. Árbitro, bandeirinhas e jogadores não usam máscara, mas quem está no banco, quarto árbitro, todos de máscara. Quando você é substituído e sai do campo, já tem que colocar máscara também — mesmo se estiver ofegante. Aconteceu isso comigo, tudo para evitar qualquer risco. Em comemoração de gol, eles orientam nada de abraço, sem muita euforia. Mas quando sai o gol, o pessoal acaba esquecendo um pouco. Temos que lembrar do soquinho!