Só falta o protocolo

Torcida e jogadores do Atlético já mostram que se sentem campeões brasileiros. E têm motivos para isso

Do UOL, no Rio de Janeiro Fernando Moreno/AGIF

"A sintonia com a torcida é legal. Mas também, né? Ganhou 16 em casa. Se eles me xingassem..."

O comentário até inusitado de Cuca dá a tônica sobre dois aspectos da relação entre o técnico, o time e a torcida do Atlético-MG no Brasileirão. O primeiro é o domínio do melhor mandante do Brasileirão, cujo aproveitamento catapulta o Galo para a distância de 11 pontos em relação ao Flamengo — que ainda tem um jogo a menos. O segundo é uma leveza trazida pela admiração de uma massa que não liga mais para a matemática. Ansiosa para repetir o grito dado em 1971, terminou mais um domingo fazendo ecoar "é campeão" pelo Mineirão.

Os números são incontestáveis. Nos 18 jogos em casa feitos até o momento, só uma derrota e um empate. Nos demais? O roteiro que se viu diante do Fluminense, ontem (28). O ponto é que todo atleticano, ao que parece, já se sente campeão. A linguagem corporal de jogadores e comissão técnica após o apito final fala mais alto do que o discurso protocolar do "falta pouco".

"Faz tempo que a gente vem com o grito pronto para sair, mas como sempre falo, vai sair na hora certa", alegou Hulk.

Mas, pelo contexto, a euforia da torcida não é um devaneio — por mais desconfiado que seja o atleticano. O principal concorrente já tinha dificuldade de encostar. Quanto mais agora que levou um duro baque, perdendo a final da Libertadores para o Palmeiras. Se a ressaca do Flamengo prevalecer na terça-feira e o time não vencer o Ceará, o Galo será campeão assistindo pela TV.

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Fernando Moreno/AGIF
Pedro Souza/Atlético-MG

A sinergia com Hulk, agora com 400 gols na carreira

A campanha vitoriosa e (quase) campeã do Atlético-MG é capitaneada em campo por Hulk. Artilheiro do Brasileirão com 17 gols, ele disparou em relação a Michael, que tem 13. Com esse desempenho, Hulk bateu a marca de 400 gols como profissional.

Há uma sinergia do atacante com a camisa atleticana a ponto de esta já ser a quarta melhor temporada da carreira dele em número de gols marcados: com os dois diante do Fluminense, são 32.

Melhores temporadas goleadoras de Hulk:

  • 2010/11 - 40 gols em 59 jogos pelo Porto (média de 0,68)
  • 2007 - 37 gols em 42 jogos pelo Tokyo Verdy-JAP (média de 0,88)
  • 2017 - 33 gols em 48 jogos pelo Shanghai-CHN (média de 0,69)
  • 2021 - 32 gols em 64 jogos pelo Atlético-MG (média de 0,50)

Diante do Fluminense, foi a sétima vez em que o atacante fez dois gols no mesmo jogo com a camisa do Galo.

Hulk tem atingido um nível de idolatria que remete aos campeões do passado pelo Atlético. Na comemoração do segundo gol, por exemplo, ele até repetiu o punho cerrado e erguido, imitando as comemorações do ex-atacante Reinaldo, que estava no Mineirão e se emocionou com a comemoração da torcida. Foi uma típica tarde de título para Galo — matemática à parte.

"Fico muito feliz com a sua homenagem, com o seu carinho. Na hora, eu estava comemorando junto com seu pai aqui do lado. Tenho que agradecer por tudo o que você fez pelo Galo. Você sempre estará nos nossos corações. Você é nosso ídolo", disse Reinaldo a Hulk, na transmissão da TV Galo.

Como foram os gols de Hulk contra o Fluminense

E essa arbitragem, hein

Reprodução

Chamado pelo VAR

Contra o Fluminense, o Atlético-MG passou a ter dez pênaltis a seu favor ao longo do Brasileirão 2021, mantendo a liderança em penalidades marcadas a seu favor. América-MG e Santos aparecem em seguida, com oito. A jogada que originou a penalidade foi mais uma a gerar polêmica na Série A. O VAR José Claudo Rocha Filho chamou o árbitro Marielson Alves Silva para verificar um toque no braço do lateral-esquerdo Marlon. A jogada não pareceu muito clara, mas a penalidade foi assinalada. O Fluminense se indignou. Segundo a súmula, o presidente Mario Bittencourt foi ao túnel xingar o árbitro: "Vagabundo, filho da p.., você é um canalha, é um moleque, pode relatar!"

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Reprodução

Marcou sem o VAR

O pênalti marcado a favor do Corinthians, sexto no Brasileirão, decidiu o confronto contra o Athletico e deixou o time paranaense indignado. O árbitro Paulo Cesar Zanovelli marcou a penalidade por identificar toque no braço do lateral-direito Marcinho, em um carrinho para cortar cruzamento rasteiro de Renato Augusto. A discussão sobre o lance envolve dois pontos: se a bola, de fato, tocou na parte do braço que a Fifa considera mão (após a junção com o ombro) e se era o braço de apoio de Marcinho. Na transmissão da Globo, o comentarista Salvio Spínola discordou do pênalti. O meia-atacante Nikão disse que o Athletico "é perseguido".

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É um pênalti questionável. Se ele não dá, não ia ninguém dizer: "pô, não deu um pênalti claro". Mas é coisa interpretativa. Eu, no lugar do Fluminense, também estaria p... da vida. A gente tem que ser autêntico e falar. Não adianta puxar para você só quando tem as coisas contrárias. A gente tem que respeitar também quem está brabo nessa hora.

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Cuca, Técnico do Atlético-MG

É lógico que a gente vai falar do árbitro de vídeo, sr. José Cláudio Rocha Filho, que chamou o árbitro para um lance como esse. A gente nunca reclama de arbitragem, mas a gente não pode deixar de comentar, de falar. Quando se tem alguma dúvida, tudo bem, mas não houve dúvida alguma. Não era nem para (o VAR) chamar para um lance desses.

Marcão, Técnico do Fluminense

REUTERS

Fla caminha para dois vices na mesma temporada

O Flamengo ainda tem quatro jogos por fazer, com 12 pontos em disputa, e a distância para o Atlético-MG é de 11 pontos. O rubro-negro enfrenta o Ceará, amanhã (30), e ainda tem confrontos contra Sport, Santos e Atlético-GO.

A situação do Flamengo demanda um milagre, um cenário que beira o impossível porque o Atlético-MG também precisaria perder os três jogos que lhe restam no campeonato, contra Bahia, Red Bull Bragantino e Grêmio. Também parece improvável que o Palmeiras alcance o segundo lugar: a distância é de oito pontos.

A sequência mais recente do Flamengo até não era ruim — nos últimos cinco jogos, quatro vitórias e um empate —, mas o time de Renato Gaúcho não conseguiu chegar tão próximo do Atlético-MG e demonstrou fraquezas em momentos cruciais.

O empate mais recente, por exemplo, contra o Grêmio, até foi com o time reserva, mas é sintomático que o time tenha deixado a vitória escapar diante de um adversário com um jogador expulso e que estava perdendo por 2 a 0.

O debate na diretoria do Fla, hoje, inclusive é se Renato Gaúcho vai comandar ou não o time nos jogos que restam do Brasileirão. O cenário é inédito: o clube jamais foi vice-campeão brasileiro e da Libertadores no mesmo ano. Em 2017, o rubro-negro até acumulou duas derrotas em finais, mas elas foram na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana.

Parece até que a chance de título do Atlético-MG é maior do que os 99% trazidos pelo site Infobola, do matemático Tristão Garcia.

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A visão dos colunistas

UOL

Galo será campeão sem jogar; Flamengo vai pipocar

Mesmo sem entrar em campo na próxima terça-feira (30), a torcida do Galo vai comemorar seu sonhado título do Brasileirão! É que o Flamengo, todo destroçado após perder a Libertadores para o Verdão, não vai vencer o Ceará em pleno Maracanã. Assim, na matemática, o caneco já estará assegurado para ser levado para a Cidade do Galo!

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Uol

Pênalti com bola na axila e no ombro? Temos, sim

É incompreensível e injustificável que não se consiga uma uniformização da arbitragem sobre assunto tão importante. Não fazem por preguiça ou incompetência. O Furacão, punido no primeiro lance, vê sua situação complicada. Com 42 pontos, continua correndo risco de rebaixamento. O prejuízo não é apenas técnico. É financeiro também.

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Uol

Inferno do Grêmio é alerta para todos os clubes do Brasil

Com 36 pontos e só mais três partidas a cumprir, estando quatro abaixo do próprio Bahia, agora o 16º e ainda com um jogo a menos, só 100% de aproveitamento contra São Paulo e Atlético Mineiro em casa e Corinthians fora, mais uma combinação improvável de resultados para salvar o tricolor gaúcho. Desfecho inimaginável.

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Pedro H. Tesch/AGIF

Ter jogo todo dia embaralha as disputas que restam

O Brasileirão está em um período insano. É jogo todo dia. Foi o meio que a CBF encontrou para alocar todas as partidas atrasadas até a conclusão da competição, no dia 9. A sequência de partidas diárias vai até sexta-feira (3). Por isso, a 36ª rodada, com quatro partidas por disputar, ainda não acabou. A 35ª, com seis jogos pendentes, também não. E nem a 32ª — com um jogo restante.

Tirando a briga pelo título, o campeonato embaralhado dificulta algumas projeções, sobretudo envolvendo as vagas na Libertadores e a fuga do rebaixamento.

Serão nove brasileiros classificados à Libertadores 2022. No momento, o G4 (grupo que tem vaga direta na fase de grupos) virou G5, já que o título da Liberta ficou com o Palmeiras, atual terceiro. A Copa do Brasil vai ampliar o G5 para G6, independentemente de quem vença o confronto entre Atlético-MG e Athletico.

Pensando na fase preliminar, a meta é ficar entre os oito melhores colocados. O Internacional, por exemplo, empatou com o Santos e perdeu a chance de entrar nesse bloco. O time gaúcho chegou ao 36º jogo e ficou com 48 pontos, o que é preocupante para a disputa — o Ceará, atual oitavo, com um ponto a mais, tem 35 partidas.

Na ponta do lápis, tem mais gente sonhando com Libertadores, como o América-MG, o próprio Santos e até São Paulo e Cuiabá.

No Z4, a situação do Grêmio é muito dramática. Sobretudo após a derrota para o Bahia, concorrente direto na fuga da Série B e que saiu da zona graças ao número de vitórias. O São Paulo chegou a 45 pontos, que costuma ser o número "mágico" da salvação. Acima do Grêmio, quem ainda está nessa batalha ingrata: Cuiabá, Athletico, Atlético-GO, Bahia e Juventude. A matemática ainda permite ao Sport, em penúltimo e sete pontos atrás do Bahia, sonhar. Mas a lógica, não.

"Corinthians pode se vingar e rebaixar o Grêmio"

Frase da rodada

Para nós, que somos nascidos e criados na comunidade, é difícil chegar até aqui. É difícil para um favelado chegar até aqui. Não tenho nem palavras para descrever o que é isso.

Du Queiroz, Meio-campista do Corinthians

Pedro Souza/Atlético-MG Pedro Souza/Atlético-MG

Foram bem

  • Hulk

    Nome da rodada, com os dois gols sobre o Fluminense. O atacante do Atlético-MG bateu bem o pênalti e contou com um desvio na cabeça de Wellington para acertar a cobrança de falta que virou o jogo no Mineirão.

    Imagem: Fernando Moreno/AGIF
  • Marcos Leonardo

    O atacante de 18 anos foi titular do Santos por causa da lesão de Diego Tardelli e apareceu no segundo tempo, após uma etapa inicial apagada, para empatar o jogo e evitar a derrota para o Internacional.

    Imagem: Pedro H. Tesch/AGIF
  • Raí

    Fez um gol e participou da construção de outro na vitória importantíssima do Bahia sobre o Grêmio, no jogo de sexta-feira (26). E olha que ele tinha sido um dos piores do time na partida anterior, contra o Cuiabá.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Bahia
  • Du Queiroz

    Foi o destaque do Corinthians na magra, mas importante vitória sobre o Athletico, na Neo Química Arena. Dominou o meio-campo, marcou bem, desarmou bem e tem sido um ótimo substituto de Giuliano.

    Imagem: Kely Pereira/AGIF

Foram mal

  • Gabriel Chapecó

    O goleiro recentemente convocado à seleção teve uma jornada para esquecer. Falhou no gol de Matheus Bahia e demorou a sair do gol para dominar o recuo de Geromel, permitindo o gol de Raí.

    Imagem: Pedro H. Tesch/AGIF
  • Caio Paulista

    O atacante do Fluminense já viveu até bons momentos no ano, sendo válvula de escape de velocidade do time. Mas jogou mal diante do Atlético-MG. E tem sido assim ultimamente. Não dá sequência às jogadas. Acabou substituído aos 23 do segundo tempo.

    Imagem: Pedro Chaves/AGIF
  • Luiz Felipe

    Não fez um jogo de todo ruim, mas o gol contra marcado a favor do Internacional comprometeu o contexto do zagueiro do Santos, como um todo.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Santos
  • Sander

    O lateral-esquerdo foi quem mais destoou na derrota do Sport para o São Paulo. O ânimo do time já está abalado por causa da proximidade da queda à Série B, o que prejudica o desempenho individual. Mikael é exceção.

    Imagem: Divulgação
Thiago Ribeiro/AGIF

Quem é que sobe

O fim de semana também marcou a conclusão da Série B e a definição de quem estará na elite em 2022. Três times conseguiram o acesso com antecedência — Botafogo, Goiás e Coritiba. Na rodada decisiva, a festa foi do Avaí, que venceu o Sampaio Corrêa por 2 a 1, de virada. O gol da vitória saiu da cabeça de Renato, aos 43 minutos do segundo tempo.

O contingente que subiu em 2021 tem três times que caíram no Brasileirão 2020. Só o Vasco "quebrou a corrente". O Avaí é outro que pega o elevador com frequência nesse sobe e desce da elite.

Assim como provavelmente será na Série A, o campeão da B foi alvinegro. E o título teve uma faceta de recuperação do orgulho botafoguense, já que o time estava muito desacreditado no começo da competição.

A instabilidade técnica e o caos financeiro sempre foram ameaça ao final feliz. Mas o time se encontrou com a chegada de Enderson Moreira, teve heróis improváveis, como Chay e o atacante Rafael Navarro, e atingiu o objetivo com louvor. O desfecho da história teve um Nilton Santos com cerca de 31.594 pagantes no duelo contra o Guarani.

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